57° Festival Folclórico de Parintins: o encontro das raízes e da paixão popular por sua cultura

A ordem das apresentações no bumbódromo da Ilha da Magia ficou definida em: Caprichoso abre nos dias 28 e 29, enquanto Garantido inicia a noite do terceiro dia.

1ª noite – 28 de junho

Caprichoso

O primeiro a se apresentar é o Boi Caprichoso, com o tema ‘Cultura – O Triunfo do Povo’. E para a primeira noite seu subtema é ‘Raízes: O entrelaçar de Gentes e Lutas’.

O foco é nas culturas: culturas plantadas, nascidas e sustentadas no meio da Amazônia Brasileira, magistralmente triunfal no entrelaçar de negros e negras, indígenas, ribeirinhos e ribeirinhas, mestres e mestras da cultura popular local. Dos filhos da terra que plantaram o jardim chamado Amazônia e, pela sua existência, por ela enfrentaram a impiedosa e violenta força da colonização, marcando uma história de dor, resistência e muita.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

Um balão de São João erguido por um guindaste chegou surpreendendo a galera azulada. O Boi Caprichoso, o apresentador Edmundo Oran e o levantador de toadas Patrick Araújo, que cantou ‘Pode Avisar’ chegaram agitando o lado azul.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

A cunhã-poranga Marciele Albuquerque também surpreendeu o público ao sair de dentro da Cobra Grande na primeira alegoria do Caprichoso, ‘Dona da Noite’, na encenação da Lenda Amazônica.

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Já a Rainha do Folclore, Cleise Simas, desceu do ‘Bicho Folharal’ durante sua apresentação. Trata-se de um dos seres fantásticos do imaginário popular amazônida, uma entidade protetora que afugenta os invasores e destruidores dos rios e das florestas.

O pajé Erick Beltrão também levou ao bumbódromo uma grande representação indígena: um rito de Transcendência Yanomami (Mothokai, a Fúria do Sol), emocionando o público.

Entre os convidados da primeira noite, Vanda Witoto, Djuena Tikuna e Davi Kopenawa participaram da apresentação do boi Caprichoso. As mensagens de proteção às terras indígenas e da salvaguarda cultural dos povos originários foram reafirmadas pelos convidados, ilustrando o compromisso do boi-bumbá com a proteção da região amazônica e seus povos e culturas.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

Para o item 15, a Figura Típica Regional, o Caprichoso levou à arena um reconhecimento aos parintinenses que contribuíram para a conquista da cultura popular. Figuras, como o tuxaua pioneiro Zeca Xibelão, que dá nome ao curral do boi de estrela na testa, foram lembradas.

Outra mensagem que o touro negro levou à arena foi a homenagem à cultura nordestina do bumba meu boi, por meio da Marujada de Guerra.

Garantido

O Garantido leva para a arena este ano os ‘Segredos do Coração’ e em sua primeira noite preparou ‘A Origem da Vida’. “Há muitas teorias sobre quando e como tudo que nos cerca e somos começou e as teorias indígenas são as mais complexas, simbólicas e poéticas. Uma dessas narrativas sobreviveu ao epistemicídio colonial. Chegou até os dias de hoje graças à resistência de uma das maiores nações indígenas do Brasil, os Sateré-Mawé”.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

O boi-bumbá abriu a noite com um dos seus maiores hinos, a toada ‘Vermelho’, de Chico da Silva. A apresentação foi de Israel Paulaim, que puxou a música e emocionou a galera perreché.

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A porta-estandarte Lívia Cristina surgiu logo depois, realizando sua evolução com o tema da primeira noite ‘Origem da Vida’.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

A primeira alegoria foi ‘Noçokem’, que representa o tema do vermelho neste ano. Segundo o bumbá, o mundo e tudo que nele vive se originou no local sagrado chamado Noçokem, localizado no coração da floresta amazônica.

A cunhã-poranga do boi Garantido, Isabelle Nogueira, surgiu desta alegoria. Ela recebeu uma homenagem por sua atuação em rede nacional ao participar do reality show Big Brother Brasil.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

A cunhã se tornou embaixadora da cultura popular parintinense, representando uma evolução da visibilidade que o Festival passou a receber. Isabelle transmutou-se em onça-pintada na arena, representando a potência de um dos animais símbolos da Amazônia.

A cultura indígena também foi exaltada pelo boi de coração na testa por meio da dança, revelando a importância da preservação dos povos originários, até mesmo os que já não existem mais. Bem como também fez uma homenagem à personalidades como ‘Dona Xanda’, mãe do fundador do boi Garantido, representada por Edilene Tavares – Rainha do Folclore – , e aos ribeirinhos.

O boi surgiu na alegoria ‘Beija-Flor – Origem Ancestral’, em uma homenagem ao seu criador, Lindolfo Monteverde.


2ª noite – 29 de junho

Caprichoso

Para a segunda noite, o Caprichoso levou para a arena o tema ‘Tradições: O Flamejar da Resistência Popular’, “Na noite em que a “tradição” é o fio condutor da nossa narrativa, o boi Caprichoso pede licença para falar daquilo que cultiva com todo o cuidado: as tradições que dão vida ao bumbá”.

Responsável mais uma vez por abrir a noite, o touro negro iniciou a segunda noite de apresentações. Em primeiro ato, o bumbá azul transformou o Bumbódromo em uma grande brincadeira de boi de rua e evoluiu junto com grupos de bailados, ao som de Málúù Dúdú.

Foto: Daniel Landazuri/Rede Amazônica

Logo na primeira alegoria da segunda noite, o Boi Caprichoso apresentou o “Pescador da Amazônia” como figura típica regional. Em seguida a porta-estandarte Marcela Marialva, seguida da sinhazinha Valentina Cid, seguiram com as aparições esperadas pela galera. Como uma grande comunidade ribeirinha, o cenário se formou para mostrar os costumes do caboclo amazônida.

Protagonismo indígena. Conforme a organização do bumbá, falar de povos indígenas é preciso, mas muito mais necessário é incluí-los nessas falas. Assim, como feito na primeira noite, indígenas foram convidados à participar da festa azulada e levantar suas vozes. Por isso, os indígenas Morubo fizeram um apelo pelo futuro da floresta. Beto Morubo pediu proteção às terras indígenas, à floresta e prestou homenagem à Dom e Bruno.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

A cunhã-poranga munduruku Marciele chegou por meio do guindaste, iluminada pela arara azul, incorporando um pássaro amazônico ao evoluir no chão da arena.

Garantido

Já o Garantido entrega na a ‘Ancestralidade Amazônica’, uma ancestralidade que na cidade de Lindolfo Monteverde quebra barreiras e dilui as fronteiras entre indígenas, negros e brancos, com homenagens às figuras que ajudaram a compor as primeiras linhas identitárias.

O item que mais possui participantes, a galera (item 19), ajudou a abrir a segunda noite de apresentações do boi Garantido. O público incluído como item a ser avaliado é uma das particularidades do Festival. O levantador de toadas do segundo dia, David Assayag, assumiu a condução das canções que emocionaram o público.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

Aguardada, a cunhã-poranga Isabelle Nogueira surgiu em uma indumentária completamente diferente da primeira noite. Dessa vez, o item 9 se transformou em um gavião real amazônico.

O ritual indígena Huni Kuin foi um dos destaques da noite celebrado pelo pajé Adriano Paquetá, bem como a lembrança do amo João Paulo Farias que versou sobre o boi Campineiro, um terceiro bumbá que já fez parte da disputa.

Quase no fim da apresentação do bumbá vermelho, David Assayag passou mal e foi levado para a enfermaria do bumbódromo. Segundo o próprio levantador, em suas redes sociais, o calor o fez se sentir mal e acabou tendo uma queda de pressão.

Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica

3ª noite – 30 de junho

Garantido

A terceira noite de apresentações do Festival começa com a inversão dos bumbás: dessa vez Garantido é o primeiro a entrar na arena, com ‘O futuro ancestral’, com a mensagem de paz e respeito aos ancestrais.

Israel Paulain abriu a noite agitando a galera e fazendo a tradicional contagem regressiva para o início da apresentação do boi de coração vermelho.

Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

A porta-estandarte Lívia Christina, item5, entrou com uma indumentária colorida e levantou a animação da arena.

O Garantido nasceu de uma promessa e esse ano o grupo de cantores homenageou mais uma vez Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins.

E entre as homenagens que o boi vermelho e branco tem feito este ano, Zezinho Correa foi lembrado ao cantarem ‘Tic tic tac’ (Bate forte o tambor – Carrapicho), uma das toadas mais conhecidas no mundo todo. Principalmente porque seu compositor, Braulino Lima, entrou como destaque na arena.

Também foi lembrado o escritor indígena Ailton Krenak e suas reflexões sobre a existência da humanidade.

Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

Rainha do Folclore, Edilene Tavares surpreendeu o público com sua simbologia à rainha das águas. Mas o item 10, o boi-bumbá, que chegou na alegoria em cima do boto e acompanhado da vaqueirada, deixou a galera em polvorosa.

O Uirapurú é uma das lendas que o Garantido levou para o Bumbódromo este ano, simbolizando “um canto de esperança para a vida continuar”, como versado pelo levantador de toadas. O item 9, a cunhã-poranga Isabelle Nogueira chegou na alegoria que contava a lenda.

Leia também: Saiba quais são as lendas, mitos e rituais levados ao bumbódromo no 57° Festival Folclórico de Parintins

Os tuxauas entraram no Bumbódromo carregando grandes aves amazônicas em suas indumentárias, como as araras e o gavião real.

Confira todos os detalhes o boi Garantido para 2024:

Caprichoso

Para fechar a 57ª edição do Festival Folclórico de Parintins, Caprichoso leva para o Bumbódromo o tema ‘Saberes: o reflorestar das consciências’.

O boi Caprichoso chegou descendo do céu no guindaste, embalado pela vibração da torcida azulada que entoava “só quem é Caprichoso sabe a extensão desse amor”.

Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

Em seguida, o boi da estrela azul apresentou a lenda amazônica “Do cataclismo Macurap ao reflorestamento da vida”, com uma chuva invertida de balões.

E mais uma vez o bumbá defendeu a demarcação de terras de povos originários e fez um alerta: 5 anos e 21 dias – esse é o tempo que a Terra levará para aquecer 1,5°C, mas que ainda há tempo de salvar o planeta. O alerta foi feito pela filha de Chico Mendes, Angela, e José Tupinambá.

Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia

Com um balé aéreo, a apresentação se encaminhava ao sim, faltando menos de meia hora para o encerramento, dado destaque para a marujada de guerra e para a galera. Em seguida o ritual indígena Awa Guajá e o pajé Erick Beltrão surpreenderam com a execução dos itens, incluindo, mais um balé aéreo que acompanhou o surgimento do pajé no bumbódromo.

Confira todos os detalhes o boi Caprichoso para 2024:

Resultado

A apuração ocorre sempre na segunda-feira, na parte da tarde, após o último dia de festa. Das três notas dadas a cada item, é descartada a menor. Vence o festival o boi que acumular mais pontos no somatório de todos os blocos em todas as noites. A apuração em 2024 é realizada nesta segunda-feira (1° de julho).

*Esta matéria segue em atualização durante as apresentações dos bois-bumbás

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