Candiru: conheça as verdades por trás do peixe mais temido da Amazônia

Na Amazônia, os rios de água turva impressionam e, ao mesmo tempo, causam medo e espanto. Nos mitos sobre a região, sempre estão presentes a cobra grande, o boto cor-de-rosa e o candiru. Não por menos, mas eles existem e o rico imaginário os deixam ainda mais aterrorizantes.

A cobra-grande é associada à Anaconda, ou seja, a temida cobra Sucuri dos rios da Amazônia, emblemática em filmes como um grande perigo. Já o boto é sinônimo de galã, e sai dos rios da Amazônia em forma de jovem vestido de roupas brancas, e vai em direção às festas, para seduzir as moças e engravidá-las. E o candiru é conhecido como o minúsculo peixe que entra na uretra ou reto, durante o urinar ou defecar da pessoa na água.

Foto: William Costa/Portal Amazônia

O candiru é da família Trichomycteridae, em que estão inseridas mais de 280 espécies em cerca de 40 gêneros, muitos conhecidos como parasitas, e medem de 5 a 12 centímetros. E para entender as verdades e os mitos em torno da “Lenda do Candiru”, a equipe do Portal Amazônia conversou com o Professor Doutor Edinbergh Caldas de Oliveira, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), especialista em ecologia dos peixes amazônicos, o qual ressalta que bagres representantes dessa família ocorrem da Costa Rica até a América do Sul, com maior diversidade de candirús aqui na Bacia Amazônica.

“São peixes Siluriformes, ou seja, pequenos bagres. Algumas espécies são hematófagas, pois se alimentam de sangue, entre elas, as mais populares aqui na região são os do gênero Vandellia. E há candirus que são carnívoros, no sentido de se alimentarem de microcrustáceos e invertebrados aquáticos”, pontua o professor.

Foto: William Costa/Portal Amazônia

Também conhecido como peixe-vampiro, o candiru (Vandellia sp.) é comumente encontrado nas brânquias (popularmente conhecida por guelra) dos grandes bagres.

“Os candirus atacam os grandes bagres quando estão doentes, eles vão direto nas brânquias, pois ali é onde está o sangue circula para respiração. Além do sangue, a urina também atrai eles, pois sentem o cheiro e gosto misturado, e a uma distância maior”, disse.

Candiru-açu

Uma outra espécie, também encontrada nos rios da Amazônia, é da família Cetopsidae, os conhecidos popularmente por candiru-açu, como ressalta o professor Edinbergh, assim como os candirús também, tem grande importância na cadeia alimentar aquática, sendo os responsáveis pela limpeza da matéria orgânica morta e dos restos de outros peixes nos ecossistemas de rios e lagos de nossa região.

“A importância do candiru é muito grande, pois ele é um limpador do ambiente aquático, os da família Cetopsidae, que são os candiru-açu, de 15 a 30 centímetros e ocorrem principalmente no rio Madeira com o rio Solimões, e que se alimentam de peixes doentes ou que acabaram de morrer (carniças). Um papel equivalente ao dos urubus”, ressalta o professor.

Foto: William Costa/Portal Amazônia

Casos de ataques

Em um levantamento de 20 anos (1990 a 2010), o professor Edinbergh ressalta que em Manaus foram registrados apenas 2 casos graves com atendimento médico cirúrgico, ambos ocorridos na metade da década de 90.

“O que temos conhecimento são de dois casos de pessoas do interior, que chegaram a hospitais de Manaus, de um rapaz que teve um candiru que entrou na uretra, mas que foi operado, e de uma moça, em que o candiru já estava alojado no útero dela, e tiveram que fazer a ‘raspagem’ deixando-a estéril”, lembra o professor, ressaltando que é raro de acontecer esses ataques, então há muito do mito em torno do peixe.

Um terceiro caso foi constatado em 2002 por alunos do curso de Agronomia, da Ufam, que após realizarem um trabalho de campo foram tomar banho em uma praia do bairro Puraquequara, zona Leste de Manaus, próximo a um matadouro de gado.

“Eles foram tomar banho muito próximo de onde escorrem as vísceras e sangue do gados abatidos. Quando eles vieram até mim, dizendo que foram atacados e me mostrando o ferimento a fim de saber que bicho tinha sido. Quando reparei tinha um pequeno ferimento arredondado, como feito pelo candiru”, disse.

Foto: William Costa/Portal Amazônia


Cirurgia de retirada do candiru

O médico urologista Dr. Anoar Samad é formado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), possui mestrado de Urologia na Espanha (1995), e foi o médico que despertou a curiosidade científica mundial com o caso da cirurgia para a retirada de um candiru da uretra de um paciente. Sobre o assunto, doutor Anoar lembra como chegou até o paciente Silvio Barbosa.

“Foi em 1997, eu recebi uma ligação do tio dele relatando o acontecido, achei ser piada, mas até que me convenci de que era verdade. O paciente chegou até minha clínica há 3 com o candiru na uretra, além do sangramento ele já não conseguia urinar. Eu examinei-o e fiz a cistoscopoia e identifique o candiru, que tinha 12 centímetros de comprimento e 1,5 de largura”, conta o médico.

Ainda segundo ele, após várias lavagens da uretra do paciente, e com ajuda de pequenos equipamentos, foi obtido sucesso na cirurgia.”A cirurgia durou cerca de duas horas, e com um endoscópio adequado e câmera para visualizar a uretra, conseguimos dar um tranco no candiru e retirada-lo de lá”, lembra o urologista. Após a retirada do peixe, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) realizou o tombamento e agora faz parte da coleção Ictiológica do órgão.

Foto: William Costa/Portal Amazônia

Orientações

Para evitar acidentes como candiru, o professor Edinbergh dá algumas dicas.

“Ao entrar na água, não entre nu, e não urine ou defeque, e mulheres evitem entrar menstruadas, pois o sangue vai atrair os candirus. Nos igarapés, por exemplo, não existem espécies hematófogas, mas em rios e lagos, é bom manter o cuidado, mas ele não vai furar a roupa de banho, o máximo é ele tentar furar a perna e daí é só sair da água e tratar do ferimento, se houver”, alerta. 

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