A primeira apresentação da Banda do Luso Sporting Club

Realizada em 11 de julho de 1918, a apresentação teve a frente seu idealizador o cônego João Dias Bento da Cunha.

No dia 11 de julho de 1918 marcou a primeira apresentação da Banda de Música do Luso Sporting Club, tendo a frente seu idealizador o cônego João Dias Bento da Cunha, cuja, maior preocupação era mostrar suas habilidades no seguimento musical. Era chegada a hora de oferecer ao deleite de todos, principalmente as músicas para as quais tanto havia se preparado.

Aquele era o grande momento de superação de todas as dificuldades. Todo esse momento fora planejado pelo cônego Bento da Cunha, afinal ele fora o seu principal articulador.

As 6 horas do dia 23 de julho, em frente a sua sede, ao lado da Igreja de São Sebastião, cujo, prédio foi demolido e hoje é a residência dos capuchinhos, lhe esperavam grande número de pessoas para assistir aquele momento, famílias inteiras e o povo em geral.

A emoção foi forte quando às 6h30 a banda tocou finda marcha e, em seguida partiu com destino a Real e Benemérita Sociedade Beneficente Portuguesa do Amazonas, cuja, multidão acompanhou a sua trajetória, sendo aplaudida em todo momento.

Inauguração da sede definitiva, 12 de fevereiro de 1938. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Na Beneficente Portuguesa uma comissão de diretores composta pelos Srs. J. G. da Costa, Antônio Dias dos Santos e, Antônio José da Silva os receberam calorosamente com eloquentes discursos, em seguida foi executado o Hino de Portugal.

Às 6h40 partiu para o palácio do Governo acompanhada por uma comissão de diretores do Luso Sporting Club, com os seguintes diretores: Antônio de Freitas, Felipe Calado e Amadeu Groba, estes apresentaram seus cumprimentos ao Sr. governador do Estado do Amazonas. Momentos depois a banda executou os Hinos do Brasil e de Portugal, nesta solenidade a guarda do palácio aprestou armas aos dois pavilhões.

Às 6h35 despediu-se do Governo, sempre acompanhada de grande multidão, dirigiu-se para o grupo “Escolar Luís Camões, onde foi recebida pela comissão de professores: Antônio Henrique da Silva, diretor Francisco Rodrigues Amado, João Cangalhas e João R, Amado, novamente foi ovacionada pelos presentes.

Despedindo-se a banda subiu a rua Leovegildo Coelho e praça dos Remédios penetrando na rua Ramalho Júnior. Foi recebida delirantemente pela população, com salva de fogos como girandolas, foguetes e bombas.

Alexandre Rodrigues Lobo, 1946. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Sempre ao som de belas melodias, partiu pela rua Tabelião Lessa e rua dos Barés, entrando na rua Mundurucus, se postou em frente ao Grupo Benemerência Matosinhos Lessa. Nesta sociedade foi recebida triunfalmente por Álvaro Joaquim da Silva, residente na instituição e demais membros da diretoria, sendo oferecidos doces, pasteis, cervejas, vinhos finos e um rico bouquet de flores naturais. O Sr. Antônio de Freitas agradeceu a diretoria do grupo em nome do Luso Sporting Club e partiu a banda sempre seguida por compacta população e foram em direção ao jornal Gazeta da Tarde e Lusitano novamente se apresentou, logo depois dirigiu-se ao consulado de Portugal chegando às 8h45.

O Sr. Cônsul Dr. José Paulo Lobo mandou vários brindes a todos, cervejas, foram trocados vários brindes em demonstração a alegria do momento, partiu do consulado em direção da Sociedade Repatriadora, nesta ocasião foi recebida por toda diretoria na pessoa do presidente Sr. Champbel, Virgílio Goulart, vice-presidente e os diretores Carlos Fernandes de Barros, João Lourenço da Rocha, Francisco de Oliveira Miranda, Cândido Pereira, Antônio J. da Silva, José Eduardo P. de Campos, Júlio Burg e Antônio Henrique da Silva, após os cumprimentos de estilo partiu para o palácio episcopal a fim de levar musica e cumprimentos ao Sr. prelado, logo em seguida foram para a Sociedade Recreativa Portuguesa onde foi recebida pelos diretores Cezar Barata. João Loureiro da Rocha, Fernando Montenegro, Francisco Pereira da Silva, Francisco Dias de Oliveira, Domingos Portugal e Araújo Biscaia, novamente foram oferecidos vinhos finos, com eloquentes oratórias parabenizando a Sociedade Recreativa Portuguesa, recebendo de volta as palavras carinhosas proferidas pelo Sr. Antônio de Freitas.

Não era demonstrado cansaço pelos integrantes da banda do Luso e as 9h20 saíram em direção a União Esportiva Portuguesa, que foi recebida da janela desta agremiação por estrondosa salva de palmas, sendo imediatamente convidada ae entrar o que ocorreu em seguida nos conta a ata que registra estes momentos de forma indescritível a calorosa recepção, levando todos ao delírio, principalmente quando houve o encontro dos estandartes do Luso e União Esportiva Portuguesa, todo este momento foi seguido de palmas, vivas, elevando ao máximo o grau de amizade das duas sociedades, em todo os postos era visto a satisfação do momento, havia mais de uma centena de sócios e diretores da União Esportiva Portuguesa, foram enaltecidas as presenças dos seguintes diretores: Alfredo Carvalho, Cândido Dias, Vitoriano Santos Soares, Antônio Lourenço Carvalho, Aurélio Félix da Costa, Américo Bentes, Francisco Xavier e José Crispim de Oliveira, novamente foi executado o Hino Portugal, foi servido biscoitos finos e vinhos.

O português, cônego João Dias Bento da Cunha, 1918. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Na União Pró Povoa do Varzim foi recebida pelo seu presidente, Sr. José da Costa Novo e, os diretores Tenreiro Júnior, Antônio Bicho, Alberto Ribeiro de Andrade, Manoel Pereira da Silva Reis, Antônio Gomes de Amorim, Gaspar Pinto, José Francisco Nogueira, André Bicho e José F. Franco, junto a um grande número de associados, novamente foi oferecido cervejas e guaranás.

Usou a palavra o presidente Sr. Tenreiro Júnior, dando boas-vindas aos componentes da banda e diretores do Luso, cuja emoção o levou a gritar várias vezes, viva Luso, respondendo-lhe o Sr. Antônio Freitas em agradecimentos.

A banda partiu na direção dos jornais A Imprensa, Jornal do Comércio e, Imparcial, executando fados em frente as suas redações com vários repertórios, valeu ressaltar o copinho que novamente a banda foi recebida por redatores dos respectivos jornais, trocando-se de parte a parte amistosas felicitações.

Do Imparcial, seguiram diretamente para a residência do Sr. Prefeito da cidade, Dr. Ayries de Almeida, sendo recebida por sua ex-família, os componentes da banda foram convidados a entrarem e descansar, pelo qual foi agradecido devido o adiantado da hora, o Sr. Ayries de Almeida usou palavras carinhosas e de estímulo para a banda e o Luso, mandando oferecer champanhe aos presentes, novamente a banda executou o Hino do Brasil e de Portugal.

A banda seguiu sua trajetória e foi para a casa do Exmo Dr. José Freitas Bastos, chefe de Polícia do Estado, chegando precisamente às 11h10, o calor era grande, os rapazes muito cansados e suando bastante, foram recebidos carinhosamente pelo Dr. Freitas Bastos e esposa, na sala de visitas, fez o ativo e competente chefe de Polícia questão fechada para que a banda entrasse imediatamente a fim de tomar um copo de cerveja e descansar, o que foi aceito, foram proferidas palavras elogiosas ao Luso e a banda.

A comissão da banda e o povo que as acompanhava saíram da casa de Ex.ª, profundamente impressionados pela fidalguia com que foram recebidos e tratados, notando em todos os rostos a maior gratidão. Partindo da casa do Sr. chefe de Polícia, deu entrada em sua sede, na praça de São Sebastião, às 11h50. A banda alcançou um verdadeiro sucesso, sendo recebida fraternalmente por toda a parte. O Luso Sporting Club deve orgulhar-se de sua obra.

A banda do Luso Sporting Clube. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A banda era composta dos seguintes patriotas: Cláudio Loureiro Dias – regente e instrutor, músicos – Antônio A. Corrêa, Manoel Teixeira da Fonseca, Bernardo Marques Thomé, Ignácio Teixeira, Manoel Pedro Rodrigues, Manoel Penedo, José Augusto Quintela, Antônio Teixeira, Antônio Mathias dos Santos, Manoel Rodrigues da Graça, Alvares Santos, Antônio Bento Rodrigues, J. Veloso, Manoel de Almeida, Joaquim Pineu, Manoel Reis da Silva, Augustinho Marins, José de Barros, Clementino Torres, Bello Gomes, José Barata Garcia, Antônio Moura, Antônio Soares de Carvalho, Bazílio Barbosa, Antônio da Costa, Alberto Costa, Domingos Pesqueira, Felipe Pinto, Caiado e Álvaro Vilela.

O comércio da Ramalho Júnior foi sumamente gentil com a banda, pois ela já estava tocando em frente do grupo Benemerência Matosinhos Lessa, ainda se ouviam o espocar de foguetes, bombas, etc. No Palácio Episcopal ao ser a banda apresentada aos bondosos chefes da igreja amazonense, disse o nobre prelado: Sempre que me lembro do Luso Sporting Club sinto as mais profundas saudades, pois vem-me logo a lembrança o meu grande amigo e querido auxiliar cônego Bento da Cunha! Nesta altura, as lágrimas saltaram dos olhos do grande e querido ministro de Deus, perante essa dor tão profunda, que bem demonstra a alma sensível e pura desse benemérito pastor. Reinou o mais profundo silêncio: todos nós estávamos comovidos até ao extremo. A família católica que possui um tal ministro, não pode deixar de ser feliz. A União Portuguesa, interpretando o sentir da colônia, agradece a sua Ex.ª Revmª. Tão carinhosas palavras, fazendo os mais ardentes votos por sua felicidade pessoal. Na União Esportiva Portuguesa, disse um comerciante ao vice-presidente: Vai ou racha! Ao que este respondeu prontamente: E da raça está-lhe na massa do sangue!

Nesta importante agremiação portuguesa, vimos um aviso pregado na parede, proibido aos sócios de falarem mal do Luso Sporting Club! Um tal aviso nos demonstra a largueza de vistas de sua diretoria, procurando por todos os meios manter as maiores relações de amizade aos rapazes da União para com o Luso. Que tocando bem harmoniosamente, mas melhor seria se houvesse chegado o seu instrumental, pois tiveram de servir-se de um velho e já muito usado, o que demandava muito maior esforço. É com o maior dos prazeres que damos hoje em nosso jornal clichês da banda e sua Bandeira e a do Luso Sporting Club. Honra ao Mérito. Nesta época era governador do Estado o Dr. Alcântara Bacelar e presidente da República Portuguesa o Dr. Sidônio Paes.

Dr. Alcântara Bacelar. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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