Cópula rara entre onças-pintadas é registrada pela primeira vez na natureza em parque no Pará

Registro inédito das onças foi captado no Parque Nacional da Serra do Pardo com apoio do ICMBio e reforça a importância das Unidades de Conservação (UCs).

Registro das onças foi feito por pesquisadores do Projeto Amazon Biodiversity and Carbon (ABC) Expeditions. Foto: Divulgação/ICMBio

Pesquisadores do Projeto Amazon Biodiversity and Carbon (ABC) Expeditions registraram pela primeira vez, na natureza, a reprodução de uma onça-pintada de pelagem preta (melânica). O flagrante, obtido por armadilhas fotográficas, em setembro de 2023, no Parque Nacional da Serra do Pardo, em Altamira (PA), mostra a cópula entre um macho de pelagem comum e uma fêmea melânica.

O estudo foi publicado no mês de agosto na revista científica Ecology and Evolution e representa um marco para o conhecimento do comportamento reprodutivo da espécie.

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Segundo o pesquisador do projeto e co-autor do artigo científico, Raffaello di Ponzio, o registro das onças abre novas perspectivas para a ciência e a conservação.

“Esse tipo de estudo ressalta como é fundamental investir em observações de história natural em ambientes tropicais remotos. No caso da fêmea melânica, encontramos indícios de lactação, o que sugere que ela poderia estar interagindo com o macho enquanto mantém seus filhotes ocultos, possivelmente como forma de confundir a paternidade ou reduzir o risco de infanticídio. Isso evidencia a natureza complexa e adaptativa dos sistemas de acasalamento dessa espécie”, explicou. 

A descoberta também permite comparações entre comportamentos reprodutivos observados em cativeiro e em ambiente natural.

“Constatamos que a cópula é bastante semelhante nos dois contextos, o que é importante para validar estratégias de conservação ex-situ, apoiando programas de manejo in-situ”, acrescentou Raffaello. 

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onças pretas são raras
Onça-pintada melânica na Reserva Mamirauá, no Amazonas. Foto: Miguel Monteiro/Acervo Instituto Mamirauá

Registro das onças

O registro foi obtido por uma das 48 armadilhas fotográficas instaladas pelo Programa Monitora em três trilhas do Parque, com câmeras posicionadas a cada 200 metros e em operação por 11 dias. O trabalho contou com apoio logístico do Instituto Chico Mendes (ICMBio), por meio do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) Terra do Meio, e da comunidade ribeirinha da Vila de São Sebastião, localizada dentro da UC. 

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O Projeto ABC Expeditions revisita áreas do antigo RadamBrasil — programa dos anos 1970 que mapeou recursos naturais da Amazônia — para avaliar a biodiversidade, a estrutura florestal e os estoques de carbono. A ideia é comparar dados coletados há 50 anos com a situação atual, medindo o impacto da degradação ambiental e projetando cenários futuros. 

As onças-pintadas (Panthera onca) são animais de hábitos solitários, com grandes áreas de vida, o que dificulta a documentação de comportamentos reprodutivos. Indivíduos melânicos são ainda mais raros, representando cerca de 10% da população. Essa variação genética, que torna a pelagem preta, pode influenciar a atividade, o comportamento social e reprodutivo da espécie. 

Para Raffaello, registros como esse só são possíveis graças à proteção proporcionada pelas unidades de conservação.

“Elas asseguram que os animais mantenham seus comportamentos naturais, ao mesmo tempo, em que dão suporte logístico, técnico e administrativo às pesquisas. Além de proteger a biodiversidade, fortalecem a ciência brasileira e tornam possíveis avanços inéditos como este”, destacou. 

Leia também: Saiba o que são as Unidades de Conservação (UCs) e a importância delas para a Amazônia

Criado em 2005, o Parque Nacional da Serra do Pardo integra o mosaico de áreas protegidas da Terra do Meio, na bacia do médio rio Xingu, considerado estratégico para a conservação da onça-pintada. A região abriga uma das maiores populações da espécie na Amazônia, reforçando o papel das unidades de conservação para o conhecimento científico e a preservação da fauna brasileira. 

*Com informações do ICMBio

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