Arraia cururu, encontrada no Amazonas. Foto: Richard Harwicke
Você sabia que as arraias de água doce podem entrar em trabalho de parto prematuro quando estão sob estresse? Esse fenômeno, que também ocorre em tubarões e outros peixes cartilaginosos, foi explicado pelo biólogo Lucas Castanhola em entrevista ao Portal Amazônia.
De acordo com o especialista, situações como captura e transporte são capazes de desencadear esse tipo de parto prematuro, que em alguns casos resulta em aborto dos filhotes. O fenômeno é conhecido como parto induzido por estresse ou aborto por captura.
“Quando o animal está numa situação de extremo estresse, como ficar preso no anzol, por exemplo, ele pode abortar os filhotes. Isso é um mecanismo de autopreservação”, explica Castanhola.

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Mecanismo de defesa
Segundo o biólogo, esse comportamento pode funcionar como uma estratégia de defesa. A arraia, ao perceber uma ameaça iminente, pode liberar os filhotes como uma forma de distrair o predador ou aliviar seu próprio organismo, aumentando as chances de sobrevivência da mãe.
“Ela prefere se preservar do que salvar o filhote. É uma forma de garantir que, se ela escapar, poderá se reproduzir novamente no futuro”, comenta.
Esse comportamento não é exclusivo das arraias de água doce da região amazônica. Diversas espécies de arraias marinhas e tubarões também apresentam esse mecanismo biológico.
Ciclo reprodutivo das arraias
As arraias possuem dois tipos de reprodução: podem ser ovíparas, colocando ovos, ou vivíparas, gerando filhotes já formados.
As espécies de água doce da Amazônia, todas, são vivíparas, o que significa que os filhotes se desenvolvem dentro da mãe até estarem prontos para nascer.
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Pesca e impacto no ciclo de vida
O fenômeno do parto induzido levanta preocupações sobre as práticas de pesca e manejo dessas espécies. A captura de fêmeas grávidas pode não apenas colocar em risco a vida dos filhotes, mas também impactar negativamente as populações desses animais.
“É algo que a gente observa com certa frequência durante atividades de pesca. Quando percebemos que o animal está com filhotes, ele pode entrar em trabalho de parto no momento em que está sendo manuseado. É uma reação fisiológica ao estresse extremo”, comenta Castanhola.