Tributo a uma guerreira no Amazonas: Maria Ferreira Bernardes

Ela mesclou com o labor do cotidiano a soma do binômio avó e mãe. Por tudo isso, consagro a memória da senhora Maria Ferreira Bernardes.

Ela foi na essência do verbo. Era uma jovem que acreditou na terra que o destino lhe houvera reservado.

Aqui trabalhou duro, deu sua juventude, entregou sua velhice com a soma do mais alto cometimento humano. Seu corpo foi aquecido pela força do sangue português, o que provocou um encontro da energia com o trabalho, na busca de realizar sonhos, sob a luz incandescente do sol da Amazônia. Lavou e passou, pois o objetivo maior era o sustento de seus netos. José e Maria.

Ela mesclou com o labor do cotidiano a soma do binômio avó e mãe. Por tudo isso, consagro a memória da senhora Maria Ferreira Bernardes.

Maria Ferreira Bernardes. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Não são poucas as pessoas no mundo que realizam essa experiência: ser avó e mãe por decisão da vontade da senhora Maria Ferreira Bernardes a plenitude da sua humanidade. O terno amor que dedicou aos netos, por vontade, de Deus que chamara a sua presença a mãe das crianças, escolhida para tal missão, não renegou a oportunidade de deixar seus valores morais, educacionais e religiosos. Dedicou-se ao trabalho modesto, porém honroso, de lavadeira para prover o sustento das duas crianças. Sem pensar duas vezes, passou a amá-los, no princípio de que é ando que se recebe

Estando sempre presente a vida de tais crianças, lançou-se ao trabalho, para promover o bem-estar dos netos filhos que Deus houvera lhe entregue. Embora livre da dor do parto, não diminuiu o amor e a dedicação a eles por toda sua vida. No seu espaço, fluía a sua sensibilidade fazendo-a sintonizar com a alma sonhadora dos que amam os seus e recebe os desígnios de Deus sem pensar no martírio do trabalho que teria de enfrentar.

Podemos chamá-la de guerreira, pois ela soube chamar para si o altar ecumênico da pura raça lusíada, na feliz concepção da palavra, no bem-estar de suas crianças. Ela, enquanto viveu entre nós, conseguiu espargir a felicidade do amor e a profundidade da saudade. Saudade da terra-mãe, da sua infância e juventude, dos que partiram. No entanto, procurou não se afastar um só milímetro das crianças que recebera a incumbência de criá-los.

Deus, na sua infinita misericórdia construiu nessa mulher, a grande inspiração para superar os revezes da vida com maestria e amor. Maria Ferreira Bernardes, avó paterna, sintetizou esses sentimentos com trabalho de uma simples lavadeira, cujas ações brilharam como pedras raras afloradas de aformoseado telúrico. Seu maior legado fora construir, através do seu trabalho, o caráter das crianças que hoje são peças honrosas para nossa sociedade. Sua ação de avó mãe permanece e é a estação que consolidou o amor e muitas vezes, partilhou do quinhão que lhe cabia comer, oferecendo o que ela tinha de melhor na intenção de atender primeiro suas crianças. Tudo isso, mostrou o seu equilíbrio na missão que Deus lhe dera, pois, procurou manter o amor, orar em chamas, orar em lágrimas, sem por nenhum momento perdera a essência de amar seus pequenos por primeiro.

Estação Ferroviária de Ermesinde, antes das obras de renovação levadas a cabo no Século XXI; situa-se no Concelho de Valongo, em Portugal. Foto: Autor desconhecido (REIS, Francisco Cardoso dos; GOMES, Rosa Maria; GOMES, Gilberto et al. Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A., 2006. 238 p. ISBN 989-619-078-X)

Tudo isso nos transporta, através das pesquisas, à reprodução dos fragmentos desse rico e honroso manancial histórico. Não podemos amputar para a história de Portugal e do Brasil, especialmente o Estado do Amazonas esses fragmentos ricos de valores pessoais, sem esquecer, todavia de enfatizar sua capacidade eclética de ser generosa.

Podemos sentir no ar, que entra no diafragma do pulmão, sua energia e sua alma como exercício permanente dos seus netos, como se eles renovassem de células interruptas e que absorvem suas lembranças.

Maria Ferreira Bernardes, a avó paterna, permanece como rastro de Luz, que emanando dos parâmetros celestiais, deixa espargir, ainda hoje, na nudez de sua foto, no gabinete do neto Comendador José dos Santos da Silva Azevedo, não só em um sentimento de lembrança, mas principalmente o respeito a sua memória, o clamor da mulher que não os trouxe ao mundo no seu ventre, porém, por si só, fez realçar a magnitude de avó e mãe. Ela foi mulher na essência do verbo. Era uma jovem que acreditou na terra que o destino lhe houvera reservado.

Aqui trabalhou duro, deu sua juventude, entregou sua velhice com a soma do mais alto cometimento humano. Seu corpo foi aquecido pela força do sangue português, o que provocou um encontro da energia com o trabalho de uma simples lavadeira, na busca de realizar sonhos soube a luz incandescente do sol da Amazônia. Lavou e passou, pois o objetivo maior era o sustento de seus netos, José e Maria.

Ela mesclou com o labor do cotidiano a soma do binômio avó e mãe. Por tudo isso, ofereço e consagro este artigo à imigrante portuguesa Maria Ferreira Bernardes.

Nasceu em 17 de abril de 1884, na Freguesia de Ermesinde, do Conselho de Valongo Distrito do Porto – Portugal e faleceu em Manaus no dia 22 de fevereiro de 1973.


Referência

BAZE, Abrahim. A Saga de um Imigrante Português na Amazônia. 2004. Editora Valer. Pág. 105,106 e 107.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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