Desmatamento e degradação aumentam pelo quinto mês consecutivo na Amazônia

Fogo fez degradação acelerar e chegar à média de 10 mil campos de futebol afetados por dia entre janeiro e outubro, pior cenário em 15 anos.

Sobrevoo do Greenpeace mostra queimada na Amazônia em 2024. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

A Amazônia registrou em outubro o quinto mês consecutivo de aumento tanto no desmatamento, que é a remoção completa da vegetação, quanto na degradação florestal, que é o dano causado pelo fogo ou pela extração madeireira. Por causa das queimadas, a degradação explodiu e chegou à média de 10 mil campos de futebol afetados por dia entre janeiro e outubro, o pior cenário em 15 anos.

Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do instituto de pesquisa Imazon. Conforme o monitoramento por imagens de satélite, apenas em outubro a Amazônia teve uma área degradada de 6.623 km², o equivalente a quatro vezes a cidade de São Paulo. Esse número também foi quatro vezes maior do que o registrado em outubro de 2023, quando foram degradados 1.554 km² de floresta.


O que aumentou ainda mais a diferença da degradação acumulada de janeiro a outubro em relação aos anos anteriores da série histórica, que iniciou em 2009. Nos primeiros 10 meses de 2024, foram degradados 32.869 km², o equivalente a 21 vezes a cidade de São Paulo (ou 10 mil campos de futebol afetados por dia). Área quase três vezes maior do que o recorde de degradação até então, de 11.453 km², registrado em 2017.

O pesquisador do Imazon Carlos Souza Jr., que coordena o Programa de Monitoramento da Amazônia, explica que é normal haver aumento da degradação florestal na época de seca, o chamado “verão amazônico”, por causa da alta nas queimadas. Porém, as áreas afetadas nos meses de setembro e outubro são muito superiores às que vinham sendo registradas pelo sistema. Souza Jr. aponta também que “a seca severa de 2024 aumenta o risco às queimadas”.

Pará, Mato Grosso e Amazonas lideram degradação em outubro

O estado com a maior área degradada em outubro foi o Pará, com 2.854 km², 43% do total registado na Amazônia. Mato Grosso, com 2.241 km² afetados, 34% do total, ficou em segundo. E a terceira colocação foi do Amazonas, com 1.082 km² degradados, 16% do detectado na Amazônia.

Comparativo da degradação nos estados da Amazônia

EstadoOutubro de 2023 (Km²)Outubro de 2024 (km²)Percentual da degradação em relação à Amazônia (outubro de 2024)Variação de outubro de 2023 a outubro de 2024(%)
Pará8442.85443%238%
Mato Grosso1182.24134%1.799%
Amazonas4121.08216%163%
Rondônia822183%166%
Tocantins221022%364%
Acre8861%975%
Maranhão47401%-15%
Amapá20
Roraima1

O Pará também concentrou seis municípios no ranking dos que mais degradaram, atingindo 2.390 km². Outros três, que totalizam 773 km², estão em Mato Grosso.

Ranking com os dez municípios que mais degradaram em outubro de 2024

RankingNomeEstadoÁrea (km²)
1São Félix do XinguPA1.023
2AltamiraPA477
3Boca do AcreAM313
4JuínaMT307
5Ourilândia do NortePA261
6Gaúcha do NorteMT254
7JacareacangaPA217
8JuaraMT212
9ItaitubaPA207
10Cumaru do NortePA205

Quando se observa a degradação nas terras indígenas em outubro, oito das 10 mais afetadas estão localizadas integral ou parcialmente em Mato Grosso. Porém, a mais prejudicada foi a Kayapó, localizada no Pará. Outubro foi o terceiro mês consecutivo em que esse foi o território indígena com a maior área degradada na Amazônia: 1.093 km2.

Ranking com os dez territórios indígenas mais degradados em outubro de 2024

RankingNomeEstadoÁrea (km²)
1TI KayapóPA1.093
2TI MenkragnotiPA/MT287
3PI XinguMT264
4PI AripuanãRO/MT242
5TI Capoto/JarinaMT170
6TI MundurucuPA/MT151
7TI Alto Rio GuamáPA/MA103
8TI NambiquaraMT94
9TI Apiaká do Pontal e IsoladosAM/PA/MT90
10TI KayabiPA/MT65

Desmatamento teve alta de 44% em outubro de 2024

Embora o desmatamento acumulado de janeiro a outubro tenha sido 8% menor do que em 2023, outubro apresentou uma alta de 44% na derrubada, passando de 290 km² para 419 km². Essa foi a sétima maior área devastada em outubro dos últimos 16 anos, desde que começou o monitoramento do Imazon.

Por isso, para que o acumulado do ano continue menor do que o de 2023, precisamos inverter essa tendência de aumento nesses últimos dois meses.

A derrubada foi liderada pelos estados de Mato Grosso (35%), Pará (31%) e Acre (12%), que juntos somam 330 km² destruídos, o que equivale a 78% de toda a perda registrada. Esses estados também concentram nove dos dez municípios que mais desmataram.

Ranking com os dez municípios que mais desmataram em outubro de 2024 

RankingNomeEstadoÁrea (km²)
1MarcelândiaMT71
2União do SulMT55
3LábreaAM17
4BujariAC15
5PortelPA14
6PacajáPA12
7Rio BrancoAC10
8ColnizaMT10
9Sena MadureiraAC9
10AnapuPA7

As unidades de conservação que mais perderam floresta estão concentradas no Pará e no Acre, cada um com três UCs. Juntas, somam cerca de 19 km², o equivalente a quase dois mil campos de futebol perdidos. Além desses estados, o Amazonas concentrou total ou parcialmente seis das dez terras indígenas que mais sofreram com o desmatamento no período.

“Esses números refletem a crescente pressão sobre as áreas protegidas e a vulnerabilidade dessas regiões, que têm sido constantemente ameaçadas por atividades ilegais. As populações desses locais são as principais afetadas pelos crimes ambientais. Por isso, os números reforçam a necessidade urgente de proteção desses territórios, garantindo a sua integridade e combatendo as atividades predatórias”, completa Raissa.

Ranking com as dez unidades de conservação que mais desmataram em outubro de 2024 

RankingNomeEstadoÁrea (km²)
1FES do AntimaryAC11
2Resex Chico MendesAC4
3APA Triunfo do XinguPA2
4Resex Verde para SemprePA1
5FES do ParuPA1
6RDS MamirauáAM1
7Resex Guariba-RooseveltMT1
8Rebio do GurupiMA1
9APA Caverna do Maroaga (Presidente Figueiredo)AM0,3
10FES Afluente do Complexo do Seringal JurupariAC0,3

Área degradada é quase 10 vezes maior do que a desmatada

Se compararmos o tamanho das áreas degradadas e desmatadas na Amazônia em 2024, de janeiro a outubro, a degradação é quase 10 vezes maior. Mais um alerta sobre a necessidade de medidas específicas para combater esse dano ambiental e suas emissões.


Veja os dados de outubro aqui

Acesse aqui todos os boletins do SAD

Saiba como funciona o sistema aqui

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Imazon

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