Você sabia que abaixo do Atlético Rio Negro Clube, em Manaus, existe um cemitério?

O cemitério ficava de frente para a área que depois foi ocupada pela praça Cinco de Setembro e recebeu seu primeiro sepultado em 7 de março de 1856.

O Atlético Rio Negro Clube é um clube desportivo brasileiro localizado no Centro de Manaus (AM). Fundado em 13 de novembro de 1913, com o nome ‘Ahtletic Rio Negro Club’, sendo rebatizado mais tarde para a grafia atual, é uma homenagem ao Rio Negro. O clube é considerado um dos mais tradicionais e importantes do Estado do Amazonas, se destacando em diversas modalidades esportivas como o vôlei e o futebol profissional.

Localizado na Avenida Epaminondas, na região do Centro da capital, o clube possui uma capacidade para 10.000 pessoas com quadras de futebol, vôlei, além de piscinas, salas para luta, salões de festa, entre outros. Entretanto, antes da construção do clube, existia um cemitério em um terreno com mais de 8 mil m², chamado de Cemitério São José.

Até a primeira metade do século XIX, Manaus ainda não possuía um cemitério adequado, até que em 1º de outubro de 1853, o presidente da Província, Herculano Ferreira Penna, através de uma mensagem, já expressava a necessidade de se construir um cemitério público, pois, já demandava urgência, principalmente porque os enterros das pessoas eram realizadas no entorno do largo da Trincheira e nas imediações da igreja dos Remédios, em covas rasas, atraindo algumas vezes animais para aquela região. 

Após um acordo entre a presidência da Província, a chefatura de Polícia e o vigário da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, o administrador provincial mandou que se cercasse a área próxima ao templo para que o local passasse a servir de necrópole pública até que a Província pudesse providenciar um campo santo em local apropriado. 

Foto: Reprodução / Manaus entre o passado e o presente

As obras de adaptação do terreno da igreja ficaram prontas em 1854. Com sua criação, os enterramentos passaram a ser realizados nesse cemitério, sendo vedadas as inumações nas igrejas e áreas próximas, como aparece na edição de 24 de junho daquele ano do jornal ‘A Estrella do Amazonas’, onde o juiz de Direito da Comarca, doutor Manoel Gomes Corrêa, usando o ‘Código de Posturas Municipaes’, proibiu “enterrar-se cadáveres nos templos, ou átrios destes, sob pena de ser multado o infrator em vinte mil réis, ou oito dias de prisão”. Em 1856, os sepultamentos passaram a ser realizados no Cemitério São José.

O cemitério foi construído entre as ruas Ramos Ferreira, Luiz Antony, estrada de Epaminondas e o então beco dos Inocentes, atual Rua Simón Bolívar, em um terreno de mais de oito mil metros quadrados, onde hoje existe o Atlético Rio Negro Clube.

O cemitério ficava de frente para a área que depois foi ocupada pela praça Cinco de Setembro (conhecida como Praça da Saudade). Recebeu seu primeiro inumado (sepultado) em 7 de março de 1856, um corpo do comerciante cearense João Fleury da Silva, falecido aos 44 anos de idade. Nessa época, o local ainda não possuía cerca e nem capela, pois, em 1857, em mensagem à Assembleia Provincial, o presidente João Pedro Dias Vieira lamentou não ter conseguido realizar essas obras pela falta de operários e devido às constantes chuvas.

Leia também: Você conhece a origem da Praça da Saudade de Manaus?

Em 1858, Francisco Furtado mandou cerca com madeira a área do cemitério e ergueu uma pequena igreja no centro do terreno. As obras foram concluídas em 1859. Ao todo, em seus três primeiros anos de funcionamento, o local já havia recebido quase 400 enterros. O contrato para a construção do muro em alvenaria e para a colocação do gradil e do portão de ferro na frente do Cemitério, na estrada de Epaminondas, foi firmado em 1866 com Raimundo José de Sousa. 

Em 1875, o presidente da Província, Domingos Monteiro Peixoto, já reclamava da necessidade de se construir outro local, pois o cemitério não conseguiria mais oferecer condições para receber inumações. Entretanto, a situação precária continuaria por mais de 10 anos, já que em 1887,a Inspetoria de Higiene Pública sugeriu que os sepultamentos no São José fossem transferidos para o cemitério dos variolosos, localizado na margem direita do igarapé da Cachoeira Grande, em uma área conhecida, à época, como morro do Seminário. 

No entanto, o Governo Provincial, por não dispor de verba suficiente para a construção nem de uma capela nesse novo cemitério e nem de uma ponte que o ligasse a cidade, mandou, em 19 de outubro de 1887, que se ampliasse a necrópole da estrada de Epaminondas para o norte, possivelmente, para o lado onde ficava o beco dos Inocentes. Ao campo santo situado no morro do Seminário caberia, apenas, o sepultamento de vítimas de epidemias.

Vista do antigo Cemitério São José. In: Relatório do superintendente
municipal Arthur César Moreira de Araújo, 1901. Foto: Reprodução

No ano seguinte, a igrejinha do Cemitério São José foi escorada devido ao mau estado e a imagem do santo e os ornamentos sagrados, recolhidos à capela do hospital da Santa Casa de Misericórdia. Ao final de 1888, a área que havia sido ampliada no ano anterior já estava totalmente ocupada. Tanto que, a partir de 13 de dezembro desse mesmo ano, data em que o cemitério São Raimundo, onde as pessoas com varíola eram enterradas, iniciou suas atividades como necrópole pública, não mais foi anotada nenhuma nova inumação no Cemitério São José até 16 de julho de 1890, quando recebeu o último enterramento que se tem registro oficial, do jovem Sebastião Gentil de Faria e Sousa, de 16 anos de idade. Em 1891, por meio do Decreto Estadual 95, de 2 de abril, o governador Eduardo Ribeiro proibiu, “em definitivo”, que fossem abertas novas sepulturas no Cemitério.

Como a primeira capela do local era de madeira, com o tempo, a capela ficou em condições precárias até que em 31 de março de 1892, aconteceu o lançamento da pedra fundamental da construção de outra capela, para substituir a original.

Dois anos depois, a administração estadual aceitou a recomendação da Inspetoria de Higiene Pública em transformar a necrópole do São José em um jardim. Os mausoléus e os restos mortais ali existentes seriam transferidos para o cemitério São João Batista. Entretanto, a ideia do jardim somente seria executada na década de 30.

Em 13 de março de 1901, o cônego José Henrique Felix da Cruz Dacia pediu à Prefeitura, que assumiu a responsabilidade pelas necrópoles de Manaus em 1891, autorização para realizar missas e outras atividades religiosas na capela desse Cemitério, para atender a pedidos das famílias que possuíam entes enterrados naquele local.

O Executivo Municipal, em 1926, solicitou a presença dos responsáveis pelos túmulos perpétuos existentes em São José para que se firmasse um acordo de remoção desses mausoléus para o cemitério São João Batista. Seis anos depois, o prefeito Emmanuel de Moraes concluiu o ossuário no São João Batista destinado aos restos mortais que foram removidos do São José e que não possuíam reclamantes. 

No mesmo ano, por meio do Decreto Municipal 84, de 17 de maio de 1932, o gradil da frente desta necrópole foi cedido, por permuta, para o Colégio Dom Bosco. Ainda em 1932, a área começou a ser transformada em um jardim denominado São José, que teve apenas seis anos de existência, pois, em 1938, o terreno desse jardim foi doado ao Atlético Rio Negro Clube, que ali construiu a sua sede social, existente até hoje.

*Informações retiradas do livro ‘Manaus entre o passado e o presente’, do autor Durango Duarte


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