Abate de jacaré e mergulho no rio Madeira: conheça profissões consideradas perigosas em Rondônia

Márcio sempre gostou de adrenalinas e hoje ele exerce a segunda profissão mais perigosa do mundo, já Naldo de Souza utiliza um barco raso e uma lanterna para capturar jacarés na escuridão.

Você já se imaginou capturando um jacaré em um barco raso no escuro ou mergulhando no rio Madeira, famoso por ser casa do candiru? Em Rondônia, essas e outras atividades fazem parte do dia a dia de dois profissionais que saem de casa e arriscam suas vidas para garantir seu sustento.

Naldo de Souza é manejador de jacarés há mais de 10 anos em uma Reserva Extrativista. Sua jornada começa após às 19h, em um barco raso. Ele tem apenas uma missão: capturar o réptil vivo.

Márcio Bueno sempre gostou de adrenalinas. Atualmente ele é mergulhador no Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia e segundo a Organização Internacional do Trabalho, essa é a segunda profissão mais perigosa do mundo.

Mergulhador é a segunda profissão mais perigosa do mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Foto: Marcio Bueno/Arquivo pessoal

Barco raso e escuridão: capturador de jacaré

Naldo de Souza vive na Reserva Extrativista (Resex) Lago do Cuniã, situada no Baixo Madeira, em Porto Velho. Há mais de 10 anos, ele é membro da equipe de ‘jacarezeiros’ do único frigorífico com liberação para manejo de jacarés do Brasil. 

O frigorífico foi desenvolvido dentro da reserva para manter o controle da espécies de forma sustentável, além de ajudar na segurança da comunidade, que convive com mais de 36 mil jacarés. O abate acontece no período de liberação, que é estipulado pelos órgãos de fiscalização.

Naldo explica que durante o período de liberação de manejo dos répteis, as equipes são compostas por quatro embarcações com quatro trabalhadores em cada, onde realizam a captura, medições e sexagem da espécie: a missão é trazer, em média, quatro animais em cada barco.

Naldo em pé com uma fita na mão enquanto seu parceiro de trabalho segura com um cabo o jacaré durante uma simulação de captura. Foto: Emily Costa/g1 Rondônia

Os dias de captura são longos, isso porque Naldo e os outros ‘jacarezeiros’ (como são chamados os trabalhadores envolvidos no manejo dos jacarés) começam a trabalhar após às 19h. É nesse horário que os jacarés sobem à superfície e fica mais fácil visualizá-los.

Eles saem em um barco “raso” para que seja possível colocar o animal dentro de forma mais ágil. E na escuridão, Naldo utiliza apenas uma lanterna para focar a luz nos olhos do jacaré e temporariamente cegá-lo, o que permite a aproximação para a captura

Captura de jacarés é feita á noite após as 19h em um barco ‘raso’. Foto: Emily Costa/g1 Rondônia

Em seguida é lançado um cabo de aço com uma presilha de modulação para ajustar ao tamanho do pescoço do jacaré.

Após vedar os olhos e a boca do animal com fita e amarrar os pés, os profissionais realizam a identificação sexual. Isso porque somente os machos podem ser abatidos. Se for capturada uma fêmea, ela é devolvida à natureza.

“Tudo é feito no escuro mesmo, mas a gente recebe treinamento, o que evita acidentes no abate e nos ajuda a conhecer melhor os animais”,

explica o manejador.

Adrenalina no Madeira: o trabalho do mergulhador militar 

Márcio Bueno entrou na equipe do Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia (CBM) em 2006, quando concluiu o curso de formação de soldados. Sempre fascinado pela adrenalina, decidiu investir na carreira de mergulhador.

No início, enfrentou dificuldades nos treinamentos aquáticos, mas buscou superá-los. Em 2011, ele foi aprovado no processo seletivo interno para o Curso de Mergulhador Autônomo (CMAUT) do CBM.

Mergulhador militar no rio Madeira. Foto: Márcio Bueno/Arquivo pessoal

Após 45 dias de desafios, recebeu o certificado. Para se ter uma ideia das exigências do curso, uma das provas é realizar a travessia do Rio Madeira.

“Atravessar o rio nem é a parte mais difícil. Precisamos ter muito controle emocional para gerenciar a fadiga e controlar o pânico quando estamos submersos”,

explica Márcio.

As escalas de mergulho ocorrem em regime de sobreaviso, ou seja, cada mergulhador permanece uma semana de plantão: de terça-feira até segunda-feira seguinte. Durante esse período, Márcio precisa permanecer sempre disponível por telefone e não pode se afastar do local de trabalho.

Corpo de Bombeiros de Rondônia tem equipe de mergulhadores do rio Madeira. Foto: Marcio Bueno/Arquivo Pessoal

A equipe de mergulho, que geralmente é acionada para recuperar cadáveres ou objetos submersos, é composta por quatro mergulhadores no mínimo: dois ficam no fundo e dois na superfície.

Márcio explica que o principal equipamento de trabalho é o cilindro de ar respirável, que é o que lhe mantém vivo enquanto está submerso. Além de outros acessórios que facilitam no deslocamento e em situações de perigo.

O mergulhador conta que a profissão exige muito treinamento, mas ele é ainda maior quando se vive na região Norte, principalmente em Rondônia. Isso porque, mergulhar no rio Madeira é desafiador e já foi considerado ‘inapropriado’ para a atividade.

“Ele é um rio considerado inapropriado para mergulho, segundo Jacques Cousteau. Os perigos incluem fauna diversa, zero visibilidade, risco de soterramento, correntezas fortes, grandes embarcações e acidentes com toras. É um verdadeiro desafio”,

explicou.

*Por Emily Costa, do g1 Rondônia

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