O Serviço Geológico do Brasil (SGB) realizou até 27 de setembro uma missão pioneira de navegação para estudar o ciclo da água na Amazônia. As atividades começaram no dia 5 de setembro para percorrer parte dos rios Negro, Solimões, Purus, Madeira e Amazonas, com o objetivo de coletar amostras de água no âmbito do Programa de Aplicações Isotópicas do SGB.
Essa é a maior campanha isotópica, em extensão de rio, já realizada no país, e, possivelmente, uma das maiores do mundo. A bordo do navio oceanográfico Rio Branco, da Marinha do Brasil, foram percorridos mais de dois mil quilômetros.
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O projeto busca aprofundar o conhecimento sobre o ciclo hidrológico da Amazônia, região vital para o clima global, gerando informações sobre a origem e dinâmica de circulação da água no bioma amazônico. As coletas são realizadas em três profundidades – 2, 5 e 10 metros – a cada 20 quilômetros no curso dos rios e desembocadura de igarapés.
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Foram realizadas coletas a partir do próprio navio, assim como com o apoio de lanchas em áreas específicas como o Parque de Anavilhanas e igarapés de maior porte. As amostras serão submetidas a análises hidroquímicas e isotópicas (traçadores de oxigênio, hidrogênio e estrôncio). Nas amostras coletadas nas profundidades de 10 metros, foram realizadas análises de Radônio com equipamento portátil (RAD8) à bordo.
“Com base em tentativa e erro, desenvolvemos toda uma estratégia de coleta em diferentes profundidades. A enorme correnteza dos rios e o padrão de navegação da Marinha foram desafios superados graças à integração das equipes do SGB e da Marinha, permitindo coletas rápidas, seguras e bem-sucedidas”, explicou o técnico do SGB, Sérgio Estevam.
Dados do SGB como base para ações
Os dados obtidos permitirão traçar as rotas de geração de umidade e chuva, estimar contribuições de escoamento de base e parcelas de água de degelo, além de fornecer subsídios para entender o ciclo hidrológico como um todo e sustentar futuras pesquisas nacionais e internacionais.
A hidrologia isotópica, de forma geral, contribui para compreensão do ciclo da água e tem aplicações na gestão de recursos hídricos, além de gerar informações que auxiliam em estudos sobre mudanças climáticas, ecologia, fauna selvagem e rastreabilidade das fontes de alimentos.
O pesquisador do SGB Roberto Kirchheim ressalta o valor estratégico da atuação da instituição na região: “A vida das pessoas depende da dinâmica dos rios, sua navegabilidade e manutenção das funções ecossistêmicas. É necessário avançar com projetos estruturantes, equipamentos modernos e maior articulação com parceiros para garantir a sustentabilidade da Amazônia. A COP 30 certamente irá amplificar os desafios da região e o SGB precisa ter respostas institucionais à altura”, frisou.
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A equipe do SGB a bordo inclui Roberto Kirchheim, Roberto Paiva e Sérgio Estevam, com apoio de outros pesquisadores do SGB e de instituições, como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Faculdade do Espírito Santo (UNES), Universidade de São Paulo (USP), Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Universidade da Córsega e Universidade do Texas (EUA).
O pesquisador Roberto Paiva reforçou a importância do trabalho colaborativo para viabilizar o trabalho: “Trata-se de uma missão pioneira, envolvendo múltiplas instituições e setores, materializando uma força-tarefa em prol de objetivos com benefícios a todos”.
O sucesso da missão também se deve à parceria com a Marinha do Brasil, que disponibilizou o navio e toda infraestrutura e tripulação ao SGB para o sucesso da jornada pelos rios da Amazônia.
*Com informações do SGB
