“Igrejinha” comemora 109 anos de existência neste ano.
Santo Antônio é um dos mais populares em Portugal e no Brasil, e sua imagem é sempre associada às tradições populares. Também conhecido como Santo Casamenteiro, ele morreu em 13 de junho de 1231 e virou o primeiro homenageado das festas juninas.
Na ponte que dá acesso à capela que leva seu nome em Porto Velho há uma ponte em cujo alambrado os casais apaixonados afixam cadeados para manter viva a paixão. Esta é uma das tanta tradições e simpatias envolvendo o casamenteiro mais famoso do mundo.
Desde a manhã de hoje (13), uma equipe do Memorial Rondon — que funciona nas imediações da igreja — está trabalhando na limpeza e na pintura da fachada da velha “Igrejinha”. Às 18h será celebrada uma missa no local. Considerado um dos ícones arquitetônicos e históricos de Porto Velho, a Capela de Santo Antônio de Pádua estará comemorando 109 anos de existência em 21 de setembro de 2022.
Quando surgiu, em 1913, a Igrejinha era a matriz do município de Santo Antônio do Rio Madeira, no extremo norte do estado do Mato Grosso, então divisa com o Amazonas. A primeira missa foi celebrada pelo padre Raimundo de Oliveira — mais tarde, ele virou prefeito de Porto Velho.
Em 1945, o município de Santo Antônio — o maior do mundo em área, embora com poucos habitantes — foi oficialmente extinto e incorporado a Porto Velho, que dois anos antes havia sido elevada à capital do novo Território Federal do Guaporé.
Durante muitos anos, a capelinha foi o ponto de referência da antiga cidade mato-grossense. Nas suas redondezas seria o marco-zero da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), construída entre 1907 e 1912. O caso é que a cachoeira localizada ao lado da igreja impedia que grandes embarcações trazendo equipamentos para a ferrovia atracassem no local. Assim, o ponto inicial da EFMM foi alterado para onde está hoje Porto Velho, cidade que, praticamente, surgiu a partir deste momento histórico.
A cidade de Santo Antônio acabou virando “fantasma” e literalmente sumiu do mapa por ordem do Governo Federal, dada a necessidade de uma reorganização administrativa que passou a ter Porto Velho como centro político. Por algum tempo, a igrejinha e o obelisco do centenário da Independência do Brasil, fincado poucos metros atrás da capela, foi tudo o que sobrou da região antes movimentada com porto, estação de trem, lojas, escola, cadeia, intenso comércio de látex, sedes de todos os poderes constituídos e batalhão da força de segurança, além de ser o ponto final da lendária expedição Linhas Telegráficas Rondon, encerrada em 1915.
Reconstrução
A benevolente senhora dedicou-se à então abandonada igreja, tendo o apoio da Maçonaria e do Rotary Club, desenvolvendo várias ações sociais. Também contou com o 5º BEC (Batalhão Engenharia e Construção), principalmente com o entusiasmo do capitão Wosvaldo Távora Buarque, na reconstrução da capela. Assim, há exatos 45 anos a Igrejinha foi refeita e aberta à população, sendo tombada pelo governador Ângelo Angelim, em 1986 ,como Patrimônio Histórico Estadual.
Dona Lili, com sua fé, deu uma enorme contribuição à preservação da memória local. O corpo da benevolente senhora está sepultado no Cemitério de Santo Antônio, próximo à igrejinha. Era uma cidadã distinta e respeitável; casada com Calmon, deixou cinco filhos (Aglais, Thereza, Lúcia, Calmon Júnior e Antônio), 11 netos e 09 bisnetos; trabalhava na Assistência Social do Território de Rondônia e, depois do nascimento dos filhos, passou a ser dona de casa dedicada à igreja e ao voluntarismo social.
Hoje
No local da mesma cachoeira — que foi implodida na década de 2000 — que, no passado, foi o impeditivo para o progresso do antigo vilarejo portuário hoje funciona uma das maiores usinas hidrelétricas do Brasil, a UHE Santo Antônio, gerando energia para pelo menos 40 milhões de brasileiros.
Também perto da capela está o Memorial Rondon inaugurado há seis anos. Com diversos espaços dedicados à memória do sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon, dispõe de cerca de 400 itens, entre eles a maquete do posto telegráfico aberto pelo militar em Santo Antônio.
Vila foi fundada por Jesuítas
A vila de Santo Antônio, onde está a capela do Santo Casamenteiro, foi fundada inicialmente em 1728 por jesuítas da Companhia de Jesus comandados pelo Padre João Sam Payo. A intenção da Coroa Portuguesa era manter ocupada a rota do ouro entre Pará e Mato Grosso e garantir a soberania e o domínio dessas terras.
Em 1737, a vila de Santo Antônio tinha cerca de 100 moradores entre “índios mansos”, caboclos e portugueses seguidores de Sam Payo. A primeira versão da capela era feita em madeira e coberta de folhas de palmeira, no modelo de todas as residências ribeirinhas primitivas.
O povoado de Santo Antônio foi destruído em 1742 pelos índios da nação Mura. Isso ocorreu depois que um suposto falso emissário de Sam Payo ter levado índios para vender como escravos na feira de Belém (PA), causando a revolta dos nativos.
Somente a partir de 1798 a região do Rio Madeira voltou a ser destino de diversas expedições, começando pela Companhia de Navegação do Maranhão e Pará. No final do século 18, o vilarejo foi consolidado e elevado a município em 1912, independente de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT).
O primeiro prefeito de Santo Antônio foi o médico maçom Joaquim Augusto Tanajura, simpático da Igreja Positivista, da qual tomava parte o próprio Marechal Rondon, seu chefe nas campanhas militares nos sertões do Brasil.
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