Bancos indígenas do Xingu na principal exposição de artes da América do Sul

Entre Picasso, Di Cavalcanti e Portinari, há espaço para as obras assinadas pelos índígenas

A 18ª SP-Arte é uma exposição conjunta das principais galerias da capital paulista — cerca de 100 — que acontece desde o dia 6 e termina neste domingo, 10, no Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera. Trata-se do maior mercado de artes e de design mobiliário do hemisfério sul.

Obras que podem chegar a R$ 170 milhões são parte da exposição que atrai olhares criteriosos de versados, investidores e apreciadores de artes plásticas. Entre artes modernas, pós-modernas, conceituais e clássicas que passam por Pablo Picasso, Di Cavalcanti e Cândido Portinari até os mais expressivos artistas da atualidade, estão também à venda os bancos de madeira, feitos com peças únicas sem emendas, em forma zoomórficas e acabamentos com grafismo, produzidos por indígenas da etnia Mehinako do Parque do Xingu (MT).

Galeria Ovo. Foto: Pablo Mack

A coluna esteve presente na SP-Arte e presenciou o interesse e o respeito dos apreciadores de artes pelo que produzem os indígenas. São bancos de madeira que já eram confeccionados pelos ancestrais dos expositores e que, de certa forma, chegaram a ser banalizados e usados apenas como utensílios domésticos. Há cerca de cinco anos, ganharam notoriedade. “Foi após nossa primeira participação na SP-Arte, em 2017, que o olhar para o nosso trabalho mudou, principalmente após a publicação de um livro da Beī Editora “, informa Ontxá Mehimako, nascido na Aldeia Utawana em 1990. Até os 19 anos, o artista não tinha interesse pela produção dos bancos estilizados sobre os quais, hoje, ele fala com orgulho.

Hoje estudante de Administração em Sistema de Saúde na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, Ontxá é um dos dez indígenas que participam da SP Arte. Falando a coluna, o jovem garante que sua obra “ganhou um ressignificado de uns tempos para cá”: os bancos ampliam o conceito de função para a dimensão simbólica. As esculturas que também são utilitárias são de diversos tamanhos e formas. Os preços podem variar de R$ 3 mil a R$ 50 mil ou mais, à altura de outras artes assinadas. “Não vendemos mais nossos trabalhos no mercado popular. É assim porque nossos produtos têm valor agregado, hoje entendemos isso”, destaca Mayawari Mehinako, uma espécie de porta-voz do grupo que tem parceiros importantes, como são os donos de galerias, curadores e editores que souberam dar um viço à arte tão antiga que mistura beleza e utilidade. Nesta ordem. E muita história genuinamente do Brasil profundo: os das florestas. 

O grupo reunido em São Paulo. Foto: Pablo Mack

Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pesquisa de professora paraense recebe Prêmio ‘Ciência pela Primeira Infância’

O estudo teve o propósito de pautar discussões acerca da garantia dos direitos à população infantil quilombola na Amazônia.

Leia também

Publicidade