‘Candiru vampiro’ e ‘candiru-cação’: saiba como se proteger dos temidos peixes encontrados no Rio Madeira

Ambos são encontrados no Rio Madeira em Rondônia e há cerca de 10 casos por ano de penetração do candiru em orifícios do corpo humano no Estado.

O candiru, conhecido como “peixe vampiro”, é da família Trichomycteridae, que engloba mais de 280 espécies, com cerca de 40 gêneros. Segundo especialistas, ele é um parasita, alimenta-se de outros peixes e pode chegar a medir até 30 centímetros.

No Rio Madeira, em Rondônia, há dois tipos deles: um é o pequeno, chamado de ‘candiru vampiro’ e o outro é o ‘candiru-cação’. Segundo a doutora em desenvolvimento sustentável do trópico úmido, Carolina Rodrigues da Costa Doria, que atua na Universidade Federal de Rondônia (Unir), esses peixes são de famílias diferentes.

“O candiru vampiro vai precisar [se alimentar] do peixe vivo para poder viver. Ele é comum no Rio Madeira, em áreas conhecidas como águas brancas. O outro é o candiru-cação, ele também é comum em águas brancas, mas esse não penetra em corpos de indivíduos vivos, esse se alimenta de peixes que já estão quase mortos, em decomposição ou estado de putrefação”, explica.

Carolina conta que teve acesso ao vídeo em que é possível observar um peixe sendo devorado por candirus durante uma pescaria. “Com o tempo para a retirada do peixe, que provavelmente estava machucado, houve a primeira entrada do candiru vampiro nas brânquias e depois os outros candirus. Se o peixe estivesse moribundo deve ter entrado até o candiru-cação”, comentou.

Foto: João Cordeiro / Instagram

Onde são encontrados com maior facilidade? 

O candiru tem a anatomia do corpo preparada para ajudar na sua camuflagem em “águas brancas”, que são aquelas com presença de sedimentos, comuns do Rio Madeira, em Rondônia.

Na região próxima a Porto Velho esse tipo de peixe pode ser encontrado com maior facilidade próximo as barragens das hidrelétricas construídas no Madeira (entenda ao final da reportagem os impactos das usinas).

Por suas características, o Rio Madeira em Porto Velho, é considerado um rio de águas “barrentas”, pois carrega grande quantidade de sedimento às suas margens, provocando desbarrancamento e levando areia para dentro do rio.

Esse ambiente, que é formado pela força do rio, segundo o biólogo Flávio Terassini, é onde os candirus gostam, pois “eles ficam camuflados e passam despercebidos, principalmente no fundo dos rios, próximo ao lodo”.

“A visibilidade no Rio Madeira é praticamente zero. Se mergulhar, quase não é possível enxergar. Esses peixes possuem sensores. Ao entrar no Rio Madeira em qualquer região, principalmente agora na época da seca, pode sim, entrar em contato com o candiru”, explica Terassini.

Como evitar acidentes com candiru?

Em Rondônia, há cerca de 10 casos por ano de penetração do candiru em orifícios do corpo humano, como uretra, ânus e vagina. Para evitar acidentes com o peixe, Carolina Doria, explica que é recomendada a entrada nos rios amazônicos com as roupas adequadas.

“É importante ressaltar que não é um peixe feroz que vai comer gente viva, pois isso não acontece. O pescador que pesca no Madeira sabe que é um rio que tem candiru e que não é todo dia e toda hora que encontra o peixe no rio”, e completou: “O candiru não vai comer ninguém vivo, também não vai entrar em pessoas que estiverem nadando corretamente vestidas com biquíni ou sunga”.

Foto: João Cordeiro / Instagram

Alterações após as usinas

A pesquisadora conta ainda que com a construção das usinas hidrelétricas houve uma limitação no percurso natural da migração das espécies que vivem no Rio Madeira. Mesmo que tenham sido feitas pelas concessionárias das hidrelétricas, um corredor para que os peixes façam o trajeto rio acima, os animais podem se machucar nesse movimento. Com as lesões abertas, o sangue no rio atrai os candirus.

“Nessa região da barragem da usina de Santo Antônio e de Jirau está tendo um acúmulo de peixes e eles ficam muito machucados. Os peixes não conseguem passar pelo sistema de transposição e ao tentar passar eles ficam muito machucados. Isso acaba atraindo os candirus para a região”, explicou.

“Mas não podemos afirmar que está tendo alguma superpopulação desses animais. Não há estudos que permitam essa confirmação. O candiru sempre esteve no Madeira. Eles aparecem nessa região [das barragens] em grande quantidade, pois existem peixes machucados”.

O que dizem as concessionárias das UHE de Jirau e Santo Antônio? 

As concessionárias das Usinas Hidroelétricas de Jirau e Santo Antônio informaram que há um monitoramento da ictiofauna do Rio Madeira e que os relatórios sobre essas observações são reportados para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Sobre o recebimento dos relatórios enviados pelas concessionárias, o g1 entrou em contato com o Ibama e até a publicação desta reportagem, não obteve resposta.

Nota da Santo Antônio

A Hidrelétrica Santo Antônio possui um Sistema de Transposição de Peixes (STP) que funciona desde 2011. Trata-se de um canal que permite a migração dos peixes rio acima e que já foi tema de várias reportagens da Rede Amazônica (TV Rondônia, Rádio CBN e G1). Com este sistema, os peixes ultrapassam a barragem da hidrelétrica e seguem normalmente seu curso. Os monitoramentos realizados indicam o eficiente funcionamento do STP com o registro de vários peixes migratórios como a dourada, pacu, piramutaba, babão, filhote, barba chata, curimba, pirapitinga, cachorra, jatuarana, jundiá, entre outros peixes que usam o STP como canal de migração.

Monitoramentos realizados pela Santo Antônio Energia, no âmbito do Licenciamento Ambiental desde 2008, ano de início da construção da hidrelétrica, e fiscalizados periodicamente pelo Ibama, não indicam qualquer desequilíbrio nas comunidades de peixes na área de influência da usina. As variações observadas são as relacionadas às alterações naturais de vazão do rio Madeira e não à operação da Hidrelétrica Santo Antônio, dado que a usina opera a fio d´água. Por exemplo, em algumas localidades, no período de seca, torna-se mais fácil a captura dos peixes. Já os grandes bagres são mais comuns no período inicial de cheia do rio.

Nota UHE Jirau

A Usina Hidrelétrica Jirau monitora a ictiofauna do rio Madeira, em sua região de influência há mais de 12 anos e todos os relatórios de monitoramento são reportados para Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Destes resultados, não foi observado alteração na biodiversidade local decorrente da implantação e operação do empreendimento.


*Por Jheniffer Núbia, do g1 Rondônia 


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