O lado fotógrafo do naturalista suíço Jacques Huber (1867-1914), ex-diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), é um dos grandes destaques da 13ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Nesta edição, as fotografias estão sendo exibidas na mostra especial “In Natura / In Vitro”, em exposição no Museu da UFPA e “Arboretum”, uma mostra individual de Huber em exibição no hall do Centro de Exposições Eduardo Galvão, no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. As exposições podem ser visitadas até 23 de junho.
“In natura / in vitro” traz fotografias de Huber em diálogo com os trabalhos de artistas convidados contemporâneos como Felipe Russo, Luciana Magno, Péricles Mendes, Ana Paula Albé, Renata Aguiar, Janduari Simões, Janaina Miranda e Marina Feldhues. A visitação acontece de terça a sexta-feira, das 09h às 17h e sábado e domingo, das 10h às 14h.
Já a mostra paralela “Arboretum” traz 15 lambes fotográficos de Jacques Huber, presentes na obra “Arboretum Amazonicum: Iconographia dos mais importantes vegetaes espontaneos e cultivados da região amazônica” (1900–1906), publicação do Museu Goeldi, criada por Huber para divulgar suas fotografias aplicadas à botânica.
“Arboretum” pode ser visitada de quarta-feira à domingo, de 9h às 13h. O valor do ingresso único no Museu Goeldi é R$3,00, com direito à meia entrada para estudantes e pessoas acima de 60 anos.
A curadoria das duas exposições é dos pesquisadores e docentes Nelson Sanjad (Museu Goeldi) e Mariano Klautau Filho (UNAMA). Nelson é historiador e curador da Coleção do Arquivo do Museu Goeldi e Mariano é fotógrafo, idealizador e coordenador do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia.
Este ano, a 13ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia traz como tema “Todo corpo em deslocamento tem trajetória”, proposta pela curadora convidada Lívia Aquino. Além do Museu da UFPA e do Museu Goeldi, as mostras seguem em exibição até 23 de junho também na Associação Fotoativa, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e na Galeria Fidanza do Museu de Arte Sacra.
Pai da botânica na Amazônia
Apaixonado pela flora, Jaques Huber se formou em Ciências Naturais pela Universidade de Basiléia, na Suíça, com especialização em botânica pela Universidade de Montpellier, na França. Veio ao Brasil a pedido de Emílio Goeldi, que o convidou para assumir a chefia da seção de botânica do então Museu Paraense de História Natural e Etnografia, atualmente Museu Paraense Emílio Goeldi.
Huber atuou no Museu Goeldi desde 1895, assumindo a direção da instituição após o retorno de Emílio Goeldi para a Suíça, em 1907, e permanecendo no cargo até o ano da sua morte, em 1914. O botânico foi o maior especialista nas árvores produtoras de borracha, com descobertas, descrição e mapeamento de novas espécies de seringueiras da região amazônica. Seus estudos refletem o período econômico da época, caracterizado pela exportação e produção de borracha a partir das árvores amazônicas.
Jacques Huber é igualmente responsável pela sistematização e organização das espécies que compõem a flora do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. São espécies vegetais que possuem um grande interesse científico, econômico e turístico, como a samaumeira do centro do Parque, plantada, estudada e sequencialmente fotografada pelo pesquisador suíço. Nesta área verde, localizada no coração da cidade de Belém, ainda é possível encontrar seringueiras plantadas e estudadas por Huber, e os indícios de seus experimentos para aumentar a produtividade na extração da seringa.
No Museu Goeldi, Jacques Huber aprimorou suas habilidades fotográficas, documentando extensamente as pesquisas de campo na Amazônia, assim como em outras regiões brasileiras. Ao registrar plantas e paisagens, Huber contribuiu não apenas para a pesquisa documental e científica, mas também para a construção da memória e preservação do patrimônio cultural brasileiro.
Nelson Sanjad pontua que “Huber foi considerado um dos expoentes da fotografia produzida no Brasil à época, inserindo a cidade de Belém entre os centros urbanos onde houve uma vanguarda artística voltada para a pesquisa estética e para a ampliação dos usos da tecnologia fotográfica”.
Com relação à preservação do patrimônio do Museu Goeldi, Jacques Huber também teve uma importância fundamental ao guardar em papelas cópias em papel da coleção de negativos de vidro produzidos pela instituição ao longo dos anos, que Nelson Sanjad pesquisou na Suíça e reproduziu com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e apoio da família de Huber.
Segundo Sanjad, curador da Coleção Histórica e Documental do Arquivo do Museu Goeldi, estima-se que o acervo de negativos de vidro do MPEG era superior a 5.000, todavia parte desse conjunto foi perdido com o tempo. Atualmente, a coleção fotográfica do Museu Goeldi possui 1.421 negativos de vidro. Com recursos captados junto a Caixa Econômica Federal e o apoio do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da FUNARTE, foi realizado um processo de higienização, digitalização e catalogação da coleção, que também recebeu uma estrutura adequada de armazenamento. Nelson Sanjad destaca que “graças a esse projeto, essa coleção passou a ser objeto de várias pesquisas e exposições, que estão ajudando a redimensionar a compreensão que tínhamos sobre a história da fotografia no Brasil”.
Uma novidade é que brevemente o público também poderá conferir uma seleção especial da coleção fotográfica de negativos de vidro do Museu Goeldi, que será divulgada com exclusividade na plataforma Brasiliana Fotográfica, do Instituto Moreira Salles e da Biblioteca Nacional.
*Com informações do MPEG