Joaquim Ferreira Marinho: uma história a ser contada

Uma das lideranças da Comunidade Portuguesa, foi o primeiro português a se tornar advogado pela Faculdade de Direito do Amazonas em dezembro de 1958, com o prêmio de melhor aluno.

Dr. Joaquim Ferreira Marinho. 1° administrador da Beneficente Portuguesa, contratado em Portugal exclusivamente para esta função – 1952. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br 

Nascido na cidade do Porto, em Portugal, no dia 7 de fevereiro de 1912, Joaquim Ferreira Marinho foi o primeiro administrador do Hospital Beneficente Portuguesa, assumindo essa função em abril de 1953, exercendo-a por aproximadamente 6 anos, a convite do então Presidente Antônio Reis Páscoa. Contratado que fora por Francisco Vieira da Rocha, Jaime dos Anjos Páscoa e Joaquim Carvalho, que o convidaram quando de uma viagem, dos mesmos, a Portugal, em 1952.

Antigo Alferes da Guarda Miliciana Portuguesa, era formado em Matemática pela Universidade do Porto e foi administrador do Hospital Geral de Santo Antônio no Porto.

Através de relações político-administrativas com os Governos da época, os de Gilberto Mestrinho e Plínio Coelho, conseguiu uma série de convênios com os mesmos, que permitiam a construção do prédio da rua Guilherme Moreira com a Theodoreto Souto e conclusão da ala direta do edifício-sede da Joaquim Nabuco com a construção de novas áreas, em Manaus, no Amazonas.

Uma das lideranças da Comunidade Portuguesa, foi o primeiro português a se tornar advogado pela Faculdade de Direito do Amazonas em dezembro de 1958, com o prêmio de melhor aluno, sendo a ele outorgado o 1º anel simbólico daquela casa. Posteriormente foi professor e diretor da extinta Faculdade de Ciências Econômicas, Diretor da Penitenciária Central do Estado e Procurador Jurídico do Amazonas, tendo optado pela cidadania brasileira para poder exercer tais funções.

Dr. Plínio Ramos Coêlho recebendo o diploma de sócio honorário – 1956. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Casado desde 1942 com Maria Celeste, teve ainda em Portugal, os filhos: José Joaquim, Maria de Fátima, Maria de Lourdes, Francisco e Maria Teresa. E ainda Maria Regina, que já nasceu em terras brasileiras. Todos trabalhando e vivendo na terra que adoraram.

Joaquim Ferreira Marinho era filho de José Joaquim e Albina Ferreira Marinho e faleceu prematuramente em Vizeu, Portugal, em 31 de agosto de 1972, curiosamente no mesmo dia em que sua família chegou a Manaus, 18 anos antes. Fumante inveterado, morreu de edema agudo do pulmão como diriam, oficialmente, os médicos com quem tanto tempo conviveu e que foram grandes companheiros seus de trabalho.

Os homens e as mulheres que lograram êxitos em suas histórias, tiveram como principal atributo a coragem e o espírito empreendedor. Foram sobretudo, seres que acreditaram em seus sonhos e projetos movidos pelo entusiasmo e pelos ideais e, assim, legaram à sociedade uma história de feitos e conquistas.

A maior herança desses espíritos esclarecidos e altivos é o exemplo que deixam para seus descendentes e a comunidade. Este é o caso do imigrante português Joaquim Ferreira Marinho aos seus descendentes e a comunidade, especialmente para os jovens, de que transformar sonhos em realidade não é impossível. A história exemplar de Joaquim Ferreira Marinho é ilustrativa da capacidade de superação e realização do ser humano.

Dr. Joaquim Ferreira Marinho. 1° administrador da Beneficente Portuguesa, contratado em Portugal exclusivamente para esta função – 1952. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A vida é uma aventura em que os justos e os bons, apesar das provas e desafios, afirmam com a força de seu caráter e com suas ações, as marcas de sua singularidade e da grandeza de suas atitudes. Eis aí o diferencial que distingue as almas nobres daqueles que vivem nas sombras ou se contentam com a pequenez de seus sentimentos. Joaquim Ferreira Marinho faz parte dessa linhagem de homens que construíram uma história baseada na dignidade no compromisso com valores humanos e sociais.

Sua trajetória é reveladora de seus múltiplos compromissos com a vida, com a Sociedade Beneficente do Amazonas e com sua amizade ao Comendador José Cruz, tudo isso é revelador de seus múltiplos com a vida e com a possibilidade de construção de uma sociedade fundada no respeito e nos valores humanos, naturalmente com uma profunda consciência do valor da cidadania escudada na justiça social. Sua existência, enquanto viveu entre nós foi prova do poder de transformação de dedicação ao hospital português. Sua vida vitoriosa foi alicerçada na crença de seus pais de que o maior patrimônio que poderia legar aos seus filhos era o conhecimento e ele assim o fez.

A verdade é que são muitos os portugueses que aqui aportaram e deram seus ossos para Manaus, para reconhecer-se em toda sua extensão, em todo seu significado e em todas suas minúcias, o que tem sido a ação dos portugueses que imigraram para a Amazônia e muito especialmente para Manaus, é fundamentalmente indispensável saber como eles aqui chegaram como se aclimataram e de que forma exerceram sua natural acomodação entre nós.

Cumpre ver como eles aqui trabalharam e continuam trabalhando especialmente seus descendentes concorrendo para o desenvolvimento social e econômico do nosso estado.

A visita do Presidente de Portugal Francisco Igino Craveiro Lopes

Data magna para quantos vivem em Manaus, entregues aos labores de todos os dias, foi a de 22 de junho de 1957, quando e Exmo. Sr. General Francisco Higino Craveiro Lopes, acompanhando de brilhante comitiva e de altas autoridades brasileiras, transpôs os umbrais da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas, em visita que se tornou histórica.

O senhor Presidente da Assembleia Geral da Beneficente, Comendador Agesilau de Araújo, entrega uma lembrança ao General Craveiro Lopes em nome da Diretoria – 1957. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Ao alvorecer desse dia inesquecível para os portugueses aqui fixados acordou o hospital com vistoso tapete de flores, que tornava ainda mais suntuosa a frontaria do Edifício, cujas janelas ostentavam galhardamente as bandeiras das duas pátrias.

Formaram em derredor da custosa e florida passarela, em uniformes de gala, como guardas de honra, praças dos Bombeiros Voluntários de Manaus e da Polícia Militar do Estado. No portão principal, além do Exmo. Sr. Governador do Estado, secretários, o Ministro das Relações Exteriores e o Embaixador de Portugal, aguardando o ilustre visitante, encontravam-se os Corpos Dirigentes, a Comunidade das Filhas de Sant’Anna, o Corpo Clínico e os escalões de Enfermeiras e demais auxiliares do hospital.

Após os cumprimentos de estilo, liderados pelo Comendador Agesilau de Araújo, Presidente da Assembleia Geral e pelo Sr. Antônio Páscoa, Presidente da Diretoria, foram as insignes autoridades conduzidas até ao Salão Nobre, onde teve início a sessão solene.

FONTE: Informações cedidas pela família para o livro ‘Benefiicente Portuguesa’125 anos de história, 1873-1998: Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas’, escrito por Abrahim Baze.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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