Experiências gastronômicas fortalecem o turismo no Pará

Além da culinária típica, cuja fama ultrapassa as fronteiras, as comidas do cotidiano marcam a memória afetiva de quem escolhe o Pará como destino.

Entre os elementos atrativos que atraem os visitantes a cidades paraenses está a rica gastronomia com preparos únicos e inconfundíveis que despertam a curiosidade. Além da culinária típica, cuja fama ultrapassa as fronteiras, as comidas do cotidiano marcam a memória afetiva de quem escolhe o Pará como destino.

Pato no Tucupi e Maniçoba são os mais conhecidos pratos da gastronomia paraense. (Foto:Marco Nascimento/Agência Pará)

Em 2019, o Estado recebeu mais de um milhão de turistas, de acordo com a Secretaria de Estado de Turismo (Setur). Foram mais de 120 mil visitantes internacionais e 920 mil nacionais. A receita, em real, gerada pelos turistas que vieram ao Pará no mesmo ano, foi de R$ 720 milhões.

Somente o Círio de Nazaré injetou R$ 120 milhões na economia local atraindo cerca de 83 mil turistas para a festividade. Este ano, em razão da pandemia, a festividade nazarena não ocorrerá da forma tradicional. Ainda assim, o Pará continua como boa escolha turística, entre outros motivos, pela força de sua gastronomia.

André Dias, titular da Setur, afirma que a atividade gastronômica está intrinsicamente conectada com o turismo. “A alimentação fora do lar, realizada por restaurantes, bares, cafeterias e similares, é considerada atividade característica do turismo. Temos observado cada vez mais é que a experiência gastronômica que a pessoa vai ter no destino, determina a escolha pelo lugar a ser visitado”, informou André.

Marco Romero trabalha com turismo receptivo há mais de 20 anos. Para ele é muito clara a diferenciação entre as comidas típicas e as do cotidiano. Maniçoba, tacacá, caruru e pato no tucupi são os carros-chefes.

“As pessoas têm uma visão voltada ao pato no tucupi. No Brasil inteiro apenas os paraenses e os catarinenses (com o marreco) possuem o hábito de comer pato. Isso tradicionalmente acaba chegando a outras regiões como informação. As pessoas acham que comemos isso todos os dias, mas é mais focado a eventos e grandes festas como o Círio de Nazaré e a Semana Santa”, pondera o guia turístico.


Curso Cozinha Paraense. (Foto:Divulgação/Agência Pará)

As comidas típicas são muito procuradas e atraem os visitantes. Porém há também os alimentos populares, que fazem parte do cotidiano amazônico, como os pratos à base de pescado como o filhote, a dourada e a pescada amarela.

“O mesmo ocorre com a cultura do açaí que é uma comida do dia a dia. Pode parecer estranho, mas o arroz com galinha não tem em outro canto e nós aqui temos o hábito de comer o arroz com frango desfiado e legumes. Isso não é comum nos outros estados. Outro exemplo é o doce monteiro lopes, que é nosso, os cremes e mousses. O turista percebe que além das comidas típicas temos uma culinária paralela que faz parte do cotidiano. Eles chegam sabendo de uma gastronomia e quando chegam descobrem que existe muito mais do que é projetado para fora”, acrescenta Marco Romero.

É essa descoberta que desperta a sensação gustativa das pessoas, de acordo com o profissional. “As pessoas quando comem lembram. É a memória afetiva que está relacionada com o paladar, o olfato. Quando elas se deparam de ter o conhecimento das comidas, chama atenção e estimulando a experimentar outras opções. Somos um dos poucos estados do Brasil cujos souvenirs estão voltados à gastronomia, como a cachaça com jambu, farinha de Bragança e doces de cupuaçu. Nossos presentes acabam sendo para comer”, afirmou Marco.

Os sabores marcantes levaram a capital paraense a receber o título de cidade criativa da gastronomia concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2015 e mantido até hoje.

Para o professor de gastronomia Walaci Morais, a cozinha paraense é fundamentalmente baseada na cultura indígena. “É a mais genuína, autêntica e pura cozinha brasileira. Continua quase que imutável por utilizar ingredientes que não se adaptam a outros terroir que não sejam os nossos”, afirma.

“Os sabores do Pará são quase que inesgotáveis, pois combinam-se entre si, causando nos comensais uma verdadeira explosão de sabores, odores e cores únicos. Sabores ácidos e florados, como por exemplo, o cupuaçu, bacuri e as amêndoas de cacau para a produção de chocolate de origem, além de insumos únicos como o aviú, que é um minúsculo crustáceo de sabor forte e marcante, o cumaru que é conhecido como a ‘baunilha’ da Amazônia e empresta seu aroma e sabor à diversas preparações da confeitaria e a licores, a pimenta de cheiro, cumari, conferindo aroma e pungência a ensopados, pirões e caldeiradas”, finalizou o professor. 

Pratos típicos do Pará. (Foto:Divulgação/Agência Pará)


Conheça algumas das comidas típicas do Pará: 

Pato no tucupi

Constituído de pato, tucupi e jambu. O tucupi é um caldo amarelo extraído da mandioca e por isso precisa ser cozido durante uma semana. O pato, depois de assado, é cortado em pedaços e fervido no tucupi, onde fica de molho por algum tempo. O jambu é fervido em água com sal, escorrido e posto sobre o pato. É servido com arroz branco e farinha de mandioca.

Maniçoba

Do tupi Maní, deusa da mandioca. Usa-se tipicamente uma panela de barro ou de porcelana. O prato demora pelo menos uma semana para ser feito, pois a folha da maniva ( a planta da mandioca), depois de moída, deve ser cozida durante, pelo menos, quatro dias com a intenção de eliminar o ácido cianídrico que contém. Depois disso é acrescentado o charque, toucinho, bucho, mocotó, orelha, pé e costelas salgadas de porco, chouriço, linguiça e paio, praticamente os mesmos ingredientes de uma feijoada completa. É servido com arroz branco, farinha d’água e pimenta de cheiro a gosto.

Caruru

Feito com quiabo, camarões secos e inteiros, tempero verde (alfavaca e chicória), farinha seca bem fina e azeite de dendê. Após fervidos o quiabo, o tempero verde e os camarões na água, acrescenta-se a farinha e faze-se um pirão. Estando pronto o pirão, adicionam-se os quiabos bem escorridos, o camarão já refogado com todos os temperos e, por último, o azeite de dendê.

Tacacá

De origem indígena, o Tacacá é um mingau quase líquido servido em cuias e vendido pelas “tacacazeiras”, geralmente ao entardecer, na esquina das principais ruas das cidades paraenses, sobretudo Belém. É constituído de uma mistura que leva tucupi, goma de tapioca cozida, jambu e camarão seco.

Chibé

Vocábulo tupi, composto de Che – eu, meu – e Ibe ou Tibe- caldo. É considerada a mais paraense de todas as comidas. Uma bebida com um gosto levemente acidulado. Leva farinha de mandioca e água.

Mujica

É um prato de espécie cremoso que pode ser feita de farinha de peixe conhecida como piracuí, massa de siri ou caranguejo.

Doces

As sobremesas paraenses são ricas em frutas, principalmente vindas da Amazônia, e licores. Os principais frutos que marcam a culinária regional são: açaí, cupuaçu, pupunha, guaraná e a manga. Há também outras frutas regionais de sabor peculiar, tais como bacuri, taperebá, jaca, muruci, sapotilha, entre outras.

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