Portal Amazônia responde: do termo ‘Grão-Pará’, de onde esse ‘Grão’ surgiu?

Antes de ser apenas 'Pará', o território já foi capitania, província e estado, e seu nome - Grão-Pará - está totalmente ligado à grandiosidade das águas que o banham especialmente à do rio Amazonas.

A província do Grão-Pará incluía territórios que hoje pertencem os estados do Pará, Roraima, Amapá, Amazonas, Rondônia, Acre, Tocantins e Mato Grosso. Foto: Reprodução/MultiRio.

O termo ‘Grão-Pará‘ se refere a denominação que marcou por séculos a vasta região que hoje compreende o atual estado do Pará. Antes de ser apenas ‘Pará’, o território já foi capitania, província e estado, e seu nome está totalmente ligado à grandiosidade das águas que o banham especialmente à do rio Amazonas.

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O termo ‘Pará’ vem do tupi pa’ra, que significa ‘rio-mar’, e era uma forma de traduzir a imensidão do braço de rio que compõe o complexo ao sul da ilha do Marajó, alimentado principalmente pelo rio Tocantins. Era tão largo que os povos indígenas acreditavam estar diante do próprio mar.

O adjetivo ‘grão’, hoje pouco usado no cotidiano, era sinônimo de ‘grande’ nos séculos passados, como se vê em expressões como ‘grão-duque’ e ‘grão-mestre’, e foi nesse contexto que surgiu o nome ‘Grão-Pará’, ou seja, o ‘grande rio-mar’.

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Segundo o pesquisador e historiador amazonense Francisco Jorge dos Santos, autor de ‘Além da Conquista: guerras e rebeliões indígenas na Amazônia Pombalina’, no capítulo “Amazônia, uma colônia portuguesa diferente na América” o uso do termo ‘Grão-Pará’ tem origem na percepção portuguesa de que aquela região era marcada por proporções excepcionais.

“O ‘grão’ é só uma forma antiga de dizer ‘grande’. A ideia que se tinha na época era que o rio era muito grande, e achavam que ele até se confundia com o rio Amazonas”, afirma o historiador ao Portal Amazônia.

A designação também serviu como estratégia simbólica de posse e dominação num período em que Portugal disputava a Amazônia com potências estrangeiras.

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Como surgiu o Grão-Pará?

A Amazônia era um estado autônomo, e com a presença portuguesa na região começa oficialmente em 1616 a fundação do Forte do Presépio, que deu origem à cidade de Belém, inicialmente batizada como Santa Maria de Belém do Grão-Pará. Era o início da chamada ‘Terra de Feliz Luzitânia’, nome poético que logo deu lugar a uma nomenclatura mais estratégica: Estado do Maranhão, instituído formalmente em 1621.

Grão-Pará
Desenho de E. Riou a partir de croqui de M. Biard, 1862. Imagem: Domínio público/Biblioteca Nacional Digital

Em 1654, o governo português criou o Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado do Estado do Brasil (cuja capital era Salvador). O objetivo era garantir maior controle sobre uma região repleta de riquezas naturais, de grande importância geopolítica e ameaçada por ingleses, holandeses e franceses.

“Por exemplo, lá no início do século 18 o que existia era o Estado do Maranhão, que mais tarde passou a se chamar Estado Maranhão e Grão Pará, e depois do Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1751, depois o estado do Grão-Pará e Rio Negro em 1772, permanecendo assim até a independência, em 1822. Em seguida, com a formação do império, o território tornou-se a Província do Pará em 1823, perdendo oficialmente o grão”, detalhou Francisco.

A estrutura visava fomentar a economia local com a extração das chamadas ‘drogas do sertão’, especiarias como cravo, baunilha, cacau e urucum.

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A divisão do território do Grão-Pará

A antiga unidade territorial do Grão-Pará se manteve até meados do século XIX. Em 1850, por razões administrativas, a província foi desmembrada, dando origem à província do Amazonas, separando-se da região que permaneceu como Província do Pará, o que deu fim ao que já foi o imenso território do Grão-Pará.

O nome representava não apenas a tentativa portuguesa de consolidar sua presença na Amazônia, como também a percepção de que aquele território era grandioso demais para nomes comuns. Era, afinal, uma comunha portuguesa distinta no continente americano, como definiu o professor Francisco Jorge em seus estudos.

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

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