Orelhão completa meio século: pai da inventora foi empresário de sucesso em Manaus

A arquiteta sino-brasileira Chu Ming morreu há 25 anos.

Dia 17 de junho fará 25 anos a morte da arquiteta Chu Ming Silveira. Quem? A inventora do orelhão, ícone do design brasileiro surgido em 1972. O objeto decaiu nos últimos anos por conta da telefonia celular, mas ainda hoje há cerca de 7 mil orelhões nas ruas de Manaus — embora poucos funcionem e boa parte encontra-se depredada.

Passado meio século desde a sua implantação, o orelhão ainda é citado como um dos grandes inventos verde-amarelos. Ou quase isso. Chinesa de nascimento, Chu Ming mudou-se para o Brasil aos 10 anos de idade, em 1951. Aos 30, a arquiteta sino-brasileira formada na Universidade Mackenzie, na capital paulista, e que trabalhava na CTB (Companhia Telefônica Brasileira) criou o orelhão. 

A sino-brasileira Chu Ming: inventora. Foto: Divulgação

Rapidamente, o equipamento ganhou as ruas do Brasil, começando pelo Rio de Janeiro, onde foi inaugurado no Dia de São Sebastião [padroeiro da Cidade Maravilhosa], 20 de janeiro de 1972. Acabou também exportado para Ásia, África e América Latina. No começo era chamado de “capacete”, embora seu nome oficial fosse Chu, em homenagem à criadora. Para o povão, sempre foi orelhão.

A escolha do nosso país como destino da família de chineses envolve Manaus (AM). Explico: Chu Chen, o pai da famosa arquiteta do orelhão, que era engenheiro civil, leu certa vez em um jornal sobre a “facilidade” para se tornar fazendeiro na Amazônia — estava em declínio a extração da látex após a Segunda Guerra Mundial e o governo estimulava a ocupação da região Norte por meio da agricultura.

Os orelhões ainda resistem em alguns pontos. Foto: Júlio Olivar

Fugindo das perseguições políticas na China, Chen acabou chegando ao Brasil. A princípio, a família instalou-se em São Paulo, onde a filha Chu Ming decidiu permanecer até sua morte, em 1997.

O patriarca Chu Chen realizou seu sonho. Não o de tornar-se fazendeiro, mas sim o de residir no Amazonas e investir no comércio local. Na capital manauara, o chinês fundou na década de 1960 a próspera Loja Oriente, que viria a tornar-se, mais tarde, em um escritório de importação e exportação de artigos refinados da China.

Com seus amplos salões, a loja de produtos para interiores residenciais foi símbolo de sucesso e glamour nas décadas de 1970 e 89, tendo na sua decoração estátuas gigantes de cães mitológicos da China Imperial (veja a foto).

A antiga loja Oriente na capital do Amazonas. Foto: Reprodução

Extinção

Os telefones públicos estão dando lugar ao mundo virtual. Nas praças e ruas, em vez de orelhão, o usuário busca agora sinal de wi-fi. Os smartphones — em bom português, “telefones inteligentes” — não aposentaram apenas a telefonia fixa, mas também minoraram a força de equipamentos como a câmera fotográfica digital (líder no mercado até uma década atrás), a filmadora, a calculadora, o relógio, a agenda de papel…

Nesta semana, Nova Iorque retirou da rua a última cabine de telefonia pública. Foi parar no museu. A última instalação estava localizada na 7ª Avenida e marcou o fim de uma era. É o fim anunciado dos telefones públicos, também, no Brasil; o fim melancólico — mas não menos glorioso pela missão cumprida — do bom, clássico e quase saudoso orelhão.  

A última cabine telefônica retirada de Nova Iorque. Foto: G1

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*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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