Startup de Porto Velho cria “mapa da mina” para insumos da bioeconomia

Tecnologia de restauração que permite localizar as melhores árvores para extração de sementes e produtos recebe recursos do PPBio, coordenado pelo Idesam.

Reconhecimento das árvores durante oficina. Foto: Puré Juma – Equipe Meu Pé de Árvore

Tornar a restauração de florestas transparente, rastreável e segura, com garantia da origem de sementes e outros bionsumos, respeitando a diversidade genética de cada região, é um imperativo diante do atual volume dos investimentos para recuperar áreas degradadas, gerar renda e mitigar a mudança climática. A crescente demanda por tecnologias que mapeiam e melhoram a produção, sem exaurir os ecossistemas, move o negócio da startup Meu Pé de Árvore, de Porto Velho (RO), voltada à regeneração da floresta amazônica com impacto socioambiental positivo.   

Criado para projetos de recuperação de nascentes e mata ciliar e implantação agroflorestas sob demanda de empresas, o negócio prioriza terras da agricultura familiar e povos tradicionais. E incorpora ferramentas inovadoras, como a plataforma Minhas Matrizes, baseada em aplicativo de celular inicialmente usado para o registro e mapeamento da coleta de sementes, e agora se aplica também a óleos, frutos e produtos da biodiversidade como um todo.

A inovação está sendo desenvolvida em três Terras Indígenas (TI), no Amazonas – a TI Juma, a TI Parintintim e a TI Tenharim, com capacitação das comunidades para uso do aplicativo no extrativismo sustentável, registrando as árvores nativas de maior potencial para a bioeconomia e a sua localização. “É necessário organizar o quintal para aumentar a autonomia e gerar renda”, reforça Hungria. No total, a startup apoia 450 produtores nos três territórios, e tem planos de expandir e aumentar o impacto positivo, após os testes.

A iniciativa recebe recursos do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pelo Idesam. A política pública do governo federal, executada pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), repassa para startups recursos que as empresas são obrigadas a investir como contrapartida dos incentivos fiscais. Até o momento, foram investidos ao todo R$ 145 milhões em cinco estados da Amazônia. São 40 projetos em execução, 38 empresas investidoras e 51 instituições de ciência e tecnologia envolvidas.

No caso da Meu Pé de Árvore, a inovação mapeia e monitora o potencial da bioeconomia no território, demonstrando dados para empresas, investidores e instituições de crédito. Paulo Simonetti, líder de bioeconomia e inovação no Idesam, “a tecnologia facilita o acesso da população tradicional ao mercado e contribui com a conservação da biodiversidade, fortalecendo a conexão entre impacto socioambiental positivo e o retorno de um bom negócio”.

“Rastreabilidade é chave para produtos com maior valor agregado”, concorda Hungria, com experiência em programas de aceleração e mentoria, como o BNDES Garagem. A inovação da startup contribui, ainda, no aumento da inteligência financeira e na redução da informalidade na bioeconomia. Na visão do empreendedor, há o desafio de rastrear os ativos da floresta e reduzir perdas de material genético para não exaurir o ecossistema e inviabilizar a bioeconomia no longo prazo.

Atualmente, o novo aplicativo é utilizado na gestão de áreas restauradas pela Meu Pé de Árvore em territórios de comunidades tradicionais, através da parceria com empresas que reportam ações de sustentabilidade – entre as quais, a fabricante de equipamentos Stihl e a companhia de aviação KLM. Os plantios são monitorados por satélite com alertas de desmatamento e riscos de fogo. O plano atual, segundo Hungria, é avançar na nova tecnologia de rastreabilidade e outros serviços no mercado corporativo da restauração florestal, incluindo viveiros de mudas, empresas executoras dos plantios e instituições de apoio.

*Com informações do Idesam

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