Palavras e rótulos

O que significa felicidade para você, caro leitor?

Sou um cara sério, na maior parte do tempo. Não sou um bom contador de histórias ou de piadas. Planejo o tempo e costumo ser pontual. Gosto de trabalhar, de estudar e de dedicar tempo para serviços voluntários. Isto sempre ocupou mais tempo da minha vida do que o lazer. Não sou muito chegado a manifestações explícitas de alegria. Também não tenho por hábito a meditação e, decididamente, não sou uma pessoa Zen. Tudo isto me afasta do protótipo que muitos fazem da felicidade.

Ao longo da vida, realizei e realizo ainda coisas que considero importantes, procuro ser útil ao maior número de pessoas e agradeço todos os dias pelo que sou e pelo que tenho. Estou cercado de pessoas que amo e de amigos. Dentre outras coisas, gosto de correr, de pegar um sol e tomar cerveja nos finais de semana. Desde que me lembre, venho me melhorando como pessoa e diminuindo meus defeitos. Por tudo isto e muito mais, sou uma pessoa Feliz (com letra maiúscula). Ainda assim, não estou no rótulo que muitos aplicam para a felicidade.

Em uma ocasião, fazíamos turismo em um local especial e uma pessoa extasiante me perguntou: “você gostou do que estamos vendo?”. “Sim, gostei”, respondi. “Então por que está com esta cara?”. Era a minha cara. Estava gostando. Estava bem. Estava feliz, mas não eufórico. Para esta pessoa, eu não parecia feliz. O que significa felicidade para esta pessoa? O que significa felicidade para você, caro leitor?

Foto: Reprodução/LinkedIn

Martin Seligman foi um dos fundadores do movimento da psicologia positiva. Ele criou, o que chamou de Teoria da Felicidade Autêntica, que inclui três tipos de felicidade: o prazer, o engajamento e o sentido. Com o avanço dos estudos, acrescentou mais dois tipos: relacionamentos e realização. Deu então um outro nome à teoria. “A palavra felicidade é usada com tanto exagero que se tornou quase sem sentido”. Ele preferiu denominá-la como ‘Teoria do Bem-Estar’, para fugir do rótulo felicidade.

Pessoalmente, não sei se a mudança do termo favorece a comunicação. Venho estudando o tema e defendendo o movimento da Construção Consciente da Felicidade, a partir de práticas e exercícios como a consciência da Missão, o desenvolvimento do Propósito, a Resiliência, o Plantar Felicidade por pequenos gestos, o Desapego e o desfrutar do Belo. Eles compõem o Método MCI de Felicidade, inspirado principalmente em Mokiti Okada e na própria psicologia positiva. Como ciência, ela possui hoje milhares de trabalhos que comprovam os efeitos de algumas destas práticas na nossa felicidade (ou bem-estar?) e para quem está ao nosso redor.

O rótulo bem-estar facilitaria a compreensão de que não se está falando que tudo tem de ser maravilhoso, que não existem problemas e nem sofrimentos? E que, ao contrário, é justamente pela vida ser o que é, que precisamos aprender a lidar com ela, da melhor maneira possível? Como Victor Frankl fala em seu clássico Em Busca de Sentido: “O que a vida espera de você?”. O que é fazer o melhor, diante do que a vida lhe traz?

Palavras e rótulos. É difícil eles comunicarem exatamente o que queremos transmitir. Eles carregam preconceitos. Comecei a minha carreira sendo vendedor, o que na época carregava toda uma conotação negativa. Depois de uma carreira como executivo, iniciei como consultor e conheci centenas de piadas, como a de que “o consultor é aquele que chega na sua empresa, diz o que você já sabe e ainda cobra por isto”. Como coach, então, nem se fala. Conselheiro é aquele que “aparece de vez em quando, participa de uma reunião e vai embora, deixando os problemas para trás”. Um colega de conselho se diz um advisor, mas tem vergonha de usar o termo, que parece pedante. Também parece dono da verdade, você dizer que é mentor ou professor. E escritor? De quê?

Rótulos. Já tentei me livrar deles, mas não adiantou. “É você que vai palestrar sobre Felicidade?”, me perguntou um chefe de cerimônias, parecendo não acreditar que era eu mesmo, pelo meu jeito sério. “Devo te apresentar como consultor ou como coach?”

Sobre o autor

JulioSampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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