Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas. Foto: Reprodução/Prefeitura de Presidente Figueiredo
Quando o assunto é produção de energia ou controle das águas na Amazônia, dois termos costumam ser usados quase como sinônimos: barragem e hidrelétrica. Mas será que significam a mesma coisa? Para esclarecer a diferença entre essas estruturas e seus impactos, o Portal Amazônia conversou com o professor Edson Ortiz de Matos, da Faculdade de Engenharia Elétrica e Biomédica da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Segundo o professor, barragem é, essencialmente, uma estrutura de contenção de água. “Ela reprime a água de um rio para que possa ser utilizada de diversas formas, como abastecimento agrícola, controle de cheias ou até para lazer. É uma forma de represamento hídrico, que pode ter finalidades diversas, não necessariamente ligadas à geração de energia”, explicou.
📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp
Já uma hidrelétrica, por sua vez, é um sistema mais complexo que utiliza uma barragem como parte do processo de geração de energia elétrica.
“Na hidrelétrica, a barragem serve para formar um reservatório e controlar o fluxo da água que será canalizada para turbinas e geradores. A partir da força da água, essas máquinas transformam a energia hidráulica em energia elétrica”, disse.
Um exemplo clássico desse modelo é a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Edson explica que em Tucuruí há um grande reservatório de água criado pela construção de uma barragem. Essa contenção possibilita o armazenamento de grandes volumes de água, que são liberados conforme a necessidade, garantindo o funcionamento contínuo das turbinas, inclusive durante o período de estiagem. “Essa estrutura garante uma produção estável de eletricidade ao longo do ano, mesmo com variações no volume dos rios”, reforça.
Leia também: Usinas hidrelétricas da Amazônia: fontes de energia e de impactos ambientais

É possível construir uma barragem em qualquer lugar?
Teoricamente, sim. Mas, na prática, a realidade é outra. Segundo o engenheiro, para a construção de uma barragem, seja para fins de energia, irrigação ou controle de cheias, é necessário realizar estudos minuciosos da região escolhida.
“Você precisa entender a topografia, o relevo, o comportamento do rio e, principalmente, fazer uma análise econômica e ambiental. Uma barragem entre duas montanhas, por exemplo, pode facilitar o represamento. Já em áreas planas, como Belém, o custo de construção pode ser inviável”, alertou.
Edson comparou o custo-benefício dessas obras a um exemplo cotidiano: “É como colocar uma caixa d’água gigante para atender só duas pessoas. Você até pode fazer isso, mas o custo será tão alto que não compensa. Às vezes, é mais barato comprar água mineral”.
Leia também: Barragens com risco de rompimento na Amazônia podem atingir área maior que a de Porto Alegre
Sustentabilidade e responsabilidade
Outro ponto crucial, segundo o especialista, é o impacto ambiental de grandes empreendimentos como as barragens e usinas.
“Não basta avaliar apenas o aspecto técnico. O engenheiro ou gestor precisa considerar os impactos ambientais e sociais, entender o que será alterado na biodiversidade, nas comunidades locais, nas culturas tradicionais. Nem tudo que é tecnicamente possível é justificável do ponto de vista ambiental”, defendeu.
Edson destaca que é preciso ter responsabilidade. Afinal, um bom projeto deve trazer benefícios econômicos e sociais sem comprometer o meio ambiente e o modo de vida das populações da região. “Isso não é discurso político, é postura profissional”, concluiu.
