Entendendo que a função educativa do museu constitui uma das principais esferas de atuação de preservação da memória e de desenvolvermos atividades pedagógicas, é que foi criado o Museu do Luso Sporting Club.
Acontecimento consagrado, rememorado sistematicamente, o museu projeta-se no imaginário social como “fato objetivo” associado a uma época. O museu com suas peças sempre foi tema recorrente na historiografia e, tem recebido ao longo do tempo inúmeras interpretações ao longo dos séculos XIX e XX.
Herança cultural comum, o museu aliou as características de uma instituição científica, voltada para a pesquisa e a instrução popular, a dimensão de lugar privilegiado da celebração da memória de um povo. A dimensão pedagógica atribuída ao Museu – Memorial, em fins do século XIX, ultrapassa seu caráter de agente conservador de um passado.
A prática de rememorar acontecimentos e personagens exponenciais da história do Luso Sporting Clube e da Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas, imediatizadas por um saber classificatório, está colocada a disposição do público que os visita os mais variados momentos dessas instituições.
É nessa ambiência e sob a égide da projeção de nossa história que se sacramentou, de modo definitivo a história das duas instituições e que se transformou em esforço de afirmação de uma época, de um período da própria história do Amazonas.
Museu do Luso Sporting Clube. Foto: Abrahim Baze/Luso Sporting Clube – A Sociedade Portuguesa no Amazonas
Centro Cultural Luso-Brasileiro do Amazonas
Muita gente acha que o museu é um ambiente de guardar coisas velhas, mas se ao visitarmos um museu, procurarmos fazer relações entre aqueles objetos de um outro tempo, que ali estão expostos e a nossa própria época, muita coisa vai começar a ganhar sentido: vamos começar a perceber que aqueles objetivos que nós consideramos apenas como coisas velhas, achando que não tinham nada a ver conosco, servem na verdade para compreendermos uma porção de fatos que acontecem todos os dias em nossas casas, em nossas cidades em nosso país e até no mundo. Assim, iremos perceber que não é por acaso que nosso comportamento e até mesmo nossas ideias são como são. Tudo tem uma história.
Entendendo que a função educativa do museu constitui uma das principais esferas de atuação de preservação da memória e de desenvolvermos atividades pedagógicas é que foi criado o Museu do Luso Sporting Club, cujo, acervo permite analisarmos uma sociedade, em um determinado tempo, levando em conta a noção de interação das diversas dimensões do cotidiano de uma sociedade. Mas, para além deste sentido de totalidade social, encontra-se a possibilidade concreta do visitante perceber, mesmo que por meio de um flash cognitivo, das transformações sociais que constituem o processo histórico. E é justamente por permitir a visualização concreta das mudanças históricas que os nossos museus dão condições a seu visitante de pensar historicamente, sensibilizando-se com as diferenças e transformações entre o tempo presente e o passado.
Ainda neste espaço está funcionando o Consulado der Portugal em Manaus, cujo, Cônsul Honorário é o empresário Antônio Humberto de Matos Figueiredo. Nesse espaço também será reorganizado o Real Gabinete Português de Leitura que funcionou em Manaus na rua Marechal Deodoro, foi criado em 1900 e foi extinto em 1905 e teve como presidente o senhor Luiz Eduardo Rodrigues.
Museu do Luso Sporting Clube. Foto: Abrahim Baze/Luso Sporting Clube – A Sociedade Portuguesa no Amazonas
Uma História Portuguesa Com Certeza
O baile “Viva o Zé Pereira”, quem embalou os carnavais de Manaus em meados da década de 40, 50 e 60, só é conhecido hoje pelas fotografias e a partir dos relatos de cenas guardadas na memória dos participantes da festa, umas das mais destacadas do Amazonas. O fim do baile faz parte de um ciclo da escola caracterizado pela desagregação econômica e social ocorridos. Não era apenas a marchinha do “Viva o Zé Pereira”, que deixava de ser cantada, muito do mundo português partilhada com os amazonenses desapareceria, a cultura se recolheria por um longo período. Com a revitalização do Museu do Luso Sporting Club essa memória será mantida em evidência.
O silêncio, nestes tempos, não foi total, pois o museu ao ser inaugurado em 2002 na presidência de Rusberval Lobo e organizado por mim recebeu centenas de peças raras que estariam aberta ao público. O local onde funcionava um depósito ficou bonito e agradável sugerindo um passeio que quase não termina direcionado a uma rica história e o desejo de seu visitante a querer saber mais sobre cada uma das peças, hoje algumas delas expostas na secretaria e na sala da presidência do atual presidente Flávio Grilo. Por conta da criação deste museu permitiu aos portugueses reviver grandes paixões, era sim uma retomada do orgulho de uma ou outra história dos portugueses, escrita de uma forma generosa com o resultado da mistura de raças no calor dos homens e mulheres de além-mar que imigraram para o Amazonas.
Um desses documentos permitiu a Abrahim descobrir Tomaz da Costa Barreiro, considerado pelo organizador do museu como figura ímpar. Esse homem, dono de uma funilaria, foi fundamental para conquista da área onde hoje está p LSC, pagou com recursos próprios (no valor de 54 mil cruzeiros), o terreno e aceitou receber, mensalmente, sem juros, 500 cruzeiros, outro, relata o grande incêndio de março de 1930 que destruiu metade da sede, a época funcionando na área onde hoje é a residência dos capuchinhos, nas imediações da Praça São Sebastião, forçando-os a transferir o clube o clube para o Palacete Pedrosa, na rua 7 de Setembro (atual avenida 7 de setembro), um documento diz que o artista plástico Branco e Silva recebeu 30 cruzeiros como pagamento pelo estandart da Escola João de Deus, por ele concebido.
Além de abertura de mais um espaço cultural na cidade, o museu tem proporcionado a redescoberta de laços culturais, da consciência do resgate. O Amazonas é o único Estado do Brasil que tem dois museus contando a saga dos portugueses, quatro livros e Manaus a única capital a possuir a comenda – que leva o nome de Emídio Vaz D’ Oliveira, ainda não distribuída, orgulha-se Abrahim. Emídio foi o primeiro emigrante luso a se formar em Direito e, o segundo, Joaquim Marinho.
Raridades descobertas
Encontrar nos museus objetos valiosos é uma das certezas subjetivas do visitante desse tipo de local. O Museu do Luso Sporting Club não foge a regra, pelo contrário, avança nela. Em meio as peças que constituem o acervo existem preciosidades como um crayon (desenho a lápis), de 1947 do desembargador André Araújo, que leva assinatura do cineasta e fotografo Silvino Santos, maior documentarista da Amazônia nos anos 20. André Araújo, uma das personalidades envolventes da história do Amazonas teve lugar especial entre os portugueses que viviam em Manaus, pela solidariedade que dedicou a eles e, hoje pelas mãos do artista, tornou-se parte da história portuguesa em Manaus.
O estandarte da Escola “João de Deus”, de Branco e Silva é outra preciosidade, assim, como os instrumentos musicais de 1918. Mas, há ainda primeiro troféu, conquistado pelo time do Luso Sporting Club, em 1912 e muito mais. A melhor receita é conhecer o local.
1918, o ano dos acontecimentos
Os documentos guardados no Museu do Luso Sporting Clube mostram que 1918 foi o ano de grandes realizações, Nesse período, os integrantes do Luso Sporting Club – o segmento pobre dos portugueses que migraram para Manaus, formado por verdureiros, carpinteiros, marceneiros e vidraceiros – fundaram a banda de música, o grupo cênico, a escola João de Deus, a biblioteca do Luso e o grupo de ciclistas. Antes tinham criado a Escola de Dança e, dois anos mais tarde, a linha de tiro ao alvo.
A elite portuguesa da cidade reunia-se na União Esportiva Portuguesa, prédio onde há muitos anos funciona a sede do Partido Democrático Brasileiro (PMDB), na antiga Rua Corrêa de Miranda, hoje Avenida Joaquim Nabuco, cujo prédio funciona o estacionamento da Uninorte.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista