Curso de Formação de Professores em Magistério Indígena desperta educadores a buscarem cursos superiores

O Magistério Indígena tem a duração de três anos

Mais do que formar profissionais para atuar nas escolas indígenas do Tocantins, o Curso de Formação de Professores em Magistério Indígenas, promovido pela Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes (Seduc), ao longo dos anos, tem se mostrado como o primeiro passo para que educadores também se despertem para o ingresso em cursos superiores. Neste ano, a 32ª etapa do curso precisou passar por adaptação e está sendo concluída de forma não presencial.

Intercultural, bilíngue e diferenciado, o Magistério Indígena possibilita o aprofundamento de conhecimentos, que leva ao prosseguimento dos estudos e prepara para o exercício da atividade docente nos anos iniciais do ensino fundamental. A ênfase do curso está na formação de professores comprometidos com a educação de qualidade que privilegie a reflexão, a responsabilidade, a formação ética e a autonomia do aluno.

Foto: Divulgação

 “O Magistério Indígena fomenta a qualificação profissional para a atuação em sala de aula e a troca de experiência entre os professores. Estamos avançando cada vez mais na formação de professores e, consequentemente, no processo de ensino e aprendizagem nas nossas escolas indígenas. O compartilhamento de experiências é importante, pois quem participa do curso tem muito a nos ensinar sobre cultura e como vencer desafios. Outra grande conquista é a motivação despertada nos alunos-professores para continuarem seu processo de formação”, pontuou a titular da Seduc, Adriana Aguiar.

Conforme o gerente de Educação Indígena da Seduc, Waxiy Maluá Karajá, o Magistério Indígena também chama atenção para o ciclo virtuoso vivenciado pelos alunos-professores e reflete diretamente na formação dos estudantes da rede estadual de ensino. “Atualmente, 70% dos professores que atuam nas escolas indígenas são professores oriundos de suas comunidades. E nós temos vários profissionais que foram do curso e que agora são graduados, mestres e doutores, o que contribui com a formação dos alunos das escolas da nossa rede”, destacou.

Waxiy Maluá Karajá também destacou que o processo de formação também tem dado retorno ao próprio Curso de Magistério Indígena. “Temos alguns ex-alunos do Magistério que hoje são professores do curso, isso é muito gratificante para nós, pois o curso é um passo importante para a formação dos professores, mas que não pode ser o ponto final nesse processo. Nós temos visto muitas conquistas que são frutos desse primeiro passo”, apontou.

Até agora, cerca de 400 professores que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental, nas Unidades Escolares Indígenas, com os povos Karajá, Javaé, Xambioá, Apinajé, Krahô, Xerente e Krahô-Kanela já participaram do Curso de Formação de Professores em Magistério Indígena. O curso tem alcançado muito mais do que seu objetivo inicial de melhorar o desempenho profissional de professores da rede estadual de ensino e preservar a cultura e os costumes dos povos indígenas do Tocantins, tem aberto novas oportunidades.

Foto: Divulgação

Busca por formação

Ilda Nãmnã Xerente, de 50 anos, é um exemplo de profissional da educação que teve sua vida impactada pelo Magistério Indígena. Ela conta que concluiu o ensino médio no final da década de 1990 e que, em 2001, começou a dar aulas para as crianças da sua comunidade, na Escola Indígena Romtêpre e logo depois ingressou no Magistério Indígena. “A formação que recebi foi primordial para minha atuação em sala de aula. Ajudou a entender como fazer planejamento, como alfabetizar e me auxiliou em como lidar com os alunos. Mudou muito a minha prática em relação ao início da minha carreira”, destacou.

A professora Ilda Xerente concluiu o Magistério em dezembro de 2005, e, na sequência, ingressou no curso de Licenciatura Intercultural, com habilitação em Ciências da Linguagem, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), que concluiu em 2012. Paralelo aos estudos, ela continuou atuando na Escola Indígena Romtêpre. “Lembro que, na época, eu e pelo menos mais dez colegas ingressamos na universidade e tudo isso foi graças ao Magistério que nos despertou”, explicou.

A formação de Ilda não parou por aí, em 2014, ela passou a atuar no Centro de Ensino Médio Indígena Xerente (Cemix) Warã, de Tocantínia, e ingressou nos cursos de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Sistema Braille. A partir dessa formação, ela se tornou monitora da Sala de Recursos Multiprofissionais do Cemix. Além do seu desenvolvimento pessoal, Ilda participa diretamente do desenvolvimento da sua comunidade, por meio da educação.

Magistério Indígena

O Magistério Indígena tem a duração de três anos e para a realização da sua 32ª etapa teve que se adaptar, tendo sido realizado de forma não presencial. Participaram dessa fase 83 professores, divididos em três turmas, sendo que uma dessas turmas, composta por 26 estudantes, concluiu o curso. Inicialmente, as aulas do Magistério Indígena eram realizadas no município de Paraíso do Tocantins, posteriormente passaram a ser ofertadas em Palmas e, em 2020, antes da pandemia, o Centro de Ensino Médio Indígena Xerente foi transformado em uma grande aldeia e recebeu os participantes do curso.

As aulas sempre ocorreram no período das férias escolares. “Com a pandemia, não foi possível realizar as atividades de forma presencial. Com isso, foram realizadas atividades semelhantes ao formato que foi adotado com os alunos do ensino regular”, explicou Waxiy Maluá Karajá. As aulas abordam o fazer pedagógico, o planejamento de suas práticas pedagógicas, de forma que possa acontecer a interação entre os saberes indígenas, seus conhecimentos tradicionais e o conhecimento científico, com atividades pedagógicas conjuntas, pesquisas e reflexão sobre a prática pedagógica nas escolas das aldeias. 

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