Amazônia Legal registra média de 11 mil km² por ano de área desmatada em mais de três décadas

Um estudo sobre desmatamento na Amazônia Legal apresenta recorte temporal e abrangência de área territorial inédita sobre o impacto na região

Desmatamento na Amazônia Legal. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

Um estudo sobre desmatamento na Amazônia apresenta recorte temporal e abrangência de área territorial inédita sobre o impacto na região a partir das métricas de compacidade (como as áreas desmatadas se apresentam geograficamente) e raios equivalentes (manchas desmatadas, ou seja, áreas que foram removidas ou degradadas ao longo do tempo). O trabalho, publicado em abril na revista científica Forest Ecology and Management, evidencia o preocupante cenário de falhas na preservação de toda a Amazônia Legal

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Entre 1985 e 2021 as taxas de desmatamento atingiram níveis alarmantes de até 25.000 quilômetros quadrados por ano. A taxa média anual de desmatamento nas mais de três décadas de análise foi de 11.152 quilômetros. Com exceção de 2005 a 2012, as taxas não mostraram sinais de redução.

A redução do desmatamento em 2005 pode ser amplamente atribuída a iniciativas governamentais como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. Nesse período de 2005 a 2012, o Brasil reduziu as taxas de desmatamento na floresta amazônica em 84% quando comparado ao pico de 2004. No entanto, desde 2013, as taxas de desmatamento vêm aumentando. Por exemplo, em 2019, 10.129 km² da floresta foram desmatados, um aumento de 34% em relação ao ano anterior. Essa alta taxa de desmatamento compromete as metas de redução de gases de efeito estufa e está associada ao aumento das emissões de queima de biomassa, impactando negativamente a saúde respiratória e as comunidades vulneráveis. 

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Amazônia Legal registra média de 11 mil km² por ano de área desmatada
Amazônia Legal registra média de 11 mil km² por ano de área desmatada. Foto: Polícia Federal/divulgação

Para chegar a esses números, um grande volume de dados foi analisado, abrangendo 36 anos de dados de uso e cobertura do solo e 3 milhões de quilômetros quadrados. A pastagem foi o tipo de uso da terra mais frequente nas manchas de desmatamento, representando aproximadamente 83% da área desmatada, seguida pela agricultura e silvicultura, juntas respondendo por 17%.

O estudo é de autoria de pesquisadores da Universidade de São Paulo ligados ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), Instituto de Física (IFUSP) e Escola Politécnica (EPUSP); Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Diferentemente da maioria dos trabalhos anteriores sobre desmatamento na floresta amazônica, que investigaram pequenas áreas ou períodos limitados, este trabalho abrange 36 anos e toda a área da Amazônia Legal. 

“Com as métricas que utilizamos, como o compactness e o raio equivalente, observamos quatro regiões distintas dentro da Amazônia, cada uma com sua característica única e consistente com as diferentes evoluções temporais. Essas descobertas ressaltam a utilidade de métricas geométricas relativamente simples para entender a evolução espacial e temporal do desmatamento, oferecendo insights valiosos sobre a estimativa da dinâmica do uso da terra na Amazônia e que isso pode ser uma base para estratégias de monitoramento e conservação mais eficazes”, explica Marco Aurélio de Menezes Franco, Professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP e um dos autores do estudo. 

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Amazônia Legal registra média de 11 mil km² por ano de área desmatada
Desmatamento na Amazônia Legal. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

Os pesquisadores realizaram a análise de dados de uso e cobertura do solo, caracterizaram as áreas desmatadas, agregaram clusters geográficos e apontaram distribuições de probabilidade e evolução. Esta metodologia se dividiu em uma análise de padrão espacial na qual se identificou áreas contíguas de desmatamento (manchas) com base nos mapas de uso do solo do projeto MapBiomas. Em segundo lugar, as características geométricas das manchas de desmatamento foram caracterizadas. Na sequência,  foi aplicada a análise de agrupamento para identificar regiões com padrões de desmatamento semelhantes em suas características geométricas.

A floresta amazônica, embora ocupe apenas 0,5% da superfície terrestre, é um ecossistema notavelmente diverso, abrigando mais de 10% de todas as espécies vegetais e vertebradas conhecidas. A floresta tropical, por exemplo, regula criticamente o clima global e os ciclos da água e do carbono, contribuindo para cerca de 16% de toda a produtividade fotossintética terrestre. No entanto, atividades humanas como agricultura e pecuária resultaram em uma mudança significativa no uso da terra, afetando os ciclos biogeoquímicos e os serviços ecossistêmicos relacionados à regulação climática, biodiversidade e armazenamento de carbono.

Estudos recentes sugerem que a mudança no uso da terra, a degradação florestal e as mudanças climáticas transformaram áreas florestais de sumidouros de carbono em fontes de carbono para a atmosfera, especialmente no sudeste da Amazônia. 

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Amazônia Legal registra média de 11 mil km² por ano de área desmatada
Desmatamento na Amazônia Legal. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

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Sobre o IAG/USP 

O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo é um dos principais polos de pesquisa do Brasil nas áreas de Ciências Exatas e da Terra. A missão é contribuir para o desenvolvimento do país, promovendo o ensino, a pesquisa e a difusão de conhecimentos sobre as ciências da Terra e do Universo e aspirando reconhecimento e liderança pela qualidade dos profissionais formados e pelo impacto da atuação científica e acadêmica.

O estudo está disponível online em https://doi.org/10.1016/j.foreco.2025.122662 

*Com informações do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo

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