Projetos levam renda extra a moradores de reserva extrativista no Pará

A fabricação de móveis com galhos caídos de árvores, o cultivo de mudas para o reflorestamento, a fabricação de farinha, a criação de abelhas e peixes são algumas das atividades desenvolvidas na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no Pará. Fomentadas por meio de projetos, as atividades geram renda para os moradores e apostam no uso sustentável da Floresta Amazônica. Localizada no município de Santarém, entre os rios Tapajós e Arapiuns, a reserva é tida como modelo de gestão na Amazônia.

O local recebe apoio técnico de organizações não governamentais como o Projeto Saúde e Alegria, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária. Instituições como a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Instituto Federal do Pará (IFPA) também ajudam.

Para atuar no território, as organizações devem ter aval do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão da unidade e da Tapajoara, associação que representa as comunidades da Resex.

Conheça alguns desses projetos:

Encauchados

Quem trabalhou como voluntário nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, certamente conhece essa marca, que produz bolsas, toalhas de mesa, jogos americanos, tudo com látex. O projeto, que tem sede na Resex, produziu bolsas para serem distribuídas no evento. Com as vendas para o grande evento sediado no Rio de Janeiro, as comunidades arrecadaram R$ 11 mil.

Na comunidade de Vila Franca, o projeto existe há pouco mais de um ano e é executado por quatro mulheres. Os homens também colaboram retirando o látex e vendendo de manhã cedo para elas.

Elas esquentam o látex, colorem e colocam em formas que vão se tornar os produtos da Encauchados. “Antes trabalhávamos com palha de tucumã, tínhamos que entrar na floresta e retirar das árvores.

Agora é mais seguro e também mais lucrativo”, diz a coordenadora do projeto, Angélica Reis Correa, 50 anos, moradora de Vila Franca.

Oficinas caboclas/ Madeira caída

São bancos e mesas com formatos de sapos, botos, tartarugas, cobras e outros animais que habitam a Floresta Amazônica. Tudo feito com galhos e troncos que caíram pela floresta. As chamadas oficinas caboclas já desenvolveram produtos e entregaram encomendas até para grandes redes como a Tok Stok. Os produtos que saem das comunidades são vendidos em Santarém, onde há um ponto fixo de venda dos produtos da Resex, e em outras localidades quando há encomendas.

“Não cortamos a madeira, pegamos o que está lá. Esse ano deu uma grande queimada e conseguimos pegar bastante madeira. O projeto tem 12 anos e hoje a gente sabe que dá certo. Não dá para viver só disso, mas é um complemento da renda”, diz Ivaldo Cruz Basílio, 43 anos, presidente da cooperativa de oficinas caboclas.

Ao todo sete comunidades participam do projeto. A maior encomenda foi para a Tok Stok, para quem fabricavam cerca de 200 bancos por mês a R$ 220 cada.

O contrato foi encerrado devido às dificuldades de transporte que atrasavam a entrega dos produtos. “Estamos estudando novas possibilidades de transportar os produtos e queremos reativar o contrato”, adianta.

Criação de peixe

Na comunidade Anã, 13 famílias participam do projeto de criação de peixes em tanques. Maria Lucidalva Godinho, 49 anos, tem cinco tanques com 410 tambaquis cada. Em poucos meses, os peixes estão grandes e prontos para serem consumidos. Além de produzir para a própria família, Lucidalva vende os pescados para a pousada da comunidade.

“Os projetos me ajudavam para, no final do mês, ter a quantia para pagar a faculdade dos meus filhos”, conta.

Dos quatro filhos de Lucidalva, três fizeram o ensino superior em Santarém. Hoje, dois são professores e um estuda administração. Além do projeto de criação de peixes, Lucidalva cria abelhas, porcos, produz farinha e trabalha como merendeira na escola.

Para ajudar na criação de peixes, a comunidade desenvolveu uma ração orgânica – que diminuiu em 40% o custo com a alimentação dos peixes. A ração é feita com castanha de caju, macaxeira, bacaba, tucumã, caroço de açaí, farelo de trigo, milho, entre outros componentes.

Remédios naturais

Na comunidade Vila Franca, Nazaré Alves Assunção, 57 anos, é a responsável pela produção de remédios naturais, junto com outras quatro mulheres. Em um viveiro, elas cultivam 54 plantas que se transformarão em garrafadas, óleos, sabonetes e cápsulas, voltados para os mais diversos fins. Os mais pedidos são os que curam inflamações.

O projeto de remédios naturais é uma iniciativa da Pastoral da Saúde, que Nazaré coordena. As mulheres fizeram oficinas nas quais aprenderam as dosagens exatas para cada medicamento. “As pessoas nos trazem os problemas e a gente prepara o remédio. É um tratamento natural que a gente aconselha a fazer junto com o tratamento médico. Não recomendamos largar a medicina”, explica.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Manejo sustentável ajuda a recuperar produção de açaí no Maranhão

Historicamente adaptada às várzeas, a tecnologia de manejo do açaí precisou ser ajustada para os açaizais de terras altas, que predominam na Pré-Amazônia Maranhense.

Leia também

Publicidade