O beiju: uma dádiva sagrada na Semana Santa de Araí, na Amazônia Atlântica

A Mandioca como comida sagrada em Araí, no Pará.

Começo esta conversa dizendo que Araí é uma comunidade rural, geograficamente situada na Amazônia Atlântica de Urumajó, nordeste paraense, cuja história é atravessada pela mandioca, em particular pela farinha d’água que se presentifica na condição de mercadoria sendo vendida e comprada nos mercados do lugar. Ocorre que, durante a Semana Santa, ela é retirada dessa esfera mercadológica e é convertida em uma comida sagrada, a saber, o beiju: um bolo feito ad hoc para ser doado, trocado, retribuído e coletivizado durante a páscoa, constituindo-se em uma coisa singular.

Esse movimento operado na vida social (APPADURAI, 2008) da mandioca no tempo da festa pascoal de Araí, estou denominando aqui de singularização (KOPYTOFF, 2008).

Dito isso, torna-se imprescindível salientar que a ideia de singularização empreendida aqui foi cunhada por Kopytoff (2008) e diz respeito ao processo que possibilita que certas coisas se desloquem da esfera da mercantilização e assumam valores associados à sua proximidade com as trajetórias dos indivíduos, ou grupos. Segundo Kopytoff, “[…] algumas vezes essa singularização inclui coisas que normalmente são mercadorias – com efeito, as mercadorias são singularizadas, exatamente por serem retiradas da sua usual esfera mercantil […]” (2008, p. 100). Ou seja, uma determinada coisa se singulariza quando se desloca da esfera da mercantilização e passa a ter uma biografia própria – convertendo-se, algumas vezes, em coisas sagradas – mesmo que por um curto período. Isso ocorre porque as coletividades necessitam preservar determinadas coisas e, ao fazerem isso, elevam essas coisas ao status de coisas sagradas, tornando-as trocáveis, mas de forma alguma vendáveis. Tais condições são publicamente coletivizadas e sustentadas.

Ainda segundo Kopytoff, a possibilidade de uma dada coisa ser vendida constitui-se no indicador máximo da sua condição de mercadoria. Por outro lado, aquela coisa que se mantém desprovida dessa capacidade ganha status de singularização, tornando-se invendável, isso porque, agora a coisa caminha por outras rotas, ou melhor, por outros desvios que a tornam “[…] incomum, incomparável, única, singular e, portanto, não trocável por qualquer outra coisa […]” (KOPYTOFF, 2008, p. 97). Isso parece ser o que acontece com a mandioca que, conforme veremos mais adiante, durante a festa da Páscoa, em Araí, torna-se uma coisa sacralizada, mesmo que, em alguns momentos e contextos, essa condição seja suspensa e ela e seus derivados sejam mercantilizadas por algum tempo.

Sobre os saberes, os fazeres e os sabores do beiju na Semana Santa em Araí

Os preparativos para a feitura do beiju modificam a dinâmica, o cotidiano da comunidade de Araí, isso porque nessa época quase tudo está em função da produção e dos preparativos para produzi-lo. Há uma mobilização coletiva que se materializa por meio das conversas, dos acordos, dos planos, etc.; tudo tem um só foco: fazer a iguaria para a Semana Santa – e isso é percebido especialmente nas conversas entre as mulheres, porque elas são as personagens principais desse cenário, tanto no que diz respeito à produção quanto à troca. O processo produtivo do bolo tem a duração média de cinco dias. Começa com a colheita da mandioca no sábado que antecede a Semana Santa e termina na quarta-feira, com o beiju propriamente feito.

Imagem 1. Beiju pascoal de Araí. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Nesse processo de produção, consumo e troca de beijus, a casa do forno (conforme retratado nas imagens 2) torna-se um elemento fulcral, pois é nela que as pessoas se concentram na quarta-feira para a feitura da iguaria, tornando-a, assim, uma referência, um espaço de sociabilidades para as fazedoras e fazedores de beijus. A casa do forno, assim como todos os meios de produção, é propriedade privada, pertence a um morador da vila, porém, no tempo da Semana Santa, torna-se coletivizada, à medida que é cedida para as fazedoras de beijus, as quais estabelecem relações parentais, de amizade e ou de compadrio com o proprietário do imóvel, cuja generosidade em ceder a casa é retribuída com uma porção de beijus.

Imagem 2: a casa do forno. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Isso posto, importa dizer que faz alguns anos, desde o ano de 2014, tenho me debruçado a estudar a vida social da mandioca. Nesse tempo, ela tem se mostrado como um patrimônio alimentar, marcador das identidades coletivas, particularmente daqueles que povoam os territórios da Amazônia Atlântica, no nordeste paraense, como é o caso da comunidade de Araí, a qual pertence ao meio rural de Urumajó.

Assim, observando e seguindo os atravessamentos da mandioca na vida da Amazônia Atlântica, pude perceber que a feitura de beijus durante a Semana Santa configura-se em uma das muitas fazes da vida social desse tubérculo.

Essa percepção adensou-se ainda mais na minha última vivência quando estive em Araí, acompanhando dona Rosa Ferreira, dona Marinete Fereira, seu José Ribeiro e outra(os) fazedoras(es) de beijus para a Semana Santa do ano de 2022.

Como dito anteriormente, o movimento para a feitura da iguaria se inicia na sexta-feira, dia 08 de abril de 2022, quando as e os fazedores adentram suas roças para a colheita da mandioca (para arrancar a mandioca, como dizem os araienses) e em seguida transportam-na para o poção – um riacho ou igarapé, no qual a mandioca é colocada de molho durante cinco dias, tempo necessário para o seu amolecimento, para sua pubação – conforme mostra a imagem 3. 

Imagem 3: o poção. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Na terça feira, dia 12 de abril, elas e eles voltaram ao poção para o descascamento das mandiocas, as quais, depois de retirada da casca foram transportadas para a casa do forno (imagens 4 ), a qual é de propriedade de dona Nair e estava cedida para seus parentes, vizinhos e amigos.

Imagens 4:a casa do forno de dona Nair. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Na casa do forno iniciou-se o processo de maceração e lavagem da massa da mandioca, o qual se processa conforme descrevo no que segue.

Na gamela (uma espécie de cano feita de arvore nativa, conforme mostrada na imagem 5 e 6), as mandiocas foram ora amassadas, uma a uma, manualmente com a ajuda de um artefato chamado pelos mandicultores de mão de pilão (imagem 7), ora trituradas por outro artefato mecanizado chamado de Catitu (imagem 8). 

Imagem 5: a gamela. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal
Imagem 6: a gamela, 2. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal
Imagens 7: a mão de pilão. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal
Imagem 8. O catitu. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Posteriormente, iniciou-se a lavagem da massa que consiste em diluí-la em uma bacia com água, depois coada em uma peneira para finalmente ser colocada em sacos de pano ou de plástico (imagem 9).

Imagem 9: lavagem da massa no saco. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Esses sacos são amarados e pendurados em galhos de árvores e ali ficam por aproximadamente 24h. Segundo seu José esse processo é necessário, pois por meio dele se elimina o ácido cianídrico que é próprio da mandioca, deixando a sua massa própria para a feitura dos beijus. É importante saber que é da massa lavada que se faz um tipo específico de beiju: o Pelé.

Então, na quarta-feira, dia 13 de abril, logo cedo, as fazedoras e os fazedores de beijus dispuseram a outra parte da massa, que dá concretude a outro tipo de beiju: o Coruba, em tipitis (imagem 10) os quais foram prensados em uma engenhoca denominada de sarilho (imagem 11).

Imagem 10: O tipiti. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal
Imagem 11: o sarilho. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Na medida em que a massa ia sendo espremida e retirada do tipiti, ela também foi sendo coada em uma peneira e, em seguida, misturada com água e levada novamente à prensa no tipiti, conforme mostram as imagens 12 e 13 (Esse processo também resulta na eliminação da acidez e do ácido cianídrico da massa. Importa saber que tanto a massa lavada quanto a não lavada passam pelo tipiti e pelo sarilho).

Imagem 12. Lavagem da massa. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal
Imagem 13. Coando a massa. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Após repetir esse procedimento por três vezes, foi que outros ingredientes como sal, coco ralado, erva doce, açúcar foram juntados à massa. Depois disso, pouco a pouco, pequenas porções de massa foram sendo colocadas em pequenos pedaços de folhas de bananeiras e ou de sororocas, como pode ser notado nas imagens 14. 

Imagem 14: fazendo o beiju. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Feito isso, os beijus foram levados ao forno, (imagem 15 e 16), que já estava na temperatura ideal, e aproximadamente 20 minutos depois já estavam assados, prontos para o consumo, conforme mostram as imagens 17 e 18. 

Imagem 15: assando o beiju. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal
Imagem 16: assando o beiju, 2. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal
Imagem 17: o beiju coruba. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal
Imagem 18: o beiju Pelé e de massa ralada. Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Isso posto, cabe aqui enfatizar que, com regularidade, a presença das mulheres é mais intensa na feitura de beijus, porém, os homens também protagonizam esse processo, cabendo-lhes, particularmente, colher a mandioca, ajudar a descascá-la e a transportá-la para a casa do forno, assim como fazer e cuidar não apenas do fogo, mas principalmente dos beijus quando estão no forno sendo assados. Afora isso, é importe registrar que entre as mulheres existem homens, como seu José, que também possuem expertise no saber fazer a iguaria.

Ademais, naqueles territórios da Amazônia Atlântica se fazem também beijus de massa ralada, que se diferem dos beijus curuba e pelé, a saber: diferentemente dos outros beijus, os de massa ralada são feitos de outros tipos de mandiocas mansas, tais como a macaxeira e a batatinha, que são tipos de mandioca que não contêm em sua composição o ácido cianídrico e que por isso dispensam a submersão na água do poção, assim como o processo de lavagem e prensagem no tipiti. 

Os beijus, as doações, as trocas e o consumo 

Seu José e dona Rosa me disseram que seus beijus eram para o consumo da família, mas também para serem doados para os amigos, vizinhos e parentes de Araí e de outras paragens. Parte dos beijus de dona Rosa, por exemplo, iriam para a capital, Belém, onde vivem alguns de seus parentes.

Ali mesmo, na casa do forno, eles procederam com a primeira partilha e doação dos bolos, os quais foram distribuídos entre todas e todos que estavam na casa. Eu mesmo ganhei aproximadamente cinquenta beijus, destes doei alguns para outras pessoas.

Assim sendo, carece de explicação que esses movimentos de doação e retribuição de beijus operacionalizados por dona rosa e seu José se repetem entre todos os demais produtores de Araí que, sem exceção, parecem seguir uma lógica hierárquica: guiados primeiramente pela relação de parentesco, depois pela relação de compadrio e, por último, pela relação de amizade e consideração. Essas hierarquias atravessam todo o processo produtivo, desde os primeiros acordos até a partilha, a doação e a retribuição. A ordem da troca, por exemplo, explicita a ordem hierárquica de distribuição dos beijus segundo a importância das relações estabelecidas entre os que trocam, porque o primeiro momento da troca se dá na família: a mãe doa beijus para os filhos; em seguida, doa para as comadres e os compadres e, na sequência, para os amigos, os vizinhos e chegados. Quase todos retribuem uns para com os outros, não necessariamente na mesma proporção, ocorrendo de certa forma um vai-e-vem, uma circularidade de beijus.

Por outro lado, depois de serem trocados, os beijus são finalmente consumidos e isso ocorre com maior frequência na Sexta-feira Santa, quando os moradores recebem em suas casas seus convidados, que podem ser vizinhos, amigos, filhos, noras, comadres, afilhados, chegados, etc. Na Sexta-feira Santa, nas casas dos católicos da comunidade, o beiju é servido com café, logo pela manhã bem cedo. Em seguida, conforme as visitas vão chegando, a iguaria vai sendo servida e promovendo redes de sociabilidade que naturalmente se materializam na “[…] forma como as pessoas se relacionam, geralmente para cooperar, geralmente entre amigos, vizinhos, companheiros, chegados, através de redes estabelecidas entre sujeitos e grupos” (RODRIGUES, 2008, p. 257).

Como dito, anteriormente, estou seguindo as trajetórias da mandioca e a feitura e trocas de beijus em Araí desde o ano de 2014 e nesse tempo tenho observado e participado desse tempo sagrado com os católicos daquele lugar, o que tem me possibilitado viver com elas e com eles muitas dessas experiências de sociabilidades proporcionadas pela feitura, troca e degustação de beijus. Vivências e sociabilidades materializadas ora na roça, por vezes no poção, ora na casa do forno e, especialmente, na sexta-feira Santa nas casas, nas frentes das casas, lugares e momentos de encontros marcados por uma diversidade de conversações, dentre as quais as fofocas e as piadas regadas por muitos risos tomam centralidade. Afora isso, o jogo de baralho é garantido. Mas de tudo isso, algo despertava minha atenção: quando os participantes chegam ao encontro costumam proferir a seguinte pergunta; “cadê o beiju?” A pergunta parecia demonstrar que estavam ali pela única razão de degustar a iguaria, mas, mais que isso, como já destacou Becker (2008), tratava-se antes de entabular conversações que estabelecem, asseguram e fortalecem as interações e as relações entre os parentes, amigos e chegados, pois juntar-se nas casas para comer beijus com café na Sexta-feira Santa é um costume, um tipo de sociabilidade praticada todos os anos em praticamente todas as casas dos católicos da comunidade.

É importante salientar que o beiju é uma iguaria que em Araí se produz em outras épocas do ano, mas, segundo o padre Bruno Cunha, Pároco daquela região, na Semana Santa ele parece transformar-se noutro alimento que, ao mesmo tempo em que alimenta o corpo físico dos araienses, também sustenta a alma e o espírito daqueles que o comem, assim como ocorreu e ainda ocorre com o pão da Ceia de Cristo. Nesse sentido, doar, retribuir e comer beijus na Semana Santa em Araí corresponderia ao evento da Eucaristia, que é a celebração da comunidade viva, animada pelo Espírito, unida em torno de Jesus, empenhada em cumprir a vontade do Pai, que é vida para todos. Nesse sentido, diz o padre que:

O beiju está ligado à caridade, à fraternidade, ao perdão, à conciliação, e isso ocorre quando ele é trocado. O beiju é o elo de ligação entre as pessoas deste lugar, que neste tempo de festa sagrada se aproximam e ficam mais sensíveis às coisas de Deus.

Eu fiz o beiju, eu comungo com o outro e isso me leva ao encontro do outro e ao ir ao encontro desse outro, o doar torna-se um sentimento comum inerente à comunidade católica. Então estou doando não só o beiju, mas minha fraternidade, meus sentimentos, a comunhão, a Eucaristia (Conversa com padre Bruno, durante a Semana Santa de 2014).

A ideia de comunhão apontada pelo padre Bruno, de certo modo, parece se alinhar com as afirmativas de Simmel (2004), que, ao dissertar sobre o ato de comer, coloca-o não mais como uma prática egoísta e fisiológica para satisfazer necessidades vitais, ao contrário, trata essa, que é uma prática comum a todos os seres humanos, como um ato suprapessoal, portanto de conteúdo coletivo. O autor atribui a Ceia de Cristo como sendo o ato pioneiro que transpôs a necessidade de se alimentar para sobreviver a um ato de comensalidade.

Outrossim, importa saber que essas relações sociais forjadas e mediadas pelos ciclos rituais do beiju são marcadas pelas interações e experiências que se estabelecem com aqueles que são da família consanguínea, com aqueles que são de outras famílias, com aqueles que são de famílias externas ao lugar e também com aqueles que são os parentes escolhidos, como compadres, comadres, padrinhos, madrinhas, afilhados e afilhadas. São relações marcadas pela proximidade parental, ou não.

Desse modo, não seria descabido afirmar que os ciclos rituais do beiju em Araí durante a Semana Santa, ao mesmo tempo em que garante a manutenção dos vínculos intrafamiliares, possibilita o alargamento desses vínculos, funcionando como um arranjo que intensifica as experiências entre as famílias da comunidade e dos arredores, como a comunidade de Pirateua, onde estão além das roças e do poção a casa do forno da dona Nair. Nessas experiências, o parentesco está além da consanguinidade e se estende também às relações de compadrio (LOPES, 2015).

De fato, o compadrio é um fenômeno expressivo em Araí, onde quase todos são compadres e comadres. Há no lugar uma reciprocidade na escolha de padrinhos. Geralmente, aquele casal que é convidado para batizar uma criança, também convida os compadres para batizar seus filhos. Lá, o compadrio não é apenas um “instrumento” de intensificação dos laços sociais, é antes, como diria Lanna (1995, p.198), “[…] um dos elementos […] fundamentais da vida comunitária.

Assim, em outrora, as visitas ritualizadas de afilhados aos seus padrinhos durante a sexta-feira Santa eram intensas e ajudavam na composição do circuito do beiju, na medida em que os afilhados costumam visitar seus padrinhos na Sexta-feira Santa. Chegam pela manhã logo cedo e participam de todo o ritual desse dia, começando pelo café com beijus, almoço e novamente o café com beijus no decorrer da tarde. Cabia às madrinhas e aos padrinhos a “obrigação” de retribuir as visitas com beijus e café. Cabe informar que, na atualidade, esses encontros de afilhados e padrinhos no dia Santo são raros em Araí.

Por fim, reitero que como uma coisa (APPADURAI,  2008) que tem vida social, assim a  mandioca tem atravessado o meu fazer etnográfico, o qual a reconhece como patrimônio alimentar dos paraenses, funcionando como linguagem e marcador das identidades coletivas dos habitantes que povoam essas bandas do Norte brasileiro, como a comunidade de Araí, na Amazônia Atlântica do nordeste paraense.

Nesses territórios seguimos observando e participando das múltiplas fases da vida social da mandioca, particularmente sigo olhando e descrevendo o beiju como uma dádiva:   portador de   uma aura sagrada; é produzido, trocado, retribuído e consumido todos os anos durante a Semana Santa.
Na sexta-feira Santa, é degustado com café em quase todas as casas dos católicos de Araí, lugar no qual há uma circularidade de beijus, os quais se movimentam como presentes doados, recebidos e devolvidos entre os parentes, amigos e chegados.

Esse é, como diria Marcel Mauss (2013), um fenômeno social total, marcado pelos princípios de reciprocidade: dar, receber e retribuir, conforme pode ser visto no documentário, o qual pode ser acessado no link abaixo.

Referências bibliográficas

APPADURAI, Arjun. Introdução: mercadorias e a política de valor. In: APPADURAI, Arjun. A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Tradução de BARCELAR, Agatha. Ed. 1. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2008, p. 15-88.

BECKER, Howard S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Tradução de BORGES, Maria Luiza X. de. Ed.1. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2008.

KOPYTOFF, Ygor. A biografia cultural das coisas: mercantilização como processo. In: APPADURAI, Arjun. A vida Social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Tradução de BARCELAR, Agatha. Ed. 1. Nitéroi: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2008, p. 89-120.

LANNA, Marcos P. D. A dívida divina: troca e patronagem no nordeste brasileiro. Ed.1. Campinas: Unicamp, 1995.

LOPES, José Rogério. Relatos de Cabo Verde, África. Relatório apresentado ao Projeto Dinâmicas de Gênero, em Cabo Verde, financiado pelo Programa de Mobilidade Internacional CAPES/AULP. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo, Rio grande do Sul. 2015.

MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva: Forma e razão das trocas nas sociedades arcaicas. Tradução de Neves, Paulo. Ed.1. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac e Naify, 2013.

RODRIGUES, Carmem Izabel. Vem do bairro do Jurunas: sociabilidade e construção de identidade em espaços urbanos. Ed. 1. Belém: NAEA, 2008.

SIMMEL, Georg. Sociologia da refeição. Estudos histórico. Rio de Janeiro, nº 33, p.159-166.2004. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/124684801/Georg-Simmel-Sociologia-da-Refeicao. Acesso em: 05 mar. 2016. 

Sobre o autor

Miguel Picanço é doutor em Ciências Sociais (PPGCS/UNISINOS/ PDSE/ODELA-Universidad de Barcelona) e pós-doutor em Antropologia da Alimentação: Alimentação, Patrimônio e Turismo (ODELA-Universidad de Barcelona).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista. 

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