Tecnologia dos povos originários indica soluções para crise climática

Ainda que a sua definição não seja consenso entre os cientistas, as consequências do Antropoceno são visíveis na Região Amazônica.

Foto: Oswaldo Forte

Controvérsias sempre fizeram parte do universo científico, uma vez que novas evidências podem fundamentar diferentes interpretações dos fenômenos. O Antropoceno, por exemplo, ainda não é plenamente aceito pela comunidade científica, embora o debate em torno da suposta nova época geológica iniciada com a Revolução Industrial, no século XIX, suscite discussões interessantes. Esse foi o tema que o professor Marcos Pereira Magalhães, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), doutor em História Social, trouxe para a Conferência ‘O Antropoceno e a Amazônia: o conhecimento indígena como resistência ao modelo econômico vigente’. A sessão foi mediada pela professora Sue Anne Regina Ferreira da Costa (UFPA/MPEG).

De acordo com Magalhães, cada época geológica evolui ao longo de milhares de anos, portanto a comprovação do Antropoceno (como uma época tornada global com as primeiras explosões atômicas e acentuada com a chamada Grande Aceleração Capitalista, deflagrada em 1973) seria possível apenas a longo prazo. Contudo há inúmeras evidências de que as ações humanas se tornaram planetariamente impactantes desde o fim do Pleistoceno, também conhecido como Era do Gelo, que durou entre 2.5 milhões e 11,7 mil anos atrás, pertencente ao Período Quaternário da Era Cenozoica.

Há pelo menos 10 mil anos, são reunidos indícios dos impactos causados pela expansão humana na Terra. Por esta razão, o professor defende que, em vez de o Antropoceno ser visto como uma época geológica, é possível que, na verdade, seja um período no Holoceno (a atual época geológica do Período Quaternário da Era Cenozoica, iniciada há 11,7 mil anos antes do presente). Isso, porém, não é menos significativo.

“Se formos considerar os impactos que os seres humanos estão causando para além da estratosfera, como os resíduos espaciais que a circundam e os rejeitos deixados nos solos da Lua e até de Marte, podemos prever uma nova época que não só deixaria marcas globais na Terra, mas também na formação geológica de outros astros do Sistema Solar, ou seja, uma época ‘Antropossolar’”, comenta.

Amazônia

Ainda que a sua definição não seja consenso entre os cientistas, as consequências do Antropoceno são visíveis na Região Amazônica. “A partir da década de 1970, quando foram implantados grandes projetos de mineração (legais e ilegais), a pecuária e a monocultura expandiram-se e começaram a ser construídas usinas hidrelétricas. Essa expansão capitalista na Amazônia vem gerando significativos impactos ambientais e sociais, que se multiplicam exponencialmente quando são associados à crise climática pela qual passamos”, afirma Magalhães.

Para o professor, questionar o Antropoceno pela perspectiva histórica e arqueológica aponta caminhos que não foram pensados pelas Ciências da Terra. O conhecimento tradicional, sobretudo o modelo indígena para a produção de alimentos – que envolve o cultivo intensivo de plantas nativas domesticadas, o manejo por meio de currais, animais de terra e água etc. -, indica algumas soluções para atravessar as oscilações climáticas, típicas do Holoceno.

“A arqueologia vem mostrando que, durante o longo passado histórico vivido pelas populações humanas que habitavam a Amazônia, foram desenvolvidas tecnologias sociais e de manejo que garantiram a sua continuidade histórica e cultural”, explica.

“Estamos falando de densas concentrações urbanas (aldeias com mais de 50 mil pessoas) em diferentes lugares, as quais demandavam grande produção de alimentos e o consumo de diversos recursos naturais. Neste sentido, o saber tradicional é referência para manter a floresta sempre viva e muito produtiva”, completa Marcos Magalhães.

*Com informações da UFPA

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