Portal Amazônia responde: Árvores têm memória?

Pesquisas conduzidas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Marimauá, no Amazonas, acompanharam algumas espécies de árvores que adotam estratégias com base em experiências vividas pela planta-mãe.

Sabe-se que toda vida animal depende da memória, principalmente animais selvagens. Saber que lugares ir e quais precisam ser evitados, além de atividades cotidianas, é basicamente uma questão de sobrevivência.

Em relação aos animais domésticos, eles estabelecem uma relação de memória afetiva com seus tutores e podem ter tanto memórias boas, quanto ruins, o que ocasiona traumas. Não precisa em citar o ser humano, certo?

Mas e em relação às plantas? Seria possível árvores, sementes e plântulas possuírem memória? O Portal Amazônia responde essa curiosidade. Confira a seguir:

Foto: Reprodução/Rondônia em Sala

As árvores de várzea estão presentes em florestas de planícies que são invadidas por enchentes sazonais na bacia amazônica e ficam inundadas. Ao longo do rio Amazonas, há uma alta incidência de chuvas o que resulta em grandes enchentes estacionais.

Entre essas espécies, duas tem sido estudadas pela pesquisadora agrônoma e pós-doutora em sementes florestais pelo Museu Paraense Emílio Goeldi no Pará, Denise Garcia de Santana: a assacú (Hora crepitans) e os frutos de louro-inambuí (Ocotea cymbarum).

 Assacú (Hura crepitans)

Esta é uma espécie de várzea que produz a madeira flutuante de maior importância da bacia amazônica. Também é conhecida pelos nomes uassacú, árvore-do-diabo, catauá, no-perú e açacú. Com efeitos da memória materna, as sementes da espécie se tornam flutuantes, fenômeno chamado de hidrocoria. 

Antes de atingirem o rio (pelo aumento do nível das águas), as sementes são lançadas a grandes distâncias pelos frutos “explosivos”, mecanismo conhecido como autocoria, que é quando a semente é liberada pela própria planta sem que seja necessária a interferência de nenhum fator externo.

Foto: Reprodução/Museu Nacional UFRJ

 

Louro-inamuí (Ocotea cymbarum)


Já os frutos de louro-inamuí se desprendem da planta-mãe, afundam e são depositados no leito dos rios. Esse mecanismo conhecido como barocoria (queda em função do peso) reduz a distância de dispersão e a germinação tende a ocorrer próxima a planta-mãe, o que não é uma boa estratégia.

Para ampliar a área de dispersão, o louro conta com o peixe tambaqui e para “fisgá-lo” produz frutos com polpa atrativa. Após ingerir os frutos, o tambaqui consome a polpa e defeca as sementes em áreas distantes da planta-mãe. As pesquisas indicam que o louro e o tambaqui compartilham memórias, de acordo com Denise.

 As plantas dormem no rio?

Os estudos mostram que, na prática, as sementes são incapazes de germinar no rio e se estabelecer em solo inundado. Por isso, elas “adormecem”. Isso é possível devido aos baixos teores de oxigênio dissolvido na água.

Contudo, esse adormecimento não é um sinal de “sono” ou até mesmo cansaço, por assim dizer. Elas se preparam para a fase terrestre. O louro aproveita essa fase para se livrar da polpa e abrir fendas nas sementes, anunciando que está pronto para germinar.

Aí vem a “memória”

As plantas “sabem” que precisam germinar e formar plântulas rapidamente na fase terrestre. A Assacú desenvolve uma haste alongada assim que emerge, o que permite que as folhas fiquem acima do nível da água do rio. Já o louro desenvolve outro mecanismo de defesa que consiste em as plântulas apresentarem mais de uma haste, aumentando a chance de sobrevivência caso a principal morra. Se a planta ficasse submersa na água totalmente ocorreria a redução da fotossíntese e aumentaria o risco de morte.

Essas estratégias adotadas são decorrentes de experiências vividas pela planta-mãe, enquanto semente e árvore, ou seja, são uma espécie de “memória vegetal”.

Foto: Reprodução/Conexões Amazônicas

Apesar disso ter sido identificado em espécies de área de várzea, todas as espécies vegetais apresentam características intrinsecamente relacionadas às suas vivências e essas características são de conhecimento da ciência. 

Um exemplo disso é o livro ‘A vida secreta das árvores’, do pesquisador alemão Peter Wohlleben, que expande para o reino vegetal características até então consideradas exclusivas do reino animal.

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