A toxicidade do “Oh, vida! Oh, azar”

A vida nos reserva acontecimentos inesperados sobre os quais não temos gestão

Chego tarde depois de um dia longo, quando nem tudo ocorreu como eu gostaria. Cometi alguns erros. Ousei em uma situação e não deu muito certo. Em outra, podia ter feito algo, mas a oportunidade passou. Enquanto preparo o lanche, volto a pensar no dia que está se encerrando. Tenho consciência de que, mesmo quando errei, estava buscando o meu melhor. Isso me conforta um pouco. Também sei que plantei coisas boas ou, pelo menos, tentei plantar. Busco, conscientemente, o que teria a agradecer, além do próprio fato de estar vivo e ter vivido aquele dia. O cansaço, talvez, dificulte e não me vem muitas coisas à cabeça. Aos poucos, porém, surge um acontecimento, um outro e depois alguns de menor importância, mas ainda assim, positivos. Parece que agora, eles estão fluindo. Também me pergunto se teria algo que pudesse me dar os parabéns neste dia. E, sim, superei algumas dificuldades, consegui realizar boa parte do que havia planejado e contribuí com os meus clientes da melhor maneira que consegui fazer.

Foto: Reprodução/Internet

Abro uma cerveja gelada e saboreio um sanduiche, preparado como se fosse uma pizza. Ligo a TV e o controle remoto me ajuda a fugir dos canais de notícias. Paro em um destes programas de fim de noite. São três mulheres e um homem debatendo sobre algum assunto. “Quero dizer que para mim está tudo muito ruim”, diz uma das mulheres, seguida de uma outra, que afirma ainda mais contundentemente: “Sim, está tudo ruim. Está ruim para você, para mim e para todo mundo. Temos que parar de nos enganar de que as coisas vão melhorar. Não vão. Elas vão piorar”. O homem, então, complementa “Vocês têm razão. Está todo mundo mal e dizendo que está bem. É a tal da positividade tóxica”.

Tóxica é a desesperança e tóxico é o pessimismo. Ser tóxico é reclamar mais do que agradecer. É olhar para o mundo e só ver o cinza e não perceber as cores e a beleza da vida. Toxicidade é se entregar aos problemas e não buscar caminhos. É não puxar para si a gestão de suas escolhas, transferindo para o mundo externo, a causa de nossa felicidade ou infelicidade. Pior ainda é querer espalhar este sentimento para outras pessoas. O que pode ser mais tóxico do que alguém se sentir vítima do mundo? “Oh. Céus! Oh vida, oh azar! como dizia a hiena do desenho animado Lippy, o leão e Hardy, a hiena.

Não há como negar que existe sofrimento. A vida nos reserva acontecimentos inesperados sobre os quais não temos gestão. Não temos como moldar o mundo aos nossos desejos e necessidades. Somos pequenos seres diante da grandeza do universo e de uma força superior, que está além de nossa compreensão. E é exatamente por isso que precisamos lidar com estes acontecimentos da melhor maneira. Há o momento para sofrer, chorar, se resguardar. Há o momento de se levantar, buscar alternativas e seguir em frente.

Histórias de vida como as de Viktor Fankl, Edith Eger ou Eddie Jaku, todos sobreviventes de campos de concentração, já inspiraram milhões de pessoas a superar os seus próprios desafios. Provavelmente, caro leitor, a sua própria história de vida seja inspiradora. Todos passamos por crises, perdas e pequenas ou grandes tragédias. Não precisamos negá-las, ao contrário. Elas nos trouxeram até aqui e nos ajudaram a ser o que somos. Elas nos trazem ao volante de nossas vidas. Chamo isto de consciência, que é o oposto de alienação.

Mudo de canal. Um gole de cerveja e um pedaço do sanduíche. Não, não está tudo ruim. Não, não está tudo fácil. Mas estamos no jogo. Temos muito o que agradecer. Temos muito o que fazer. Não podemos nos contaminar pelas hienas. Elas continuarão a dizer: “Oh vida, oh azar!”

Julio Sampaio (PCC, ICF)
Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros 

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Papai Noel pela Amazônia: projeto supera desafios da seca para levar brinquedos às crianças ribeirinhas

De barco, a pé, pegando carona pela lama e até remando, ele segue sua missão de entregar brinquedos para inúmeras crianças, mantendo uma tradição que já dura 26 anos.

Leia também

Publicidade