Árvores da Amazônia são usadas na produção de instrumentos musicais: variedade sonora

Entre as árvores da Amazônia mais conhecidas pelos fabricantes de instrumentos musicais, cada uma possui características específicas que influenciam a acústica e o desempenho sonoro.

Foto: Alexandre Paulemy

As árvores da Amazônia não são apenas fonte de sombra, oxigênio e abrigo para uma imensa diversidade de espécies. Elas também estão na base da produção de diversos instrumentos musicais, servindo como matéria-prima essencial para a criação de sons que atravessam culturas e fronteiras.

O uso de madeiras amazônicas na fabricação de violões, tambores, flautas e outros instrumentos é uma tradição antiga, que une saberes artesanais e estudos acústicos.

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A combinação entre densidade, textura e ressonância faz as espécies amazônicas serem muito procuradas por fabricantes e músicos de diferentes partes do mundo. A madeira, quando escolhida e trabalhada de forma correta, pode influenciar diretamente o timbre, o volume e a durabilidade de um instrumento.

Esse uso reflete não apenas a biodiversidade da floresta, mas também a presença de técnicas tradicionais e o intercâmbio entre comunidades locais, artesãos e luthiers especializados.

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Porém, embora o mercado valorize a sonoridade e a beleza das madeiras amazônicas, a extração dessas espécies é um tema que exige controle e monitoramento. E os exemplares utilizados para a confecção de instrumentos devem ser obtidos em áreas sob manejo sustentável, com rastreabilidade e autorização ambiental.

Espécies de árvores mais utilizadas

Entre as espécies amazônicas mais conhecidas pelos fabricantes de instrumentos musicais, como as catalogadas por uma pesquisa para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em 1993, estão o jacarandá-da-Amazônia (Dalbergia spruceana), o mogno (Swietenia macrophylla) e a andiroba (Carapa guianensis). Cada uma possui características específicas que influenciam a acústica e o desempenho sonoro.

O jacarandá é uma das madeiras mais tradicionais na produção de violões, guitarras e instrumentos musicais de corda. Sua estrutura densa e a capacidade de refletir o som sem abafá-lo fazem dela uma escolha recorrente em escalas, fundos e laterais de instrumentos musicais de alta qualidade.

Já o mogno, mais leve e com tonalidade avermelhada, é amplamente usado em corpos e braços de guitarras e baixos elétricos, proporcionando um som encorpado e quente, conforme destacado na mesa pesquisa.

“As espécies Cedro, Mogno e Urucú da mata são adequadas para a confecção de braços, cabeças e joelho do violão, por causa da sua leveza, resistência e estabilidade dimensional”, destacam os autores do estudo Hany Jan Van Der Slooten e Mário Rabelo de Souza.

O uso dessas madeiras é comum em instrumentos artesanais produzidos por comunidades ribeirinhas e povos indígenas, que dominam o manejo e a cura da madeira de forma natural, respeitando os ciclos da floresta.

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Além dessas espécies, o pau-amarelo (Euxylophora paraensis) e o angelim (Hymenolobium spp.) são utilizados em instrumentos musicais de sopro e percussão. A leveza e a estabilidade dimensional dessas madeiras favorecem a produção de flautas, reco-recos e marimbas, amplamente usados em expressões musicais regionais e populares.

Tradição artesanal e sustentabilidade

O trabalho dos luthiers amazônicos — artesãos especializados na fabricação e restauração de instrumentos musicais— tem papel fundamental na valorização das madeiras regionais. Oficinas instaladas em cidades como Manaus (AM), Santarém e Belém (PA) produzem instrumentos musicais que combinam técnicas tradicionais e inovação, transformando o que vem da floresta em peças de precisão sonora.

Programas de pesquisa ligados ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e a universidades federais da região estudam as propriedades acústicas das madeiras amazônicas. Esses estudos auxiliam tanto na conservação das espécies quanto na criação de alternativas com madeiras secundárias, evitando a exploração de árvores ameaçadas.

Além do uso comercial, comunidades locais mantêm o conhecimento tradicional sobre a confecção de instrumentos musicais a partir da floresta. Povos indígenas e ribeirinhos utilizam troncos e fibras de árvores amazônicas para fabricar flautas, maracás, tambores e outros instrumentos cerimoniais, muitos deles com funções culturais e espirituais.

Árvores da Amazônia são usadas na produção de instrumentos musicais: variedade sonora
Alexandre Paulemy produz instrumentos no municípios de Oeiras, no Pará. Foto: Tales Guimarães/Sebrae

O artesão e percussionista paraense Alexandre Paulemy, de Oeiras, no Pará, tem ganhado destaque este ano com sua fabricação de instrumentos musicais. “Utilizo materiais reaproveitados vindos da floresta, como madeira, bambu, ouriço de castanha e sementes”, conta. “Ser artesão é uma experiência fantástica, pois permite pesquisar, inovar e criar características próprias”, afirma.

Com traços marajoaras e afro-amazônicos, o artista busca inovar, respeitando a matéria-prima e divulgando a cultura local de forma conjunta. Uma de suas produções, o tambor de língua feito de bambu, é considerada por ele uma alternativa sustentável aos modelos industrializados.

“A inspiração vem diretamente da natureza. Quando estou na mata, meus sentidos se aguçam. O som de um pássaro pode gerar uma nova criação, como o apito da mata, que imita os cantos que escuto”, relatou ao Sebrae.

*Com informações do Inpa e do Sebrae

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