Sentimento arrebatador: torcedores dos bois-bumbás contam sua relação com o Festival Folclórico de Parintins

Do lado vermelho e do azul, participantes das galeras relatam sua forte conexão com o Festival de Parintins.

A 57º edição do maior festival folclórico a céu aberto do mundo iniciou oficialmente na noite da última sexta-feira (28), mas para o Item 19, a Galera, a preparação começou bem antes. Com capacidade para 35 mil pessoas, a arena do Bumbódromo deve ser ampliada para mais 26 mil, de acordo com anúncio feito pelo Governo do Amazonas na primeira noite.

E o amor pelos bois é a maior prova que as galeras torcedoras de Caprichoso e Garantido podem dar ao lotar a arena. O Portal Amazônia foi às ruas de Parintins para conversar com membros do item que agita a arquibancada. Confira:

O Caprichoso começou a me dar inspiração pra voltar a andar”

Há aproximadamente 10 anos, a vendedora de cosméticos Cristiane Ferreira é uma das primeiras na fila do lado do Boi Caprichoso. Em 2024, ela revela que está desde o dia 22 de junho na fila para entrar no bumbódromo e acompanhar o boi da estrela na testa. A história inusitada começou, incrivelmente, com uma tragédia.

“Em 2013 eu sofri um acidente de carro, no qual meu marido faleceu e eu quebrei a bacia em três pedaços. Naquele momento eu senti que recebi uma segunda chance e entendi que tinha que fazer tudo que eu mais gostava, que eu mais amava, e a primeira coisa que me veio à mente foi o boi-bumbá”, relembra.

Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

A partir daí, o filho de Cristiane propôs que ficasse na fila por ela e quando chegasse perto da hora de entrar, ela viesse. Ele foi o sexto na fila, naquele ano.

“Quando eu cheguei lá na arquibancada, ele me ajudou a subir, porque eu não conseguia apoiar a perna nela. O peso todo. E quando eu comecei a ver o festival, a apresentação do Boi, eu comecei a chorar, chorar, chorar, chorar. Eu falei ‘cara, é isso mesmo’. O Boi Caprichoso começou a me dar inspiração pra voltar a andar.

Desde então, ela se reuniu a um grupo, que em seguida se tornaram amigos e todos os anos eles revezam na fila, saindo em turnos para se alimentar, tomar banho e dormir.

“Hoje já tenho 10 anos de fila e estou aqui justamente para ajudar. Hoje em dia eu falo que eu ajudo o boi, porque a gente é o item 19, a gente está ali dentro não só para assistir, a gente está ali para cooperar com o boi. Nós somos um item que ganha dois troféus, o que ajuda o boi no campeonato e mais um de melhor galera. Então, por isso que a gente vem, a gente tem um grupo que vem, eu fiz essa amizade com esse povo desde 2013, que são gente de outros estados, de outros municípios”, explicou. 

“Me apaixonei logo de cara pelo boi vermelho e branco”

Já do lado Garantido, o goiano Caio Henrique veio pela primeira vez para Parintins e contou como surgiu o amor pelo Festival: “Essa paixão que eu tenho pelo festival já vem desde anos que eu assisto pela televisão. E me apaixonei logo de cara pelo boi vermelho e branco”.

Instrumentador cirúrgico, Caio acompanha o festival desde 2017 e revela o que o fez ter tanto sentimento pelo boi de coração na testa.

“Eu me apaixonei pelo Garantido pelas toadas. Eu comecei a assistir o Festival de Parintins, as toadas do Boi do Povão me conquistaram mais do que a do Caprichoso, do contrário. Mas eu tenho uma admiração pelos dois, eu não sou aquele fanático que eu sou só Garantido e não vou nem lá no contrário, mas a tradição do boi também da Baixa do São José, a história me cativou e eu passo o ano inteiro escutando as toadas do Boi Garantido”, relatou.

Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

O que também encantou Caio foi a diferença entre o Carnaval do Rio de Janeiro e São Paulo, que muita gente compara erroneamente.

“O Festival Folclórico de Parintins me chamou mais atenção a diferença com o Carnaval, pelo fato de os bois se apresentarem duas horas e meia na arena e tocarem toadas diferentes o tempo todo, né? Não é Escola de Samba que é uma hora tocando o mesmo samba enredo. Então isso foi me cativando mais e essa magia da floresta, uma ilha tão longe do Sudeste, de São Paulo, do Rio, fazer um festival tão grandioso. Eu estou impressionado com o tamanho das alegorias, com a capacidade que esses artistas têm de fazer essa festa”, comentou. 

Ele ressaltou a importância de valorizar a diversidade folclórica do Brasil, que é tão diversa: “Amar o boi Garantido significa amar a nossa cultura popular, amar os artistas, o Festival de Parintins, acima de tudo amar a tradição, a raça, o suor que essa galera transmite todos os anos naquela arena”.

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