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Atualmente, somente em Rondônia são conhecidas mais de 118 espécies de serpentes, das quais 18 são consideradas peçonhentas. Mas você sabe quais delas são as mais venenosas? O Grupo Rede Amazônica conversou com o biólogo Adriano Martins, especialista em herpetologia, que explicou características que destacam a Jararaca-da-Amazônia (Bothrops atrox), Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) e Coral-verdadeira (Micrurus spp.) como as cobras mais perigosas e temidas da região.
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Segundo Adriano, as cobras venenosas têm glândulas que produzem veneno e dentes especiais que conseguem injetá-lo, o que pode causar acidentes. Na Amazônia, três delas lideram a quantidade de acidentes ofídicos.
Jararaca-da-Amazônia (Bothrops atrox)
A Bothrops atrox é a principal causadora de acidentes ofídicos em Rondônia e em toda a Amazônia brasileira. É uma serpente de hábitos terrestres, geralmente encontrada em áreas de floresta, margens de rios, roçados e até mesmo em áreas urbanas periféricas.
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Veneno: proteolítico e coagulante, causa dor intensa, inchaço, necrose, sangramentos e, em casos graves, choque e insuficiência renal.
Comportamento: geralmente noturna, pode atacar se ameaçada ou surpreendida.
Importância médica: representa mais de 70% dos acidentes ofídicos na região.

Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta)
Conhecida por ser a maior serpente peçonhenta das Américas, podendo ultrapassar 3 metros de comprimento, a surucucu é rara e perigosa. Vive em áreas de floresta densa e pouco alterada, sendo mais difícil de ser encontrada.
Veneno: semelhante ao da jararaca, com ação hemorragia e necrose, mas também com efeitos cardiovasculares (hipotensão).
Comportamento: pode vibrar a cauda como forma de alerta. Costuma evitar o contato humano.
Curiosidade: ao contrário da maioria das serpentes peçonhentas da América do Sul, a Lachesis é ovípara (bota ovos).

Coral-verdadeira (Micrurus spp.)
As corais verdadeiras são serpentes de pequeno porte, coloração vibrante (anéis vermelhos, pretos e brancos), e comportamento discreto. Apesar de não serem responsáveis por muitos acidentes, seu veneno é altamente tóxico.
Veneno: neurotóxico, age diretamente no sistema nervoso, podendo causar paralisia muscular e respiratória.
Comportamento: fossorial (vive enterrada), tímida e raramente entra em confronto com humanos.
Perigo: acidentes são raros, mas potencialmente letais se não tratados rapidamente.

Onde vivem as serpentes?
O estado de Rondônia, na região Norte do Brasil, é reconhecido por sua expressiva diversidade biológica, integrando o bioma amazônico, um dos ecossistemas mais ricos do planeta. É nessa diversidade de ambientes que vivem as serpentes.
Segundo Adriano, elas estão nos mais variados nichos ecológicos, como florestas densas, áreas alagadas, campos abertos e bordas de matas.
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“Por conta disso, a maioria dos acidentes ocorrem em áreas rurais, durante atividades como a agricultura, coleta de frutos, caça ou pesca”, explica o especialista.
Apesar do risco do contato direto com essas espécies, Adriano ressalta que as serpentes são fundamentais para o equilíbrio da natureza, sendo responsáveis pelo controle natural de pragas, além de servirem como alimentos para aves de rapina, felinos e outros.
“A extinção dessas espécies causaria desequilíbrio na cadeia alimentar. Sem serpentes, populações de roedores, por exemplo, cresceriam descontroladamente, afetando plantações e a saúde pública”, afirma.
Contribuições à ciência
As serpentes peçonhentas contribuem significativamente para a ciência. Atualmente, elas auxiliam no desenvolvimento de medicamentos anti-hipertensivos, como o captopril, derivado do veneno de jararaca.
Segundo Adriano, também há estudos em andamento sobre o uso de venenos para promover a coagulação e a regeneração tecidual, além de pesquisas sobre o uso das neurotoxinas para tratar doenças neurológicas e dores crônicas.
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Cuidados ao acessar áreas de mata
Entre as maneiras mais eficientes de evitar acidentes com serpentes peçonhentas estão:
- Usar botas e perneiras;
- Caminhar com atenção, evitando folhas secas e troncos caídos;
- Não colocar as mãos em buracos ou sob pedras;
- Evitar sair à noite em áreas de mata densa;
- Manter-se atento ao ambiente e evitar manusear serpentes.
Orientações do que fazer caso seja picado por uma cobra:
- Lavar o local da picada com água e sabão
- Ficar deitado com o membro picado elevado
- Afastar-se da cobra
- Tentar ficar calmo e parado
- Retirar qualquer joia, acessório ou roupa apertada da área mordida
- Não cortar, furar, fazer compressas ou torniquetes no local da mordida
- Não usar nenhum medicamento local ou por via oral, na tentativa de aliviar os sintomas
- Manter a pessoa hidratada
- Procurar o serviço médico mais próximo
- Se possível, leve o animal ou tente tirar uma foto da cobra para que ela possa ser identificada.
- É recomendado o repouso de 10 à 14 dias após a picada de cobra.
*Por Agaminon Sales, da Rede Amazônica RO