“Estamos na direção certa, mas na velocidade errada”, alerta Lula na abertura da COP30

O Presidente da República destacou os três eixos de ação que deverão orientar as negociações da COP30: o cumprimento dos compromissos climáticos já assumidos, o fortalecimento da governança global e a colocar as pessoas no centro das decisões sobre o clima.

Ao abrir a COP30, Lula afirmou que o Brasil quer inspirar o mundo a transformar compromissos em ação concreta. Foto: Ricardo Stuckert/PR

A 30ª Conferência das Partes da Convenção‑Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) começou oficialmente nesta segunda-feira (10), em Belém (PA), no coração da Amazônia. Pela primeira vez, a principal conferência mundial sobre clima acontece na região que simboliza a urgência e a esperança do planeta. Durante duas semanas, líderes e negociadores de todo o mundo discutirão caminhos para transformar compromissos em ação e fortalecer as alianças globais pelo clima.

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Na cerimônia de abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que trazer a COP30 para Belém foi “uma decisão política e simbólica”, com o objetivo de mostrar que a Amazônia é parte essencial da solução climática, e não apenas um tema de debate.

“O bioma mais diverso da Terra é a casa de quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas. A Amazônia não é uma abstração, é um lar, é economia, é cultura, é vida. Trazer a COP para o coração da Amazônia foi árduo, mas necessário. Quando deixarem Belém, os delegados levarão o compromisso de agir, e o povo da cidade ficará com os investimentos que esta conferência trouxe. O mundo, enfim, poderá dizer que conhece a realidade da Amazônia”.

O presidente também apontou três eixos de ação que deverão orientar as negociações da COP30: o cumprimento dos compromissos climáticos já assumidos, o fortalecimento da governança global e a colocar as pessoas no centro das decisões sobre o clima.

Entre as propostas, Lula defendeu a criação de um Conselho Global do Clima vinculado à Assembleia Geral da ONU, para garantir maior coordenação e responsabilidade política entre os países. “Precisamos de instituições à altura da crise que enfrentamos”, assegurou.

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COP da implementação

Ao projetar o papel da COP30 no cenário global, o presidente Lula reafirmou o objetivo de que esta seja a COP da Verdade, um espaço de enfrentamento à desinformação e de valorização da ciência, e também a COP da Implementação, marcada pela transformação dos compromissos em ações concretas. Ele reiterou que, apesar dos avanços alcançados desde o Acordo de Paris, o ritmo global ainda é insuficiente para conter o aquecimento do planeta. “Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada”.

“A mudança do clima já não é uma ameaça do futuro, é uma tragédia do presente”, afirmou o presidente ao lembrar das recentes enchentes no Sul do Brasil e o furacão Melissa, no Caribe. “Vivemos uma era em que os obscurantistas rejeitam as evidências científicas e atacam as instituições. É hora de impor uma nova derrota ao negacionismo”.

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Na mesma linha, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, ressaltou durante a cerimônia que a conferência marca uma transição histórica: o início da década da implementação do Acordo de Paris.

“Esta COP precisa ser lembrada como a COP da ação, uma conferência que transforma compromissos em resultados. É o momento de integrar clima, economia e desenvolvimento, criando empregos, reduzindo desigualdades e fortalecendo a confiança entre as nações”.

Corrêa do Lago também destacou o esforço coletivo que tornou possível sediar a conferência na Amazônia, agradecendo o empenho das equipes técnicas e do governo brasileiro. “O mundo vê no Brasil um exemplo de união e de propósito. A COP30 é fruto de um mutirão, uma palavra brasileira que o mundo aprendeu e que simboliza a essência desta conferência: trabalhar juntos”. 

Leia aqui a íntegra do discurso do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30.

Lula com chefes de Estado e de Governo na 'foto de família' da COP30 Foto: Ricardo Stuckert / PR
Lula com chefes de Estado e de Governo na ‘foto de família’ da Cúpula do Clima, em Belém (PA): ‘As decisões que tomarmos com relação ao setor energético definirão nosso sucesso ou nosso fracasso na batalha contra a mudança do clima’. Foto: Ricardo Stuckert / PR

O secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês), Simon Stiell, salientou o papel central da COP30 como ponto de inflexão para o processo climático global.

“Estamos na foz do maior rio do mundo, e o que ele nos ensina é que grandes resultados vêm da convergência de muitos fluxos. A COP precisa funcionar da mesma forma, impulsionada pela cooperação e pela coragem”, disse Stiell. E completou: “A economia da transição é inegável. As renováveis já superaram o carvão como principal fonte de energia global. Agora é hora de transformar ambição em ação concreta. É assim que mostramos ao mundo que o multilateralismo ainda entrega resultados”.

Da COP29 à COP30: a era da entrega

O presidente da COP29, Mukhtar Babayev, entregou simbolicamente o comando do processo climático global à presidência brasileira, destacando que o mundo entra em “uma nova era de implementação”.

“A COP30 inaugura o primeiro ciclo de entrega total do Acordo de Paris. A partir de agora, não há mais espaço para promessas sem ação. Esta é a década da execução, da solidariedade e da credibilidade”, comentou.

Babayev relembrou que a conferência anterior, em Baku, consolidou um acordo financeiro histórico e enfatizou que a COP de Belém deve aprofundar os compromissos firmados, “com foco em resultados tangíveis e justos, especialmente para os países em desenvolvimento”.

*Por Nicole Angel, para a COP30

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