Moda indígena mostra cultura milenar dos povos tradicionais

Cada modelo entrou na passarela trazendo a grafias e os signos que remetem a crenças, tradições e valores de cada povo

A beleza indígena foi o destaque do segundo dia da Mostra de Moda Indígena, realizado em Manaus, neste sábado (9). Durante os desfiles, as marcas exaltaram as tradições dos povos originários da Amazônia.

Aberto ao público, o evento ocorreu no Palácio do Rio Negro, na Zona Sul da capital. A Mostra é a primeira do país a contar inteiramente com estilistas e modelos indígenas.

Foto: Reprodução/G1 AM

O primeiro desfile aconteceu há uma semana, na comunidade Parque das Tribos, e o último está previsto para o próximo sábado (16), no Sumaúma Parque Shopping, Zona Norte.

Segundo os organizadores do desfile, são 37 modelos e 32 estilistas de mais de 15 etnias envolvidos na ação. A maioria das roupas foi feita com produtos extraídos da floresta, como algodão cru e sementes.

Na apresentação deste sábado (9), a entrada dos modelos foi precedida por um canto do povo Tikuna, cuja letra fala sobre a coragem a a unidade dos povos.

Mais do que a exposição de uma tendência ou conceitos de moda, cada modelo entrou na passarela trazendo a grafias e os signos que remetem a crenças, tradições e valores de cada povo.

A modelo Ira Maraguá, da etnia Baré, por exemplo, usou uma peça da estilista Cláudia Baré. Com uma saia e um top de tecido cru, ela apresentou as grafias de seu povo que representava a força e coragem dos povos da floresta.

Foto: Reprodução/G1 AM

“O frio na barriga é inevitável, mas é muito gratificante representar o meu povo”, disse Ira rapidamente, enquanto voltava ao camarim.

Já o adolescente Iaro Sateré, de apenas 15 anos, trouxe na mão direita o saaripé – uma luva de palha entrelaçada, símbolo de um das mais importantes rituais da etnia Sateré-Mawé: o ritual da tucandeira.

Este rito de passagem é realizado na transição da infância para a vida adulta dos homens da etnia. Os meninos capturam formigas tucandeiras nas vésperas da cerimônia. Durante o rito, os jovens indígenas colocam a mão na luva e são ferrados por pelo menos 20 vezes enquanto dançam com familiares.

A cada nova performance, o público, composto consideravelmente por indígenas, vibrava com as exposições de suas próprias culturas. Além do ineditismo do evento, o desfile também parecia representar uma mudança de símbolos.

O universitário Bruno Costa, do povo Tukano, fez questão de reservar um tempo para prestigiar o evento. Na platéia, ele aplaudia emocionado enquanto contemplava as apresentações.

“Ver a imagem de indígenas, vestindo peças idealizadas também por indígenas, nos deixa muito orgulhosos. Principalmente se pensarmos que esse evento vai passar uma mensagem a muitas pessoas de nossos povos, de que sim, elas podem ser modelos, podem ser estilistas e os nossos rostos podem repercutir pelo mundo”, relatou ele.

Foto: Reprodução/G1 AM

Idealização do evento

Segundo a curadora e idealizadora do evento, Seany Artes, descendente do povo Munduruku, a ideia para realizar a Mostra surgiu a partir de crenças pessoais, quando ela teve uma visão há alguns anos.

“Lembro que tive uma visão, há um certo tempo, de uma indígena em uma plataforma. No ano passado, quando visitei o Parque da Tribo no ano passado, foi que lembrei dessa visão e decidi lutar para colocar a ideia em prática. Graças a Deus tem dado certo”, disse ela.
Apesar de desafiador, a curadora diz que é recompensador poder levar a cultura indígena amazônica para o mundo.

“O evento tem um pioneirismo em muitos aspectos. Os desfiles de moda sempre contam com um ou outra modela indígena, então é muito recompensador ver as imagens desse evento repercutindo internacionalmente, apesar de todas as dificuldades que todos nós tivemos de enfrentar”, disse ela.  

*Escrito por Ayrton Senna Gazel do Grupo Rede Amazônica 

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