Meteorologista alerta sobre principais preocupações causadas pelas nuvens de fumaça no Amazonas

As nuvens de fumaça dificultam a visibilidade e prejudicam a respiração das pessoas. Temperatura ainda tem a possibilidade de aumentar entre setembro e outubro.

Nos últimos dias, a população de Manaus, no Amazonas, passou a lidar com uma grande e densa nuvem de fumaça que se instala na atmosfera. Além de Manaus, o fenômeno também ocorreu em Porto Velho (RO).

Essas nuvens de fumaça dificultam a visibilidade e a respiração e isso tem acontecido por diversos fatores, mas com destaque para o aumento de queimadas na Amazônia que se intensificam durante o chamado Verão Amazônico.

De acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), uma massa de ar polar está influenciando a circulação de ventos no Amazonas, fazendo com que a fumaça de queimadas das regiões Sul e Sudeste do Estado, e também do Oeste do Pará, sejam transportadas para a Região Metropolitana de Manaus.

O Portal Amazônia conversou com o meteorologista da Meteonorte e mestre em Clima e Ambiente, Willy Hagi, para explicar melhor como isso ocorre. 

Foto: Reprodução/Rede Amazônica AM

Por que as intensas nuvens de fumaça aparecem quando chega o verão amazônico ?

O período mais seco do ano também é o período onde a estação de queimadas na Amazônia começa, justamente por conta dessa falta de chuvas, explica Hagi.

“Essa poluição dos últimos dias em Manaus se deu por conta da passagem de uma pluma de poluição muito intensa pela capital, proveniente de queimadas. O diferencial é que a origem dessa poluição não vem exatamente de queimadas tão próximas da cidade, mas sim de municípios críticos como Apuí (AM) e Novo Progresso (PA). Essa fumaça foi “transportada” desses municípios mais distantes via circulação atmosférica, de uma forma até similar com o que aconteceu em São Paulo em 2019 durante a estação de queimadas muito intensa da época”, 

informa o meteorologista.

Hagi comenta ainda que o tempo mais seco acaba fazendo com que essa fumaça continue por mais tempo no ar e não se disperse com facilidade, o que ajuda a explicar essa condição prolongada com a qualidade do ar baixíssima em Manaus, em níveis que são perigosos para a saúde.

“Esses níveis de poluição extremamente elevados são muito prejudiciais para a saúde de qualquer um. As partículas desse ar mais poluído são muito pequenas e conseguem penetrar com facilidade no sistema respiratório das pessoas, então até mesmo o uso contínuo de máscaras de boa qualidade ajuda bastante a passar por esse momento. Queimadas também são uma questão de saúde pública, além de ser uma questão ambiental”, alerta. 

Foto: Reprodução/ClimaInfo

Assim, segundo Willy Hagi, o nível de qualidade do ar em Manaus está completamente deteriorado, por conta da concentração de material particulado fino (MP 2.5).

Foto: Wiily Hagi/Cedida

A influência do desmatamento

Desde o início do monitoramento dos dados realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento tem atingido recordes todos os meses. De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pelo instituto, registrado pelo sistema Deter, o desmatamento ilegal na Amazônia destruiu 8.590 km² de agosto de 2021 a julho deste ano e é o maior registro realizado em 15 anos.

Conhecida como Arco do desmatamento, a área é um território que vai do oeste do Maranhão e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. As rodovias Belém-Brasília e Cuiabá-Porto Velho iniciaram o desenho desse arco que, atualmente, corresponde ao território de 256 municípios que concentram aproximadamente 75% do desmatamento da Amazônia.

Veja também: Imazon informa que desmatamento registrado na Amazônia Legal é o maior em 15 anos

Recentemente, cientistas e ambientalistas do Greenpeace Brasil fizeram um sobrevoo em áreas atingidas por queimadas no município de Lábrea, no interior do Amazonas. O sobrevoo saiu de Rondônia, seguiu até o Amazonas e durou cerca de quatro horas.

A área devastada de Lábrea, pelas queimadas, é de 107 quilômetros quadrados. O espaço é equivalente a 14.985 campos de futebol. De acordo com o Greenpeace, o município foi o que apresentou mais focos de calor na Amazônia em 2021. Entre o dia 1º de janeiro e 18 de setembro, foram 2.946 focos de calor registrados somente em Lábrea. Todos os incêndios na região do município amazonense são considerados ilegais. A maioria dos focos de queimadas é para ocupação pela pecuária.

Foto: Reprodução/Imazon

As queimadas podem influenciar no aumento das temperaturas?

Segundo Willy Hagi, de certa forma sim, mas o que explica o fato de que Manaus ser cada vez mais quente é o próprio crescimento da urbanização desenfreada na cidade. É o que chamam de ‘Ilha de Calor Urbano’ e Manaus tem uma das maiores Ilhas de Calor do país. 

Ilha de Calor Urbano nada mais é do que o resultado da substituição da paisagem natural por asfalto e concreto nas grandes cidades. Isso contribui para que a temperatura nas regiões urbanas seja muito mais quente que as regiões mais rurais, como é o caso de Manaus. São características mais da cidade mesmo, a falta de arborização também contribui muito”, afirma.

As mudanças climáticas também são importantes nesse cenário. Segundo o meteorologista, “uma coisa acaba contribuindo com a outra” para aumentar ainda mais as temperaturas.

Entretanto, Manaus não é a única cidade que está sofrendo com o aumento das temperaturas no Amazonas, Municípios como Manicoré, Tefé e Lábrea registram temperaturas acima de 36ºC somente no mês de agosto deste ano, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No dia 1º de agosto, Lábrea registrou 36ºC. Já no dia 13, os termômetros chegaram em 36,5ºC. 

Já Manicoré, que também fica no sul do Estado, é outro município que tem se destacado por conta das altas temperaturas registradas. Segundo o Inmet, a cidade registrou 36,3ºC no dia no dia 6 de agosto e 36,2ºC no dia 9.

Por último, Tefé registrou três dias recordes de calor. No dia 16 de agosto, a cidade registrou 36ºC. Já no dia 17, os termômetros marcaram 36,2ºC e, por fim, no dia 18, a temperatura mais alta já registrada na cidade foi 36,5ºC.

Ainda conforme dados do Inmet, a tendência para o fim de agosto é de dias com temperaturas acima da média nas faixas Centro, Sul e Leste do Amazonas, incluindo a capital.

Além disso, os meses de setembro e outubro, geralmente são meses tão quentes ou mais do que agosto, por isso, ainda é possível a cidade presenciar uma nova máxima. O interior do Estado também deve sentir o reflexo e voltar a registrar números cada vez mais altos na temperatura.

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