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SGB realiza missão pioneira de navegação para estudar ciclo da água na Amazônia

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O Serviço Geológico do Brasil (SGB) realizou até 27 de setembro uma missão pioneira de navegação para estudar o ciclo da água na Amazônia. As atividades começaram no dia 5 de setembro para percorrer parte dos rios Negro, Solimões, Purus, Madeira e Amazonas, com o objetivo de coletar amostras de água no âmbito do Programa de Aplicações Isotópicas do SGB.

Essa é a maior campanha isotópica, em extensão de rio, já realizada no país, e, possivelmente, uma das maiores do mundo. A bordo do navio oceanográfico Rio Branco, da Marinha do Brasil, foram percorridos mais de dois mil quilômetros.

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O projeto busca aprofundar o conhecimento sobre o ciclo hidrológico da Amazônia, região vital para o clima global, gerando informações sobre a origem e dinâmica de circulação da água no bioma amazônico. As coletas são realizadas em três profundidades – 2, 5 e 10 metros – a cada 20 quilômetros no curso dos rios e desembocadura de igarapés.

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Foram realizadas coletas a partir do próprio navio, assim como com o apoio de lanchas em áreas específicas como o Parque de Anavilhanas e igarapés de maior porte. As amostras serão submetidas a análises hidroquímicas e isotópicas (traçadores de oxigênio, hidrogênio e estrôncio). Nas amostras coletadas nas profundidades de 10 metros, foram realizadas análises de Radônio com equipamento portátil (RAD8) à bordo.

“Com base em tentativa e erro, desenvolvemos toda uma estratégia de coleta em diferentes profundidades. A enorme correnteza dos rios e o padrão de navegação da Marinha foram desafios superados graças à integração das equipes do SGB e da Marinha, permitindo coletas rápidas, seguras e bem-sucedidas”, explicou o técnico do SGB, Sérgio Estevam.

Dados do SGB como base para ações

Os dados obtidos permitirão traçar as rotas de geração de umidade e chuva, estimar contribuições de escoamento de base e parcelas de água de degelo, além de fornecer subsídios para entender o ciclo hidrológico como um todo e sustentar futuras pesquisas nacionais e internacionais.

A hidrologia isotópica, de forma geral, contribui para compreensão do ciclo da água e tem aplicações na gestão de recursos hídricos, além de gerar informações que auxiliam em estudos sobre mudanças climáticas, ecologia, fauna selvagem e rastreabilidade das fontes de alimentos.

O pesquisador do SGB Roberto Kirchheim ressalta o valor estratégico da atuação da instituição na região: “A vida das pessoas depende da dinâmica dos rios, sua navegabilidade e manutenção das funções ecossistêmicas. É necessário avançar com projetos estruturantes, equipamentos modernos e maior articulação com parceiros para garantir a sustentabilidade da Amazônia. A COP 30 certamente irá amplificar os desafios da região e o SGB precisa ter respostas institucionais à altura”, frisou.

Leia também: Conheça as diferentes cores de águas em rios da Amazônia e entenda suas mudanças

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Foto: Divulgação/SGB

A equipe do SGB a bordo inclui Roberto Kirchheim, Roberto Paiva e Sérgio Estevam, com apoio de outros pesquisadores do SGB e de instituições, como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Faculdade do Espírito Santo (UNES), Universidade de São Paulo (USP),  Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Universidade da Córsega e Universidade do Texas (EUA).

O pesquisador Roberto Paiva reforçou a importância do trabalho colaborativo para viabilizar o trabalho: “Trata-se de uma missão pioneira, envolvendo múltiplas instituições e setores, materializando uma força-tarefa em prol de objetivos com benefícios a todos”.

O sucesso da missão também se deve à parceria com a Marinha do Brasil, que disponibilizou o navio e toda infraestrutura e tripulação ao SGB para o sucesso da jornada pelos rios da Amazônia.

*Com informações do SGB

Lenda do Mayantú: conheça o guardião da floresta amazônica peruana

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No meio da floresta amazônica peruana, reza a lenda que uma criatura mítica habita aquela selva com a missão de proteger a natureza, ajudar os necessitados e também de castigar aqueles que ousam destruí-la. Essa é a história de Mayantú, figura conhecida como protetora da floresta e que faz parte do cenário mitológico dos povos que habitam aquela região.

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Assim como ocorre no Brasil – com lendas como a do Curupira -, esta lenda peruana é transmitida por gerações e gerações, especialmente em Iquitos, uma das cidades mais conhecidas da Amazônia peruana. A lenda de Mayantú detalha a história de uma espécie de duende com aparência reptiliana, um rosto de sapo, olhos grandes e brilhantes e de uma pele que se camufla com a natureza. É uma figura respeitada e temida por ser o protetor da natureza.

Relatos encontrados espalhados em vários sites contam que o Mayantú é um exímio conhecedor da floresta, especialmente das plantas medicinais e que ele usa esse conhecimento para ajudar os mais necessitados. Por isso, é conhecido por ter um espírito bondoso, desde que os humanos não representem ameaça ou perigo para a vida selvagem.

Leia também: 6 lendas folclóricas para conhecer a cultura na Amazônia Internacional

Origem da lenda de Mayantú

De acordo com histórias contadas pelo povo de Iquitos, a lenda nasceu com um grupo de exploradores que adentraram na selva para descobrir novas espécies e explorar a biodiversidade. No entanto, alguns indivíduos do grupo começaram a destruir a floresta, derrubando árvores, poluindo as águas e deixando um rastro de lixo por onde passavam.

floresta amazonica no peru guarda a lenda de mayantú
Foto: Reprodução/Agência Andina

Tal atitude, segundo a lenda, invocou a ira de Mayantú, que envolvido numa mistura de tristeza e raiva, aproveitou uma noite fria e nebulosa para fazer uma visita no acampamento dos exploradores. Ficou observando cada um, com a intenção de castigar cada responsável pelas atitudes contra a natureza.

Foi aí que um dos exploradores, chamado Pedro, perdeu-se quando buscava plantas medicinais. Desesperado sem saber sair da floresta, ele começou a pedir ajuda da natureza, momento esse em que Mayantú apareceu na sua frente.

Comovido pela sinceridade do explorador, Mayantú mostrou o caminho de volta e, em agradecimento, Pedro disse: “Graças por ajudar-me, prometo respeitar esta terra e contar tua história”.

Pedro foi o único que regressou sem problemas da expedição, enquanto os outros enfrentavam a fúria do guardião da floresta. Desde então, Pedro se converteu em um verdadeiro defensor da natureza, contando a todos a história de Mayantú e a importância de respeitar a floresta amazônica.

O canal peruano no Youtube, La MYSTERIOTEKA, conta a lenda em detalhes:

Importância da história

A lenda se difundiu, reforçando a ideia de que a floresta não é um recurso inesgotável, e sim um bioma que precisa ser preservado e protegido. Enquanto isso, Mayantú segue protegendo a Amazônia peruana, ajudando os perdidos e castigando aqueles que ousam destruí-la.

Entre os povos da região, a lenda de Mayantú serve como um exemplo de proteção à selva peruana, bem como a importância de conviver em harmonia com a natureza.

Amazônia peruana

Uma das regiões com maior biodiversidade do planeta, a Amazônia peruana é um dos países da América do Sul que compõem a Amazônia internacional. Começa no Peru e termina ao oriente da Cordilheira dos Andes. Possui uma área de 782,880.55 km², e população é de aproximadamente 390 mil habitantes, de acordo com dados governamentais. A cidade de Chachapoyas é considerada a capital da Amazônia peruana.

Assim como no Amazonas brasileiro, a região é famosa por cachoeiras e pela natureza ser um atrativo turístico. Entre os atrativos estão os bosques, a Fortaleza de Kuelap e a Catarata de Gocta.

A fronteira nacional é com Loreto, San Martín, La Libertad e Cajamarca. Já internacionalmente é com o Brasil, a Colômbia, o Equador, a Bolívia e o Chile. 

Amazônia e a indústria farmacêutica: inovação em Pesquisa e Desenvolvimento para a saúde

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Angelim vermelho. Foto: Reprodução/Fundacão Amazônia Sustentável

A indústria farmacêutica é um dos setores que mais investem em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D) no Brasil. E a tendência é de crescimento. Segundo dados do Ministério da Saúde, as projeções para 2025 apontam que mais de 80% das empresas farmacêuticas planejam ampliar seus aportes em P&D, contra pouco mais de 50% da indústria geral.

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Para Iran Gonçalves Júnior, Diretor Médico da EMS, do Grupo NC Farma, a indústria nacional tem papel decisivo na democratização do acesso à saúde: “O Brasil tem mostrado capacidade de inovar e de investir em pesquisa clínica, mas precisamos avançar ainda mais para transformar ciência em soluções acessíveis para a população. A integração entre academia, indústria e governo é fundamental para que possamos oferecer terapias modernas e de qualidade”.

Iran Gonçalves ainda destaca a importância e dimensão da planta industrial de medicamentos localizada na Zona Franca de Manaus. Trata-se, segundo o Diretor Médico da SEM, da quarta maior planta de medicamentos do mundo.

Amazônia e a indústria farmacêutica
Foto: Roberto Dziura Jr/AEN

Já Fernanda de Negri, do Ministério da Saúde, destaca a necessidade de alinhar inovação com políticas públicas de saúde: “O Complexo Econômico-Industrial da Saúde é estratégico para o país porque combina inovação científica, desenvolvimento produtivo e acesso universal. A biodiversidade da Amazônia amplia nossas oportunidades, mas é essencial que saibamos transformar esse potencial em benefícios reais para o SUS e para os brasileiros”.

Segundo o professor Adriano D. Andricopulo, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, o Brasil reúne um “imenso potencial” para o desenvolvimento de novas moléculas e medicamentos a partir de pesquisas conduzidas nos principais centros científicos do país. Ele destacou, em especial, as oportunidades abertas pela biodiversidade amazônica, ressaltando a importância de identificar moléculas bioativas com aplicações farmacêuticas.

Pesquisa celular. Foto: Michel Rocha Baqueta

Andricopulo aponta que métodos laboratoriais, computacionais e de biotecnologia já permitem acelerar esse processo, desde a coleta até a triagem de substâncias promissoras. No entanto, chamou atenção para a necessidade de ampliar a infraestrutura nacional de pesquisa incluindo laboratórios, bancos de germoplasma, museus e redes de biodiversidade e de fortalecer a ponte entre a produção acadêmica e o desenvolvimento industrial.

“É fundamental garantir que descobertas feitas no laboratório avancem para ensaios clínicos, testes de toxicologia e, por fim, cheguem à produção em escala”, afirmou o especialista. 

Biodiversidade amazônica

Sementes de Seringueira. Foto: Reprodução/Fapeam

A Amazônia, uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta, reúne um potencial único para transformar a pesquisa farmacêutica.

De acordo com estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), já foram catalogadas na região amazônica mais de 14 mil espécies de plantas com sementes, reforçando sua relevância como fonte de conhecimento científico e inovação em saúde. Iniciativas recentes vêm reforçando esse protagonismo: 

  • A base de dados Trajetórias (SinBiose / CNPq) reúne 36 indicadores ambientais, socioeconômicos e epidemiológicos de 772 municípios da Amazônia Legal, cobrindo o período de 2000 a 2017.
  • O projeto Synergize está mapeando a biodiversidade amazônica terrestre e aquática para identificar lacunas no conhecimento e apoiar políticas públicas de conservação. 

Diálogos Amazônicos

Durante o webinar ‘Diálogos Amazônicos’, que aconteceu no dia 29 de setembro, autoridades se reuniram para discutir inovações o papel de bioativos da Amazônia na indústria farmacêutica.

Leia também: Pesquisa desenvolve bioprodutos encapsulados a partir de plantas e fungos amazônicos

Conferência Diálogos Amazônicos traz reflexões sobre o futuro da Amazônia. Foto: CIEAM

O encontro contou com a participação de Fernanda de Negri, Secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde do Ministério da Saúde; Adriano D. Andricopulo, Coordenador de Inovação do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar/CEPID) da FAPESP e presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo; e Iran Gonçalves Júnior, Diretor Médico da EMS, do Grupo NC Farma.

Durante o debate, foram abordados temas centrais para o futuro da indústria de medicamentos no Brasil, como o desenvolvimento de novas moléculas, terapias biológicas, biotecnologia e uso de inteligência artificial, além das inovações recentes promovidas por empresas brasileiras. Um dos pontos de destaque foi a discussão sobre a relevância da biodiversidade da Amazônia como fonte de conhecimento e insumos para a pesquisa e desenvolvimento de fármacos, reforçando a importância da preservação ambiental para a inovação científica.

Inovação, saúde e sustentabilidade

O webinar ‘Diálogos Amazônicos’ reforçou a necessidade de integração entre indústria, academia e governo na criação de políticas e soluções que unam inovação, saúde e preservação ambiental, posicionando o Brasil de forma estratégica no cenário global de ciência e tecnologia.

A série ‘Diálogos Amazônicos‘ tem o patrocínio do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), Bic da Amazônia; Coimpa; Honda; Copag; Mondial; UCB da Amazônia; Visteon; Sinaees; Águas de Manaus; Super Terminais; Midea Carrier; Abraciclo; Simmmem; Impressora Amazonense; Fieam; Caloi; Tutiplast Indústria; Recorfama Indústria; GBR Componentes; Embalagem Placibras; Atem; Vinci; Bemol e Fundação Rede Amazônica.

*Com informação do Centro da Indústria do Estado do Amazonas – CIEAM


No ‘Mundo Perdido’: pesquisas revelam a origem e a diversidade de borboletas nos tepuis

Pesquisa sobre borboletas foi realizada em tepuis de Roraima. Foto: Isabela Oliveira

Imagine montanhas que parecem ter sido recortadas do céu, com topos planos, florestas envoltas em névoa e paisagens que inspiraram a criação do romance ‘O Mundo Perdido’, de Arthur Conan Doyle. Esses são os tepuis, formações rochosas monumentais que se erguem no Escudo das Guianas, na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana – o tepui mais famoso para os brasileiros é o Monte Roraima.

Isolados como ilhas no céu, os tepuis abrigam espécies únicas de plantas e animais, muitas delas não são encontradas em outros lugares do planeta.

Leia também: Cientistas descobrem novas espécies em montanhas isoladas da Amazônia

Nos últimos anos, pesquisadores brasileiros têm desvendado um pouco desse enigma natural. Dois estudos recentes — conduzidos por cientistas do Instituto Mamirauá, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e instituições parceiras — revelaram como as borboletas respondem às variações de altitude nos tepuis e como sua diversidade foi moldada por mudanças climáticas ao longo de milhares de anos. As descobertas reforçam o valor biológico dessa região e alertam para os riscos que essas espécies enfrentam em um cenário de aquecimento global.

Imagem aérea da face norte da Serra do Sol (Uei Tepui) no estado de Roraima, Brasil. Foto: Thiago Laranjeiras

A origem de uma fauna singular

O Pantepui, como é chamada a província biogeográfica formada pelo conjunto dos tepuis, guarda uma biodiversidade marcada pelo alto endemismo — espécies que só existem ali. Entre elas está a borboleta Antirrhea ulei, descrita pela primeira vez em 1912 e redescoberta em expedições recentes. Segundo o pesquisador Rafael Rabelo, do Instituto Mamirauá, a história dessa espécie ajuda a entender a origem da fauna local.

borboletas
Face dorsal (A) e ventral (B) de um indivíduo macho de Antirrhea ulei, espécie endêmica dos tepuis, coletado na Serra do Sol. Foto: Isabela Freitas

“As flutuações climáticas do passado, especialmente durante a última glaciação, fizeram com que espécies adaptadas ao frio migrassem para áreas mais baixas. Com o aquecimento, elas voltaram a subir as montanhas. Esse vai e vem pode ter moldado a distribuição atual de espécies endêmicas nos tepuis”, explica Rabelo.

Modelos desenvolvidos pelos pesquisadores mostram que, durante o último máximo glacial (há cerca de 21 mil anos), A. ulei provavelmente ocupava áreas mais amplas e conectadas. Hoje, sua distribuição se restringe a poucos pontos elevados, o que a torna mais vulnerável às mudanças ambientais.

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Borboletas no gradiente da montanha

Outro estudo, liderado por Isabela Oliveira, do ICMBio em parceria com o Instituto Mamirauá, trouxe novas respostas ao analisar a diversidade de espécies de borboletas ao longo do gradiente altitudinal do Uei Tepui, nome indígena para Serra do Sol, na fronteira Brasil-Venezuela dentro dos limites da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e do Parque Nacional Monte Roraima. Em apenas 21 dias de expedição, foram registradas 93 espécies de borboletas, das quais várias são exclusivas dos tepuis.

Os resultados mostraram que a riqueza e a abundância diminuem consideravelmente à medida que a altitude aumenta. Porém, acima de 1330 metros ocorre uma mudança drástica: as espécies comuns da Amazônia dão lugar a borboletas endêmicas, adaptadas às condições únicas das florestas nebulares e topos rochosos.

“É como se a montanha tivesse uma linha invisível. A partir dela, vemos menos espécies, mas mais especializadas e exclusivas desse ambiente. É um filtro natural, que seleciona organismos capazes de viver em condições mais frias e restritas”, comenta Oliveira.

Prancha com exemplares de espécies de borboletas endêmicas registradas no Uei Tepui durante a expedição à Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Foto: Isabela Freitas

Entre as espécies registradas estão novas ocorrências para o Brasil e até possíveis novas espécies para a ciência. O estudo também revelou que a borboleta Antirrhea ulei é dominante nas maiores altitudes, confirmando seu status de símbolo da singularidade biológica dos tepuis.

Por que tanta exclusividade?

Mas o que explica essa concentração de espécies únicas nos tepuis? A resposta está no isolamento geográfico e ecológico dessas montanhas. Como verdadeiras ilhas cercadas por florestas e savanas, os tepuis criam barreiras naturais que limitam o deslocamento de organismos, mesmo que sejam organismos voadores como borboletas e aves. Além disso, seus ambientes apresentam fortes contrastes em pequenas distâncias — da floresta densa à vegetação arbustiva sobre rochas — o que favorece a diferenciação de espécies.

Leia também: Borboleta amazônica híbrida: pesquisa comprova nova espécie

Esse processo faz com que muitas linhagens evoluam de forma independente, resultando em endemismo elevado. Segundo Rabelo: “Cada tepui tem características próprias, e isso significa que duas montanhas separadas por poucos quilômetros podem abrigar comunidades de borboletas muito distintas. É um verdadeiro laboratório natural de evolução”.

O desafio das mudanças climáticas

Se o passado geológico e climático moldou a riqueza dos tepuis, o futuro traz preocupações. Com o aumento das temperaturas globais, espécies que já vivem próximas ao topo das montanhas podem não ter para onde escapar. Para muitas delas, não existe “um degrau acima”.

“Essas borboletas dependem de condições específicas de clima e vegetação. Se essas condições desaparecerem, o risco de extinção é real”, alerta Oliveira.

Além do aquecimento, a maior frequência de extremos climáticos, como secas e tempestades intensas, pode afetar diretamente a sobrevivência das espécies e a regeneração de suas plantas hospedeiras. Para os cientistas, é urgente ampliar o monitoramento da biodiversidade dos tepuis e integrar essas áreas às estratégias de conservação.

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Uma janela para o desconhecido

Os estudos também destacam a importância das parcerias locais. A pesquisa no Uei Tepui só foi possível com o apoio do povo indígena Ingarikó, que vive na região, além da colaboração de gestores de unidades de conservação como o Parque Nacional do Monte Roraima e a Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

“Conhecer essa biodiversidade não é apenas uma questão científica. É também valorizar a cultura e o território dos povos que sempre viveram em harmonia com esse ambiente”, reforça Rabelo.

Para Oliveira, a mensagem é clara: “Os tepuis ainda guardam muitos segredos. Estamos apenas arranhando a superfície do que existe ali. Cada expedição traz descobertas que reforçam o quanto precisamos proteger esse ‘Mundo Perdido’”.

A ciência mostra que os tepuis são mais do que paisagens espetaculares: são refúgios de biodiversidade moldados por milhares de anos de história natural. As borboletas, com sua beleza e sensibilidade às mudanças ambientais, revelam como esses ecossistemas são frágeis e únicos. Proteger os tepuis significa proteger não apenas espécies isoladas, mas todo um patrimônio biológico e cultural que pertence à Amazônia e ao planeta.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Mamirauá, escrito por Rafael Rabelo e Isabela Oliveira

Programas do Amazon Sat chegam à grade da Rede Amazônica no Acre; saiba quais

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A partir do dia 6 de outubro, os programas ‘Gente do Norte’, ‘Panc’, ‘Galeria’ e ‘Amazônia Animal’, produzidos pelo canal Amazon Sat, passam a integrar a grade da Rede Amazônica no Acre, incluindo ainda mais representatividade regional, cultura, ciência e gastronomia para o público acreano.

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Segundo o diretor de programação do Grupo Rede Amazônica, Silvério Machado, a mudança faz parte de um ajuste na grade local para reforçar a conexão e a sintonia com o público do estado.

“A mudança de grade no Acre foi estudada pela Rede Amazônica com o objetivo de conectar a programação da TV Globo ao cotidiano do povo acreano. Essa movimentação possibilitou à Rede Amazônica criar um slot para aproveitar outros conteúdos do grupo. Foi definido que vamos utilizar os conteúdos do Amazon Sat porque, como diz o slogan do canal, têm a cara e a voz da Amazônia, e são conteúdos que têm sintonia com o acreano, com a região amazônica, e têm qualidade. Nada mais natural do que aproveitar esses conteúdos que têm qualidade, relevância e que trazem o protagonismo do amazônida”, afirmou o diretor. 

Leia também: Transmitido pelo Amazon Sat, programa Escola em Casa é lançado no Acre

O coordenador do Amazon Sat, Lemmos Ribeiro, destacou que a parceria com a Rede Amazônica no Acre amplia o alcance dos programas e reforça a missão de valorizar a cultura nortista.

“O Amazon Sat já está presente no Acre, mas essa nova janela de exibição amplia significativamente nossa capacidade de levar conteúdos autorais e regionais a ainda mais telespectadores. A parceria fortalece nosso compromisso de valorizar a identidade amazônida, criando uma conexão mais profunda com o público local e promovendo a cultura da região Norte de forma autêntica”, explicou Ribeiro. 

Ainda de acordo com o coordenador, o público acreano terá acesso a quatro novos programas que celebram a diversidade e a riqueza cultural da Amazônia, com temas que vão desde cultura popular até biodiversidade. Os conteúdos são pensados para refletir a realidade e os valores do povo amazônida, com a marca registrada do Amazon Sat: informação com identidade regional forte.

Segundo Reuton Morais, gerente de Canais e Performance, a mudança tem como objetivo manter o foco principal do Grupo: desenvolver e integrar a Amazônia. 

“Esse movimento é de grande importância para a emissora e para a região, fomentando a Amazônia e integrando o público. A expectativa dessa experiência e da repercussão de integração dos conteúdos de ambas as emissoras são as melhores, onde estamos mobilizando todas as nossas plataformas como divulgação, e acredito que já é um sucesso. E, no fim, quem ganha é toda a população do Acre”, afirmou Morais. 

Leia também: De flores a plantas medicinais: PANC da Amazônia viram ingredientes em refeições alternativas no Amapá

Programas do Amazon Sat que passam a integrar a grade

Entre os destaques está o programa ‘Galeria’, apresentado por três jornalistas. Entre elas, Isabelle Lima afirma que o intuito do programa é valorizar a produção artística e cultural amazônica.

Programa Galeria do Amazon Sat
Foto: Reprodução/Amazon Sat

“O Galeria busca mostrar não só a beleza natural da região amazônica, mas também contar sua história e como a cultura pode ser uma grande formadora da nossa identidade. Une arte, cinema, literatura, turismo, e o Acre é um estado com acervo de histórias e uma cultura diversa que tem que ser mostrada para toda a região”, disse.

Já o programa Amazônia Animal, comandado pelo biólogo Rodrigo Hidalgo, mostra histórias sobre a fauna amazônica, animais domésticos e muitas curiosidades sobre as espécies.

“Com muita alegria chegamos na Rede Amazônica para falar sobre as maravilhas da Amazônia, histórias de animais da floresta, da fazenda e também os pets! Ainda não conheço o Acre, tenho alguns amigos de lá, e seria um sonho gravar nesse estado tão rico em fauna, flora e cultura”, afirmou.

A estreia dos programas está prevista para segunda-feira, 6 de outubro, com transmissões semanais nas madrugadas. Confira a programação: 

Lula reafirma que Belém terá a “COP da verdade”

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Foto: Reprodução/Agência Pará

A pouco mais de um mês para a realização da COP 30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
voltou a dizer que o evento mundial sobre mudanças climáticas vai ser a “COP da verdade”. Em visita ao Pará, nesta quinta-feira (2), Lula disse reconhecer os problemas da capital Belém, que mereceu a indicação para sediar a conferência da ONU.  

“Eu sabia que Belém era uma cidade com problemas. Tem os problema de drenagem, tem os problema da pobreza. Mas veja, por que que nós aceitamos de Brasil de fazer a COP lá? É porque é preciso mostrar para o mundo o que é a Amazônia e o que é o Pará. Não vai ser a COP do luxo, é a COP da verdade”.

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O presidente fez a declaração durante passagem pelo arquipélago do Marajó, para inaugurar obras de educação e assinar a retomada da obra do Novo PAC, Programa de Aceleração do Crescimento. 

No mesmo evento, Lula também voltou a cobrar que os países ricos “paguem” o preço da poluição que eles promoveram para se desenvolver:

“Queremos saber se os presidentes do mundo estão preocupados com a questão climática. Eu quero saber se o presidente Trump, se o presidente Xi Jinping, se o presidente Macron estão preocupados em resolver o problema da situação climática. Porque para que a gente mantenha nossas florestas em pé, é preciso que eles, que poluíram o mundo há muito mais tempo do que nós, resolvam pagar para que a gente possa dar qualidade de vida pro povo que mora na Amazônia”.

Presidente Lula esteve em Belém no dia 2 de outubro para compromissos gerais antes da COP 30.
Foto: Ricardo Stuckert/PR

Na região, o presidente entregou três unidades de ensino em duas cidades da Ilha do Marajó: Breves e Melgaço. Por lá, Lula ainda assinou uma ordem de serviço para a retomada de sete obras da educação em Melgaço: cinco escolas, uma creche e uma quadra escolar.

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De acordo com o governo federal, a Ilha de Marajó tem mais de cem empreendimentos com retomada de obras previstas. Eles incluem creches, escolas e quadras, para atender quase vinte e 5 mil estudantes. No ano passado, a região foi selecionada como “prioritária de assistência técnica e monitoramento educacional” pelo governo.

Depois dos eventos nas duas cidades da ilha, o presidente Lula seguiu para a capital paraense para visitar obras de infraestrutura, inclusive de drenagem e saneamento.

*Com informações da Rádio Agência Nacional

Variante do Aedes aegypti é registrada pela primeira vez na Amazônia

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Armadilha usada para capturar mosquitos, com os encontrados na nova pesquisa. Foto: José Ferreira Saraiva e colaboradores

Pela primeira vez, cientistas identificaram na Amazônia a forma pálida do mosquito transmissor de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela, o Aedes aegypti var. queenslandensis. O achado, feito em Macapá por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA) em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Secretaria Municipal de Vigilância em Saúde de Macapá (SMVS) e o Laboratório de Saúde Pública do Amapá (Lacen/AP), foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

A equipe instalou armadilhas em um fragmento florestal urbano de Macapá entre 19 e 24 de dezembro de 2024 e capturou 191 exemplares da variedade pálida do mosquito, confirmando a presença desse fenótipo na região. Até então, a variedade havia sido registrada no Brasil somente em Taubaté (SP), em 2020. Globalmente, ela é associada a ambientes urbanos quentes e secos, como os da Austrália e do Mediterrâneo.

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O pesquisador José Ferreira Saraiva, autor principal do estudo, explica que a variante se diferencia pelo padrão de escamas claras no abdômen, enquanto a forma predominante no Brasil é escura. “Até o momento, não há evidências de que a variedade seja mais resistente a inseticidas ou transmita doenças com mais eficiência”, afirma.  

“No entanto, por estar associada a ambientes urbanos e regiões quentes, como a Austrália e o Mediterrâneo, sua presença na Amazônia acende um alerta para possível ampliação da faixa de distribuição e da sazonalidade, especialmente durante a estação mais quente e seca do ano, já que esta é uma variedade mais resiliente a essas condições”, ressalta.

Os autores sugerem que a variedade pode ter chegado à região pelo porto de Santana, a apenas 9,5 km do local da coleta, um dos principais pontos de entrada de embarcações internacionais. Em 2019, o porto já havia sido a porta de entrada de outro mosquito, o Aedes albopictus, hoje amplamente disseminado em Macapá.

Para os cientistas, a presença da variedade evidencia a urgência de fortalecer a vigilância entomológica em portos, aeroportos e áreas estratégicas, com inspeções regulares e instalação de armadilhas. Saraiva lembra que o papel da população continua central no controle tanto da variante pálida quanto das formas clássicas. 

“A medida mais eficaz continua sendo a eliminação sistemática de água parada ao menos uma vez por semana, mantendo quintais sem lixo ou entulho e guardando objetos sob cobertura”, orienta. “A proteção individual também deve incluir telas em portas e janelas, o uso correto de repelentes e roupas de mangas compridas, quando possível”.

Leia também: 1 mosquito e 4 doenças: conheça o Aedes aegypti, o “maldito do Egito”

Pesquisa com variantes do Aedes aegypti continua

Os próximos passos da pesquisa incluem ampliar a vigilância entomológica em Macapá e no porto de Santana com coletas trimestrais e análises genéticas para rastrear a origem da variedade e sua conectividade com outras regiões. “Precisamos compreender como essa população se integra à já existente e se apresenta riscos adicionais para o controle de arboviroses”, conclui Saraiva.

Após a conclusão do projeto que levou à descoberta, o pesquisador explica que a equipe pretende gerar novos dados para apoiar o modelamento da presença e da possível expansão de Aedes aegypti var. queenslandensis, estimando abundância, sazonalidade e a proporção entre a forma pálida e a típica. “Os próximos preveem vigilância entomológica contínua nos fragmentos florestais urbanos de Macapá e na área portuária de Santana, com coletas trimestrais”.

Os cientistas também planejam realizar análises genéticas. “Os resultados deverão orientar ajustes nas estratégias de vigilância e controle e serão comunicados periodicamente às autoridades sanitárias, condicionados ao suporte operacional e financeiro necessário para o projeto”, conclui.

Variedade pálida do mosquito Aedes aegypti (Aedes aegypti var. queenslandensis), vetor de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela (Foto: José Ferria Saraiva e colaboradores)
Variedade pálida do mosquito Aedes aegypti (Aedes aegypti var. queenslandensis), vetor de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Foto: José Ferria Saraiva e colaboradores

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori

Fundação Rede Amazônica promove terceira edição do Círio na Rede em Macapá

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Círio de Nazaré 2023 em Macapá, Amapá. Foto: Isadora Carneiro/Acervo g1 Amapá

O Círio de Nazaré, uma das maiores manifestações de fé da Amazônia, acontece no próximo dia 12 de outubro, em Macapá, reunindo milhares de fiéis na tradicional procissão que celebra a devoção a Nossa Senhora de Nazaré. Neste ano, o evento ganha ainda mais significado com a realização do projeto Círio na Rede, promovido pela Fundação Rede Amazônica (FRAM).

Entre as ações de destaque está a campanha de arrecadação de alimentos não perecíveis. Com o apoio direto da Diocese de Macapá, as doações poderão ser trocadas por itens promocionais da festividade, como brindes personalizados que levam a marca do Círio na Rede. A iniciativa busca fortalecer a solidariedade e transformar o gesto da doação em um momento de integração comunitária. Empresas e entidades locais também serão incentivadas a contribuir, o que deve ampliar o impacto da ação. No ano passado foram arrecadados três toneladas de alimentos, a expectativa para este são de quatro toneladas, beneficiando famílias em situação de vulnerabilidade.

Um ponto alto da 3ª edição do Círio na Rede é a garantia de inclusão e acessibilidade durante o festejo. Este ano, novamente será disponibilizado um espaço exclusivo para pessoas com deficiência (PCDs) na missa do Círio, realizada na Praça Santuário de Fátima. O ambiente contará com estrutura adaptada e equipe dedicada ao acolhimento, assegurando conforto, segurança e participação digna para todos.

“Mais do que infraestrutura, o Espaço PCD é um gesto de respeito: assegura que pessoas com deficiência vivam o Círio com conforto, autonomia e emoção. É o acesso digno à fé e à celebração, transformando inclusão em prática e pertencimento real”, explica o coordenador de projetos da fundação, Matheus Aquino.

Além dessas iniciativas, o projeto também prevê a distribuição gratuita de água ao longo do percurso da procissão, ações de coleta seletiva de resíduos, campanhas educativas em diferentes plataformas e a transmissão ao vivo do evento pelo Amazon Sat, G1 Amapá e Portal Amazônia, ampliando o alcance da celebração para todo o país e até mesmo para o público internacional.

Segundo a diretora executiva da Fundação Rede Amazônica, Mariane Cavalcante, o Círio na Rede reafirma o compromisso institucional da FRAM com a valorização da fé, da cultura e da cidadania:

“O Círio na Rede é mais do que um projeto, é uma oportunidade de unir pessoas em torno da fé e da solidariedade. Para a FRAM, é motivo de orgulho apoiar uma manifestação tão significativa para nossa cultura e nossa identidade amazônica, fortalecendo também a cidadania e sustentabilidade por meio de ações sociais e ambientais”.

O projeto evidencia o papel do Círio de Nazaré em Macapá como um patrimônio vivo da região, capaz de unir fé, tradição e responsabilidade social em uma celebração que emociona e transforma vidas.

O Círio na Rede tem o apoio da Prefeitura de Macapá, Geap Saúde, Grupo Equatorial, tem o apoio institucional da Diocese de Macapá, Águas da Amazônia, Exército Brasileiro, Tratalyx e a realização da Fundação Rede Amazônica.

Sobre a Fundação Rede Amazônica

A Fundação Rede Amazônica (FRAM) é o braço institucional do Grupo Rede Amazônica, comprometida com a integração e desenvolvimento da Amazônia, com a missão de capacitar pessoas, articular parcerias e contribuir para o desenvolvimento social, ambiental e científico-tecnológico da região.

Serviço

O quê: Círio na rede – Círio de Nazaré (em Macapá)
Quando: 12 de Outubro
Onde: Praça Santuário de Fátima – Macapá

Cadeia da borracha: o esforço silencioso que transforma o extrativismo do Acre

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Foto: Pedro Devani/Secom AC

Na vastidão verde do Acre, onde o tempo dança ao compasso da floresta, mãos calejadas percorrem caminhos antigos, guiadas por memória e resistência. Entre seringueiras que sangram esperança, brota um dos insumos mais preciosos que cruzam fronteiras: a borracha amazônica.

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Impulsionada por políticas públicas, pela atuação da Cooperativa dos Produtores de Agricultura Familiar e Economia Solidária de Nova Cintra (Coopercintra) e por incentivos do setor privado, a matéria-prima extraída nas estradas de borracha da zona rural de Rodrigues Alves calça o mundo com dignidade e resiliência.

Uma das principais matérias-primas utilizadas pela marca francesa Veja é justamente essa borracha. As solas dos tênis levam de 20 a 40% de borracha originária da floresta, coletada por comunidades tradicionais que mantêm modos de vida sustentáveis.

O valor pago pelo quilo do CVP (borracha semiprocessada) é 3,5 vezes superior ao valor de mercado, com bônus de qualidade e de Serviços Socioambientais (PSES), o quilo chega a R$ 15. Além disso, como parte da certificação Fair for Life, cooperativas recebem um bônus adicional de R$ 0,60 por quilo para investir em projetos comunitários.

Com sede em Rodrigues Alves, a Coopercintra coordena essa engrenagem de saberes com 18 famílias que atuam na extração de látex nos municípios de Rodrigues Alves e Cruzeiro do Sul. Nessa rede já bem consolidada, que inclui ao menos 26 cooperativas, o produto é coletado nas comunidades, transportado pela Coopercintra à Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), e de lá segue para a empresa.

“Hoje a gente trabalha com 18 famílias de seringueiros em dois municípios, Rodrigues Alves e Cruzeiro do Sul, em seis comunidades em que o produtor coleta nas suas áreas, traz para a cooperativa, a gente pesa, faz o pagamento e depois, quando a gente termina o período de safra, a gente transporta para Cooperacre, que encaminha para o destino final, ou seja, para que a Veja faça a produção dos tênis”, explica Queline Souza, diretora executiva da Coopercintra.

Em parceria com a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), a Coopercintra também realiza capacitações e monitoramento da qualidade da borracha, extraída em áreas remotas por trabalhadores que conhecem o tempo e os sinais da floresta como poucos.

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No compasso da floresta

Entre árvores e trilhas, o seringueiro Pedro Rodrigues de Souza, de 69 anos, desenha caminhos com sabedoria herdada. Aprendeu com o pai ainda menino e hoje, prestes a completar 70, percorre com familiaridade as estradas que levam até às suas 60 seringueiras. 

Seus passos são rápidos e certeiros, como se a mata falasse em silêncio com ele e vive em harmonia com o território que alimenta seu sustento e molda sua história.

Natural de Marechal Thaumaturgo, criou cinco filhos com os frutos que a floresta lhe ofereceu com generosidade. A extração ocorre durante o chamado verão amazônico, quando a seiva corre mais livre. Souza é um dos beneficiados pela compra da empresa na comunidade, um gesto que, para ele, revela o potencial transformador do extrativismo acreano.

“Aprendi a cortar seringa com meu pai. Na época eu era o filho mais novo e para onde ele ia, eu o acompanhava. Quando ele faleceu, fiquei sozinho e dei uma parada por alguns anos e voltei de novo em 2020 e hoje, mesmo aposentado, minha renda maior é da borracha”, conta.

SERINGUEIRO PEDRO REZENDO COLETA BORRACHA
Pedro Rezendo. Foto: Pedro Devani/Secom AC

Souza acredita no equilíbrio entre exploração sustentável e preservação como fórmula vital para que a floresta continue sendo fonte de vida e dignidade.

“No meu ponto de vista é importante porque a pessoas conseguem tirar coisas da florestas sem precisar derrubar, queimar e prova que a mata também pode ser uma renda e dá pra viver assim. Foi assim que consegui criar meus cinco filhos”, diz agradecido.

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Tecnologia que escuta a floresta

Para atender às exigências da Veja, os extrativistas seguem critérios específicos de coleta, garantindo qualidade e rastreabilidade. É nesse momento que a atuação da Funtac se faz presente, oferecendo cursos e acompanhando os processos para que a borracha chegue ao mercado com excelência.

“Como aquela comunidade trabalha com o látex nativo para a venda dessa empresa, o produto não estava com a qualidade muito aceitável e eles procuraram a Funtac dizendo que queriam melhorar essa qualidade. Então, acertamos cursos de como coletar essa matéria-prima mais limpa, resultando em um produto mais limpo e de maior valor agregado”, explica Suelem Farias, diretora técnica da Funtac.

E para reforçar ainda mais essa cadeia sustentável, no fim de junho o governo do Acre protagonizou um feito histórico: o pagamento da subvenção do murmuru diretamente na conta dos extrativistas, algo aguardado há quase três décadas.

A nova metodologia, respaldada pela Lei Estadual nº 1.277/1999 e oficializada pelo Decreto nº 1.564/2024, foi implementada por determinação do governador Gladson Camelí, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri).

“Essa decisão me deixou muito feliz. Criamos a divisão do subsídio para atender exclusivamente os extrativistas assim que assumi a secretaria, porque antes ela era fundida a outras áreas”, explica o secretário de Agricultura, José Luis Tchê.

Antes, o pagamento enfrentava atrasos devido a erros cadastrais. Agora, a desburocratização e parceria com o Banco do Brasil garantiram agilidade e segurança.

“Por solicitação do governador, decidimos resolver de vez a vida dos nossos extrativistas. Fizemos parceria com o Banco do Brasil e já pagamos mais de 70 extrativistas diretamente na conta. O projeto-piloto funcionou e vamos seguir nesse formato”, garante Tchê.

*Com informações da Agência Acre

Maria-da-campina: a ave amazônica que desapareceu por mais de um século e foi redescoberta

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Foto: Héctor Bottai, CC BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

O desaparecimento e posterior redescoberta de espécies sempre despertam atenção no meio científico. No caso da Amazônia, onde a biodiversidade é vasta, histórias assim ganham contornos ainda mais surpreendentes.

Entre os exemplos está o de uma ave discreta, de porte reduzido e aparência modesta, conhecida popularmente como Maria-da-campina. A trajetória dessa espécie reúne mais de 160 anos de mistério até ser reencontrada em seu habitat natural.

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A Maria-da-campina (Hemitriccus inornatus) é um pássaro do gênero Emitricus, que passou despercebido por décadas. Sua história é marcada tanto pela coleta inicial feita em 1831 quanto pela redescoberta, apenas em 1993, por guias de observação de aves.

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Segundo o ornitólogo Mário Cohn-Haft, no canal Cantos da Amazônia, trata-se de um caso emblemático da ornitologia brasileira, que mostra como ambientes pouco estudados ainda podem guardar surpresas.

Primeira coleta no século XIX

O primeiro registro da Maria da Campina remonta a 1831, quando o naturalista austríaco Johann Natterer explorava o alto Rio Negro, no Amazonas. Em uma região de solos arenosos e vegetação típica de campina, ele coletou um exemplar do pequeno pássaro.

Esse material foi enviado a Viena (Áustria) e, cerca de 40 anos depois, descrito como uma nova espécie pelo curador da coleção. Recebeu o nome Inornatus, que significa “não ornamentado”.

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A nomenclatura refletia a ausência de cores marcantes, algo que contribuiu para a falta de interesse posterior pela espécie.

Durante mais de um século, o exemplar permaneceu praticamente esquecido, enquanto cientistas questionavam se não se tratava apenas de uma variação de outra ave já conhecida.

Redescoberta após 160 anos

A história do passarinho ganhou novos capítulos em 1993. Os ornitólogos Andrew Whittaker e Kevin Zimmer, durante atividades de observação em uma campina próxima a Manaus, ouviram um som peculiar.

Inicialmente, não atribuíram importância ao canto. Mas, após investigarem, encontraram um pequeno pássaro do gênero Emitricus. A análise confirmou que se tratava da espécie coletada por Natterer no século XIX.

A confirmação levou ao reencontro científico da Maria-da-campina, após um intervalo superior a 160 anos desde o primeiro registro.

O próprio Mário Cohn-Haft relata que levou um exemplar taxidermizado a Viena para comparações detalhadas, assegurando a identidade da espécie:

Características da Maria-da-campina

Descrita como uma ave de pequeno porte, possui plumagem verde-oliva escuro na parte superior e branco ligeiramente amarelado na parte inferior.

Seu canto é característico e diferenciado, lembrando um som agudo, cristalino e quase gaguejado, conforme descrito por Cohn-Haft. Apesar da singularidade, a ave se mantém discreta, habitando áreas de vegetação rala e árvores esguias, a aproximadamente cinco metros do solo.

O comportamento reservado dificulta a localização. Quando não está cantando, a chance de encontrá-la é mínima. Outro fator observado é que o playback, técnica utilizada para atrair aves por meio da reprodução de seus cantos, costuma silenciar em vez de estimular resposta desse pássaro.

Habitat e desafios de observação

A espécie está associada a áreas conhecidas como campinas, ambientes de mata rala que contrastam com a densa floresta amazônica.

Essas formações vegetais se assemelham a ilhas de vegetação baixa, espalhadas pelo coração da Amazônia. Justamente por estarem em áreas pouco valorizadas pela ciência no passado, acabaram recebendo menor atenção em estudos ornitológicos, o que contribuiu para o longo período de esquecimento da Maria da Campina.

Segundo Cohn-Haft, a ave só foi registrada novamente porque guias de observação prestaram atenção em detalhes do canto, até então ignorados em visitas anteriores.

Importância científica da redescoberta

O reencontro da Maria-da-campina estimulou novas pesquisas sobre os ambientes de campina e o conjunto de espécies endêmicas que habitam esses locais.

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Imagem colorida mostra Maria da Campina em um galho de árvore
Foto: Reprodução/ Youtube – Sons da Amazônia

Para os especialistas, o caso evidencia a necessidade de ampliar os estudos em diferentes tipos de vegetação da Amazônia. A aparente simplicidade desses ambientes pode esconder espécies únicas, como ocorreu com a Maria-da-campina.

A partir do interesse despertado por essa redescoberta, pesquisadores passaram a dedicar mais atenção às campinas, resultando em novas descobertas de aves e aprofundando o conhecimento sobre a biodiversidade amazônica.