Home Blog Page 64

Portal Amazônia responde: como os peixes enxergam nas águas dos rios Negro e Solimões?

0

Encontro das águas dos rios Negro e Solimões em Manaus. Foto: Janailton Falcão/Acervo Amazonastur

Quem já mergulhou nos rios amazônicos e tentou abrir os olhos debaixo d’água, com certeza se deparou com um cenário desfocado e de pouca visibilidade. Mas e os peixes? Como será que funciona a visão deles nas águas escuras e barrentas dos rios Negro e Solimões, respectivamente? Será que eles conseguem enxergar com mais facilidade?

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

Para esclarecer essa dúvida, a equipe do Portal Amazônia conversou com o Dr. Luiz Peixoto, pesquisador adjunto no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e especialista em ictiologia (ramo da biologia que se dedica ao estudo dos peixes). Mas, antes da explicação técnica, é necessário entender o que é a visão.

Como funciona a visão humana?

A visão consiste num processo de captação de estímulos luminosos e formação de imagens através do cérebro, sendo os olhos os principais órgãos desse processo.

Quando a luz entra nos olhos, passa pela córnea, pupila e cristalino, que a foca na retina. Nela, células fotorreceptoras, chamadas cones e bastonetes, transformam essa luz em sinais elétricos, que são enviados ao cérebro pelo nervo óptico. O cérebro interpreta esses sinais e forma a imagem que você vê.

E como funciona a visão dos peixes?

Voltando à questão principal, Peixoto explica que a visão dos peixes funciona da mesma maneira que a dos seres humanos, mas adaptada ao meio aquático, e o que diferencia é a capacidade visual a partir das características dos diferentes ambientes aquáticos.

No caso das águas escuras do rio Negro e barrentas do Solimões, a visibilidade depende da quantidade de luz que penetra debaixo d’água e demais fatores como ação do vento, algas e partículas orgânicas suspensas.

“Os peixes conseguem enxergar em ambos os ambientes, tudo depende da disponibilidade de luz e quantidade de sedimento nas águas. Nos olhos dos peixes, os bastonetes são mais intensamente estimulados em ambientes de baixa luminosidade, dada a quantidade absurda de sedimentos como no Rio Solimões. Já os cones requerem luz mais brilhante, proporcionando assim a visão de cores. Portanto, a visão dos peixes é extremamente variável”, explicou o doutor.

Leia também: Conheça curiosidades sobre nove peixes da Amazônia

O especialista exemplifica que a capacidade visual de peixes populares da região amazônica – como tambaqui, pacu, bodó, entre outras espécies – se adapta em qualquer ambiente e se diferencia apenas por características físicas das mesmas.

“O olho do tambaqui em geral é o padrão comum de peixes, contudo, apresenta um estoque substancial de gordura coroidal, que é uma camada vascular e esponjosa do olho localizada entre a esclera – parte branca do olho – e a retina. As piabas normalmente ocupam igarapés, portanto, são mais dependentes de luz para enxergar melhor. Já o bodó tem uma íris que pode ser alterada de forma e tamanho e, hipoteticamente, essas alterações são funcionais para a camuflagem do olho no fundo dos rios e igarapés. Ou seja, além da função sensorial, o olho ajuda também na camuflagem”, reforça Luiz.

peixe tambaqui
Peixe tambaqui. Foto: Siglia Souza/Embrapa

Visão dos peixes x visão humana

O pesquisador destaca que, apesar de serem estruturalmente semelhantes aos vertebrados, os olhos dos peixes tem diferenças peculiares, como lentes esféricas e rígidas e a percepção de cores ultravioleta (UV). Os humanos, por exemplo, possuem apenas três tipos de cones para a visão das cores vermelho, verde e azul.

“De um modo geral, os olhos dos peixes são estruturalmente semelhantes aos de outros vertebrados. Em síntese, a luz perpassa a córnea e penetra no olho pela pupila. Existem espécies com visão focal a curta distância, outras a médias distâncias ou mistas. O que muda é a processo de focalização da imagem. Por exemplo, alguns peixes regulam a posição do olho para mais externamente ou internamente, diferente dos humanos, onde o foco é delimitado pela alteração do formato dos componentes do olho”, pontuou Peixoto.

Leia também: Saiba o significado dos nomes de peixes populares na Amazônia

Super-sentido?

Apesar de a visão ser um dos sentidos essenciais da vida humana, ela não é o principal meio de percepção do mundo utilizado pelos peixes. A linha lateral, como o nome diz, é um sistema sensorial localizado nos dois lados do animal, detecta movimentos e vibrações na água, como uma espécie de radar. Isso permite que os peixes detectem presas ou possíveis ameaças dentro da água.

“Alguns peixes utilizam a visão apenas como um sistema de percepção do meio de modo secundário devido a estruturas como a linha lateral ou a capacidade de perceber e produzir campos elétricos, no caso das tuviras”, revelou o ictiólogo.

Por tudo isso: sim, eles conseguem enxergar dentro dos rios amazônicos e dependem apenas de fatores externos e físicos relativos à luz para poder ver com clareza em seu próprio habitat. Já os humanos, é melhor pegar um óculos de mergulho e pular dentro do rio para imaginar a sensação da enxergar igual aos peixes.

*Por Dayson Valente, repórter do Portal Amazônia

Azeite de açaí é desenvolvido com tecnologia limpa no Pará

Professor Raul Carvalho, coordenador Labtecs. Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

Pesquisadores do Laboratório de Tecnologia Supercrítica (Labtecs), da Universidade Federal do Pará (UFPA), sediado no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, em Belém, desenvolveram um azeite extraído da polpa do açaí. A pesquisa, apoiada pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), utiliza tecnologia limpa e inovadora, que garante um produto de alta pureza, livre de solventes químicos e com preservação dos compostos bioativos da fruta.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

Rico em ácidos graxos mono e poli-insaturados — conhecidos como “gorduras boas” —, o azeite de açaí auxilia na saúde cardiovascular e no equilíbrio do metabolismo. A concentração de antioxidantes é cerca de 33 vezes superior à da uva, contribuindo para o controle do colesterol.

Além do uso culinário, especialmente em saladas e preparações frias, o produto tem potencial para a indústria cosmética, podendo ser incorporado em shampoos, cremes, hidratantes e sabonetes.

Leia também: Suco, azeite, insumo: diversidade sustentável do açaí é pesquisada no Pará

Valorização da bioeconomia 

O projeto também busca reduzir o descarte de resíduos na cadeia do açaí. Atualmente, cerca de 83% do fruto são eliminados após o consumo da polpa. Com o azeite, esse resíduo pode ser aproveitado, gerando novas oportunidades econômicas em torno de um dos principais produtos da sociobiodiversidade amazônica.

“O azeite de açaí é um exemplo de como a ciência pode agregar valor à biodiversidade amazônica. Utilizamos uma tecnologia limpa e inovadora, que garante um produto de alta pureza e grande potencial gastronômico e cosmético. Além de promover saúde, essa iniciativa contribui para a sustentabilidade da cadeia do açaí e fortalece a bioeconomia regional. Nosso foco agora é viabilizar a inserção do produto no mercado e ampliar seu impacto positivo na Amazônia”, destaca o professor Raul Costa, coordenador do Labtecs.

Açaí
Açaí é uma das frutas mais populares da Amazônia. Foto: Divulgação/Idam

O azeite é definido como o óleo obtido apenas por processos físicos, sem uso de solventes químicos, preservando as características naturais do fruto. Mais conhecido pelo azeite de oliva, o conceito também se aplica ao açaí quando extraído por prensagem mecânica ou tecnologia supercrítica, ambos métodos limpos.

Assim como o de oliva, o azeite de açaí pode ser classificado em virgem ou extra virgem, de acordo com sua acidez e pureza sensorial. No Brasil, o uso do termo “azeite” é regulamentado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A inovação utiliza dióxido de carbono em estado supercrítico, que combina características de gás e líquido, permitindo maior eficiência na extração de substâncias sem solventes tóxicos. Esse método é amplamente usado nas indústrias alimentícia, cosmética, farmacêutica e ambiental, inclusive para a descafeinação do café. Sua principal vantagem é preservar propriedades nutricionais e reduzir impactos ambientais.

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

Referência em inovação na Amazônia 

O Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá é uma iniciativa do Governo do Pará, em parceria com a UFPA, Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e gestão da Fundação Guamá. Localizado em Belém, o complexo é o primeiro parque tecnológico da região Norte e atua como um polo de estímulo à pesquisa aplicada, ao empreendedorismo e à sustentabilidade.

Atualmente, reúne mais de 90 empresas residentes e associadas, 17 laboratórios com mais de 400 pesquisadores, 44 patentes e uma escola técnica. O PCT integra redes nacionais e internacionais de inovação, consolidando o Pará no mapa da ciência e tecnologia mundial.

*Com informações do PCT Guamá

Setembro tem queda histórica nos focos de queimadas em Rondônia, informa governo

0

Por conta das queimadas, em setembro de 2024 o céu de Rondônia estava cinza. Já em 2025, é possível contemplar um céu mais limpo. Fotos: Daiane Mendonça/Secom RO

Em setembro de 2024, Rondônia viveu um cenário marcado pela fumaça e pelos focos de calor acima da média histórica. Os céus, que deveriam ostentar sempre o azul, como descreve o hino estadual, ficaram cobertos pela névoa das queimadas. Os registros chegaram a índices de emergência, resultado direto da forte estiagem e déficit hídrico enfrentados no período.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

Já em setembro de 2025, o panorama se transformou. De acordo com a Sala de Situação do Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia (CBMRO) e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), os focos de calor caíram de forma expressiva, com números próximos ou até abaixo dos mínimos históricos.

No mês de setembro, o acumulado de 2.840 focos representou uma redução de 87,7% do número de focos que já havia sido registrado no mesmo mês do ano passado. Nas Unidades de Conservação, a redução também foi significativa, reforçando o efeito das medidas de monitoramento e prevenção.

Leia também: Acre teve setembro com menor número de queimadas em duas décadas, diz Inpe

Queimadas em Porto Velho Foto Prefeitura de porto velho
Queimadas em Porto Velho. Foto: Reprodução/Prefeitura de Porto Velho

Integração no combate às queimadas

Para o governador de Rondônia Marcos Rocha, esse resultado é fruto das ações integradas do governo de Rondônia.

“Desde o início do ano estamos com operações do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil, da Sedam e de órgãos parceiros que serão sempre muito bem vindos para somar esforços”, salientou.

Com o céu mais limpo os portovelhenses conseguiram enxergar o fenômeno halo solar, no dia 24 de setembro. O fenômeno é formado quando a luz do Sol atravessa cristais de gelo hexagonais presentes em nuvens altas. Mas é necessário que o céu esteja limpo de nuvens baixas, permitindo que os cristais de gelo em nuvens altas sejam visíveis.

Halo solar em Porto Velho. Foto: Daiane Mendonça/Secom RO

Plataforma de monitoramento e tecnologias

Um exemplo de resultado positivo é o estudo que vem sendo feito pelo Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO) que resultou em um painel que demonstra os resultados das ações do governo de Rondônia. O técnico do TCE-RO, ferramenta, que já está disponível na plataforma Mapbiomas deve trazer também dados por Unidades de Conservação”.

O comandante-geral do CBMRO reforça que “o uso de tecnologia de satélites de alta precisão, além de campanhas educativas junto às comunidades e produtores rurais. O investimento em prevenção refletiu em céus mais limpos, menor impacto ambiental e melhor qualidade de vida para a população”.

*Com informações do Governo de Rondônia

Universidade Federal de Mato Grosso assina Carta de Belém pela Amazônia; leia na íntegra

0

Universidade Federal de Mato Grosso assina Carta de Belém pela Amazônia. Foto: Natália Almeida e Wallace Albuqerque

Em preparação para a COP 30, que será realizada em Belém (Pará), em novembro deste ano, a comunidade científica da Amazônia Legal deu um passo histórico com a publicação da Carta de Belém, documento construído por redes de pesquisa, universidades e instituições de toda a região. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) é uma das signatárias, reforçando seu compromisso com a ciência, a sociobiodiversidade e a justiça climática.

Saiba mais: Portal Amazônia responde: o que é a COP 30?

Prof. Dr. Domingos de Jesus Rodrigues, pesquisador da UFMT Campus de Sinop, que atua como coordenador representando o estado de Mato Grosso na rede CAPACREAM (Centro Avançado de Pesquisa-Ação da Conservação e Recuperação Ecossistêmica da Amazônia) e no PPBio-AmOc (Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Amazônia Ocidental), esteve presente durante a lançamento da Carta. Domingos destacou a importância da cooperação científica na região.

Universidade Federal de Mato Grosso.
Universidade Federal de Mato Grosso. Foto: Universidade Federal de Mato Grosso

“Esse processo não começou agora: vem sendo estruturado há anos, justamente porque pesquisar a Amazônia exige redes inter e multidisciplinares, capazes de integrar universidades, institutos de pesquisa, comunidades locais e parceiros internacionais. A Amazônia é um território de dimensões continentais, onde o chamado ‘Custo Amazônia’ impacta qualquer iniciativa científica — transporte caro, em muitos locais apenas por rios, falta de infraestrutura, descontinuidade de editais e distâncias enormes. Assim, a UFMT se soma a outras instituições que trabalham em rede colaborativa, buscando superar esses desafios, garantir capilaridade, continuidade e impacto”, refletiu.

Principais propostas da Carta de Belém

O documento também elenca reivindicações estruturais, como financiamento contínuo para a pesquisa, fortalecimento das universidades e institutos amazônicos, criação de programas de comunicação pública da ciência e inclusão da justiça climática como princípio transversal da NDC brasileira.

Compromisso da Universidade Federal de Mato Grosso

Ao aderir à Carta de Belém, a Universidade Federal de Mato Grosso reafirma sua identidade como instituição amazônica e seu compromisso em promover soluções que conciliem sustentabilidade, justiça social e valorização da diversidade cultural da região, como explicou a reitora da UFMT, Profª. Dra. Marluce Souza.

“A ciência produzida na Amazônia precisa dialogar com os grandes desafios globais, mas sem perder de vista os saberes e os modos de vida de quem habita esse território. Neste sentido, a UFMT se une a esse movimento para transformar conhecimento em políticas públicas e contribuir para uma agenda de justiça socioambiental”.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

Universidade Federal de Mato Grosso entre as signatárias da Carta de Belém, documento em defesa da sociobiodiversidade amazônica. Foto: Natália Almeida e Wallace Albuqerque

O pró-reitor de Pesquisa, Prof. Dr. Bruno Araújo, também destacou a relevância da participação institucional. Segundo ele, a presença da UFMT entre as signatárias fortalece a cooperação científica e evidencia o papel estratégico das universidades da Amazônia Legal. “Esse alinhamento é fundamental para que a COP 30 seja um espaço de transformação real, no qual a ciência amazônica tenha centralidade na definição de soluções para a crise climática”, pontuou.

A UFMT desenvolve pesquisas essenciais para a preservação dos biomas brasileiros, como Pantanal, Cerrado e Amazônia. Um exemplo é o livro “Parque Estadual do Xingu: Biodiversidade, recursos naturais, importância ecológica e socioambiental”, lançado em 19 de setembro e organizado pelos pesquisadores pesquisadores Domingos de Jesus Rodrigues, Leandro Dênis Battirola, Thadeu Sobral-Souza, Thiago Junqueira Izzo e a pesquisadora Flávia Rodrigues Barbosa, em parceria com a Sema-MT, Fundação Uniselva e outras entidades.

Foto: Divulgação/UFMT

O livro reúne um mapeamento da flora e fauna do Parque Estadual do Xingu, no sul da Amazônia, resultado de um Termo de Cooperação Técnica com a UFMT e apoio do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA). A publicação evidencia a importância ecológica e histórica da área e apresenta descobertas inéditas, incluindo registros de samambaias, orquídeas, formigas e borboletas, com 1.517 indivíduos de 151 espécies catalogados entre 2021 e 2023, além da diversidade de mamíferos e peixes de médio e grande porte.

Este é mais um exemplo dos resultados alcançados pela UFMT em prol da ciência amazônica. Com a adesão à Carta de Belém, a universidade fortalece sua contribuição técnica e científica para a COP 30 e para a formulação de políticas públicas ambientais.

A carta

A Carta de Belém, sintetiza as contribuições de mais de 120 pesquisadores e pesquisadoras para a implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil, compromisso firmado no Acordo de Paris para limitar o aquecimento global e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. 

O documento é ao mesmo tempo uma síntese técnica das contribuições das redes de pesquisa colaborativa da Amazônia para a implementação da NDC brasileira, bem como um chamado político: “somente com a valorização da ciência em rede será possível transformar conhecimento em ação, convertendo compromissos em políticas públicas concretas e sustentáveis, em uma região historicamente negligenciada”.

*Por: Thiago Crepaldi (Membro do Programa Institucional de Comunicação Pública da Universidade Federal de Mato Grosso/PROPESQ), com informações do “Movimento Ciência” e “Vozes da Amazônia na COP 30”.

Como é a alimentação dos animais da Amazônia? Confira alguns dos mais populares

0

Bicho-preguiça comendo folhas. Foto: Reprodução/Mata Ciliar SP

A alimentação é essencial para a manutenção da vida, certo? Quando falamos de alimentação é possível que se relacione imediatamente aos seres humanos, mas você já parou para pensar como é a alimentação e a digestão dos animais da Amazônia?

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

A floresta abriga uma variedade impressionante de estratégias alimentares, que vão desde predadores de topo até herbívoros lentos e pacíficos. Conhecer esses hábitos é entender também o equilíbrio ecológico que mantém a maior floresta tropical do planeta em funcionamento.

Que tal conhecer como funciona a alimentação de alguns dos mais populares animais da região?

Sucuri

A sucuri, uma das maiores serpentes do mundo, é uma predadora carnívora que não tem pressa. Sua alimentação é variada: peixes, aves, capivaras, jacarés e até antas. Sem veneno, ela utiliza a constrição, enrolando-se na presa até sufocá-la. Depois, engole o animal inteiro!

Por conta desse processo, a digestão pode levar semanas, período em que a cobra permanece o mais imóvel possível, economizando energia e se preparando para a próxima caçada.

Leia também: De jiboia à ‘anaconda’, conheça as cinco maiores cobras da região amazônica

Foto: Divulgação/Alexandre Almeida

Onça-pintada

A onça-pintada é outro predador de topo, mas muito mais ágil. Dono de uma das mordidas mais poderosas entre os felinos, o animal se alimenta de veados, capivaras, tatus, jacarés, tartarugas e até peixes.

A sua alimentação pode incluir mais de 80 espécies diferentes, variando conforme a disponibilidade. Em cativeiro, uma onça chega a consumir até 7 quilos de carne em uma única refeição.

Leia também: Humanos convivendo com onças-pintadas: histórias de interação com um dos gigantes da Amazônia

Foto: Emiliano Ramalho/Instituto Mamiraua

Formiga saúva

Enquanto isso, debaixo da terra, a formiga saúva cultiva seu próprio alimento. Ao contrário do que parece, ela não come as folhas que corta. Elas servem de substrato para um fungo, que é a verdadeira fonte de nutrição da colônia. Trata-se de uma relação simbiótica sofisticada e eficiente, que mantém milhões de formigas bem alimentadas.

Leia também: A vida secreta das formigas: estudo revela diferenças entre formigas terrestres e arborícolas da Amazônia

Foto: Reprodução/Instituto Butantan

Anta

Maior mamífero terrestre da Amazônia, a anta é herbívora e frugívora. Sua alimentação é baseada em frutos, folhas, brotos e flores, usando o focinho alongado para alcançar diferentes tipos de vegetação.

Ao ingerir sementes, atua como uma das mais importantes dispersoras da floresta, ajudando na regeneração de áreas inteiras. Uma anta adulta pode consumir até nove quilos de plantas por dia.

Leia também: Jardineira das florestas: Saiba a importância da anta, o maior mamífero terrestre da América do Sul

Foto: Diivulgação/PMBV

Macaco-prego

Inteligente e curioso, o macaco-prego tem uma dieta onívora e variada: come frutos, insetos, ovos, pequenos vertebrados e até utiliza ferramentas, como pedras. Sua digestão é eficiente para lidar com tantos alimentos diferentes, embora tenha dificuldade com fibras muito duras.

Leia também: Conheça espécies de macacos que só são encontradas na Amazônia

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Bicho-preguiça

Na ponta oposta do ritmo, o bicho-preguiça se contenta com folhas pobres em energia. Seu estômago dividido em várias câmaras abriga bactérias que fermentam a celulose, permitindo a sobrevivência.

O processo é tão lento que a digestão de uma refeição pode levar até um mês. O metabolismo baixo explica o estilo de vida calmo e arrastado desse animal.

Leia também: 4 curiosidades peculiares sobre os bichos-preguiça

Foto: Eduardo Gomes/Acervo INPA

Peixe-boi

Nos rios, o peixe-boi amazônico se alimenta de capim-agulha, algas e outras plantas aquáticas. Herbívoro exclusivo, chega a ingerir 10% do próprio peso por dia.

Seu intestino, que pode alcançar 40 metros, é adaptado à fermentação da celulose, produzindo gases que ajudam até na flutuação do corpo.

Leia também: Peixes-boi da Amazônia e Marinho são declarados patrimônios culturais naturais de natureza imaterial do Pará

Foto: Reprodução/ Anselmo d’Affonseca

Acre teve setembro com menor número de queimadas em duas décadas, diz Inpe

0

Fumaça de queimadas na região do Bonsucesso, em julho desse ano, na capital. Foto: Lucas Thadeu/Rede Amazônica AC

O Acre registrou 840 focos ativos de queimadas em setembro e chegou à menor marca para o mês desde 2001, última vez que o nono mês havia encerrado abaixo de mil detecções. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Este número representa ainda uma redução de 78,2% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 3.855 focos.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

O total setembro manteve a tendência de crescimento nas queimadas pelo quinto mês seguido e ficou 62,5% acima de agosto. Contudo, setembro costuma ser o mês mais crítico em relação às queimadas, o que torna ainda mais importante a queda nos números entre 2024 e este ano.

Apesar de estar abaixo da média histórica de setembro (3.370 focos) e distante do recorde registrado em 2022, quando o estado teve 6.693 ocorrências, o total de 2025 ainda ficou acima do mínimo já contabilizado, que foi de 212 focos em 1999. Confira o gráfico com a série histórica mais abaixo.

Os dados fazem parte da comparação feita pelo Inpe com base nos registros de satélite dos últimos 27 anos, ou seja, entre o anos de 1998 a 2025.

O monitoramento aponta uma redução acentuada da atividade de fogo neste ano na capital acreana. A média observada nos primeiros três dias de setembro foi de 12,61 μg/m³, enquadrando a qualidade do ar como boa de acordo com parâmetros internacionais

Chuvas ajudaram a conter o fogo e as queimadas

Um dos fatores que ajudaram a conter o avanço das queimadas foi o aumento do volume de chuvas em setembro. Segundo a Defesa Civil de Rio Branco, foram registrados 90,8 milímetros de precipitação, o que corresponde a 97,8% do volume esperado para o mês.

O índice é o quarto maior dos últimos 10 anos e o melhor desta década para a capital acreana. Mesmo com o resultado ligeiramente abaixo do esperado (92,7 mm), as chuvas amenizaram a estiagem severa que vinha sendo registrada desde o início do ano.

O cenário é bem diferente do observado em setembro de 2024, quando choveu apenas 32,1 mm e a cidade ficou encoberta por fumaça, com a qualidade do ar chegando ao nível perigoso.

À época, nos primeiros dias de setembro de 2024, a qualidade do ar em Rio Branco era considerado “muito insalubre”, com 139,3 µg/m3 de material particulado. A capital chegou a liderar o ranking das cidades brasileiras com piores índices de poluição.

Leia também: Número de queimadas reduziu quase 100% nos primeiros meses de 2025 no Acre, aponta Inpe

Cenário nacional

Em todo o país, o Inpe registrou quase 76 mil focos de incêndio nos primeiros nove meses de 2025, o que representa queda de 64% em relação ao mesmo período de 2024.

O total nacional é o menor desde o ano 2000, o que reforça a tendência de redução das queimadas em todo o território brasileiro neste ano.

Na primeira foto, a poluição tomou conta do ar em Rio Branco em 2024. Na segunda foto, o cenário é diferente em 2025. Fotos de Walace Gomes, da Rede Amazônica AC.

*Por Walace Gomes, da Rede Amazônica AC

Projeto Harpia pede ajuda para encontrar ninho de filhote de harpia resgatado em Novo Airão, no Amazonas

0

Foto: Divulgação/Projeto Harpia

O Projeto Harpia, coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), solicita ajuda dos moradores de Novo Airão, no Amazonas, para localizar o ninho de um filhote de gavião-real (Harpia harpyja). O filhote foi encontrado por um morador na avenida Presidente Vargas, bairro Remanso. Segundo os pesquisadores, é fundamental localizar o ninho e os pais da ave para que ela possa ser reintegrada ao ambiente natural.

Leia também: Conheça o gavião-real: A maior águia das Américas e que desfila sua realeza pela floresta amazônica

O animal é uma fêmea e tem cerca de dois meses. O morador acionou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o resgate foi realizado há uma semana pelo Projeto Harpia e pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas/Ibama).

Após exames e avaliação veterinária, foi constatado que o filhote está saudável e, por enquanto, permanece sob os cuidados do Cetas, em Manaus.

“Se o ninho não for encontrado, o filhote pode acabar em cativeiro permanente e não deixará descendentes para a população de harpias da Amazônia”, alertou a equipe do projeto.

Projeto Harpia pede ajuda para encontrar ninho de filhote de gavião-real, também conhecido como harpia, resgatado em Novo Airão, no Amazonas.
Projeto Harpia pede ajuda para encontrar ninho de filhote de gavião-real, também conhecido como harpia, resgatado em Novo Airão, no Amazonas. Foto: Divulgação/Projeto Harpia

A harpia é considerada a maior e mais poderosa águia das Américas, sendo um predador de topo de cadeia e um importante indicador da qualidade ambiental. A espécie está classificada como “Vulnerável” à extinção, segundo a lista oficial de fauna ameaçada.

Como ajudar se encontrar o ninho

O Projeto Harpia e o ICMBio pedem que moradores de Novo Airão que visualizarem ninhos grandes ou avistarem harpias adultas entrem em contato pelos canais abaixo:

  • 📞 Linha Verde Ibama: 0800 061 8080
  • 📲 ICMBio: @icmbio
  • 🦅 Projeto Harpia Brasil: @ProjetoHarpiaBrasil

A colaboração da comunidade é considerada essencial para garantir a sobrevivência e a conservação dessa espécie símbolo da floresta amazônica.

Guia em Libras ensina nomes de municípios e pontos turísticos de Roraima

0

Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Já imaginou como dizer que vai viajar ao Lago do Caracaranã ou que mora em Caracaraí na Língua Brasileira de Sinais (Libras)? Um guia regional em Libras reúne sinais que representam Roraima, que completa 37 anos neste domingo (5), como os nomes dos 15 municípios e pontos turísticos, criado para apoiar a inclusão escolar e social da comunidade surda roraimense, com respeito à cultura.

Influenciada por migrantes do Norte e Nordeste do Brasil, além de outros países, como a Venezuela e a Guiana, e com mais de 10 línguas indígenas, Roraima tem um vocabulário único, mas a comunicação verbal não é a única.

Leia também: Professor escreve sobre nomes de cidades acreanas em Libras

As línguas de sinais são formas de comunicação que utilizam gestos e movimentos no lugar da fala, com seu próprio vocabulário e regras gramaticais. Assim como cada povo desenvolveu seu idioma oral, cada comunidade criou sua língua de sinais. Portanto, há línguas de diferentes países e regiões.

No aniversário de Roraima, o Grupo Rede Amazônica conversou com um dos colaboradores do guia regional, Erick Fabiano de Almeida Chagas, de 49 anos, professor responsável pelo Centro Estadual de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS) do estado.

“O guia é uma forma de evidenciar a cultura surda, para que as pessoas passem a conhecê-la, e para que todos entendam que os surdos possuem necessidades e também uma maneira própria de conhecer os lugares regionais nos quais estão inseridos dentro da sociedade roraimense”, ressaltou.

O material reúne sinais em Libras de pontos turísticos de Roraima, como o Monte Roraima, o Portal do Milênio, o Bosque dos Papagaios e a Orla Taumanan. Também inclui os 15 municípios do estado, além de instituições públicas, escolas, universidades, igrejas e bairros da capital Boa Vista.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

Sinais regionais

O projeto para a construção do guia de sinais foi iniciado em 2015 com professores do CAS, instrutores e membros da comunidade surda. No entanto, a iniciativa foi interrompida e só foi retomada oito anos depois, em 2023.

O processo de criação dos sinais começou em 2024 e durou cerca de um ano. Ele exigiu visitas presenciais na maior parte dos locais que seriam representados e envolveu instrutores surdos e professores de Libras. Segundo Erick, foi necessário observar o ambiente, as características e o contexto dele.

O sinal para o município de Uiramutã, por exemplo, reproduz uma cachoeira. Localizada na tríplice fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana, Uiramutã é a cidade proporcionalmente mais indígena do país e possui mais de 80 cachoeiras ainda inexploradas.

Leia também: Conheça Uiramutã, o município com maior proporção de indígenas do país

Portal do Milênio, um dos pontos turísticos de Roraima, em Libras
Foto: Reprodução/Guia de Sinais regionais em Libras para Estado de Roraima

Já o Monte Roraima é representado com um gesto que simula o formato plano do topo da montanha. Situado na fronteira entre o Brasil, Venezuela e Guiana, o Roraima é a maior montanha plana do mundo.

O local faz parte de um conjunto de montanhas chamadas tepuis, formações em forma de mesa que parecem levantar do solo. Essas montanhas estão entre as mais antigas formações geológicas do planeta.

O sinal do Portal do Milênio em Libras reproduz o formato do arco que marca o monumento, um dos principais cartões-postais de Boa Vista. Localizado na Praça das Águas, no Centro da capital, o portal foi construído no ano 2000 para simbolizar a chegada do século 21.

“A criação parte da visita in loco a alguns locais. Em outros casos, o trabalho acontece a partir da observação do contexto e das características do ambiente. A gente lida com a pedagogia visual, então eles [participantes] observam elementos específicos do lugar e, a partir disso, constroem o sinal. É um estudo aprofundado, que exige atenção não só dos professores de Libras, mas também dos instrutores e a comunidade surda envolvida”, explicou Erick.

Segundo o professor, os sinais precisam ser criados exclusivamente por pessoas surdas, que conhecem a cultura e têm vivência para representar os significados. “Porque são eles que vão entrar nessa questão do contexto, da visita, e verificar qual a melhor forma de criar o sinal”, disse.

Libras: fortalecimento da inclusão

O principal objetivo do guia é levar informação tanto para a comunidade surda quanto para ouvintes. A ideia é fortalecer a inclusão, promovendo o empoderamento das pessoas surdas e incentivando a empatia da sociedade.

Segundo Erick Fabiano, em muitos casos, pessoas surdas não são bem atendidas em locais públicos ou sequer recebem atendimento por falta de um intérprete de Libras, profissional considerado fundamental.

“A comunidade surda, por mais que ela conheça, porque tem a questão da pedagogia visual, é interessante ela chegar e estar lá sinalizado que ali é a Orla Taumanan, para ela compreender que, se ela for no Lago Caracaranã, ela chega lá e tem uma placa de sinalização com o lago, quer dizer, importante porque ela se sente valorizada. Ela se sente fazendo parte daquela sociedade porque ela vê que aquela sociedade está acolhendo e inserindo ela”, explicou ele.

Eduardo Rangel e Carlos Nattrodt, instrutores surdos; Neíres Vidal e Erick Chagas, professores — colaboradores do Guia de Sinais Regionais em Libras de Roraima. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

O guia está disponível de forma gratuita e online. Ele pode ser acessado pelos perfis do CAS Roraima e da Secretaria de Estado de Educação e Desporto (Seed) no Instagram. Ou baixe AQUI.

Além do acesso online, ele deve ser distribuído em escolas e instituições. O material foi desenvolvido pelo Centro Estadual de Atendimento às Pessoas com Surdez, em parceria com a Secretaria de Educação, instrutores e professores.

Uma segunda versão do guia de sinais regionais em Libras de Roraima está em fase de planejamento. Ela deve incluir sinais de novos pontos turísticos, órgãos públicos, escolas e igrejas. Ainda não há data definida para o lançamento.

*Por Yara Ramalho e João Gabriel Leitão, da Rede Amazônica RR

Maior exercício militar do Brasil faz demonstração com tanques, aviões e armas em Roraima

0

Exercício na Operação Atlas em Boa Vista. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR

Exército e a Força Aérea Brasileira realizaram, no dia 3 de outubro, uma demonstração conjunta em Boa Vista, dentro da Operação Atlas 2025 — considerada o maior exercício militar já realizado no Brasil. A atividade reuniu tropas, veículos blindados, tanques, armas e aviões para mostrar a capacidade de resposta das Forças Armadas na proteção da Amazônia, região estratégica para o país.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

O evento aconteceu na Base Aérea de Boa Vista e contou com a presença do ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho; o general Tomás Paiva, comandante do Exército; o comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) o Tenente-Brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno e o comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen.

demonstração com tanques, aviões e armas em Roraima
Exercício reúne militares para proteger a Amazônia, em Boa Vista, Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR

Durante o evento, Mucio afirmou que o treinamento não está ligado a conflitos externos, mas à preparação permanente do Brasil para defender o próprio território “Você vai para a academia todo dia, fazer ginástica, para quê? Não é para brigar com alguém, é para estar preparado. É isso que estamos fazendo aqui. Não temos nenhuma querela com vizinhos, o Brasil é um país pacífico, mas precisamos treinar para um jogo que não desejamos disputar”, disse.

Múcio destacou ainda que a Amazônia enfrenta “muitas guerras” internas, como a invasão de terras, o garimpo ilegal e a grilagem, problemas que exigem atuação permanente do Estado “Essas operações também servem para mostrar que estamos prontos para defender o país contra tudo que fizer mal à Amazônia e ao Brasil”, afirmou.

Militares fazem demonstração de ataque por terra, em Boa Vista, Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR

A Operação Atlas reúne cerca de 10 mil militares da Marinha, Exército e Aeronáutica em ações coordenadas em Roraima, Amazonas, Pará e Amapá. Um dos destaques é a utilização do Sistema Astros, de artilharia de foguetes e mísseis, além de simulações em rios, áreas terrestres e no espaço aéreo.

Segundo o Ministério da Defesa, o objetivo é garantir a interoperabilidade entre as Forças, ou seja, a capacidade de atuar de forma integrada “Esse é o grande feito da Atlas: todas as forças trabalhando de maneira afinada para servir ao país”, disse o ministro.

Veja fotos da demonstração

As ações seguem até o dia 9 de outubro, quando será realizado, em Bonfim (RR), um exercício de tiro real.

Militares fazem demonstração de poder bélico em Boa Vista. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
Tanques de guerra são usados em demonstração da Operação Atlas, em Boa Vista. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
Militares fazem demonstração de poder bélico em Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR

Operação Atlas 2025

Cerca de 10 mil militares participam da Operação Atlas 2025, maior exercício militar do Brasil, realizado em Roraima. O treinamento, que vai até 9 de outubro, tem como objetivo reforçar a atuação das Forças Armadas na Amazônia, considerada uma região estratégica para o país.

A operação começou em junho, com a fase de deslocamento de tropas para o extremo Norte do país. A segunda etapa começou em agosto, com uma simulação em Manaus (AM), e entra na fase principal em Boa Vista.

Tropas e equipamentos de diferentes regiões do país estão sendo enviados para a capital de Roraima, onde serão realizados o Apronto Operacional, que avalia a prontidão e operacionalidade militar, e a Simulação Viva.

Um dos destaques da operação é o uso do Sistema Astros, artilharia de mísseis e foguetes com alta tecnologia agregada. O treinamento envolve ações em terra, rios, mar e espaço aéreo, com o uso de meios terrestres, aéreos e fluviais.

De acordo com o Ministério da Defesa, que coordena o exercício militar conjunto, o objetivo é melhorar a integração entre Marinha, Exército e Aeronáutica, garantindo que atuem de forma coordenada e eficiente.

*Por Caíque Rodrigues, da Rede Amazônica RR

Quinta do Mestre e o ato sagrado de contar histórias

0

Quinta do Mestre e da Sereia, em Alter do Chão, no Pará. Foto: Rony Aires para a Prefeitura Municipal de Santarém

Por Jan Santos – jan.fne@gmail.com

Com a passagem do Sairé de 2025, lembrei de minha própria viagem a Alter do Chão, uma vila vizinha ao município de Santarém (PA), terra indígena borari, a quem não estiver familiarizado. Acontece que eu ouvi muito sobre o lugar, considerado por muitos um paraíso no coração do Norte brasileiro.

Acontece que Alter não é um Éden, mas um território encantado.

Não uso encantado como um adjetivo, mas o aproximo do terreno da encantaria, uma cosmovisão que aproxima as potências da natureza do ser humano, suspendendo a noção de que somos superiores a qualquer forma de vida. Tudo tem potência, da planta sob nossos pés até as criaturas da floresta: a compreensão do que é “humano” é mais vasta, mais ampla, e abrange muito mais do que pessoas.

Nesse sentido, tudo é feito da mesma matéria, e sendo feitos da mesma matéria, tudo é compartilhado em um único organismo que permite intercâmbios entre os elementos que o compõem, inclusive entre suas formas.

Não há muito o que amarrar em palavras.

Andar pela orla de Alter é perceber-se um filho pródigo, alguém distante que esqueceu do solo que o pariu, e que, de alguma forma, busca voltar, seja num banho de rio, seja na comunhão com a terra por meio de um tacacá ou, como experimentei, de um jeito encantado de contar histórias. 

Às margens do rio, sereias existem, e mesmo quem nelas não acredite, sabe ali que são reais.

Não acredito em ninguém que encare as águas escuras de um rio nortista e não sinta que, se encarar fixamente, não sinta nada olhando de volta.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

Não acredito que estejamos tão consumidos pelo mundo capitalista que não haja em nós espaço para o mistério, especialmente para os filhos e filhas do Norte, cujo cordão umbilical não se corta.

As luzes da racionalidade, em algum momento, precisam se apagar para que a noite mostre que o universo é grande demais para nossas mentes tão pequenas.

A noite ensina humildade, nos lembra que não há diferentes do peixe charutinho que comemos ou da terra que nos come.

Em uma noite muito específica, essa lição é dada.

Falo da Quinta do Mestre e da Sereia, um momento semanal nas ruas de Alter que reúne turistas, locais, artistas, adultos, crianças e encantados em uma noite sagrada, onde uma história encantada é contada. É uma cerimônia de preservação do carimbó, ritmo paraense ecoado pelos Mestres dessa sonoridade e pelas Sereias que, com pés bem humanos e saias rodadas multicoloridas, levantam a poeira que mistura, em meio às canções, a terra e o ar. Não à toa, o carimbó é patrimônio cultural e artístico imaterial do estado do Pará, celebrado pela união desses contadores de histórias que juntos, mantêm viva a memória de um cortejo ancestral.

quinta do mestre
Quinta do Mestre e da Sereia, em Alter do Chão, no Pará. Foto: Rony Aires para a Prefeitura Municipal de Santarém

Não sou do time que acredita que Literatura é a arte da escrita. Acredito que é a arte da Palavra, e do contar de histórias que, organizadas em sentenças e proclamadas com o coração, se transformam em um outro tipo de experiência.

Ou, como senti ali, em encantaria.

Trata-se de uma festa, a primeira forma de ritual, em que o carimbó dá o ritmo ao passar das horas. Enquanto escrevo isso, percebo que nenhuma frase posta aqui faz jus ao momento, pois é uma daquelas situações em que o tempo e razão não pautam uma linguagem coerente, porque não é um momento para coerência.

É uma linguagem do corpo, uma experiência para se viver no momento presente, não para ser resgatada em crônica diretamente do passado. Eu tento, mas com a certeza de que vou falhar.

Leia também: A literatura amazônida ainda não existe

O carimbó transforma o corpo em água, num gingado quase instintivo que a prática com certeza refina em técnica. Mas a Quinta do Mestre não é sobre técnica, é um convite aos presentes partilharem do que aquela terra oferece. Não uso “oferecer” como uma espécie de produto, mas como um momento de contato com uma percussão terrosa, uma sonoridade aérea, e canções que fazem arder o coração.

Todos ali dançam, todos ali suam, e por um breve momento, o fim do mundo parece um conto distante.

É uma história de corpo e música, que, por meio de canções tradicionais de Carimbó, reencenam o encontro dos Mestres da música com suas Sereias, encarnadas em cada pessoa com coragem o bastante para vestir uma das saias multicoloridas e descalçar os pés.

O compasso dos passos cria sua própria música, não juntando o sagrado e o profano em um único momento, o que seria cristão demais. O que temos ali é a prova de que o profano é o próprio sagrado, reprimido por tanto tempo que esquece que é também um parágrafo de uma história maior, uma que todos ali se juntam para contar.

As Sereias dançam, como se recém-saídas da própria água, e o instrumento dos Mestres convocam os Botos, que com elas desenham círculos no ar. Quem é Boto e quem é gente?

A resposta é bem simples: não importa.

Quinta do Mestre e da Sereia, em Alter do Chão, no Pará. Foto: Rony Aires para a Prefeitura Municipal de Santarém

Ali, uma história não é só contada, mas é vivida no encontro da canção com a dança, da narrativa com a noite. À beira do encontro do rio Tapajós com o lago Verde, tudo se encontra, tudo se perde. Tudo se acha.

Eis o que para mim configura um mistério sagrado: ele não é feito para ser racionalizado, e escrever é também botar ordem.

Não é meu desejo ordenar nada, pois no início dos tempos, tudo era uma coisa só. Carne da mesma carne, água da mesma água, uma palavra contida em outra, pois eram a mesma.

Como nenhuma cerimônia dispensa de benção, um banho de cheiro é aspergido entre os presentes, selando o encontro com a terra enquanto a atmosfera é temperada por aquilo que dedos tão cuidadosamente maceraram. É o cheiro da terra, e, depois, é de todos os que tomaram parte na festa sagrada.

Conforme a noite morre e a lua se resguarda na água, o encanto perdura, esperando a próxima quinta-feira para ser reencenado.

Passeando pela orla, vendo as efígies de muiraquitã que se estendem de uma ponta a outra, me perguntei se não é esse ritual que sustenta os pilares do lugar, que mantém as forças da razão e do tempo tão distantes, que mantém a encantaria viva.

Alter é uma terra indígena, e a Quinta do Mestre é uma celebração que nos lembra o quão desnecessária é a religião (provavelmente do latim, religar) se nunca nos separarmos da terra.

Ali, toda quinta-feira é recontada uma história sagrada. Mal posso esperar para ouvi-la de novo.

Sobre o autor

Jan Santos é autor de contos e novelas, especialmente do gênero Fantasia. Mestre em Literatura pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e com graduações em Língua Portuguesa e Inglesa, é um dos membros fundadores do Coletivo Visagem de Escritores e Ilustradores de Fantasia e Ficção Científica, além de vencedor de duas edições dos prêmios Manaus de Conexões Culturais (2017-2019) e Edital Thiago de Mello (2022).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista