Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) publicado na revista Acta Botânica Brasilica apontam uma mudança na dinâmica de crescimento em período de manutenção das folhas
Um estudo publicado na revista “Acta Botânica Brasilica” revelou que as mudanças climáticas têm impacto direto no crescimento das árvores e na qualidade da madeira de plantios florestais. Realizado por pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com a Teak Resources Company (TRC), apontam uma mudança na dinâmica de crescimento em período de manutenção das folhas, e, consequentemente, na largura dos anéis de crescimento de árvores da espécies Tectona grandis, em plantios na Amazônia durante o efeito El Niño.
Essa consequência das mudanças climáticas foi mencionada no segundo Relatório do IPCC, em 2022.
O estudo foi realizado na região sudeste do estado do Pará, em 12 plantações de Tectona grandi, ao longo de 12 anos (2007-2018). Cada plantação ocupa, em média, 30 hectares. Para alcançar os resultados, os pesquisadores associaram o índice de vegetação (NDVI – Normalized Difference Vegetation Index), obtido através de imagem de satélite, com a dendocronologia, que estuda a datação dos anéis de crescimento das árvores.
Os pesquisadores estabeleceram correlação entre as variáveis climáticas e sua duração com a largura do anel de crescimento das árvores antes e após o El Niño. As árvores naturalmente possuem períodos de maior crescimento, quando o índice de vegetação varia. Isto ocorre nas diferentes estações do ano, durante os períodos de chuva e de seca. Porém, o estudo mostra que na ocorrência de El Niño esse período de crescimento é reduzido.
“O estudo demonstrou que essas alterações do clima afetam diretamente o crescimento das árvores”,
aponta João Vicente Latorraca, co-autor do estudo
O cientista também destaca que as alterações na madeira impactam diretamente o comércio.
“A lógica é menos madeira, menos capital. A espécie Tectona grandis possui um viés comercial, então precisamos levar em conta o impacto nesse setor”,.
comenta.
A pesquisa, que propõe pela primeira vez a relação entre dados dendocronológicos com índices de vegetação para o estudo dessa espécie plantada na região amazônica, chama a atenção para os efeitos das mudanças climáticas a longo prazo.
“Diante das pressões que as florestas nativas vêm sofrendo, os plantios florestais ocuparam espaço na cadeia produtiva de produtos florestais. Assim, a relevância do nosso estudo é alertar para sociedade os impactos que as mudanças climáticas têm na produtividade de plantios florestais na Amazônia”, explica o cientista Fábio Henrique Della Justina do Carmo, também autor do estudo. “Além disso, a pesquisa apresenta a possibilidade de uso de ferramentas do sensoriamento remoto, com aquisição de dados de forma rápida e menos onerosa, para predição do crescimento da espécie estudada”, complementa.