Rede Amazônica quase meio século colorindo à Amazônia

O memorável dia da inauguração

No dia 1° de setembro de 1972, a Rádio TV do Amazonas Ltda entra oficialmente em operação na cidade de Manaus, após um período de testes experimentais. A cerimônia de inauguração fez parte das festividades do Sesquicentenário da Independência do Brasil no Amazonas, D. João de Souza Lima, arcebispo de Manaus, fez a invocação das bençãos divinas para o empreendimento.

O prefeito de Manaus, Dr Paulo Pinto Nery e, Dona Nazira Chamma Daou, a eterna madrinha da Rádio TV do Amazonas, cortaram a fita simbólica. Estava presente um número expressivo de autoridades e figuras da sociedade como também do meio empresarial.

Nascia, assim, uma nova e importante Rede de Televisão. Os princípios que marcaram a convicção dos fundadores eram de que seria possível exercer a atividade comercial com o repeito aos princípios cristãos e o firme propósito de construir um novo momento no setor das comunicações no Amazonas.

Jornalista Phelippe Daou, fundador. Foto: Abrahim Baze

Esta ocasião ficou marcada na vida do povo do Amazonas, o lema adotado pela emissora que acabara de ser criada, cuja autoria do slogan era do então Presidente da República do Brasil. O general Emílio Garrastazu Médici: 

Amazônia desafio que unidos venceremos”.

Em uma primeira fase, a Rádio TV do Amazonas transmitia programas da TV Record, da Fundação Padre Anchieta e da TVE do Rio de Janeiro. Tendo uma programação bastante variada com filmes e desenhos que eram adquiridos diretamente dos fornecedores da época: Columbia, 20th Century Fox, MGM e UA.

Vale ressaltar que a Rádio TV do Amazonas Ltda iniciou suas atividades, já estavam funcionando a TV Ajuricaba, na época afiliada da Rede Globo de Televisão e a TV Baré, na época afiliada dos Diários Associados, hoje TV A Crítica.

Numa primeira etapa a Rádio TV do Amazonas passa a ser afiliada da Rede Bandeirantes que, naquela época iniciava suas atividades de expansão em rede nacional. Porém, a Rádio TV do Amazonas não se acomodava, aproveitando os grandes espaços operacionais que eram oferecidos pela Nova, cabeça de rede nacional, impulsionando sua programação local com duas edições diárias de noticiosos, além dos programas: Encontro com o Povo, Amazonas em Revista, Sociedade, Portugal sem Passaporte e mais as promoções em praças públicas, que levavam milhares de pessoas a prestigiá-las: Chegada do Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Dia dos Namorados, Dia das Crianças, Festival de Rua, Corridas Ciclística e Pedestre Henrique Archer Pinto. Além de memoráveis apresentações com os bonecos Topo Gigio, da Equipe Disney (Mickey, Pateta e Donald) e Fofura. 

Jornalista Milton Cordeiro, fundador. Foto: Abrahim Baze

A palavra televisão significa ver à distância. Este sentido, alcance e sonhos foram assumidos à risca pelos seus fundadores quando decidiram iniciar este fantástico empreendimento na região mais distante e esquecida do Brasil. Desde que levou ao ar seu primeiro Canal de Televisão em um tempo em que muita coisa em televisão era improvisada, a Rádio TV do Amazonas Ltda, percorreu um longo e difícil caminho.

Era preciso ocupar a Amazônia. Partiram, então, para a tão sonhada aventura, implantando mais quatro emissoras, todas elas hoje em pleno funcionamento.

Cada momento que, outrora, levou ao ar a Rádio TV do Amazonas, hoje é considerado um marco sem precedentes, em razão de todas as dificuldades que haveriam de ser superadas. Este fato deu início a uma nova era na relação entre os meios de comunicação e o telespectador como também o importante mercado publicitário de nossa região, enfim, somos a cara e as cores da Amazônia. 

O resultado dessa trajetória é a integração da Amazônia Ocidental, no contexto nacional. Toda essa dinâmica, muito além de consolidar a marca da Rádio TV do Amazonas, acabou criando um novo modo de retratar e preservar a realidade das áreas onde a emissora foi instalada.

Publicitário Joaquim Margarido, fundador. Foto: Abrahim Baze

Discurso de inauguração da Rádio TV do Amazonas proferido pelo jornalista Phelippe Daou em 1° de setembro de 1972 

Excelentíssimas autoridades, excelentíssimas senhoras, excelentíssimos senhores.

Amigos e queridos familiares que vieram, alguns de longe, para nos prestigiar e participar desta festa.

Não estamos inaugurando apenas mais uma emissora de televisão apenas mais uma emissora de televisão. A Televisão Amazonas, canal 5, não é no gênero uma entidade jamais. A TV Amazonas é mais que uma simples empresa de televisão, é antes e acima de tudo, um ideal. Um sublime ideal de quem está ligado às lutas pelo desenvolvimento do Amazonas.

Por isso, celebramos, neste momento, a concretização da primeira etapa desse ideal, representada na instalação e no funcionamento deste veículo de comunicação de massa.

Nascida sem vícios, sem apadrinhamentos, sem protecionismo, fruto exclusivo da nova fase de atuação do órgãos, do Ministério das Comunicações implantado em 1964, a TV Amazonas nunca precisou de pedido maior para a tramitação de seus papéis. Tudo andou normalmente dentro dos cânones legais, sem a necessidade de jeitinhos ou de empurrões influentes, ou quaisquer outros processos desviados dos limites da lei. Donde o nosso reconhecimento ao Governo da República e o nosso particular preço ao Ministro das Comunicações, Coronel Hygino Corcetti e sua operosa equipe.

Estrevista com o Ministro Jarbas Passarinho, 1972. Foto: Abrahim Baze

A TV Amazonas, em contra partida não tem nada de improvisado. Desde o projeto técnico de Renê Xavier dos Santos, do projeto arquitetônico desse fabuloso Mário Severiano Porto, executado sob as ordens do eficiente e Zeloso Engenheiro Arnoldo Gomes, até os projetos de acústica e de ar-condicionado, tudo enfim, obedeceu a estudos prévios e as imposições da melhor técnica, donde a segurança e a expressão do empreendimento.

Vindo em cores, para coroar todo esse trabalho cuidadoso, a TV Amazonas não o faz em termos arrogantes, mas, humildes, como todas as nossas ações, dando a Manaus o status de desenvolvimento que ela mereceu. Ou em outras palavras, fazendo com que o amazonense seja dos primeiros a atender ao nosso chamamento de Governo, na era das cores, no Brasil.

Somos o 5° Estado da Federação equipado para gerar cores e a nossa estação é, talvez, a primeira fabricada para esse funcionamento no país. Tudo é novo, moderno, traz a marca RCA, mundialmente conhecida. Há, também dois fatos que nos envaidecem: a belíssima torre metálica que suporta as nossas antenas, na Estrada do Aleixo, é de fabricação amazonense. Foi projetada, produzida e montada inteiramente pela metalúrgica Santo Antônio, dirigida pelo engenheiro Pedro de Queiroz Sampaio. E o sistema de ar-condicionado projetado lá fora, foi plenamente executado por um amazonense, o jovem Carlos Moraes.

Primeira sede da Rede Amazônica, no bairro Cachoeirinha. Foto: Abrahim Baze

Tudo isso é a nossa resposta ao desafio amazônico. É a nossa plena confiança nos destinos radiosos do Amazonas, é a certeza da irreversibilidade do processo desenvolvimentista acionado pelo Governo Federal, intensificado mais e mais pelo Presidente Médici, para incorporar a Amazônia, ao contexto nacional.

Nos primórdios da Zona Franca de Manaus, combateram essa instituição, porque importava televisores sem possuir estação de televisão. Hoje, a estação em cores chega antes das fábricas que já se estão montando, como a Admiral, a Sharp, as quais juntamente com muitas outras, com projetos já aprovados, deverão transformar Manaus, na capital eletrônica brasileira.

Doravante, continuaremos fiéis ao nosso ideal, de servir à terra, pois outro não poderia ser o comportamento de quem faz isso há mais de oitenta anos. Somos todos desta terra amiga, acolhedora, muito querida. Terra onde todos os que querem trabalhar são bem tratados e bem recebidos. Assim, não regatearemos esforços, porque não somos de regatear esforços, quando se trata de defender os autos e superiores interesses da população e do estado. O que vamos proporcionar o público, ele mesmo será testemunha que tudo faremos para oferecer uma televisão condizente com nossos padrões de desenvolvimento.

Não a restringiremos ao setor de entretenimento. Sonhamos e lutamos por uma televisão recreativa, informativa, esportiva e cultural, procurando mostrar sempre mais a região, para que todos possam avaliar a verdadeira revolução de desenvolvimentista que aqui se realiza.

Sede Atual da Rede Amazônica. Foto: Abrahim Baze

Com essa filosofia de ação e do trabalho, pretendemos oferecer, por etapas graduais, é certo, a informação pronta, eficiente, séria, ensejando ao mesmo tempo oportunidades aos valores que sabemos existentes em todos os nossos setores de atividade humana.

Isso não será tarefa fácil. Sabemos disso, mas vamos tentar realizá-la com o apoio e a compreensão do povo, particularmente dos jovens nos quais repousa a segurança do nosso futuro promissor.

Onde estiver uma razão para o desenvolvimento, seja em que campo for, lá estaremos presentes ou faremos força para participar, na certeza de que estaremos cumprindo com um dever de brasileiros e um prazer como amazonenses que desejam, como todos os que aqui vivem, a grandeza do Estado.

Prova disso é que, tão logo nos informaram que o sinal da nossa estação estava sendo capitado em alguns pontos do interior amazonense, oferecemos ao Secretário da Educação e Cultura a possibilidade de transmitir programas educacionais a cargo da TV Educativa. Geraríamos o sinal e a TV Educativa entraria em cadeia conosco e, através de nossos transmissores sua mensagem chegaria também ao hinterland distante.

Oferecimento foi bem compreendido e, em princípio aceito, o que nos indica que estaremos no mesmo propósito de educar a nossa gente, para que ela conscientemente, com a força do seu trabalho, coopere sempre mais no desenvolvimento do Amazonas.

Primeira sede da Rede Amazônica, no bairro Cachoeirinha. Foto: Abrahim baze

Adotaremos duas bandeiras no exercício diário de nossas atividades: uma religiosa, outra de civismo, ambas em painéis, a entrada de nosso prédio. A primeira de inspiração do Papa Clemente XI, a nos ditar conduta certa nesse mundo conturbado pela maledicência, a nos estimular para os embates contra tudo o que a verdade e a justiça condenam, essa bandeira jamais será arriada.

A outra do Presidente Médici, a convocar todos os brasileiros à luta pela conquista da Amazônia para o Brasil; a esta somente será alterada no tempo do verbo. Hoje, a sua legenda é a de que a Amazônia constitui um desafio que, unidos, venceremos. Amanhã, com as graças e a proteção de Deus e dos que do alto acompanham a nossa trajetória, livrando-nos dos perigos e de todas as dificuldades, haveremos de mudá-la, proclamando que a Amazônia foi um desafio que venceremos, unidos pela fé e pelo trabalho. E, aí então, teremos realizado, plenamente, o nosso ideal.

Permitam-nos agradecer, agora, a todos os que nos ajudaram a realizar este empreendimento, como: instituições financeiras locais e nacionais, aos fornecedores do equipamento da estação, à RCA Corporation, à Suframa, à Administração do Porto, aos trabalhadores de todas as categorias que empregaram sua energia na construção do prédio e montagem da emissora, aos companheiros de todos os jornais, rádios e televisão a todos, enfim, que de uma maneira ou de outra nos incentivaram na consecução desta obra, às autoridades e a todos os amigos presentes a esta solenidade, os nossos agradecimentos.

E, por último, aos nossos companheiros de trabalho, distribuídos pelas diversas equipes aqui formadas ou em formação, a certeza de que, movidos pelo mesmo ideal, nos ajudarão a fazer da TV Amazonas uma Televisão como todos queremos, voltada verdadeiramente para os anseios de quantos estarão fazendo de Manaus a metrópole deste outro Brasil.

BAZE, Abrahim. História Rede Amazônica. Manaus: Editora Valer, 2002. Págs.: 53,54,55,56,57 e 58.

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