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Com 391 etnias e 295 línguas indígenas, saiba quais possuem maior abrangência na Amazônia Legal

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Cena do filme sobre crença da etnia Tikúna, ‘Yo’ í e I’pi‘. Foto: Divulgação/Rejicars

Dados do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram a existência de 391 etnias, povos ou grupos indígenas no Brasil. Do total da população indígena em 2022 (1.694.836 pessoas), 74,51% declararam etnia, sendo as etnias mais populosas Tikúna (74.061), Kokama (64.327) e Makuxí (53.446). No Censo de 2010, havia um total de 896.917 indígenas e 305 diferentes etnias.

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Já com relação aos idiomas, o Censo identificou 295 línguas indígenas, com 474.856 falantes de dois anos ou mais de idade. As três línguas com maior número de falantes são: Tikúna (51.978), Guarani Kaiowá (38.658) e Guajajara (29.212), mas a pesquisa captou línguas faladas por grupos menores e até por uma única pessoa. Em 2010, foram identificadas 274 línguas entre os indígenas de cinco anos ou mais.

As informações fazem parte do Censo Demográfico 2022: Etnias e línguas indígenas – Principais características sociodemográficas – Resultados do universo.

Os dados podem ser acessados no portal do IBGE e em plataformas como o SIDRA, o Panorama do Censo e a Plataforma Geográfica Interativa (PGI). Veja o resumo dos dados AQUI.

Marta Antunes, gerente de Povos e Comunidades Tradicionais e Grupos Populacionais Específicos do IBGE, salienta que a importância desta divulgação reside no retrato da diversidade da população indígena no país. “O Brasil, quando você olha para outros países da América Latina, tem essa diversidade étnica e linguística. Esse quantitativo expressivo de etnias, esse quantitativo expressivo de línguas faladas”, comenta.

“Ao mesmo tempo, a gente teve esse grande aumento da população indígena entre 2010 e 2022, de quase 90%. Então, havia muita curiosidade: quem são esses indígenas?”.

Quantidade de etnias registradas nos Estados da Amazônia Legal

EstadoNúmero de etnias
Amazonas259
Pará222
Mato Grosso195
Rondônia180
Maranhão 122
Roraima117
Tocantins109
Acre80
Amapá52 (único que apresentou redução; antes eram 55)

Leia também: Amazonas e Roraima se destacam com maiores índices de população indígena

10 principais etnias presentes na Amazônia Legal (mais populosas)

  1. Tikuna (AM + Colômbia e Peru): 74.061 pessoas
  2. Kokama (AM + Colômbia e Peru): 64.327 pessoas
  3. Makuxi (RR + Guiana e Venezuela): 53.446 pessoas
  4. Terena (MT): 44.667 pessoas
  5. Guajajara (MA): 38.244 pessoas
  6. Mura (AM): 36.347 pessoas
  7. Baré (AM + Venezuela): 35.218 pessoas
  8. Munduruku (AM, PA): 32.896 pessoas
  9. Sateré-Mawé (AM): 28.774 pessoas
  10. Xavante (MT): 25.360

A etnia Tikúna tinha o maior quantitativo de indígenas, com 74.061 pessoas, seguida pela etnia Kokama, com 64.327 pessoas, e a Makuxí, com 53.446 pessoas. Por outro lado, 21 etnias, povos ou grupos indígenas apresentaram menos de 15 pessoas.

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Os Kokama são um dos principais exemplos de amplo crescimento de seu quantitativo entre 2010 e 2022. Os aperfeiçoamentos metodológicos do Censo 2022 e os processos de reafirmação identitária nos últimos anos tornaram os Kokama a segunda etnia mais populosa registrada no levantamento.

Segundo Fernando Damasco, “habitantes do rio Amazonas, no lado peruano, e no rio Solimões, no lado brasileiro, os Kokama estão localizados principalmente fora de Terras Indígenas reconhecidas e em áreas urbanas. Além disso, têm um histórico de migração nas últimas décadas, principalmente proveniente do Peru. Nos últimos anos, fortaleceram suas formas de organização comunitária, com reinvindicações pelo acesso a direitos fundamentais. Com essa mobilização e as melhorias que efetuamos no levantamento, o retrato desse grupo no Brasil foi aperfeiçoado, reafirmação étnica, somado à migração e à melhoria da captação nas cidades”.

Analisando as 29 etnias mais populosas (com mais de 10 mil pessoas), o maior percentual de pessoas residindo em Terra Indígena é da etnia Yanomami/Yanomán, com 94,34% de sua população nesta situação, seguida da Guajajara, com 80,28% e da Xavante, com 79,5%. A etnia com menor percentual vivendo em Terra Indígena é a Pankará, com apenas 0,13%.

Línguas indígenas mais faladas na Amazônia Legal

  1. Tikúna (AM + Colômbia e Peru)
  2. Guajajara (MA)
  3. Xavante (MT)
  4. Yanomami (AM, RR + Venezuela)
  5. Sateré-Mawé (AM)
  6. Nheengatu (Língua geral)
  7. Munduruku (AM, PA)
  8. Tukano (AM + Colômbia e Venezuela)

Os resultados do Censo mostram também o aumento do número de línguas indígenas faladas ou utilizadas no domicílio por pessoas indígenas de dois anos ou mais. Em 2010, eram 274 e, em 2022, 295 línguas. As quatro línguas com maior número de falantes são: Tikúna (51.978); Guarani Kaiowá (38.658); Guajajara (29.212); e Kaingang (27.482).

terra indígena da etnia yanomami
Terra Indígena Yanomami. Foto: Leonardo Prado/PGR

Entre 2010 e 2022, dentro das Terras Indígenas, houve um aumento de falantes de língua indígena entre as pessoas indígenas de cinco anos ou mais, passando de 293.853 para 433.980 falantes. Contudo, percentualmente, ocorreu uma redução entre 2010 (37,35%) e 2022 (28,51%).

“O avanço do português nas Terras Indígenas é um destaque dos resultados desse Censo. O principal fator é certamente a necessidade crescente de uso do português em necessidades da vida social, como estudo e trabalho, muitas vezes com deslocamento para áreas urbanas, ou com avanço da urbanização sobre as Terras Indígenas”, aponta.

“A ausência de políticas educacionais específicas que garantam o ensino em línguas indígenas contribui decisivamente para esse cenário. Fatores históricos são relevantes, pois em muitas situações, por racismo e discriminação, os indígenas foram obrigados a deixar de utilizar as suas línguas no cotidiano e em espaços públicos, substituindo-as pelo português, o que impacta também o uso no domicílio. Apesar disso, esse Censo revelou também que, apesar da ampliação do uso do português, houve crescimento de falantes de línguas indígenas, seja por razões demográficas, seja pelo fortalecimento do uso das línguas pelos indígenas, por meio de ações de revitalização e de fomento da educação bilíngue”, completa Fernando Damasco.

O Censo permitiu a declaração de até três línguas indígenas por pessoa, revelando regiões com forte multilinguismo, como o Alto Rio Negro, o Norte do Pará e o Parque do Xingu. A análise etária mostra que os falantes exclusivos de línguas indígenas são majoritariamente jovens, o que pode indicar potencial de continuidade.

Cultura Tikúna

Selecionado pelo Museu do índio (MI) pela Chamada de Projetos Culturais 2019 e fruto do projeto Ngē’tüügücü, o filme Yo’ í e I’pi, lançado em 2020, conta a história do nascimento de Yo’í e Ipi, heróis do Povo Ticuna.

Yo’í é quem pesca o povo Ticuna de dentro das águas do igarapé do Évare, mas o filme conta uma parte anterior da história em que surpreendentemente Yo’í , Ipi, Aicuna e Mowatcha nascem do joelho de Ngutapa.

O enredo teve seu roteiro construído a partir de entrevistas com os mais velhos. A realização do filme ajuda a fortalecer da cultura da etnia. A iniciativa foi realizada pela Rede de Jovens Indígenas Comunicadores do Alto Rio Solimões (Rejicars) e filmada durante a Oficina de Audiovisual na comunidade Umariaçu II, no Amazonas.

*Com informações do IBGE, ISA e Museu do Índio

Manaus 356 anos: sete lugares para visitar no Centro Histórico à pé

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Nos últimos anos, o Centro Histórico de Manaus (AM), especialmente a área próxima ao Porto, tem passado por um processo de revitalização. Muito mais do que a modernização, o reconhecimento da cultura manauara tem ganhado destaque, principalmente nas redes sociais.

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Quem já conhece o comércio local, as ações culturais, agora também pode observar a história da cidade com mais atenção. Andar pela região se torna uma nova forma de reconhecer – ou conhecer – uma parte da história de Manaus, que completa 356 anos em 2025, neste 24 de outubro.

Assim, que tal aproveitar para passear por alguns locais do Centro Histórico que revelam um novo lado do coração popular da cidade?

1. Casarão da Inovação Cassina de Manaus

O passeio começa na Rua Bernardo Ramos. Para quem chega, a primeira opção é, de cara, conhecer a Casa de Inovação Cassina, o primeiro marco do Polo Digital de Manaus e centro de tecnologia e criatividade no Brasil. Com 1.586 m² e quatro andares, o espaço conta com salas de reuniões, laboratórios, áreas multifuncionais e um café com vista para o Rio Negro.

O edifício, construído em 1896 e em ruínas desde 1960, teve suas fachadas restauradas para preservar a estética original e a técnica construtiva com gesso pigmentado de arenito vermelho, única na cidade.

O projeto arquitetônico, assinado pelo belga Laurent Troost, transformou o casarão histórico em um ambiente de coworking. A obra venceu o Prêmio Oscar Niemeyer de Arquitetura Latino-Americana 2022 e simboliza os ciclos econômicos de Manaus, da era da borracha à economia digital atual.

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Manaus Histórica
Casarão da Inovação Cassina. Foto: Reprodução/Prefeitura de Manaus

2. Praça Dom Pedro II

Ao sair do Casarão, já se depara com a Praça Dom Pedro II, que foi construída por volta de 1852 e já teve diversos nomes, como Largo do Pelourinho, Largo do Quartel e Praça da República. Durante o início do século XX, era considerada a principal praça da cidade, destacando-se por seu coreto em estilo Belle Époque e um chafariz de ferro fundido e bronze.

O local também abriga o Paço da Liberdade, cuja construção iniciou em 1874 e foi concluída entre 1876 e 1878. Tombado como Patrimônio Histórico Municipal em 1956, o edifício passou a ter proteção especial do Conselho Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico do Amazonas (CEDPHA) em 1980.

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Praça Dom Pedro II. Foto: Ingrid Anne /Manauscult

3. Palácio Rio Branco

Atravessando a praça, logo mais a frente, é possível conhecer o Palácio Rio Branco, ou Centro Cultural Palácio Rio Branco, que foi construído entre os anos de 1905 e 1938. Em estilo eclético, foi projetado com a finalidade de abrigar a Chefatura da Polícia, porém nunca serviu a este fim.

Após a conclusão da obra, foi sede da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, que ali instalou sua sede somente 34 anos depois, na década de 1970.

Em 2000, o Poder Legislativo, através de comodato, cedeu o edifício ao Governo do Estado para a criação de um Centro Cultural voltado aos estudos da história política do Amazonas. O Palácio mantém ainda o Gabinete do Presidente da Assembleia Legislativa. Localiza-se na Praça Dom Pedro II.

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Palácio Rio Branco. Foto: Mario Oliveira/Divulgação

4. Paço Municipal

Seguindo o passeio, a próxima parada é no Paço Municipal, também conhecido como Paço de Liberdade. O prédio já foi sede do governo do Amazonas, residência oficial dos presidentes provinciais e dos governadores e, em 1917, passou a ser sede da Prefeitura.

Hoje, abriga o Museu da Cidade de Manaus, inaugurado em 24 de outubro de 2018, com oito salas de visitação que retratam a vida cotidiana, a identidade e a cultura de gerações passadas. O paço data de 1871, quando foi lançada a pedra fundamental.

Leia também: De volta ao passado: Museu de Manaus resgata história da capital Amazonense

Paço Municipal. Foto: Reprodução/Prefeitura de Manaus

5. Centro Cultural Óscar Ramos

Voltando a seguir caminho pela Rua Bernardo Ramos, a próxima pausa é no Centro Cultural Óscar Ramos. O espaço fica nas casas 69 e 77, que figuram entre as residenciais mais antigas da cidade. 

O Centro é uma homenagem ao artista amazonense Óscar Ramos, com exposição permanente: pinturas, escritos, figurinos, produções, desenhos de moda do artista e objetos pessoais, como mobílias e capas de LPs.  O local funciona de terça a domingo, das 9h às 17h, com entrada gratuita (verificar disponibilidade).

Centro Cultural Óscar Ramos. Foto: Reprodução/Prefeitura de Manaus

6. Mirante Lúcia Almeida

Seguindo mais um pouco, encontra-se o mirante Lúcia Almeida, que foi inaugurado em outubro de 2024. O local atrai turistas que buscam conhecer parte da orla de Manaus com vista para o rio Negro e conta com o primeiro skyglass de uso público: são quase 40 metros quadrados de piso, somando oito peças de vidro laminado translúcido de 43 milímetros na varanda principal.

Em funcionamento das 7h à 0h, para as operações comerciais, o espaço recebe shows, mostras, exposições e atividades voltadas ao público desde infantil até terceira idade.

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Mirante Lúcia Almeida. Foto: Reprodução/Prefeitura de Manaus

7. Píer Turístico Manaus 355

O fim da jornada para quem vem à pé do Centro de Manaus é o Píer Turístico Manaus 355, que está integrado ao Mirante Lúcia Almeida através de um atracadouro flutuante de 12m por 80m e três pontes de ligação, oferecendo uma experiência diferente para visitantes e operadores do setor turístico.

Operações turísticas (sob consulta) chegam e partem do píer, que funciona durante o ano todo, na cheia ou na seca. Ele é um ponto de partida e de chegadas para diversas experiências amazônicas. Podendo ser, inclusive, o início da jornada inversa desse passeio por parte do Centro Histórico de Manaus, para quem chega em alguma embarcação na cidade.

Leia também: Píer turístico ‘Manaus 355’: atrativo ganhou nome em alusão ao aniversário da cidade

Píer Manaus 355. Foto: Reprodução/Prefeitura de Manaus

Racing Club Amazonense: o primeiro time amador de futebol de Manaus

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Ilustração do Racing Club Amazonense, o primeiro time de futebol amador de Manaus. Arte: Lúcio Izel

Considerado o esporte mais popular do mundo, o futebol surgiu no século XIX através dos ingleses, que criaram as primeiras regras dessa prática esportiva e espalharam a modalidade por todo o planeta. No Brasil não foi diferente, com a chegada do inglês Charles Miller com a bola em 1894 no país. Mas você sabia que o primeiro time de futebol do Amazonas foi fundado em Manaus por um maranhense?

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Em comemoração ao aniversário de 356 anos de Manaus, o Portal Amazônia conversou com o historiador Gaspar Vieira Neto, que detalhou a história do Racing Club Amazonense, o primeiro time de futebol da cidade, criado em 1906 e responsável pela popularização e início da aceitação do esporte no Amazonas.

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Segundo Gaspar, o idealizador da primeira agremiação esportiva em Manaus foi José Conduru Pacheco, jovem maranhense que residia na cidade e que conheceu o futebol em Belém, no Pará. Lá, ele se encantou pelo esporte e voltou à capital amazonense disposto a consolidar aquela modalidade no estado, que naquela época tinha o ciclismo e turfe (corridas de cavalo) como as principais práticas de lazer existentes.

E quem foi José Conduru?

Membro de uma tradicional família do Maranhão, José Conduru Pacheco era um jovem profissional bem sucedido, cuja família tinha ramificações em Manaus e também no Pará. Segundo as pesquisas de Gaspar, o maranhense aproveitou uma viagem de navio e chegou em Belém, onde conheceu o futebol, modalidade até então desconhecida por ele, mas uma verdadeira paixão entre os belenenses.

“Conduru passou a apreciar os jogos entre os times de Belém, que já eram em bom número, e se deixou contagiar pela vibração do público e das partidas, se apaixonando por aquele esporte. Ele resolveu voltar para Manaus e assim que desembarcou na capital amazonense, decidiu fazer algo inédito até então: fundar um clube de futebol na cidade”, afirma o historiador.

Leia também: Primeira partida de futebol do Brasil aconteceu na Amazônia; descubra onde

O futebol no Amazonas

Gaspar conta que, em 1906, o futebol já era praticado no Amazonas pelos ingleses há pelo menos três anos, na extinta praça Floriano Peixoto, no bairro Cachoeirinha. No entanto, o esporte era desconhecido por grande parte dos amazonenses.

“Em 1903, os ingleses costumavam, aos finais de tarde, realizar seus jogos na Praça Floriano Peixoto, no bairro da Cachoeirinha. Eles formavam seus times provisórios e começavam suas disputas, sob os olhares curiosos dos nativos, vendo aqueles britânicos se esbaldarem em busca de uma bola de couro, entre chutes e cabeçadas.
Porém, os ingleses não se mostravam dispostos a divulgar o futebol para os manauaras e só aceitavam membros de sua nacionalidade a jogarem as partidas”, relata o historiador.

Naquela época, segundo o historiador, o futebol já era uma das modalidades preferidas no Rio de Janeiro e São Paulo, as duas principais cidades do país, e também na Bahia. Na região Norte, o futebol já era praticado em Belém do Pará, com registros de sua prática datados no ano de 1896.

A primeira reunião

Encantado pelo futebol, José Conduru desembarcou em Manaus e convidou um grupo de amigos para uma reunião, que aconteceu no bar Itatiaya, que ficava situado entre as ruas Municipal (atual Avenida 7 de Setembro) e Marechal Deodoro.

Lá, o maranhense anunciou a intenção de fundar um clube dedicado ao futebol, ideia que teria sido recebida com muito entusiasmo pelos presentes no local.

Leia Mais: Você sabia que o primeiro time indígena de futebol do Brasil é paraense?

À direita, Bar Itatiaya, local onde foi fundado o Racing Club Amazonense. Cartão postal datado de 1918.

“Todos os demais se agradaram da brilhante ideia, e após a palestra de alguns rapazes, um deles, provavelmente Conduru, disse: o futebol traz o melhor dos benefícios salutares a qualquer cidadão. Precisamos da união que nos liga, fundar um clube nesse gênero e mantê-lo com o ríspido da nossa força de vontade”, conta Gaspar.

Após este discurso, segundo o pesquisador, todos os presentes concordaram com a proposta de Conduru, formando assim, naquele dia 13 de maio de 1906, o Racing Club Amazonense. O nome do time teria sido motivado pelo Racing Club de Paris, clube de futebol da França que era um dos principais da Europa.

Uniforme do Racing Club Amazonense. Arte: Sérgio Mello

Formação do clube

No dia 14 de maio, a Praça de São Sebastião foi o local escolhido para o anúncio do primeiro clube de futebol do Amazonas. Em frente ao Teatro Amazonas, Conduru e amigos começaram a discursar sobre a importância dos esportes na vida das pessoas e a introdução do futebol. Com a participação de 16 sócios, foi instalada ali a primeira agremiação daquele esporte no estado, onde, na ocasião, ocorreu também a “primeira” partida do time.

“Um dos sócios, ao ver uma barraca de vendas, umas bolinhas do jogo de crianças chamado pim-pam-pum, se apossou de uma delas e passou, junto com os sócios, a jogar futebol na praça durante horas. Aquilo causou risadas e curiosidades de quem assistia. Pode-se dizer que esta atividade foi o primeiro bate-bola não oficial do Racing”, pontua Gaspar.

Após aquela “pelada”, os sócios marcaram para o dia seguinte um novo encontro, agora para a escolha das cores do uniforme e a eleição de sua primeira diretoria. Numa reunião intensa, realizada na casa de Deodoro Freire, os sócios definiram o preto e branco como as cores do time, com o uniforme constituído de camisa branca com listras verticais pretas e calção branco. Votaram, também, pela organização estrutural do clube e a posição dos membros na equipe.

Primeiras dificuldades

Já fundado, o clube começou enfrentou as suas primeiras dificuldades como a ausência de uma sede, equipamentos e o principal objeto do futebol: a bola. Como Manaus não possuía estabelecimentos comerciais com esses apetrechos, Gaspar revela que José Conduru usou da sua estabilidade financeira para comprar os materiais diretamente do continente europeu.

“Conduru tirou dinheiro do próprio bolso para encomendar várias bolas da Europa, assim como outros utensílios. Em pouco tempo, um navio aportou na cidade com os materiais pedidos, fazendo a alegria dos membros do Racing”, frisa.

Já com a “pelota”, os jogadores começaram a treinar na praça Floriano Peixoto, que ficava no então bairro Cachoeirinha, entre as avenidas Canaçari (atual Carvalho Leal) e as ruas Borba e Canutama (atual Santa Isabel). Atualmente, no local da praça, hoje existe o Hospital Geral do Exército de Manaus – HGeM.

Local da extinta praça Floriano Peixoto, no bairro Cachoeirinha. Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

O local, segundo Gaspar, acabou se tornando a sede provisória do Racing Club. Inicialmente, os treinos aconteciam entre os próprios membros do clube (titulares e reservas) e posteriormente contra times provisórios de ingleses. Em 1909, o clube enviou uma petição à prefeitura solicitando o direito permanente do logradouro e recebeu parecer favorável, transformando a praça Floriano Peixoto em sede definitiva.

“A primeira sede social do clube foi instalada na residência de número 16 da Vila Georgette, na rua Henrique Martins, e depois se mudou para a casa dos irmãos Armando e Alcebíades Antongini, na rua Saldanha Marinho, número 62. A partir de 1909 o clube passou a contar com uma sede de campo, no entorno da Praça Floriano Peixoto”, relembra o historiador.

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Confrontos

Em 18 de abril de 1907, um cidadão chamado Luiz Paulino fundou outro pioneiro clube do futebol amazonense: o Sport Football Manaós. Com sede numa casa na rua 24 de Maio, o time foi o responsável, junto com o Racing, pelo primeiro confronto entre clubes distintos de futebol local. A partida, anunciada com pompa pela imprensa, aconteceu em 16 de junho daquele ano, na Praça Floriano Peixoto, e que terminou com vitória por 8 x 2 por um dos times.

Partida entre Racing e Sport Football Manaós, na praça Floriano Peixoto. Ao fundo, a escola Euclides da Cunha. Ilustração: Lúcio Izel

“Devido a falta de alguns jogadores, as equipes se formaram com jogadores misturados dos dois times. E foi assim que seguiram muitos outros jogos dos times, mas infelizmente o Sport Football Manaós durou apenas alguns meses e foi extinto logo depois”, conta Gaspar.

Em setembro, surgia um outro novo clube denominado Sport Club de Manaós, que deu origem à primeira rivalidade da história do futebol amazonense. Racing e o clube recém-criado duelaram pela primeira vez no dia 22 daquele mês, e a partida terminou empatada em 2 x 2.

Tal confronto foi fundamental para incluir o futebol no lazer dos amazonenses, que começaram a se sentir atraídos pelo esporte – aceitação facilitada pelo declínio do ciclismo em Manaus e a consequente extinção do Velódromo.

Consolidação

Waldemiro Carvalho e Pedro Ricevich, jogadores do Racing Club Amazonense em 1910. Foto: Reprodução do periódico esportivo ‘O Sport’
Ciclista Stoessel, fundador e atacante do Racing Club. Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente

A partir de então, o Racing começou a crescer em importância no cenário futebolístico e social de Manaus, além de incentivar, nos anos seguintes, a criação de outros clubes como o Brasil Football Club e o Manaós Athletic.

Com sede permanente e campo oficial na praça Floriano Peixoto, o clube passou a se dedicar à outras práticas esportivas como o remo, a natação e o atletismo.

O Racing foi o clube responsável também por revelar os primeiros craques da história do futebol local como o goleiro Horizonte Ramos e o atacante Alberto Balalai.

Deodoro Freire, que atendia pelo pseudônimo de Stoessel, era um dos maiores ciclistas do Amazonas e também foi fundador e jogador do Racing Club.

Extinção

Em 1912, o Racing passou por uma crise financeira que afetou os seus sócios e isso acabou culminando com o enfraquecimento do clube. Sem forças, o pioneiro e tradicional clube do futebol baré fechava as suas portas.

“O Racing foi o maior responsável em difundir, impulsionar e tirar o futebol do anonimato no Amazonas, numa época de muita dificuldade em seus primeiros anos de existência. Falta de materiais apropriados, concorrência com outras modalidades, desconhecimento do público e da imprensa, mas ele cumpriu a sua missão em popularizar e consolidar a história do futebol amazonense”, reforça Gaspar.

Quanto ao seu fundador, Gaspar conclui: “Ele voltou ao Maranhão, onde viria a falecer de causas naturais na cidade de São Bento, em 1917”.

Estudantes criam maquiagem natural inspirada na cultura indígena Wajãpi

Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

Um projeto desenvolvido por estudantes da Universidade Federal do Amapá (Unifap) uniu tradição em inovação ao criar uma linha de maquiagem natural inspirada na cultura indígena Wajãpi. A ideia é apresentada na Semana Nacional da Ciência e Tecnologia no Amapá, realizada no Sebrae, em Macapá, até dia 22 de outubro.

Leia também: Terra Indígena Wajãpi: a resistência na floresta do Amapá

Após pesquisas, o grupo conheceu o kusiwa, padrão gráfico corporal usado pelos indígenas e reconhecido como patrimônio cultural do Brasil. O símbolo inspirou os alunos a desenvolver um blush multifuncional, feito com ingredientes amazônicos.

Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

A estudante Laís Tavares, de 22 anos, encontrou na tradição regional uma fonte de inspiração para o projeto acadêmico. Ao observar como as comunidades locais utilizam ingredientes naturais, ela e os colegas decidiram incorporar esse saber popular na pesquisa.

“É muito interessante porque, para eles, é uma forma de proteção para o corpo. Então a gente acabou se inspirando nisso. A gente tem que valorizar os ingredientes da nossa região. Isso também valoriza a cultura do povo que trabalha com isso”, conta a estudante.

Estudantes criam maquiagem natural inspirada na cultura indígena Wajãpi
Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

Composição da maquiagem

O produto tem como base o urucum, corante natural típico da região, além de vitamina E e óleo de pracaxi, que possuem propriedades hidratantes, anti-inflamatórias e cicatrizantes. Segundo os estudantes, a tecnologia farmacêutica utilizada garante melhor absorção dos ativos e maior estabilidade da formulação.

“A indústria farmacêutica usa muitos produtos sintéticos, que na maioria das vezes, fazem bastante mal à pele com o tempo. Então a gente achou que seria uma oportunidade muito interessante de utilizar produtos naturais e se diferenciar no mercado, que utiliza muitos produtos de origem do petróleo”, conta.

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Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

*Por Crystofher Andrade, da Rede Amazônica AP

Comunidades indígenas na Amazônia recebem projeto para ampliar o acesso à água potável

Foto: Divulgação/SGB

O Serviço Geológico do Brasil (SGB) e o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), realizam projeto que contribuirá para ampliar o acesso à água para consumo humano em 45 comunidade indígenas do Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, na área de abrangência do Distrito Sanitário Especial Indígena – Porto Velho (DSEI/PVH). O trabalho será realizado até 2027.

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A parceria, por meio de Termo de Execução Descentralizada (TED) firmado com a SESAI, prevê a realização de levantamentos hidrogeológicos e geofísicos para identificar áreas com potencial para a perfuração de poços tubulares, garantindo fontes seguras e sustentáveis de abastecimento de água. Essa ação faz parte do Programa Nacional de Saneamento Indígena (PNSI), do Ministério da Saúde e beneficiará mais de 1,2 mil indígenas. 

A diretora-presidente do SGB, Sabrina Góis, reforça a importância dessa ação em parceria com o Ministério da Saúde: “Essa é mais uma iniciativa que mostra como o conhecimento que geramos chega diretamente até as pessoas, melhorando a qualidade de vida em todo o Brasil. Nosso papel é apoiar o governo federal com ciência de qualidade”.

Garantir o acesso à água potável por meio de poços tubulares profundos nas comunidades é essencial para o saneamento, consequentemente, saúde e qualidade de vida das populações indígenas. Entre os principais benefícios estão o fornecimento de fontes de água com soluções definitivas, a diminuição de doenças por veiculação hídrica e a redução da mortalidade infantil.

“A missão do SGB, de gerar e disseminar conhecimento geocientífico com excelência, está intimamente alinhada aos objetivos desse projeto, que busca integrar saberes e práticas para um impacto positivo nas comunidades atendidas”, ressalta a diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB, Alice Castilho.

O geólogo do Distrito Sanitário Indígena Porto Velho, Rodrigo Tokuta, reforça a importância da parceria institucional para atender as políticas de saneamento e saúde:

“Estreitar parcerias com instituições que são referência nas suas áreas, como é o caso do SGB, é muito importante para produzir resultados com maior qualidade e celeridade. Em meio às discussões de crise climática e crises hídricas, em escala regional, é essencial ter uma maior confiança nos projetos que são elaborados para ter soluções definitivas para as populações beneficiadas”.

Leia também: Praias de Manaus recebem monitoramento da qualidade da água; entenda como funciona

Estudos do projeto que já foram concluídos

Até o momento, já foram concluídas três etapas de campo do projeto – em julho, agosto e setembro -, abrangendo 18 comunidades indígenas. No Amazonas, as ações contemplaram as comunidades Taboca, Bela Vista II, Juí e Paranã-Pikahu, no município de Humaitá.

Em Mato Grosso, os trabalhos ocorreram na Rio Azul, em Rondolândia. Já em Rondônia, os levantamentos abrangeram Poção, em Guajará-Mirim; Nova, Jamari e Jamari II, em Governador Jorge Teixeira; Kassupá, Karipuna e Caracol, em Porto Velho; além de Cajuí, Figueira, Estaleiro, Poção, Murumuru e Formigueir, em Alta Floresta D’Oeste.

Ao todo, foram executados 6,8 mil metros de linhas de caminhamento elétrico. “Na Aldeia Caracol (RO), por exemplo, os resultados obtidos mostram o potencial de aplicação do método geofísico para a locação de poços tubulares, onde é possível observar uma tendência de baixos valores de resistividade a partir dos 15 metros de profundidade, indicando a presença de água subterrânea (zona saturada) adequada para locação de poços”, explica o geofísico do SGB Alexandre Lago, coordenador do projeto pela Divisão de Sensoriamento Remoto e Geofísica (DISEGE).

Levantamentos geofísicos e hidrogeológicos

Os levantamentos são realizados com técnicas avançadas de eletrorresistividade, método geofísico que permite identificar a presença de água subterrânea a partir da aquisição de dados de resistividade elétrica do solo e das rochas.

Com esse trabalho, é possível identificar áreas potenciais sem a necessidade de realizar perfurações antecipadas, o que contribui para reduzir impactos ambientais e otimizar recursos, evitando que sejam feitas perfurações em áreas com baixo potencial.

Próximos passos 

Comunidades indígenas na Amazônia recebem projeto para ampliar o acesso à água potável
Foto: Divulgação/SGB

As próximas etapas do projeto incluem levantamentos em outras aldeias até 2027, quando está prevista a conclusão do trabalho. Após as coletas em campo, os dados serão processados e analisados pelas equipes técnicas para compor relatórios técnicos de cada aldeia. Esse documento servirá de base para futuras ações de abastecimento hídrico nas comunidades.

O projeto conta com equipes formadas por hidrogeólogos, geofísicos e geólogos, das diretorias de Hidrologia e Gestão Territorial (DHT) e de Geologia e Recursos Minerais (DGM), além da Residência de Porto Velho (REPO).

*Com informações do SGB

Aleam aprova projetos que reforçam proteção infantojuvenil e valorizam a cultura

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Foto: Paulo Ferraz

A Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) aprovou, durante sessão plenária realizada no dia 21 de outubro, 11 Projetos de Lei e 2 Projetos de Resolução Legislativa de autoria do deputado estadual Cabo Maciel, do Partido Liberal. As matérias abrangem áreas como educação, esporte, cultura, inclusão social e reconhecimento público, fortalecendo o compromisso do parlamentar com o desenvolvimento humano e institucional do Amazonas.

Um dos destaques da pauta foi o Projeto de Lei nº 135 de 2025, que cria o Selo Escolar de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente, certificando escolas públicas e privadas que adotem ações efetivas de prevenção e enfrentamento ao assédio e crimes contra a dignidade sexual. A medida busca incentivar políticas permanentes de proteção e acolhimento no ambiente escolar.

“O Selo Escolar representa um passo importante na construção de uma cultura de respeito, segurança e cuidado com nossos alunos e profissionais da educação”, afirmou Cabo Maciel, que preside a Comissão de Educação da Aleam.

Leia também: Aleam aprova IPVA 50% mais barato no Amazonas a partir de 2026

Outras propostas aprovadas incluem o Projeto de Lei nº 269 de 2025, que institui o Dia do Fisiculturista, reconhecendo a modalidade como instrumento de saúde, disciplina e incentivo ao esporte; e o Projeto de Lei nº 277 de 2025, que cria o Dia Estadual do Historiador Amazonense, valorizando o papel desses profissionais na preservação da memória e da identidade cultural do estado.

No campo da inclusão social, foi aprovado o Projeto de Lei nº 617 de 2025, que declara de utilidade pública o Instituto do Autismo Tefé, reconhecendo a instituição por sua atuação no acolhimento e atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista e suas famílias no interior do Amazonas.

A sessão também foi marcada pela aprovação de seis projetos de lei que concedem o Título de Cidadão Amazonense, homenageando personalidades de destaque em diferentes áreas de atuação. Receberão o título:

  • Naia Moreira Yamamura, procuradora federal e chefe da Procuradoria da Suframa, com atuação nacional na prevenção ao assédio e na defesa da integridade institucional (Projeto de Lei nº 648 de 2025);
  • Juline Rossendy Rosa Neres, servidora pública e referência em políticas de inclusão social (Projeto de Lei nº 649 de 2025);
  • Denis Alves Pinho, líder comunitário e colaborador em ações sociais e educacionais no interior (Projeto de Lei nº 650 de 2025);
  • Manoel Átila Araripe Autran Nunes, procurador e professor, com contribuição ao fortalecimento jurídico e educacional do estado (Projeto de Lei nº 651 de 2025);
  • Clésia Franciane de Oliveira, educadora e defensora de políticas públicas voltadas à infância e juventude (Projeto de Lei nº 696 de 2025)
  • e Àudiney Oliveira Ferreira Pinto, profissional com relevante serviço à segurança pública e à cidadania amazonense (Projeto de Lei nº 731 de 2025).

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Além disso, o plenário aprovou dois projetos de resolução legislativa de autoria do parlamentar: Projeto de Resolução Legislativa nº 50 de 2025, que concede a Medalha de Mérito Jurídico ao Dr. Nicolau Libório dos Santos Filho, em reconhecimento à sua trajetória no Direito e à contribuição à Justiça amazonenses e Projeto de Resolução Legislativa nº 52 de 2025, que concede a Medalha Ruy Araújo a Kaleb Soares de Aguiar, personalidade de destaque na área da educação e cultura.

“Essas aprovações refletem o nosso compromisso com a valorização das pessoas que fazem a diferença, com a proteção das nossas crianças e com o fortalecimento de políticas públicas inclusivas no Amazonas”, destacou o deputado Cabo Maciel.

As proposições seguem agora para sanção do governador Wilson Lima ou promulgação pela Mesa Diretora da Aleam, e entrarão em vigor após publicação no Diário Oficial do Estado.

Aleam aprova IPVA 50% mais barato no Amazonas a partir de 2026

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Foto: Herick Pereira

O deputado estadual Roberto Cidade (UB), presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), comandou nesta terça-feira (21/10) a votação que aprovou a redução de 50% no valor do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). A medida, que entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2026, fará do Amazonas o Estado com o IPVA médio mais barato do Brasil.

“A aprovação da redução do IPVA é importante porque alivia o bolso do contribuinte, favorece a adimplência e, consequentemente, beneficia a economia do Estado. Com essa aprovação, o Amazonas passa a ter, a partir de janeiro de 2026, o IPVA médio mais barato do país. Essa medida contribui para melhorar a vida dos amazonenses”, destacou o presidente Roberto Cidade.

Pela nova lei, veículos acima de 1.000 cilindradas, incluindo SUVs e picapes, terão a alíquota reduzida de 4% para 2%. Já os veículos de até 1.000 cilindradas, como carros populares 1.0 e motocicletas, passarão de 3% para 1,5%.

A redução também beneficia veículos elétricos e híbridos, que terão a taxa diminuída de 3% para 1,5%. Caminhões, tratores, ônibus, micro-ônibus e veículos de transporte escolar e coletivo terão a alíquota reduzida de 2% para 1%, sendo o benefício do transporte escolar restrito aos veículos registrados no Detran-AM.

Atualmente, o Amazonas possui 775 mil veículos registrados, incluindo motocicletas. Desses, 244 mil já são contemplados pelo programa IPVA Social, que isenta motocicletas de até R$ 420. Com a nova lei, outros 531 mil contribuintes serão beneficiados com redução direta no valor do imposto.

Leia também: Saúde, consumo consciente e preservação ambiental são temas de propostas na ALEAM

Transmissão de imóveis

Além da redução do IPVA, foram aprovadas alterações no Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). A partir de 2026, heranças de até R$ 1 milhão estarão isentas do imposto, atualmente o limite é de R$ 400 mil.

As doações em vida também terão isenção ampliada: o valor passa de R$ 50 mil para R$ 150 mil por ano, por pessoa beneficiada. Além disso, imóveis de até R$ 1 milhão poderão ser doados em vida, sem cobrança de imposto, a cada cinco anos, também por pessoa beneficiada.

“Essas medidas tornam mais simples os processos de herança e doação, promovem maior equilíbrio na cobrança de tributos e aliviam o impacto financeiro para as famílias em momentos de reorganização dos bens. Estamos, com isso, protegendo o patrimônio das famílias”, afirmou Roberto Cidade.

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CNH Social

Durante a sessão plenária desta terça-feira, também foi aprovado o Projeto de Lei nº 492/2025, que amplia o público beneficiado pelo programa CNH Social.

Aleam- IPVA, CNH Social e mais
Foto: Divulgação

A iniciativa oferece gratuitamente a primeira Carteira Nacional de Habilitação (CNH) a pessoas de baixa renda, ampliando as oportunidades de inserção no mercado de trabalho e promovendo inclusão social.

Com a nova redação, passam a ser beneficiados também mototaxistas e motofretistas (10% das vagas em cada etapa); alunos egressos da rede pública de ensino, pelo programa CNH na Escola (5%); mulheres vítimas de violência doméstica e familiar (5%); e responsáveis por pessoas com deficiência física, visual, mental ou autista (10%).

Parceria investe em sementes florestais para restaurar três biomas brasileiros

Foto: Juliana Freire

A Embrapa e a startup de restauração ambiental Morfo Brasil firmaram uma parceria de pesquisa com o intuito de definir protocolos para o manejo de sementes florestais, insumo fundamental para o compromisso do Brasil de restaurar 12,5 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030.

“O estudo vai pesquisar sementes de espécies nativas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia com potencial para uso na técnica de semeadura direta voltada à recuperação de áreas degradadas. O uso racional desses recursos é essencial para acelerar a reabilitação desses três biomas”, afirma Emira Cherif, diretora científica da Morfo.

Com previsão de dois anos de duração, o estudo tem o potencial de alavancar a produção de sementes com qualidade e ganhos de produtividade. Segundo a pesquisadora Juliana Müller Freire, da Embrapa Agrobiologia (RJ), o projeto representa uma grande oportunidade para identificar lacunas de conhecimento e aprofundar a pesquisa em tecnologia de sementes de espécies florestais nativas. Isso permitirá melhorar os protocolos de germinação e conservação, aumentando a qualidade das sementes utilizadas na restauração.

A cientista revela que o principal desafio de trabalhar com sementes florestais, comparativamente às de culturas agrícolas, é a grande diversidade de espécies, e o desconhecimento em relação ao comportamento da maioria delas. Isso sem falar da dificuldade de obtenção de sementes em grande quantidade e do beneficiamento, processo trabalhoso para muitas espécies e que nem sempre conta com técnicas e equipamentos específicos. “A parceria com a Morfo será uma grande oportunidade para a Embrapa, pois teremos essas sementes limpas e coletadas, prontas para a pesquisa”, declara a pesquisadora.

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Foto: Isabelly Sedano

Como será conduzido o estudo

Para a condução das pesquisas, a Morfo enviará mensalmente à Embrapa lotes de sementes adquiridas com coletores nos três biomas, em locais em que a empresa já atua em projetos de restauração. A qualidade dos lotes será avaliada por meio de peso de mil sementes, teste de germinação, teste de pureza e determinação do teor de água. “Vamos saber, por exemplo, o percentual de germinação da semente e o quantitativo por quilo”, cita Freire.

Paralelamente, será feita a revisão bibliográfica dos estudos já existentes sobre tecnologia de sementes para cada espécie, buscando entender como conservá-las por mais tempo, as melhores formas de secagem e armazenamento, se há dormência e se há métodos para superação de dormência. A cientista ainda verificará estudos existentes sobre a melhor temperatura e substrato de germinação.

A ausência de publicações sobre diversas espécies é um dos desafios com que a equipe de pesquisa deve se deparar.

“Há espécies sobre as quais não há absolutamente nada publicado ainda”, ressalta a cientista da Embrapa ao lembrar que há algumas que já têm normas de análise definidas (substrato, temperatura e método de superação de dormência) e outras já são bem pesquisadas. “Algumas até já têm muitas publicações relacionadas, mas nenhuma que tenha conseguido resolver o problema da baixa germinação. É o caso da Zanthoxylum rhoifolium (mamica-de-porca, no nome popular)”, conta.

Ela acrescenta ainda que a grande diversidade genética das sementes também requer atenção, já que as espécies apresentam variabilidade no comportamento.

Foto: Isabelly Sedano

“Porém, isso pode ser contornado com o aumento do número amostral para análise, sempre seguindo as recomendações da Regra de Análise de Sementes (RAS) e das Instruções para Análise de Sementes de Espécies Florestais, que indicam o número mínimo de repetições para reduzir a variação”, explica.

Cherif lembra que as sementes nativas utilizadas na recuperação ambiental são coletadas diretamente na natureza e comercializadas por redes de coletores. Entre o início e o fim do processo, há a etapa de armazenamento, que precisa ser criteriosa para evitar, ou minimizar, as perdas.

“O armazenamento adequado é peça-chave para a manutenção da viabilidade das sementes por mais tempo, permitindo sua disponibilidade ao longo de todo ano”, acrescenta. Para complicar, há espécies cujas sementes não toleram secagem, são as recalcitrantes. “Nesse caso, o armazenamento se torna difícil, pois é preciso manter a alta umidade da semente e controlar os fungos”, frisa Freire.

Leia também: Estudo sobre sementes busca auxiliar restauração da Amazônia e do Cerrado

Qualidade maior permite reduzir quantidade de sementes em até cinco vezes

A escassez de sementes de qualidade é um dos principais gargalos para o Brasil atingir suas metas de restauração. É o que aponta um estudo da Universidade de Sidney, coordenado por Danilo Urzedo e publicado na revista científica Internacional Forests (leia aqui). De acordo com o documento, seriam necessárias de 3,6 mil a 15,6 mil toneladas de sementes para cobrir a área estipulada. Essa variação impressionante não se deve a um erro de cálculo, mas relaciona-se à qualidade dos lotes de sementes.

Em um cenário ideal, com sementes de alta qualidade, a necessidade seria de 3,6 mil toneladas. No entanto, se os lotes forem de baixa qualidade, a demanda pode aumentar quase cinco vezes, elevando os custos e a complexidade do reflorestamento. Ou seja, a melhoria da qualidade das sementes proporciona um efeito cascata positivo: eleva a taxa de germinação, reduz a quantidade necessária para alcançar um mesmo resultado e reduz os custos dos projetos de restauração, tornando-os mais viáveis e eficientes.

“O estudo mostra que, na técnica de semeadura direta, que demanda grande quantidade de sementes, são necessários cerca de 37 quilos de sementes de baixa qualidade por hectare, considerando a taxa de menos de 30% de germinação. Já com sementes de alta qualidade seriam suficientes apenas 17 quilos por hectare, com mais de 45% de germinação”, sintetiza Freire, evidenciando que investir nas pesquisas sobre tecnologia de sementes é essencial para o aproveitamento dos recursos e para projetos de restauração financeiramente mais viáveis.

Mas o que é uma semente de qualidade?

No laboratório, as sementes passam por um processo de avaliação da sua qualidade física e fisiológica, seguindo as Regras de Análise de Sementes, documento do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Nessa avaliação, são contabilizadas as purezas e as impurezas do lote, a presença de pragas e danos causados na semente, o percentual de germinação e a velocidade de germinação (vigor). A semente possui qualidade quando apresenta alta germinação e vigor, baixa infecção por fungos no processo de germinação e lotes com alto grau de pureza.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), a qualidade implica habilidade para produzir descendentes saudáveis adequados ao plantio. No caso das sementes florestais, Freire explica que, fisicamente, são considerados atributos como tamanho, peso, cor e teor de umidade. Fisiologicamente, é importante que as sementes germinem em quantidade e uniformidade adequadas, garantindo estabelecimento robusto. Por fim, outro fator a ser considerado é a aptidão genética: as matrizes de onde as sementes são coletadas devem ser apropriadas ao local de plantio.

O caminho da semente florestal

Frutos de Melnoxylon brauna. Foto: Nelson Barbosa

O processo de obtenção de sementes florestais para a restauração é uma complexa jornada que começa nas florestas e que envolve uma série de etapas:

  • Seleção das fontes de sementes: é importante certificar a rastreabilidade e a origem do material genético, de modo a atender ao Sistema Nacional de Sementes e Mudas, legislação que versa sobre o assunto.
  • Colheita e extração das sementes: geralmente, as sementes são extraídas a partir de frutos coletados. A escolha do método de extração depende da característica de cada planta e é crucial para preservar a integridade física, sanitária e fisiológica da semente. É fundamental colher as sementes na época certa e conhecer as necessidades de cada espécie para viabilizar a preservação da capacidade germinativa.
  • Secagem: pode ser natural, em terreiros ou lonas, ou artificial (em estufas). Trata-se de fase essencial para a viabilidade e armazenamento das sementes.
  • Beneficiamento: é a retirada de materiais indesejáveis, como sementes vazias, imaturas, pedaços de frutos e folhas, para aumentar a pureza física do lote. Para espécies nativas, o beneficiamento é frequentemente manual, utilizando peneiras de diversos tamanhos ou, em alguns casos, sopradores e mesas de gravidade.
  • Armazenamento, comercialização e plantio: o armazenamento eficiente permite a viabilidade das sementes por mais tempo, reduzindo a dependência da sazonalidade da coleta. O plantio para a produção de mudas pode ser feito em viveiro. Mas, no caso da semeadura direta, as sementes são dispersas diretamente na área a ser restaurada, o que é útil em projetos em grande escala, mas que requerem qualidade das sementes e conhecimento sobre o solo e o clima da área.  

Leia também: Declínio de animais dispersores de sementes dificulta combate às mudanças climáticas

Frutos de Melnoxylon brauna. Foto: Nelson Barbosa

Impacto da pesquisa para as redes comunitárias e os desafios regulatórios

Foto: Juliana Freire

A colheita e a comercialização das sementes florestais no Brasil vêm ganhando mais visibilidade a partir dos compromissos assumidos pelo País, mas depende de uma cadeia de valor ainda incipiente no Brasil. Ao contrário das sementes agrícolas, as de espécies nativas são, em sua maioria, colhidas diretamente na natureza, o que é feito geralmente por redes de trabalhadores e comunidades locais, que desempenham papel crucial na conservação da biodiversidade. Esses coletores muitas vezes são agricultores familiares ou representantes de comunidades tradicionais ou indígenas, que preservam os saberes locais e tradicionais, mas enfrentam desafios logísticos e de conhecimento técnico.

O investimento em tecnologia e a disseminação do conhecimento sobre tecnologia de sementes podem beneficiar essas comunidades. Saber quanto tempo cada semente pode ficar armazenada, e como esse tempo varia de acordo com a embalagem ou o ambiente de armazenamento, pode ajudar as comunidades a programarem a comercialização.

“Algumas espécies, como a braúna, podem durar nove meses em ambiente não controlado. Já o ipê costuma durar apenas três meses. Então, já sabendo disso, o coletor pode preferir armazenar o ipê na geladeira, visto que também há limitação de espaço nos equipamentos. Ou já vai saber que não dá para comercializar o ipê que foi coletado há mais de três meses e que não foi armazenado em condições controladas de temperatura”, exemplifica Freire.

Além disso, o setor enfrenta outras barreiras: o atual marco regulatório, com o Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), foca em padrões típicos da agricultura comercial e não aborda efetivamente as especificidades das sementes florestais nativas e sua complexidade morfológica, perpetuando uma cadeia de produção quase invisível, com mais de mil coletores não registrados. O dado está no estudo publicado na revista científica Forests.

O documento sugere seis estratégias para impulsionar a oferta de sementes nativas em larga escala:

  • incentivos e subsídios governamentais para pequenos produtores e comunidades;
  • fiscalização da restauração florestal para estabilizar o mercado de restauração;
  • participação comunitária com geração de renda e integração dos conhecimentos locais;
  • adaptação das regulamentações de sementes nativas;
  • pesquisa e inovação para melhorar o conhecimento sobre espécies nativas;
  • e diversificação do mercado, de modo a explorar novos setores e usos comerciais das sementes.

O compromisso brasileiro: 12,5 milhões de hectares restaurados até 2030

A meta de restauração do Brasil é a materialização de compromissos internacionais assumidos pelo País para combater as mudanças climáticas e a degradação ambiental. Os dois principais pilares desse compromisso são o Desafio de Bonn e a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).

O Desafio de Bonn foi lançado em 2011 como uma iniciativa global para restaurar 350 milhões de hectares de paisagens florestais degradadas e desmatadas em todo o mundo. O Brasil se uniu oficialmente à iniciativa em 2015, quando anunciou, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), em Paris, o compromisso de restaurar 12,5 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030.

Sementes de angelim doce. Foto: Juliana Freire

Já a NDC é parte do Acordo de Paris, pacto global histórico assinado por quase todos os países do mundo com o objetivo de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais. Cada país signatário do Acordo de Paris é obrigado a apresentar sua própria NDC, que detalha os esforços que fará para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas.

A primeira NDC do Brasil foi apresentada em 2015 e incluiu explicitamente a mesma meta de restauração indicada no Desafio de Bonn. Além disso, a NDC brasileira também estabeleceu objetivos para a redução da emissão de GEE, o aumento da participação de bioenergia na matriz energética e o fim do desmatamento ilegal. 

Empresas unem suas expertises científicas

Foto: Isabelly Sedano

A Morfo Brasil é uma startup franco-brasileira que investe em pesquisa e inteligência artificial para viabilizar a restauração ambiental em larga escala em áreas tropicais. Ela desenvolveu e patenteou um método de recuperação florestal em grande escala que envolve três etapas:

  • inteligência florestal, com análise sistêmica da área, plano de biodiversidade e roteiro operacional;
  • implementação escalável, com integração da cadeia de suprimentos e plantio multimodal, que inclui o encapsulamento de sementes e dispersão por drones;
  • e análises de desempenho, com coleta de dados, monitoramento com inteligência artificial, ações corretivas e relatórios de conformidade.

Desde a sua fundação, em 2022, a equipe construiu um banco de dados com informações sobre mais de 360 espécies nativas. No entanto, para muitas dessas espécies, ainda faltam estudos sobre coleta, beneficiamento, germinação, secagem e armazenamento, o que gera grandes perdas no processo de produção e conservação das sementes.

Já a Embrapa Agrobiologia tem vasto know-how técnico e científico na área de restauração florestal, somando diversos estudos, ferramentas, elaboração de projetos, apoio à estruturação de políticas públicas e seus programas. A área de tecnologia de sementes e produção de mudas é uma importante vertente de atuação da Empresa, juntamente com a recuperação de áreas degradadas nos mais diversos biomas brasileiros.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa

Treze cidades da Amazônia com formatos inusitados e intrigantes

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Foto: Reprodução/Google Maps

A Amazônia brasileira, além de abrigar vasta biodiversidade, também guarda curiosidades urbanísticas que chamam a atenção até de quem as vê de cima – literalmente.

Leia também: 10 cidades da Região Norte com nomes curiosos e engraçados

Algumas cidades se destacam por seus formatos curiosos, locais inusitados ou pela forma como foram construídas, refletindo tanto a geografia quanto a criatividade humana na adaptação ao meio amazônico. Conheça algumas:

Macapá (Amapá)

Cortada pela Linha do Equador, Macapá é a única capital brasileira dividida entre os hemisférios Norte e Sul. Essa peculiaridade faz com que a cidade esteja literalmente no “centro do mundo”. No Marco Zero do Equador, um monumento permite que os visitantes fiquem com um pé em cada hemisfério.

O traçado urbano da capital amapaense reflete essa divisão simbólica, transformando Macapá em um marco geográfico e cultural.

Mapa de Macapá. Foto: Reprodução/Google Maps

Afuá (Pará)

Conhecida como a “Veneza Marajoara”, Afuá é uma das cidades mais singulares do Pará, e talvez do Brasil. Construída sobre palafitas, ela se ergue sobre as águas da Ilha do Marajó e não possui ruas pavimentadas nem carros.

s bicicletas e motos adaptadas (bicimotos) são os principais meios de transporte, e as passarelas de madeira conectam casas, comércios e escolas. O acesso é feito principalmente por barco, com viagens de cerca de duas horas a partir de Macapá, no Amapá.

Mapa de Afuá. Foto: Reprodução/Google Maps

Boa Vista (Roraima)

Planejada para ser moderna e funcional, Boa Vista é a única capital brasileira totalmente situada ao norte da Linha do Equador. Seu traçado urbano é considerado um dos mais bonitos do país: visto de cima, a cidade tem formato radial, lembrando um leque aberto ou um sol se expandindo.

As avenidas largas e simétricas foram inspiradas no urbanismo parisiense, o que torna Boa Vista um exemplo de planejamento na Amazônia.

Mapa de Boa Vista. Foto: Reprodução/Google Maps

Palmas (Tocantins)

Criada em 1989 para ser a capital do Tocantins, Palmas é fruto do urbanismo planejado. Sua planta é marcada por traçados geométricos e perfeitamente alinhados, com setores e quadras organizados de forma quase matemática.

O resultado é uma cidade simétrica, com um formato curioso e uma das melhores infraestruturas urbanas da região Norte.

Mapa de Palmas. Foto: Reprodução/Google Maps

Marajá do Sena (Maranhão)

Entre as menores e peculiares cidades da Amazônia Legal, Marajá do Sena se destaca por um detalhe: ela tem praticamente uma única rua principal. Esse traçado simples e linear faz da cidade um exemplo de urbanização minimalista, mas também um símbolo da realidade de muitos pequenos municípios do interior amazônico, onde o essencial se resume a uma via que concentra comércio, moradia e convivência.

Mapa de Marajá do Sena. Foto: Reprodução/Google Maps

Paragominas (Pará)

Paragominas foi uma das poucas cidades do Pará criadas de forma planejada. Sua fundação começou em 23 de janeiro de 1965, idealizada por Célio Resende de Miranda, que desejava construir uma cidade modelo na Amazônia. Após estudar diversas áreas durante uma viagem ao Pará em 1958, Célio escolheu o local entre os rios Gurupi e Capim por suas condições favoráveis.

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Com o apoio do presidente Juscelino Kubitschek, que viu no projeto uma forma de desenvolver e povoar a região, Célio recebeu autorização oficial e a cessão das terras pelo governo do Pará. Assim nasceu Paragominas, uma cidade planejada desde sua origem.

Além de receber a concessão da terra, Célio ainda foi presenteado com uma planta elaborada pelo urbanista Lúcio Costa, a qual havia concorrido, junto a outras, para o projeto de construção de Brasília, classificando-se em 4° lugar. Este projeto foi obtido por Célio Miranda através da doação por intermédio do geólogo Jofre Mozart Parada, que na época trabalhava em Brasília. A planta fora planejada em formato tri-hexagonal e como não havia a quantidade necessária de recursos, a planta original sofreu algumas modificações.

Mapa de Paragominas. Foto: Reprodução/Google Maps

Nova Iorque (Maranhão)

A cidade de Nova Iorque no Maranhão é um modelo de cidade planejada com um formato de estrela, com ruas que se irradiam de uma praça central. O planejamento foi uma resposta à necessidade de realocar a população quando a sede original foi inundada pela represa da barragem em 1968, sendo a nova sede construída com recursos do governo federal.

Cidade de Nova Iorque. Foto: Reprodução/Google Maps

Guajará-Mirim (Rondônia)

Vista do alto, Guajará-Mirim se assemelha a um imenso tabuleiro de xadrez incrustado na floresta amazônica. Suas ruas formam um traçado geometricamente regular, fruto de um planejamento urbano concebido no início do século XX, período em que a cidade se expandia impulsionada pela construção da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

Mapa de Guarajá-Mirim. Foto: Reprodução/Google Maps

Anamã (Amazonas)

Anamã, localizada a 161 km de Manaus, é conhecida por seus lagos, como o Membeca e o Patuá, ideais para banho e pesca esportiva. O município surgiu com a chegada de seringueiros e aventureiros que buscavam terras férteis e seringais, e hoje abriga pouco mais de dez mil habitantes distribuídos em 22 comunidades.

Situada às margens do lago de Anamã, conectado ao rio Solimões, a cidade está em uma região de várzea sujeita a inundações. Por esse motivo, é chamada de “cidade anfíbia”, já que durante parte do ano fica submersa, com toda a sua infraestrutura adaptada para conviver com as cheias dos rios.

Mapa de Anamã. Foto: Reprodução/Google Maps

Nhamundá (Amazonas)

Nhamundá, localizada a 375 km de Manaus, se destaca como uma joia insular sobre as águas escuras do rio Trombetas, parecendo ter sido cuidadosamente desenhada à mão. Cercada por igarapés sinuosos e densa vegetação amazônica, é reconhecida como a cidade mais oriental do Amazonas, e também uma das mais isoladas do estado. Por ter sido construída inteiramente em uma ilha, em uma área de 14.107 km², o acesso à cidade é basicamente de barco.

Mapa de Nhamundá. Foto: Reprodução/Google Maps

Sinop (Mato Grosso)

Em Sinop no Mato Grosso, a expressão ‘dois triângulos diamante’ provavelmente faz referência ao dispositivo em formato de diamante utilizado nos viadutos da passagem urbana da BR-163. Essa configuração viária, composta por dois triângulos opostos que formam um losango, foi projetada para otimizar o fluxo de veículos e garantir maior segurança no tráfego.

Mapa de Sinop. Foto: Reprodução/Prefeitura de Sinop

Vila Rica (Mato Grosso)

Vila Rica, também no Mato Grosso, foi planejada desde sua fundação, em 1978, para ter o formato de um sino. O traçado urbano foi idealizado pelo engenheiro e urbanista Cuno Roberto Maurício Lussy, professor da UFMG, que desenhou o centro dividido entre os setores Norte e Sul formando o contorno característico. Essa configuração planejada tornou-se uma das principais marcas da cidade.

Mapa de Vila Rica. Foto: Reprodução/Google Maps

Querência (Mato Grosso)

Outra cidade em Mato Grosso com uma história diferente é Querência. A cidade faz parte da Grande Bacia Amazônica e está situada a cerca de 927 km de Cuiabá. Com uma área de 17.799,99 km², o município abrange parte da Reserva Indígena do Xingu dentro de seus amplos limites territoriais. A cidade se destaca pelo traçado urbano regular, com quadras em formato de quadrados perfeitos, resultado de um planejamento que privilegia a organização e a simetria.

Mapa de Querência. Foto: Reprodução/Google Maps

Livro gratuito reúne conhecimento mais recente sobre cupins da América do Sul

Biomassa de cupins na Terra é equivalente à dos humanos; na foto, um cupim Dentispicotermes (Amitermitinae), em Mato Grosso. Foto: Tiago Carrijo/CCNH-UFABC

Os cupins são mais conhecidos como pragas urbanas, mesmo que apenas cerca de 3% das espécies sejam as responsáveis pela má fama – no Brasil, as principais são exóticas. O que poucos sabem é que esses insetos sociais – que são mais aparentados das baratas do que das formigas – contam com quase 3 mil espécies, 623 apenas na região Neotropical, e exercem funções ecológicas importantes, como a ciclagem de nutrientes e o aumento da retenção de umidade no solo.

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Ao compilar o conhecimento mais atual sobre os diversos aspectos desses animais, um grupo de 58 pesquisadores do Brasil, Chile, Colômbia, Venezuela, Bélgica, França e Estados Unidos deu origem a uma obra monumental, com 879 páginas. Dos 29 capítulos de Cupins da América do Sul, pelo menos oito são resultados de pesquisas apoiadas pela FAPESP.

“A ideia surgiu da necessidade de ter uma literatura que congregasse a biologia de cupins de forma geral, mas com foco na América do Sul, uma vez que o livro referência mais novo é de 2002, e ainda assim trata apenas dos cupins-praga. O objetivo era ter uma obra de fácil acesso à literatura internacional sobre o assunto, principalmente para graduandos e pós-graduandos”, conta Ives Haifig, professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (CCNH-UFABC), em Santo André.

Soldado de Cornitermes cumulans em São Paulo. cupins. Foto: Tiago Carrijo/CCNH-UFABC
Soldado de Cornitermes cumulans em São Paulo. Com cerca de 3 mil espécies no mundo e mais de 600 na região Neotropical, uma diminuta fração dos cupins é considerada praga. Foto: Tiago Carrijo/CCNH-UFABC

O pesquisador teve auxílio da FAPESP no projeto “Consequências da perda dos soldados na imunidade social em cupins (Isoptera: Termitidae)”, além de ter contado com bolsas de doutorado direto e pós-doutorado.

Haifig é um dos três editores da obra, juntamente com Alberto Arab e Tiago Carrijo, professores na mesma instituição.

O livro é resultado de um workshop ocorrido em 2019 durante o V Simpósio de Termitologia, ramo da biologia que estuda os cupins. No evento, ao constatar a necessidade de uma publicação do tipo, foram definidos os temas dos capítulos, autores e prazos.

“Então veio a pandemia de COVID-19, o que complicou bastante a produção da obra, com alguns capítulos ficando prontos antes de outros”, explica Haifig. O livro finalmente foi lançado neste ano, durante o VIII Simpósio de Termitologia, realizado em Campina Grande, no campus da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Pragas são minoria

A biomassa de cupins na Terra é equivalente à dos humanos, o que por si só já seria digno de investir no conhecimento sobre esse grupo. Entre suas peculiaridades, são considerados engenheiros ecossistêmicos, uma vez que criam ou alteram hábitats para outras espécies ao causarem mudanças na estrutura física e química do ambiente.

“Os cupins são os principais decompositores de biomassa vegetal do solo, além de serem repositórios de carbono, uma vez que 40% do carbono que consomem como alimento fica no corpo, o que resolve uma parte da emissão de gases de efeito estufa. Por outro lado, emitem metano”, explica Arab, que coordenou o projeto “Efeito da dieta na diversidade bacteriana do trato digestivo de cupins (Termitidae)”, apoiado pela FAPESP.

A emissão de metano, por sua vez, é resolvida em parte por arqueias metanotróficas, microrganismos que consomem esse potente gás de efeito estufa e o transformam em CO2, menos perigoso.

“A atividade deles permite ainda a infiltração da água no solo em situações de enchentes. Por sua vez, na seca eles trazem umidade do solo mais profundo para mais perto da camada onde ficam as raízes das plantas”, completa.

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À esquerda, ninhos de Cornitermes em pastagem (Tocantins): solos em áreas com cupinzeiros retêm mais umidade do que em outras sem essas formações; à direita, ciclo de vida da espécie Cornitermes cumulans (Syntermitinae). Imagens: Tiago Carrijo e Wikitermes

Os pesquisadores lembram que a imensa maioria das espécies não são pragas. No Brasil, estas são basicamente espécies urbanas consumidoras de madeira, trazidas do Chile, Peru e da Ásia. No seu ambiente de origem, a espécie asiática controla espécies arbóreas, aumentando a diversidade nas florestas. Aqui, se adaptaram ao ambiente urbano sem competidores e predadores, causando grandes prejuízos.

Para explicar esses conceitos e a importância do grupo de insetos, os pesquisadores acreditam na importância da comunicação sobre os cupins com o público leigo. Carrijo, o terceiro editor da obra, dedica um capítulo especial à divulgação científica. O professor da UFABC usa como caso de estudo o projeto Wikitermes, do qual é um dos fundadores e que disponibiliza materiais e informações sobre os mais diversos assuntos relacionados aos cupins, tanto em seu site quanto em redes sociais e atividades em escolas.

“Temos tido feedbacks muito positivos dos materiais produzidos pelos alunos e, veja, eles não são especialistas em cupim e não são jornalistas científicos.[…] A associação de teoria […] e uma constância de produção faz com que encontremos caminhos de comunicar determinada informação”, escreve Carrijo no capítulo assinado com Joice Paulo Constantini, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP).

Carrijo teve apoio da FAPESP no projeto “Apicotermitinae (Blattaria, Isoptera, Termitidae) da região do alto Rio Madeira, Rondônia: taxonomia e dimensões da diversidade”.

O livro está disponível gratuitamente para download AQUI.

Tiago Carrijo (UFABC) coletando cupins na Amazônia: insetos convivem com uma série de outras espécies em seus ninhos. Foto: Renato Machado

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por André Julião