Tentações e pequenas brechas podem criar histórias bem diferentes do que gostaríamos de viver.
Guilherme nunca havia traído a mulher em cinco anos de casamento. Estava agora almoçando com colegas no último dia de um treinamento para executivos. De acordo com o espírito de sexta-feira, estavam alegres, contando cada qual as suas histórias. Sendo todos homens jovens, o tema mulher acabou predominante sobre outros menos atrativos.
Mesmo casados, a maior parte tinha as suas histórias de pulada de cerca, menos Guilherme, que agora, sentia-se tentado a também tê-las para contar. Aquela noite terminaria de maneira inesperada. Guilherme saindo em um carro em disparada de um hotel no Lido em Copacabana, Rio de Janeiro.
Naquela sexta-feira, porém, quem estava ali não era o Guilherme, chefe de família e líder de casais na sua igreja. A conversa do almoço parecia ter despertado um outro Guilherme. Ele não queria saber de nada. Queria porque queria ter a sua experiência extraconjugal e seria naquela noite. Mesmo diante dos argumentos de Jorge, não havia jeito. As duas mulheres estavam ali, na mesa do bar, se oferecendo aos dois. A tentação era forte. E afinal, não seria nada tão grave, uma única vez. Uma única brecha.
O telefone do quarto em que Jorge estava tocou e, do quarto ao lado, um ansioso Guilherme. “Elas são prostitutas e querem dinheiro. Temos que fugir. Corre para o carro e te encontro lá”. Foram perseguidos por um outro automóvel, até que, em alta velocidade, ultrapassando vários sinaleiros, conseguiram escapar. Durante o percurso, os dois juravam alto, para si mesmos, que, se conseguissem se livrar da situação, nunca mais fariam aquilo. Deu errado a pulada de cerca. Nunca mais seriam vencidos pela tentação. Não dariam brechas para ela.
Para um deles, no entanto, parecia ser tarde. O tal do outro Guilherme, despertado naquela dia, veio para ficar. Durante dois anos, Guilherme fez de tudo e mais um pouco e caiu de vez no mundo das tentações. Viciou-se, endividou-se e tornou-se um outro homem. De muito bem-conceituado na empresa, estava agora prestes a ser demitido.
Um dia, porém, Guilherme procurou o amigo Jorge e lhe disse: “Vou contar tudo a Sara. Errei e só há um jeito de Deus me perdoar, eu confessando. Vou falar tudo, todos os detalhes, datas, mentiras que contei”. O amigo tentou demover Jorge: “Isto é loucura. Basta agir diferente daqui para frente”. Não adiantou. Guilherme não era facilmente convencido de nada. Se Deus perdoou Guilherme, não sabemos, mas Sara, não. Foi o fim do casamento.
Poucos dias depois, Guilherme perdeu o promissor emprego que tinha e nunca mais conseguiu outro no mesmo nível. Ainda seguiu no vício e afundou-se mais em dívidas. Afastou-se do filho João Carlos que cresceu sem conviver com o pai. Aos dezesseis anos, João Carlos sofreu um acidente e faleceu. A família não tinha, há muito notícias, de Guilherme.
Tentações e pequenas brechas podem criar histórias bem diferentes do que gostaríamos de viver.
Sobre o autor
JulioSampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
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