Caju é fonte de renda para produtoras do Bom Intento. Foto: Ramilton Barros/Rede Amazônica RR
O caju deixou de ser apenas parte da paisagem para virar fonte de renda na região do Bom Intento, zona rural de Boa Vista (RR). Agricultoras locais investiram no aproveitamento integral do fruto típico dos quintais roraimenses e criaram uma rede de produção que inclui doces, geleias, licores, compotas e mel.
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A iniciativa reúne mulheres que, por anos, viram a safra se perder por falta de escoamento. Com organização e troca de conhecimento, o cenário mudou. Agora, elas aproveitam o período de safra que ocorre no fim do ano para lucrar.
Uma das referências do grupo é a doceira Adélia Fonteles, de 67 anos. Moradora do Sítio Nova Esperança desde o início dos anos 2000, ela encontrou cajueiros antigos na propriedade e começou a testar receitas até descobrir o potencial econômico do caju.
Hoje, dona Adélia cuida de mais de 100 cajueiros e aproveita praticamente tudo o que colhe.
“Não se perde mais nada, fazemos vinho, licor, agora também gelatina. Da castanha fazemos paçoquinha, então a gente aproveita tudo”, afirma.
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Além de produzir, ela compartilha o conhecimento com quem deseja começar, seja para consumo próprio ou venda. Segundo a doceira, alguns produtos têm validade de até um ano, o que facilita o comércio e evita o desperdício.
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Organização e troca entre produtoras
O trabalho no Sítio Nova Esperança virou ponto de encontro para outras agricultoras do Bom Intento. As mulheres decidiram se organizar para transformar o fruto em diferentes produtos e garantir renda extra.
Antes da organização, a fruta era tão abundante que acabava estragando no chão. A solução encontrada foi diversificar o uso do fruto e planejar ações conjuntas para ampliar as vendas.
O grupo criou o primeiro Festival Gastronômico do Caju da região. O evento apresentou a versatilidade do fruto, reunindo receitas tradicionais e inovações feitas a partir da polpa, da casca e da castanha.

A agricultora Rita Hartmann, proprietária do Sítio Rancho Feliz, apresentou receitas de família no festival. Para ela, a iniciativa mostra o potencial produtivo do Bom Intento e valoriza o trabalho das agricultoras locais.
“Cada uma tem um tipo de doce, uma forma de trabalhar o fruto. Isso mostra o quanto a fruta é versátil e o quanto a gente consegue produzir a partir dela…Além disso é uma oportunidade de mostrar que o bom intento não é só lazer, mas que tem pessoas que trabalham com agricultura familiar”, destacou.
Caju: do uso doméstico ao mercado
Entre as participantes está também a agricultora Marivalda Nicolau. Antes, o fruto em sua propriedade era usado apenas para fazer suco e assar a castanha para a família. Após participar de um curso sobre aproveitamento integral do fruto, ela passou a enxergar o caju como fonte de renda.
Hoje, Marivalda produz doces e garante um dinheiro a mais no orçamento. Na propriedade dela, um cajueiro chama a atenção: produz cajus amarelos de quase 10 centímetros.

“Meu carro-chefe é o pastel de carne de caju e a variedade permite trabalhar com ele de diferentes formas… Tem os pequenos que são melhores pra vender, outros maiores que se tira a carne e eu recebo mudas até de outros estados, por exemplo, a muda do caju grandão veio do Maranhão”, conta.
As experiências das agricultoras do Bom Intento mostram como a organização comunitária e o acesso ao conhecimento podem valorizar os frutos típicos dos lavrados de Roraima.
*Por Kailane Souza, da Rede Amazônica RR
