Reflito sobre isso e me questiono. E você, caro leitor?
Vejo meu neto recém-nascido Levy, o quanto ele é dependente. Ele demanda cem por cento do tempo da mãe. A Impressão é que ele está mamando todo o tempo e requer todos os cuidados dos que estão em volta. Aconteceu com os outros netos também, mas a correria da época não me deixou perceber a intensidade desta dependência. Certamente ocorreu o mesmo com as minhas filhas e comigo mesmo, embora isto tenha tanto tempo que parece outra vida. Mas o que me chama a atenção é a ratificação, até óbvia, de que, ao contrário de outras espécies, não sobreviveríamos nem aos primeiros dias, não fossem os cuidados da mãe, do pai, da família e de outros envolvidos. Dependemos de uma rede desde que nascemos.
Na adolescência precisamos ser aceitos pelos colegas, torcer por um time, sentir que pertencemos a algum grupo e, mais do que isso, que somos queridos ou temidos por eles. Os que não são aceitos costumam ser alvos de bullying. Cláudia era “bujão de quatro olhos”, “baleia” e “tsunami” quando mergulhava na água, o que a fez nunca mais entrar na piscina do clube. Era gordinha e usava óculos. Assumiu que era má e passou a praticar malvadezas, uma maneira de sobreviver e não se vitimizar. Não impedia que sofresse. Ela precisava de uma rede.
Na idade adulta, tão importante quanto a nossa capacidade profissional será o network que construirmos. Luciana e Leandro, especialistas em reputação digital e uso do LinkedIn, não param de enfatizar: nos novos tempos, mais importante do que a marca de sua empresa, é a sua marca, e ela depende da construção de uma boa rede.
Luziane é advogada e jornalista. Como a mulher de Will Smith (o ator que na cerimônia do Oscar 2021 agrediu com um soco o apresentador, pela piada de mau gosto que fez sobre ela), Luziane foi acometida repentinamente por alopecia, doença que faz cair todos os pelos do corpo. Luziane assumiu corajosamente a careca, com dignidade, sorriso e simpatia, características muito fortes de sua personalidade. Neste período, participei de várias reuniões de conselho em que ela estava presente, brilhando na tela, com a sua carequinha e com o seu sorriso. Na defesa de sua tese, porém, Luziane colocou uma peruca. Não queria que a sua imagem influenciasse a banca. Emocionou-se ao ver na plateia os dois irmãos. Eles estavam de cabeça raspada. Homenageando Luziane, silenciosamente, eles estavam gritando que a amavam e que eram a sua rede.
Claudio e os dois irmãos cuidam de Olavo devotadamente. Eles se reversam nos cuidados e nunca deixam o pai sozinho. Já com quase 90 anos, Olavo é mal-humorado, reclama da vida e, às vezes, é agressivo. Mas os filhos estão lá, do lado, dia após dia. Têm amor pelo pai e sabem o que eles são. Eles são sua rede.
O caso contrário de Olavo é o do Lindolfo, dez anos mais novo, embora pareça tão velho quanto. Mora só em um pequeno quarto. Está longe da filha e dos netos. Não se entende com a ex-mulher, embora se falem por telefone, de vez quando, para manterem o saudável hábito das brigas e ofensas, de lado a lado. Lindolfo está longe da família e não tem amigos. Lindolfo não criou sua rede.
Reflito sobre isso e me questiono. Sou rede de quem? Quem tenho como rede? E você, caro leitor?
Sobre o autor
JulioSampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
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