Fazer valer o direito do trabalho mais que uma questão de justiça é o resultado inexorável de nossa responsabilidade histórica com a vida digna, espelhada pelo respeito aos direitos fundamentais da dignidade humana.
Ao longo da história, o ser humano tem buscado arduamente equilibrar suas relações com os demais seres humanos, motivo pelo qual foram se estabelecendo critérios norteadores das regras de comportamento social e humano.
Ao analisarmos contextualização e construção histórica do direito do trabalho, podemos observar, todavia, que tanto a globalização quanto a revolução tecnológica, não representam uma novidade plena na história mundial. Já na antiguidade, na época do Império Romano, ou na Renascença, na época dos descobrimentos, a globalização era uma realidade, embora fosse identificada com outros nomes. A Revolução Industrial, por sua vez, causou o mesmo efeito que hoje provoca a revolução tecnológica.
A história mostra, portanto, não se pode esquecer, que no período anterior ao surgimento do direito do trabalho, foi marcado pela injustiça da escravidão, sem que isso tivesse representado qualquer fator de orgulho para os povos.
Fazer valer o direito do trabalho mais que uma questão de justiça é o resultado inexorável de nossa responsabilidade histórica com a vida digna, espelhada pelo respeito aos direitos fundamentais da dignidade humana.
Importa verificar que o direito do trabalho atribui um valor social do trabalho, não em decorrência das possibilidades econômicas, mas em consonância com as necessidades humanas, o que dá ao direito um aspecto ético e moral e essa é uma abordagem jurídica, pois a própria Constituição Federal fixou como “princípio fundamental” da República Federativa do Brasil “a dignidade da pessoa humana” e “os valores sociais do trabalho” (art. 1o., incisos III e IV) e fez menção à justiça social (art. 170) que estabeleceu que a ordem econômica é “fundada na valorização do trabalho humano” e ainda previu que a propriedade privada “atenderá à sua função social” (art. 5o., inc. XXIII, e art. 170, inc. III).
Destarte, não se pode omitir que a transnacionalização das empresas através da globalização dos negócios, está transformando a realidade social de regiões e continentes, na maioria deles, em descompasso com a evolução humana, causando-lhes grandes depressões sociais e econômicas, causando mais desigualdades sociais e precarização nas relações de trabalho.
Neste diapasão é que as empresas têm, no mínimo, a responsabilidade de impedir ofensas aos direitos fundamentais e humanos e de contribuir para que a sociedade se torne mais justa e humanizada, e que a produção de bens e riquezas não sejam transformadas em um novo muro feudal de desigualdades.
É neste jaez que a empresa ganha enorme relevância no mundo contemporâneo em todas as áreas, não somente econômica, e não pode mais ser considerada ou utilizada apenas como uma ferramenta de produzir lucro.
Assim, uma empresa precisa-se se preocupar com um RH humanizado, que é uma tendência global na gestão de pessoas, e tomar ações efetivas para esse modelo funcionar e humanizar o RH.
Por muitos anos, líderes de recursos humanos focaram principalmente na eficiência dentro do modelo operacional e mecânico. Nos últimos tempos, no entanto, houve um aumento na demanda de atender as necessidades de saúde física e mental dos colaboradores e de manter a integração e conexão entre as equipes, sobretudo durante o home office.
De acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, um RH humanizado impacta diretamente no desempenho e na satisfação não só de colaboradores, mas também de clientes. Segundo o estudo, a gestão mais humanizada eleva o bem-estar dos colaboradores em até 225% e a dos clientes em 240% e ainda elevam a rentabilidade financeira dessas empresas, em relação a outras companhias.
Portanto ter um RH humanizado, que valoriza o ser humano, enxergando os colaboradores com visão além do trabalho, aliando o pessoal e profissional, e dando dignidade a vida social do seu trabalhador.
E como fazer, eis alguns norte importantes: Ser um bom ouvinte dar voz ao colaborador; valorizar a qualidade de vida e o bem-estar dos colaboradores no ambiente de trabalho e fora dele; colocar o colaborador como o centro das atenções, bons resultados dependem de uma boa atuação de seus profissionais e, por isso, cria estratégias para mantê-los felizes e engajados e prezar pelo reconhecimento profissional onde a companhia reconhece e cria ações de gratidão para com a atuação de seus profissionais.
Destarte, Humanizar o departamento de Recursos Humanos e as iniciativas de Gestão de Pessoas significa, essencialmente, investir em ações, processos e ferramentas que aumentem o bem-estar no trabalho. Isso faz com que os colaboradores se sintam acolhidos e mais engajados na sua rotina profissional.
A seguir algumas iniciais ideias para serem analisadas e alguns instrumentos que as viabilizam:
Compreensão e Interação com seus colaboradores , ou seja é compreender a integralidade da vida dos seus colaboradores, e entender em todas as suas dimensões;
Envolvimento dos gestores da empresa , serão a prima facie da integração de equipe, portanto é o ponto focal da relação entre os colaboradores e a empresa;
Investir na capacitação, é fundamental investir continuamente na capacitação da liderança, e criar processos e fluxos de trabalho capazes de gerar satisfação e felicidade dentro do ambiente da empresa;
Uma boa e eficiente comunicação é o fundamento para criar um ambiente onde todos se sintam importantes e tenham voz para contribuir com o crescimento da empresa.
Certamente aumentara o nível de sugestões e ideias de aprimoramento e crescimento da empresa, diante do sentimento de humanização e pertencimento e, finalmente, importante criar uma política de benefícios, pensar que todos tem uma vida social e familiar fora do trabalho, isso passa a ser importante ter benefícios que possibilitem maior qualidade de vida a seu colaborador e seus familiares.
Isso não é apenas diferencial para a marca da empresa, mas também como um fator de pertencimento e viabilidade de retenção de valores profissionais de qualidade para a empresa com a satisfação do colaborador.
As novas relações de trabalho no mundo pós contemporâneo, seja virtual ou presencial, precisam compreender a importância de lideranças humanizadas- é um tipo de gestão na qual o líder exerce sua influência e pauta suas ações sobre um grupo de forma mais empática e solidária.
Concluo em dizer ser fundamental que o gestor deve gostar de pessoas, de interagir, de conviver e de tentar entender o outro. Como consequência, o gestor consegue pensar e executar estratégias que impulsionam o engajamento dos colaboradores, estimula a mudança de mindset corporativo e ainda melhora a cultura organizacional da empresa. Assim, todo mundo sai ganhando: tanto os colaboradores, que têm acesso a um ambiente mais acolhedor e menos estressante, quanto a empresa, cujos dados indicarão o aumento da produtividade.
Sobre o autor
Luiz Gomes é Professor e Advogado, socio sênior do Escritório L.Gomes Advogados Associados, com sede em Natal-Brasil e filial em Lisboa-Portugal, Doutor em Ciências Sociais e Jurídicas; é presidente da Escola da Advocacia Trabalhista do Rio Grande do Norte-ESAT; é membro da Comissão Nacional de Direito do Trabalho da Associação Brasileira de Advogados (ABA); é Membro da Comissão Nacional de Direitos Sociais (CNDS do CFOAB); foi Presidente da Associação Norteriograndense de Advogados Trabalhistas (ANATRA); foi Conselheiro Federal da OAB pelo RN e foi o primeiro Ouvidor Geral da OAB-RN.
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