Mais geoglifos foram encontrados no Acre. Uma equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) encontrou dois novos geoglifos durante uma expedição dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex), em Epitaciolândia, interior do Estado. Os servidores faziam um estudo de viabilidade e ampliação da trilha Chico Mendes no Seringal Porongaba, no ramal de mesmo nome, quando acharam o primeiro sítio arqueológico.
Os geoglifos são estruturas geométricas escavadas na terra, em formato de quadrados, retângulos ou círculos, e que podem ser datados em até três mil anos. O Acre é pioneiro e referência quando o assunto é geoglifos. Em março deste ano, o primeiro geoglifo tombado no Acre pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) teve o reconhecimento homologado pelo Ministério da Cultura.
A descoberta ocorreu nesta quarta-feira (25). O analista ambiental Fernando Maia liderava a expedição quando o monumento foi encontrado. Os servidores estavam com o morador Chico Melo, que mora na região e chegou a relatar já ter ouvido histórias sobre a existência da estrutura no local.
“Ele lembrou de uma história antiga de um cunhado que contou que estava realizando uma broca [limpando a área] no local e achou uma estrutura muito estranha no meio da floresta, mas isso tem 12 anos e caiu no esquecimento. Estávamos no meio do pasto, o capim muito alto, como eu já tenho um pouco de experiência com isso, avistei ao longe a borda do geoglifo. Nos aproximamos e encontramos. Ficamos muito eufóricos porque é um achado muito importante para a área e para própria trilha Chico Mendes, que queremos ampliar”, relatou.
Foto: Larissa Miranda/Arquivo pessoal
Após o achado histórico, Fernando Maia e o restante da equipe voltaram para a área urbana e ele foi buscar imagens de satélite para encontrar a localização exata do monumento. O que ele não sabia era que iria encontrar um novo sítio arqueológico ao analisar as imagens.
“Voltamos para a cidade muito alegres e tentei, pelo Google Maps, localizar pela linha do ramal e, por acidente, acabei vendo outra estrutura. Dei zoom e vi que era outro geoglifo, e não o que a gente tinha visto no local. Percebi que era um novo por conta da distância com a casa, a posição da floresta. Fizemos a coleta da coordenada geográfica e, hoje pela manhã, fomos até o local e fizemos o registro com o drone”, disse.
As duas estruturas estão a 8 quilômetros de distância um do outro. A área onde o primeiro geoglifo foi encontrado está desmatada após ter sido ocupada irregularmente anteriormente. Por isso, a equipe conseguiu visualizar logo a estrutura.
Já a segunda estrutura está em uma área densa de mata. “Tivemos dificuldades de andar ao redor do geoglifo e aparece cheio de mato na imagem. São dois achados que para a Reserva Chico Mendes são muitos valorosos porque, há uns quatro anos, tínhamos zero de registro”, confirmou.
Ainda segundo o servidor, já há registros da existência de quatro geoglifos no Ramal das Filipinas, uma região próxima. Segundo Maia, há possibilidade de existir mais sítios escondidos pela floresta. “É um local de densamento de geoglifos que precisa de muito estudos em meio a floresta para encontrá-los. Dos quatro encontrados anteriormente, três estão em meio à floresta, então, não eram evidentes”, destacou. .
Coordenadas compartilhadas
Após o achado, o servidor disse que entrou em contato com a equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para compartilhar as coordenadas e avisar das novas estruturas. “Encaminhamos as coordenadas geográficas e a coordenadora pesquisou e atestou que, de fato, são registros novos”, disse.
O analista contou também que achou pedaços de, aparentemente, de cerâmicas dentro do geoglifo. “Não tenho certeza se são, é similiar à cerâmica, achei intrigante o formato e a estrutura”, ressaltou.
Antônia Barbosa, arqueóloga do Iphan, contou que a descoberta, feita na quinta (25), coincidiu com três importantes datas celebradas nesta sexta (26):
Dia da Proteção do Patrimônio Arqueológico;
lei federal n.º 3.924 de 1961, a qual estabelece que os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de qualquer natureza existentes em território nacional e de todos os elementos que neles se encontram ficam sob a guarda e proteção do poder público;
Dia do Arqueólogo.
Foto: Arquivo pessoal/Larissa Miranda
“Então, ter um achado desses nesse dia tão importante. Vamos ter que registrar esse sítio arqueológico, comunicar oficialmente pra que a gente possa inserir e fazer cadastro. Vai passar todas as informações e o Iphan vai registrar e homologar o sítio arqueológico como patrimônio”, avisou.
Após o informe oficial, arqueóloga contou que será marcada uma expedição para fazer o registro. Segundo Antônia, há alguns itens que precisam ser preenchidos por um arqueólogo. “Me mandou as imagens e chequei que não estão registrados ainda, são inéditos os dois. Temos bastantes sítios identificados naquela área”, confirmou.
Um docinho gelado no verão é muito bom, não é? Ainda mais quando tem ingredientes típicos da Amazônia. Aprenda como preparar este prato preparado pelo chef Pedro Bagattoli: crumble de banana da terra, conhecida como banana pacovã, castanha e cumaru.
Ingredientes
400g farinha trigo 120g açúcar refinado 140g castanha 270g banana da terra 200g manteiga Raspas semente de cumaru Sorvete de creme a gosto 100g bacon em fatias
Modo de preparo
Com a ponta dos dedos mistura a farinha, manteiga e açúcar até virar uma farofa;
Adicione a castanha e as raspas do cumaru misturando ainda com a pontas dos dedos para não agir o glúten;
Coloque em uma forma de fundo removível uma camada de farofa deixando compacta no fundo aproximando 5 centímetros;
Coloque as fatias de banana em seguida mais uma camada de farofa;
Coloque a castanha por cima e leve para assar em forno pré aquecido 180° por 30min;
Retire do forno com crumble ainda quente, coloque bolas de sorvete de creme, crocante de bacon e folhas de o hortelã;
Sirva na hora para que o crumble esteja quente e o sorvete ainda gelado.
O Museu Sacaca, espaço destinado à divulgação cultural e científica amapaense, realiza até este domingo (28) uma exposição sobre a arte gráfica dos povos indígenas Wayana e Aparai.
A exposição ‘Arte Gráfica Wayana e Aparai’ tem o objetivo de transformar o museu em um espaço de diálogo entre os povos indígenas e a população não indígena de Macapá, apresentando grafismos e conhecimentos dos povos Wayana e Aparai. A programação ainda conta com feira de artesanato indígena, palestras e exibição de filmes.
A iniciativa também permite aos indígenas se tornarem mediadores museológicos, promovendo a preservação cultural e a afirmação de suas identidades.
Para os povos indígenas, a arte é considerada tudo aquilo, a partir das matérias primas de seus territórios. A arte é manifestada além da criatividade, é uma relação de viver com a terra.
A arte gráfica dos povos Wayana e Aparai aprofunda conhecimentos sobre ritos, desenhos, esculturas, estruturas, cantos e danças. Além de abordar assuntos como a alimentação, agricultura, saúde.
A iniciativa é promovida pela Associação dos Povos Indígenas Wayana e Apalai (APIWA), em parceria com o Instituto Iepé, o Museu Sacaca, e o Instituto de Pesquisa e Científica e Tecnologia do Estado do Amapá (IEPA).
O ano de 2024 marca uma década do contato estabelecido pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) com o povo Yura, do Acre. Desde 2014, a autarquia indigenista se faz presente na área, por meio da Base de Proteção Etnoambiental (Bape) Xinane, com equipes que atuam diariamente na Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira.
O objetivo é proteger os Yura e os povos isolados que residem no território, localizado no município de Feijó, de modo a garantir sua integridade física e cultural.
Nesse sentido, a Funai promoveu, entre os dias 15 e 17 de julho, o I Colóquio ‘10 Anos Contato do Povo Yura’ para dialogar com os indígenas e fazer uma avaliação sobre as conquistas, desafios e lições aprendidas, com o propósito central de compreender o impacto e a eficácia das atividades realizadas nos últimos dez anos.
Foto: Divulgação/ Funai
O evento ocorreu na Terra Indígena Alto Tarauacá, na Bape D’ouro, localizada no município de Jordão (AC), lugar tradicional do povo Yura, que desde os tempos de isolamento utilizava a região para desenvolvimento das suas dinâmicas territoriais.
No Colóquio, a Funai reafirmou seu compromisso com a defesa dos direitos dos povos indígenas de recente contato e seu desenvolvimento autônomo e sustentável. A autarquia atua para fortalecer e promover políticas públicas específicas para essas populações, que não compreendem todos os códigos da sociedade e, por isso, necessitam de atenção especializada.
O encontro, organizado pela Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Envira, foi marcado por importantes discussões e reflexões sobre os desafios e conquistas relacionados ao contato inicial com o povo Yura há uma década. Foram discutidos temas como saúde, gestão ambiental, educação e o acesso à documentação civil básica e a bens de consumo já instituído a partir do Regime de Circulação de Bens.
Foto: Divulgação/ Funai
O evento contou com a presença de cerca de 100 pessoas, entre elas indígenas dos povos Yura, Ashaninka, Jaminawa, Huni Kuin, Manchineri, Shanenawa e Yawanawá, além de participantes envolvidos nas políticas de proteção e promoção dos direitos de povos de recente contato. Com isso, foi possível realizar uma troca de experiências entre os povos.
“Essa interação contribuiu para fortalecer vínculos e fomentar um diálogo franco sobre os desafios e conquistas da última década”, destacou o coordenador da Frente de Proteção, Wagner Gallo.
De acordo com o coordenador, nos últimos dez anos, a Funai tem dedicado esforços incansáveis para garantir a promoção e proteção dos direitos do povo Yura.
“Uma tarefa árdua, pois são populações com singularidades de representação social que o Estado não está pronto para atender. Com isso, a Frente de Proteção, com essa expertise acumulada nos dez anos, tenta atenuar esse impacto entre mundos para essa população”, frisou.
O encontro contou ainda com a participação das Coordenações Regionais da Funai de Alto Purus e Juruá; da Coordenação de Políticas para Povos Indígenas de Recente Contato; do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Juruá; da Secretaria dos Povos Indígenas do Acre; do sertanista aposentado José Carlos dos Reis Meirelles Júnior e da prefeitura do município de Jordão.
A enciclopédia gastronômica TasteAtlas, responsável por elencar pratos e receitas de destaque em todo o mundo, inseriu, pela segunda vez, o sorvete de açaí feito pela Cairu, em Belém (PA), como um dos mais icônicos. A lista com os 100 sabores mais apreciados foi publicada no dia 23 de julho.
“Esta lista apresenta as 100 gelaterias e sorveterias mais icônicas que deixaram uma marca indelével no cenário global de sobremesas. Ela abrange estabelecimentos que aprimoraram sua arte, às vezes até por mais de um século, servindo sabores consagrados como chocolate e pistache, ou combinações inventivas como ricota e pêra, sementes de gergelim e arroz”, descreve a enciclopédia sobre o que leva às escolhas.
Na crítica sobre a representante paraense, informam:
“A Sorveteria Cairu é mais do que apenas uma sorveteria; é um símbolo de orgulho regional e uma embaixadora dos sabores amazônicos para moradores e visitantes. Seus sorvetes se destacam pelo uso de frutas nativas da Amazônia, exibindo os sabores únicos da região. Um dos seus sabores de sorvete mais icônicos é o açaí, que é muito amado por seu sabor rico e distinto que equilibra perfeitamente a doçura e a acidez”.
Foto: TasteAtlas
Há mais de 60 anos no mercado, o nome da sorveteria paraense é uma referência ao sapo japonês ‘Kaeru’, considerado um amuleto da sorte, e é uma herança de pai para filho. Atualmente são mais de 30 sabores produzidos artesanalmente, assim como o de açaí.
Depois de audiência de conciliação ter encerrado sem uma solução consensual, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) deve concluir, em seis meses, estudo técnico sobre o território Tanaru, área onde vivia o “índio do buraco”, em Corumbiara (RO).
A medida foi definida pela Justiça Federal em ação civil pública apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) para assegurar o reconhecimento da ocupação ancestral da terra indígena e a destinação socioambiental da área. A ação fica suspensa durante o prazo para conclusão dos estudos.
A audiência, realizada por meio de videoconferência em 16 de julho, contou com a participação dos procuradores da República Daniel Dalberto, Caroline Helpa e Eduardo Sanches, de advogados e representantes da União, da Funai, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e proprietários rurais lindeiros da área em questão. Na ocasião, a União e a Funai indicaram que entendem a área como indígena. Porém, é necessário definir o instrumento jurídico adequado à preservação, o que será objeto de estudo pela Funai.
De acordo com o MPF, o território já deveria ter sido demarcado, considerando todas as evidências já identificadas de que a ocupação tradicional da área é indígena. Na ação, o MPF sustenta que o território deve ser considerado patrimônio da União e que a destinação socioambiental da área deve ser definida com a participação dos povos indígenas da região e dos órgãos públicos envolvidos na questão.
A área a ser demarcada inclui território de floresta contínua onde viveu o indígena até a sua morte. Porém, porções dessa área de floresta possuem matrículas de fazendas confrontantes. Advogados dos fazendeiros – que atuam como assistentes da União e da Funai na ação –propuseram deixar uma pequena área para que fosse erguido um memorial ao “índio do buraco”, que faleceu em agosto de 2022, sendo o último sobrevivente do genocídio de um povo indígena da região e que recusou todas as tentativas de contato e aproximação de não indígenas. Ele cavava misteriosos buracos no interior de suas palhoças, por isso recebeu o nome de “índio do buraco”.
Buraco em Tapiri — Foto: Reprodução/Txai Surui
O MPF esclarece que não é possível negociar o território com particulares, já que a área pertence a União em decorrência da ocupação indígena ancestral. Já existe uma restrição de uso do território definida pela Funai, com duração até 2025.
O MPF pede ainda que a Funai e a União protejam a área durante todo o processo. Após a conclusão dos estudos técnicos, a Funai deve apresentar à Justiça proposta para demarcação e destinação do território. A proposta será analisada pelo MPF, que é autor da ação, e pelas demais partes envolvidas.
O Café Apuí Agroflorestal, no Amazonas, primeiro café 100% robusto orgânico cultivado em agrofloresta na Amazônia irá receber recursos do Grupo Carrefour Brasil, que recentemente anunciou investimentos de R$ 28 milhões em projetos destinados ao combate ao desmatamento e à conservação das florestas. Entre as iniciativas está o Café Apuí Agroflorestal.
A iniciativa foi criada pelo Idesam, como sugestão aos produtores que haviam abandonado seus cafezais. Como solução, foi proposta uma nova forma de cultivo para esse café, o Sistema Agroflorestal (SAF), um plantio sombreado, em meio às árvores, que garante mais qualidade e sabor ao café. A organização criou ainda a ponta comercial para levar o café a outras regiões, a empresa Amazônia Agroflorestal, que também presta assessoria técnica aos produtores.
Disponível nas gôndolas da grande rede de supermercados, o café mostra como é possível manter a floresta em pé, gerar renda para agricultores e agricultoras na região e recuperar áreas desmatadas. Até 2023, a iniciativa plantou mais de 120 mil mudas de espécies nativas, apoiando a restauração de 190 hectares de floresta e a conservação de 7,7 mil. Ao todo, mais de 100 toneladas de café já foram produzidas junto a 113 famílias.
“Quando se pensa em café, muitas pessoas não imaginam uma iniciativa como essa na Amazônia. Com a Iniciativa Café Apuí Agroflorestal, mostramos como é possível produzir café de qualidade, manter a floresta em pé com uma agricultura de baixo carbono e ainda potencializar a regeneração da floresta Tudo isso com um comércio justo, 100% acima do mercado de commodities, com pagamento por serviços ambientais e Certificação Orgânica”, André Vianna, diretor técnico do Idesam.
Café 100% Orgânico produzido por pequenos agricultores no Sistema Agroflorestal. Foto: Marcelo/Fuê
Disponível em 75 pontos de venda com mais de 100 clientes fixos, o Café Apuí Agroflorestal agora, com o Grupo Carrefour Brasil, irá construir estruturas que vão apoiar o restauro de mais de 190 hectares (equivalente a 1,95 milhões de metros quadrados) até 2027. Estima-se ainda o aumento da renda dos pequenos produtores por meio da produção do café Robusta, podendo chegar a 70% a mais O aporte da empresa será utilizado em três eixos: viveiro de mudas (equipamentos, estrutura e rede de sementes); produção e qualidade (capacitação dos produtores e equipe) e indústria de beneficiamento (melhoria da qualidade e preço).
A superfície do tronco das árvores amazônicas abriga um ecossistema em miniatura. Foto: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP
Bactérias que habitam as cascas das árvores parecem ser capazes de absorver um dos mais importantes gases do efeito estufa, o metano (CH4), conforme indica artigo publicado no dia 24 de julho, na revista Nature. Isso é importante porque, ao longo da última década, medições de gases que contribuem para o aquecimento global indicaram que a floresta amazônica poderia estar contribuindo para o problema, em vez de ser a solução.
A entrada em cena dos novos atores sugere uma equação mais complexa do que parece, além de propor armas adicionais na busca pela mitigação dos danos globais agravados pela ação humana.
As coletas na Amazônia vêm sendo feitas desde 2013 por um grupo internacional liderado pelo biólogo brasileiro Alex Enrich Prast, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) atualmente na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o grupo do biólogo britânico Vincent Gauci, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido. “Nós mediamos os fluxos de metano na floresta com baldinhos, enquanto outros faziam monitoramento com aviões”, conta Prast.
Além do trabalho em que está envolvido, ele se refere ao liderado pela química Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que, por meio de monitoramento aéreo colhendo ar em diferentes regiões da Amazônia, detectou um volume de emissões maior do que o esperado entre 2011 e 2013.
O trabalho dos pesquisadores de campo trouxe a explicação: o metano formado no solo sem oxigênio das áreas alagadas é processado pelas bactérias associadas às raízes das árvores, que funcionam como chaminés que lançam à atmosfera o gás nocivo.
A união dos esforços dos dois grupos constatou que as árvores nessas áreas de várzea emitiam tanto metano quanto o que é liberado pelo oceano inteiro, como descreveram em artigo da mesma Nature, em 2017.
De lá para cá, Prast, Gauci e outros colaboradores continuaram a carregar seus equipamentos pelo meio da floresta e perceberam que muitas vezes as árvores fazem o contrário do que os resultados anteriores tinham levado a temer: assimilam mais do que emitem, funcionando como sumidouros de metano. Isso acontece nas próprias várzeas, quando não estão alagadas e têm oxigênio no solo, e também e principalmente em florestas de terra firme, não alagáveis.
Faltava entender por quê, para isso, prenderam às árvores, em diferentes alturas, aparatos que funcionam como câmaras detectoras de gases e mostraram que os troncos absorvem CH4. Mais especificamente, a microbiota do tronco das árvores, que por isso é classificada como metanotrófica, ou consumidora de metano.
“Vimos que a assimilação é maior na porção mais alta do tronco”, completa Prast.
Nas várzeas a absorção também acontece, mas não é visível no balanço de emissões na estação alagada devido ao metano produzido no solo sem oxigênio. Os pesquisadores também coletaram amostras da madeira em diferentes alturas, das quais extraíram DNA.
“Já identificamos, na microbiota do tronco, algumas bactérias que oxidam metano”. Os pesquisadores já sabem também que há diferenças, por exemplo, na comunidade microscópica das cascas mais lisas ou mais rugosas. Por isso, mais adiante, será importante caracterizar a composição em diferentes espécies vegetais algo que ainda não foi feito pela dificuldade de se identificar todas as árvores em campo.
Na Amazônia, as medições foram feitas na Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, em Rondônia, às margens do rio Madeira e cerca de 130 quilômetros (km) a nordeste de Porto Velho. Os cálculos indicam que a absorção de carbono pela superfície dos troncos em florestas maduras equivale a 15% da absorção média de todo o carbono pela biomassa vegetal da Amazônia, um valor significativo.
Prast agrega que a absorção detectada foi maior que a realizada pelo solo, cuja microbiota era até agora considerada a protagonista nesse ciclo gasoso, e que o fluxo de metano nas folhas que também abrigam todo um ecossistema microscópico não é considerável.
O estudo incluiu análises semelhantes na floresta Gigante, na ilha de Barro Colorado, uma estação de pesquisa no Panamá, na floresta temperada de Wytham, no Reino Unido, e em Skogaryd, floresta hemiboreal de coníferas na Suécia. A comparação entre os ecossistemas deixou claro um gradiente associado à temperatura. Os troncos absorvem mais metano em climas mais quentes Amazônia e Gigante, em escala equivalente do que na vegetação britânica e, por fim, na sueca.
“Provavelmente essa diferença diz respeito à capacidade de a microbiota se manter nas diferentes temperaturas”, sugere Prast.
Foto: Nathalia Bulcão Soares / UFRJ
Mesmo florestas imaturas, com árvores finas, têm uma grande superfície capaz de abrigar bactérias. Entender seu papel reforça a importância do reflorestamento para mitigar as emissões de gases do efeito estufa. O estudo publicado nesta semana estima um benefício em termos de mitigação que corresponderia a 7% da absorção em florestas temperadas e 12% nas tropicais, o que equivaleria a um aumento de 10% no benefício que já tinha sido calculado para a expansão de florestas.
O agrônomo Jean Ometto, do Inpe, considera uma boa notícia a indicação de que a recuperação florestal possa ter um benefício climático adicional substantivo. “A redução das concentrações de metano antrópico na atmosfera, por sua dinâmica e tempo de residência, é de enorme relevância para que as metas do Acordo de Paris possam ser atingidas”, informa ele, que não participou do estudo, referindo-se ao tratado internacional firmado em 2015.
O metano tem vida curta na atmosfera, cerca de 10 anos, enquanto o CO2 permanece mais de um século. Mesmo assim, o CH4 tem um poder de aquecimento maior devido à maneira como sua estrutura molecular reage com a radiação solar.
Ometto alerta também para a necessidade de se entender melhor como se dá o fluxo de gases no interior da floresta. O pesquisador, especialista em balanço de gases do efeito estufa, indica que o metano que circula próximo aos troncos possa ser principalmente oriundo de incêndios florestais, mas também da atividade biótica de comunidades de microrganismos anaeróbicos presentes nos ecossistemas dos troncos e do solo.
Nos últimos anos, Prast e colaboradores mantiveram medições periódicas em regiões diferentes da Amazônia para entender melhor o papel da floresta, já que a biomassa de árvores varia muito conforme o local. Para chegar a conclusões abrangentes, porém, parece necessário que mais grupos de pesquisa se envolvam.
“A Amazônia tem um tamanho que abarca a Europa inteira, e ainda sobra”, lembra o biólogo da UFRJ.
Ele se diverte comparando a dificuldade de chegar e acampar no Cuniã (um local bastante acessível em termos de Amazônia) com o trabalho em Skogaryd, na Suécia, aonde os pesquisadores chegam por estrada em pouco tempo. “E voltam para dormir em casa depois da coleta.”
Ele ressalta que o conhecimento sobre a microbiota surgiu a partir de um resultado que parecia negativo: uma emissão de metano pela floresta, que a punha no papel de vilã. “Essa nova área da ciência não avançaria se não tivéssemos prestado atenção a esse resultado.”
“Considerar que a microbiota das cascas das árvores também consome metano altera significativamente o balanço de gases”, diz a engenheira-agrônoma brasileira Júlia Gontijo, pesquisadora em estágio de pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Davis, Estados Unidos, no grupo do engenheiro-agrônomo brasileiro Jorge Rodrigues.
A pesquisadora publicou recentemente um artigo na revista Environmental Microbiome, no qual analisou a capacidade metanotrófica do microbioma do solo em áreas de florestas de várzea e de terra firme na região amazônica próxima a Santarém, no Pará, como parte do doutorado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP). Ela incubou amostras de solo das áreas de estudo e simulou as estações de cheia e seca e o aumento de temperatura esperado em projeções de mudanças climáticas.
Apesar de o solo da floresta de terra firme ser habitualmente um sumidouro de metano, Gontijo viu esse consumo diminuir com o aumento da temperatura. Já no solo de várzea, não detectou alterações expressivas no comportamento microbiano.
“Esses microrganismos naturalmente lidam com flutuações drásticas no ambiente, como o alagamento periódico, e parecem ter mais plasticidade para lidar com mudanças”, pondera.
Gontijo se entusiasma com a possibilidade de sequenciar os genomas da microbiota dos troncos das árvores e compreender em profundidade quais organismos estão presentes e como a composição varia conforme o ambiente. “As metanotróficas são as minhas favoritas, pois elas podem nos ajudar no futuro.” Em amostras de solo amazônico, ela agora está estudando o material genético e também indicadores metabólicos, para investigar a ação microbiana.
“A composição da microbiota não revela tudo, porque um microrganismo pode estar presente, mas dormente”, explica. Mais adiante ela pretende também sequenciar RNA para inferir a atividade desses organismos.
Projeto Dimensões US-BIOTA – São Paulo: pesquisa colaborativa: integrando as dimensões da biodiversidade microbiana ao longo de áreas de alteração do uso da terra em florestas tropicais (nº 14/50320-4); Modalidade Projeto Temático, Programa Biota; Convênio NSF Dimensions of Biodiversity; Pesquisadora responsável Tsai Siu Mui (USP); Investimento R$ 4.199.250,78.
O desmatamento nas unidades de conservação (UC’s) da Amazônia fechou o primeiro semestre de 2024 com a menor derrubada nos últimos dez anos, registrando 93 km², uma queda de 18% quando comparado com o mesmo período de 2023.
Os números são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Imazon. Conforme o instituto de pesquisa, os estados com mais unidades de conservação entre as dez mais desmatadas em junho de 2024 foram Acre e Rondônia, cada um com três no ranking. Apesar disso, foi o Pará que registrou a UC que mais desmatou no mês, a APA Triunfo do Xingu, que sozinha representa a derrubada de uma área equivalente a 700 campos de futebol.
Além das UC’s, as terras indígenas da região também tiveram uma redução na destruição florestal no primeiro semestre, com 15 km² derrubados, a menor área registrada desde 2016.
“São dados positivos para a Amazônia, a redução do desmatamento nas unidades de conservação e terras indígenas é muito importante. Para que o desmatamento continue em tendência de queda, é necessário manter o ritmo de fiscalização nas áreas protegidas e focar nas regiões que ainda estão sob forte pressão ambiental. Qualquer redução nas ações de combate e controle podem acarretar no aumento da devastação nestes territórios novamente.”, afirma a pesquisadora do Imazon, Larissa Amorim.
Imagem: Reprodução/Imazon
Após 14 meses com redução, Amazônia apresenta aumento na devastação
Desde abril de 2023, a Amazônia apresentava uma baixa consecutiva no desmatamento, tendo 14 meses seguidos de queda. Porém, os dados do mês de junho de 2024 mostraram um crescimento de 10% na derrubada se comparado com o mesmo mês de 2023, indo de 361 km² para 398 km².
“O período mais seco do calendário do desmatamento ocorre entre os meses de maio a outubro, historicamente os valores são mais altos durante esses meses porque o clima propicia a prática do desmatamento.A Amazônia apresentou uma sequência de 14 meses consecutivos de redução, agora houve um aumento de 10% da devastação. Ainda assim, a taxa é baixa quando consideramos a série histórica para o junho. Devemos observar os próximos meses, os órgãos responsáveis devem seguir com as ações de combate para garantir o não aumento do desmatamento”, explica a pesquisadora.
Os estados que mais contribuíram para a destruição de floresta em junho de 2024 foram Amazonas (35%), Pará (26%) e Mato Grosso (15%), concentrando juntos 77% do total detectado na Amazônia Legal. Cinco dos dez municípios que mais desmataram estão localizados no Amazonas, e outros três no Pará.
Apesar do cenário do mês de junho, no acumulado do primeiro semestre, 2024 registra a menor área desmatada desde 2017, com 1.220 km². Quando comparada com o ano anterior, a diminuição chega a aproximadamente 36%. Mesmo reforçando a tendência de queda, o número ainda representa 670 campos de futebol devastados por dia.
“As medidas de combate precisam focar principalmente nas regiões que mais registram perda. São municípios e áreas protegidas que frequentemente são apontadas como áreas de forte pressão ambiental e registram grandes áreas devastadas”, alerta Larissa.
A Festa de São Tiago completa 247 anos de muita tradição e devoção. Um dos costumes que mais cresce a cada ano é a dança do vominê, que representa a vitória dos cristãos sobre os mouros na lendária batalha entre os dois exércitos.
Ao rufar dos tambores e disparos para o alto, as casas e ruas da Vila de Mazagão Velho são invadidas pelos devotos de São Tiago, que alegremente festejam e repassam a tradição para as novas gerações. A programação de 2024 segue até 28 de julho.
Foto: Kelison Neves/GEA
De acordo com o professor Elton Jacarandá, um dos novos cavaleiros da festa, o vominê é uma tradição que envolve toda a comunidade durante a festividade, com simbolismos históricos da vitória dos cristãos sobre os mouros.
“Quando os cristãos ganharam a batalha, eles vieram dançando, comemorando a vitória, junto com os mouros que se converteram ao cristianismo. Aqui, o vominê é dançado tanto na casa dos festeiros quanto na casa das figuras de São Tiago, Caldeirinha e São Jorge”, explicou Jacarandá.
Foto: Kelison Neves/GEA
O pequeno Tiago Neves, de 11 anos, é um exemplo da continuidade da tradição por gerações. Ele mora na vila onde a festividade ocorre e diz que não perde uma dança.
“É muito bacana e emocionante dançar o vominê ao lado dos meus amigos e de toda comunidade. Todos os anos eu participo e não falto em nenhum”, destacou o jovem.
Festa de São Tiago
Marcada pela mistura de celebrações religiosas, cavalhadas e teatro a céu aberto, a programação é realizada pela comunidade, por meio do Instituto Cultural da Festa de São Tiago, com apoio do Governo do Estado e da Prefeitura de Mazagão, atraindo milhares de visitantes para celebrar os santos e a cultura popular.