Segundo estudo publicado em 2021, o Estado faz parte de uma zona tectonicamente ativa, com intensificação dos tremores ao longo dos anos.
Um terremoto pode ou não ser sentido na superfície no planeta. Em algumas regiões, o fenômeno que marca o movimento das placas tectônicas é mais frequente ou mais sentido. A Amazônia brasileira também sofre tremores e pela proximidade com países que apresentam maior vulnerabilidade, como o Peru, o Acre é um dos Estados que tem mais registros. Nesta terça-feira (17), um terremoto de magnitude 4,3 foi registrado no município de Tarauacá, no interior do Acre, segundo a Agência de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos (USGS), que monitora terremotos em todo o mundo.
O tremor ocorreu por volta das 4h59 (horário do Acre). O epicentro foi localizado a 635,5 quilômetros de profundidade e a 63 km da cidade de Tarauacá. Segundo o USGS, o tremor também foi registrado a 108,3 km da cidade de Feijó e a 158,6 km de Cruzeiro do Sul, também no interior do Estado brasileiro. Segundo o Corpo de Bombeiros de Tarauacá, não houve relatos e nem chamados relacionados ao terremoto.
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A cidade dos terremotos
E essa não é a primeira vez que o município de Tarauacá sente os tremores de terra. Na verdade é um dos mais afetados pelos tremores. Em junho do ano passado, a cidade acabou sendo atingida por um terremoto com magnitude 6.5 na escala Richter, considerada alta. Felizmente não houve registro de feridos.
O terremoto foi considerado um dos maiores da região, ficando em quarto lugar no histórico. O maior registro foi no ano de 2015, quando a cidade teve ocorrência de um tremor com magnitude de 6.7.
Segundo um levantamento publicado em 2021, pelo coordenador do Laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia na Universidade Federal do Acre (Ufac), Waldemir Lima dos Santos, o Estado faz parte de uma zona tectonicamente ativa, com intensificação dos tremores ao longo dos anos.
Acontece que o município fica justamente em uma falha geológica dessa zona ativa. “Segundo Assumpção (2011), a localização e a proximidade com a cadeia andina favorecem uma série de fenômenos de movimentação da crosta, suficientes para deslocar a massa continental em forma de terremotos. Assim, os terremotos são advindos do movimento das placas tectônicas que estão nas proximidades do Acre (a placa de Nazca e Sulamericana). Esses fatores fazem do Acre um local propício para a ocorrência de eventos sísmicos”, explicam no estudo.
“O Estado do Acre é composto por duas placas tectônicas, denominando-as de Placa do Juruá e Placa do Purus, ambas com separação visível do território acreano, em duas partes praticamente iguais, cujo limite está no município de Tarauacá, através de uma grande falha geológica disposta no sentido N-S [norte-sul], a qual denominamos de Falha de Tarauacá”.
Trecho do Levantamento Atividades Sísmicas na Amazônia: Levantamento e caracterização de terremotos na Amazônia sul-ocidental – Acre – brasil
Os dados mostram que, somente em 2015, foram 17 ocorridos e sentidos principalmente na cidade de Tarauacá. O estudo explica que “os sismos que ocorreram no Acre de maior intensidade advêm do Peru, com hipocentros ocorrendo, em média, a 600 quilômetros de profundidade o que tende a diminuir os efeitos das ondas sísmicas em superfície, mas amplia seu alcance. Isso explicaria o fato de terremotos ocorrerem no Peru e serem sentidos no Acre, visto que quanto maior a profundidade que o sismo ocorre maior é sua capacidade de propagação da onda, o que explica o fato de acontecerem com maior intensidade no Peru e ter seu alcance chegando ao Acre, especificamente, aos municípios de Tarauacá/AC e Feijó/AC.
Uma das observações do estudo é a sobre essa frequência dos sismos, que tem se intensificado desde 2010. “Foram registrados, ao todo, 21 terremotos no período de 2013 a 2016, mostrando ser o período de maior atividade sísmica no Acre e o de menor intensidade no que corresponde as décadas de 1950 e 1960, que segundo a USGS, registrou apenas dois terremotos”, informam.
Confira o estudo completo.