Foto: Marcely Gomes/Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas
Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br
O declínio da borracha na Amazônia passou a concretizar-se em 1900, quando a tenacidade anglo-saxônica exibiu ao mundo as quatro primeiras toneladas procedentes de seringais plantados.
Nos primeiros meses a notícia causou apenas controvérsias. É que dominava, entre nós, a crença de que a Hévea da Amazônia não se adaptaria facilmente em qualquer outra região. Além do mais, os próprios técnicos norte-americanos asseguravam que o produto de plantação jamais chegaria a ser artigo considerável.
Enquanto vinham a baila pontos de vista assim desencontrados, Wickham e outros faziam intensas experiências nos viveiros contando para isso com amplos recursos financeiros.
Assim é que de 4 toneladas iniciais, em 1900, subestimadas inclusive por técnicos americanos, a produção inglesa cresceu de ano para ano, à semelhança de uma avalanche: em 1910, 8.200t; em 1920, 304,816t; em 1930, 800.808 toneladas. Crescimento que em momento algum sofreu solução de tenuidade como determinação inexorável.
Evidentemente, assim aconteceu. A produção brasileira entrou em colapso. Era a famosa ‘Queda da Borracha’, com todo o seu cortejo de horrores para o comércio local. De 37.938 toneladas, em 1910, fomos diminuindo para 23.216; para 14.260 em 1930; até o cumulo dos absurdos com 6.500 toneladas.
Diante de tamanha desigualdade de produção entre o poderio de além fronteiras e a falta absoluta de planos de defesa da Hévea, não foi possível resistir por muito tempo. Centenas de organizações comerciais desapareceram na voragem das falências. Deu-se o êxodo dos seringais. Só os heróis permaneceram as margens dos altos rios, lutando sem tréguas pela sobrevivência.
Manaus experimentou dias amargos com seu principal produto de exportação cotado a preços irrisores e com os demais produtos – a castanha, a madeira, as oleaginosas, peles e couros – explorados pelos abutres da negociata em tais emergências. Deixou de ser aquela capital deslumbrante de que falavam com exaltações visitantes ilustres.
Porto quase sem movimento. Escassas as arrecadações da Fazenda Estadual. Em consequência disso, o funcionalismo em atraso por vários meses. Teatro Amazonas, sem condições de contratar companhias, como fizera desde a inauguração.
O decênio 1915-1925 transcorreu, assim, em meio às mais aflitivas provações. Desapareceram no sorvedouro das falências, ensejando o desespero a capitalistas e o desemprego a assalariados, centenas de casas comerciais, até então consideradas verdadeiras potências do crédito, interessadas na exportação da borracha, que chegou a empalhar como café.
De 1925 em diante, mediante o amparo decisivo do Governo Federal, os preços da goma-elástica passaram a subir. Houve como que um surgimento em toda a Amazônia. Como veremos mais adiante, estava em prática inteligente política, tendo por objetivo neutralizar os efeitos da Resolução de 1924.
Em 1938, finalmente a borracha alcançou preços mais compensadores. A praça de Manaus voltou a ressurgir das cinzas, como a fênix da lenda e toda a população enveredou por novos caminhos, como a preocupação de melhores dias.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
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