De julho a setembro a região amazônica recebe uma coloração especial. É que esse é o período da florada dos ipês, árvores conhecidas principalmente por terem flores coloridas, embelezando as paisagens urbanas e naturais onde estão presentes.
“Especificamente na região amazônica, a floração ocorre no período conhecido como verão amazônico. De forma geral, na região, quando a estação menos chuvosa é antecipada, o início do período de floração também pode ser antecipado em alguns dias ou semanas”, explica o professor Felipe Fajardo, doutor em botânica e docente na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) campus Capitão Poço.
O período de floração costuma durar poucas semanas. “A flor em si dura poucos dias. É frequente que a intensa floração seja sucedida pela formação de numerosos frutos”, diz. Os ipês adoram um lugar bem iluminado. “As espécies de ipê são heliófitas, isso significa que preferem o sol do que a sombra. Em condições de luminosidade adequadas, tendem a crescer com mais vigor e mais rapidamente”, diz.
E as flores coloridas dessas plantas tem um papel importante para assegurar a reprodução da espécie. “A coloração serve de atrativo visual para os polinizadores, especialmente abelhas. Após a fecundação da flor pelo polinizador, o fruto é formado. Esse fruto se abre quando maduro e as sementes são dispersadas através do vento”, explica.
Os ipês estão presentes em todos os seis biomas do Brasil: da Amazônia ao Pampa, com maior número de espécies na Mata Atlântica. Segundo o botânico, diversas espécies são popularmente chamadas de ipês, mas há diferenças significativas entre elas.
“No entanto, geralmente, compartilham o hábito arbóreo, apresentam folhas compostas formadas por folíolos, com tricomas (pêlos), flores tubulares e vistosas, e o fruto do tipo cápsula, que se abre quando maduro, liberando uma semente alada que é carregada pelo vento”, completa.
De acordo com o professor Felipe Fajardo, ‘Ipê’ é um termo popular associado a um conjunto de espécies arbóreas, ou, mais raramente, arbustivas, caracterizadas pelas flores tubulares coloridas. A maioria das espécies de ipês pertence ao gênero Handroanthus, da família Bignoniaceae. Algumas poucas espécies estão posicionadas no gênero Tabebuia, que também pertence à família Bignoniaceae. São reconhecidas 27 espécies de Handroanthus no Brasil, sendo 15 restritas ao país, das quais 6 espécies ocorrem no estado do Pará.
“Ou seja, algumas espécies de ipês são exclusivamente brasileiras, enquanto outras apresentam uma distribuição geográfica mais ampla”, explica o professor.
Ipê na alimentação?
O que muitos não sabem é que flores de ipê, especialmente as amarelas também estão sendo usadas na alimentação. “As flores de ipê são empregadas na culinária em função da coloração, conferindo um destaque visual ao prato servido”, explica o professor.
De acordo com o professor, os ipês amarelos fazem parte de um grupo de plantas chamadas de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais). Ele explica que as PANC são plantas com potencial alimentício, mas que não são usualmente consumidas. “Há inúmeras páginas na internet que, aos pouquinhos, estão apresentando as PANCs aos brasileiros, mas é um processo relativamente lento e gradativo”, diz.
Diferentes partes das PANC podem ser consumidas e adicionadas na alimentação humana. No caso do ipê, o que está sendo utilizado por alguns grupos e restaurantes especializados é a flor de cor amarela, sendo servida crua; cozida; refogada; salteada ou à milanesa.
“As receitas incluem as flores ingeridas puras ou preparadas junto com legumes, como entradas ou antes do prato principal”, conta.
Outro atrativo é que as flores também são empregadas nos pratos em função do leve amargor que elas possuem, sendo comparável ao gosto do alface.
“Por exemplo, quando servidas com batata ou abóbora proporcionam um contraste de sabor entre o doce e o amargo, que pode agradar o paladar de algumas pessoas”, diz o professor.
Mas somente as flores de cor amarela são consumidas? Há contraindicações? Há propriedades medicinais ou nutritivas nessas flores? Segundo o professor, são respostas que a ciência ainda não possui.
“Nós carecemos de literatura científica nesse assunto, o conhecimento que temos ainda é limitado, então fazer algumas afirmações vai depender de um estudo científico que comprove essas questões, ainda não há estudos abrangentes que permitam afirmar se todas as espécies de ipês sejam PANC, embora é provável que sejam”, diz.
Sobre as contraindicações ao consumo da flor, o professor diz que ainda não há registros específicos. “Contudo, recomenda-se colher as flores no pé ou utilizar aquelas recém caídas em locais limpos. Após lavá-las, deve-se retirar o cálice basal, e usar apenas a corola, que é o conjunto de pétalas que formam a flor”, diz.
*Com informações da Ufra