Falta verde e sobra calor nas escolas de Manaus, revela pesquisa nacional

Estudo realizado pelo MapBiomas, a partir de perguntas do Alana, analisou 20.635 escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, em todas as capitais.

Foto: Divulgação/Instituto Alana

Mais da metade das escolas de Manaus (51%), no Amazonas, não têm áreas verdes. A capital também não vai bem quando se trata de conforto térmico: 77,7 % das escolas da cidade estão localizadas em ilhas de calor, ou seja, territórios com temperatura de superfície considerada elevada, pelo menos 3,57ºC acima da média urbana. Será que é possível manter a concentração e aprender em meio a um calor abrasador?

Os números fazem parte de uma pesquisa inédita do Instituto Alana a partir de dados levantados pelo MapBiomas e analisados conjuntamente com a Fiquem Sabendo. Foram pesquisadas 20.635 escolas públicas e particulares, de educação infantil e fundamental, para entender o acesso que as crianças e adolescentes têm a áreas verdes e a resiliência das escolas: quais e quantas são extremamente quentes ou correm riscos climáticos, por exemplo? E como essas informações se conectam com desigualdades raciais, territoriais e socioeconômicas?

O levantamento indica que cerca de 90% das escolas em áreas de risco estão dentro ou em até um raio de 500 metros de favelas e comunidades urbanas, e que 51% dessas escolas tem maioria de alunos que se declaram negros, percentual que cai para apenas 4,7% nas escolas com maioria de alunos que se declaram brancos, evidenciando a conexão entre desigualdades e fatores climáticos, bem como o racismo ambiental.

A pesquisa mapeou ainda que faltam áreas verdes, tanto dentro quanto no entorno das escolas, situação que é particularmente preocupante na educação infantil, com 43,5% das escolas sem áreas verdes. Nas capitais, 20% das escolas também não têm praças e parques no entorno de 500 metros, o que impacta diretamente mais de 1,5 milhões de alunos de 4.144 escolas.

Ao contrário do senso comum, que considera escolas particulares em geral melhores do que públicas, nesse quesito a situação se inverte: apenas 9% das escolas particulares têm mais de 30% de área verde no lote, enquanto nas públicas o percentual é de 31%, o que revela uma grande oportunidade para os equipamentos públicos na ampliação do contato das crianças com a natureza.

A falta de verde nas escolas é agravada por desigualdades raciais e econômicas, sendo maior para estudantes que vivem em favelas e comunidades urbanas, bem como para alunos negros. São eles também os que estudam em escolas localizadas em áreas mais quentes: cerca de 36% das escolas com maioria de alunos negros estão em territórios com temperaturas 3,57oC acima da média de temperatura da capital, enquanto 16,5% das escolas com maioria de alunos brancos encontram-se na mesma situação.

Considerando que 80% das crianças e adolescentes no Brasil vivem em centros urbanos e passam boa parte do seu tempo na escola, se o acesso a áreas verdes não ocorrer ali, a natureza pode não fazer parte de suas vivências. Está cientificamente comprovado que o contato com a natureza melhora todos os indicadores de saúde e bem-estar de crianças e adolescentes, como imunidade, memória, sono, alívio do estresse, capacidade de aprendizado, sociabilidade e desenvolvimento motor. Em cidades cada vez mais cimentadas, com trânsito intenso e insegurança, têm sobrado às crianças e adolescentes o confinamento em espaços internos – e o excesso de telas.

Ao mesmo tempo, o clima mudou e é preciso identificar as escolas mais vulneráveis às ondas de calor, alagamentos, enchentes e deslizamentos, agindo para prevenir e aumentar sua resiliência, já que as crianças e adolescentes estão justamente entre os mais afetados por eventos climáticos extremos.

Segundo Maria Isabel Amando de Barros, especialista do Instituto Alana que esteve à frente do trabalho, toda a comunidade escolar deve ser incluída nessa transformação das escolas em locais mais verdes e resilientes. “Escolas são equipamentos numerosos, bem distribuídos pelo território, que funcionam como polos de irradiação de conhecimento e cultura em suas comunidades. Ter a natureza como centralidade e dar às crianças oportunidades para brincar e aprender com ela, contribui com a educação ambiental e climática, fomentando o protagonismo necessário para que crianças e adolescentes possam participar efetivamente da transição verde de nossas sociedades”, diz.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Espécies novas de sapos ajudam a entender origem e evolução da biodiversidade da Amazônia

Exames de DNA feitos nos sapos apontam para um ancestral comum, que viveu nas montanhas do norte do estado do Amazonas há 55 milhões de anos, revelando que a serra daquela região sofreu alterações significativas.

Leia também

Publicidade