Foto: Reprodução/Site oficial
A Aldeia Sagrada do povo Yawanawá, localizada em Tarauacá, no Acre, será palco da 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca, um encontro que reúne lideranças espirituais indígenas de cerca de 30 povos, entre os dias 25 a 30 de janeiro. O objetivo do evento é debater temas cruciais como o uso, transporte, difusão e proteção dos conhecimentos, saberes tradicionais e recursos genéticos relacionados à ayahuasca, bebida sagrada utilizada há séculos por mais de 100 povos da bacia amazônica.
Promovida pelo Instituto Yorenka Tasorentsi, Instituto Nixiwaka e Cooperativa Yawanawa (Coopyawa), a conferência é um evento fechado, exclusivo para convidados. Contudo, ao final dos debates, será publicada uma carta oficial com as recomendações e reflexões dos povos indígenas, reafirmando o protagonismo dessas comunidades na preservação e uso consciente da ayahuasca.
Ayahuasca
Feita a partir do cipó Banisteriopsis caapi e das folhas da Psychotria viridis, a ayahuasca é uma bebida utilizada em práticas espirituais e medicinais pelos povos indígenas da Amazônia. Mais do que uma substância, ela é vista como um canal de conexão com a espiritualidade e com os ensinamentos ancestrais.
Nas últimas décadas, o uso da ayahuasca despertou o interesse de diversos setores acadêmicos e internacionais. Esse interesse, porém, nem sempre tem considerado os direitos, o protagonismo e os saberes tradicionais dos povos indígenas, criando tensões em relação ao respeito à sua cultura e à proteção dos conhecimentos tradicionais.
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Histórico
O marco para a criação de um espaço de diálogo exclusivo dos povos indígenas foi a ausência de representantes dessas comunidades na I Conferência Mundial de Ayahuasca, realizada na Espanha, em 2014. Na edição seguinte, indígenas foram convidados, mas relataram a necessidade de um evento próprio que refletisse suas visões e prioridades.
Assim, em 2017, aconteceu a primeira Conferência Indígena da Ayahuasca, que resultou em uma carta inaugural de recomendações. O documento ressaltava que, embora pesquisadores acadêmicos tenham legitimidade em seus campos, os povos indígenas são os verdadeiros conhecedores espirituais da ayahuasca e devem ser os protagonistas nas discussões sobre seu uso e preservação.
Desde então, as conferências têm sido um espaço de intercâmbio entre lideranças indígenas, onde são debatidos temas como o acesso, a exploração comercial, o transporte da ayahuasca e a proteção dos recursos genéticos.
Relevância
A edição de 2025 ganha ainda mais importância devido ao crescente interesse global pela ayahuasca, tanto para fins terapêuticos quanto recreativos, e os desafios associados à sua comercialização e difusão. O evento busca fortalecer o protagonismo indígena nas discussões, assegurando que as práticas e saberes espirituais ligados à bebida sejam respeitados e protegidos contra apropriações inadequadas.
Para financiar o evento, o Instituto Yorenka Tasorentsi captou recursos com parceiros alinhados às causas indígenas. Esse modelo de financiamento assegura que as conferências sejam organizadas de forma independente e com foco nas prioridades das comunidades indígenas.
Ao término da conferência, a carta oficial com as principais recomendações será disponibilizada no site oficial do evento. O documento é um instrumento de grande relevância, servindo tanto como registro histórico quanto como ferramenta de advocacy para a proteção da ayahuasca e dos direitos dos povos indígenas.
A quinta Conferência Indígena da Ayahuasca reafirma a importância de respeitar e ouvir as vozes dos verdadeiros guardiões dos saberes ancestrais. Em um mundo cada vez mais globalizado, preservar as tradições e garantir o protagonismo dos povos originários é um passo essencial para a construção de um futuro mais justo e sustentável.
É importante citar que o termo Ayahuasca não substitui as terminologias apresentadas por cada povo participante, tais como Kamarãpi, Uni, Huni, Dispãnī hew, Tsĩbu, Yage, Gaapi, Caapi, Hayakwaska, entre outras. No entanto, desde a primeira Conferência foi acordada a utilização deste termo de forma genérica, compreendendo todas as demais nomenclaturas.
Para conhecer mais sobre a conferência, acesse o site oficial.